Autora: Paula R.
Ship: Kurt Hummel e Blaine Anderson
Censura: T
Disclaimer: Todos os personagens pertencem a Ryan Murphy e a Fox.
Avisos: Essa história é AU (universo alternativo), por isso alguns personagens podem fugir de suas características físicas e/ou psicológicas originais. Nessa história, temas como vida após a morte, possessão e questões religiosas serão abordados, mas não necessariamente condizem com minhas opiniões e visões dos assuntos citados.
Sinopse: Há uma voz no ar dizendo 'não olhe para trás'. Há uma voz que está sempre presente.
Ghost Of You
Parte I
Às vezes é possível estar sozinho e não se sentir só; você sabe que há, em algum lugar, alguém que se importa. É possível estar em um cômodo lotado e sentir a solidão penetrando-lhe sem pena; ninguém ao seu redor se dá ao trabalho de sequer tentar se importar. Mas às vezes você tem de tudo; pessoas que lhe amam incondicionalmente e seu ego está cheio com a convicção de que essas pessoas realmente se importam. Isso até você perder tudo e cair como um boneco que acompanha um ventríloquo e teve suas linhas cortadas.
Kurt ainda podia ouvir a cantoria de Rachel, sua voz soando longa e interminável com um agudo final e desnecessário, e fechou os olhos para tentar bloquear tudo ao seu redor. Rachel não deveria estar ali; nem Mercedes nem Quinn. Ele não precisava de suas preces nem de suas palavras de consolo. Kurt só precisava que seu pai saísse do coma no qual ele se encontrava ou que ele apenas apertasse sua mão de volta. Qualquer coisa, qualquer sinal para fazer com quê o peso da solidão não fosse tão insuportável.
Ao abrir os olhos, Kurt captou um movimento à sua frente, o que o fez lembrar que ele nunca estava realmente sozinho. Nunca. Havia sempre um uivo no vento, passos, baques, vozes – murmuradas, sussurradas; ecos e choramingas, pedidos de ajuda.
Kurt olhou para o fim do corredor, onde havia um garoto com a expressão tão confusa que beirava o desespero, algo que o deixou desconfortável. Ele andava de um lado para o outro, olhando ao redor com os olhos arregalados e súplicas caiam de seus lábios sem parar. Quando o garoto olhou em sua direção e seus olhares se cruzaram ele pareceu suspirar aliviado. Longos segundos se passaram e, por fim, o garoto sumiu.
Sem poder evitar, Kurt suspirou aliviado e baixou a cabeça. Talvez ele estivesse sendo egoísta, mas Kurt não tinha nenhuma energia para lidar com problemas dos outros no momento, ele só queria que seu pai acordasse. Enquanto isso não acontecia, as últimas palavras de Burt ecoavam na mente de Kurt com um ritmo enlouquecedor, "Eu estou muito decepcionado com você, Kurt".
Balançando a cabeça violentamente e olhando para o teto com um movimento brusco, Kurt foi assaltado pelo silêncio do local; Rachel havia parado de cantar. Ao levantar-se, ele acabou tropeçando em seus próprios pés, mas recuperou seu equilíbrio em movimentos tontos. Kurt honestamente nunca se sentira tão cansado em sua vida.
Há dias ele não dormia, pois além de suas preocupações e a voz de seu pai o assombrando, os hematomas em seus braços, ombros e costas não o permitiam encontrar uma posição confortável na cama – ou em uma poltrona no quarto de hospital. Cada toque, por mais leve que fosse, fazia com que um choque corresse pelo seu corpo em uma dor excruciante. Fechando os olhos, ele quase podia ouvir o som estridente que ecoava pelos corredores quando seu corpo colidia contra as fileiras de armários.
Kurt olhou pela janela do quarto e encontrou as meninas com os olhos fechados, murmurando para si mesmas. Exausto, ele entrou no quarto e evitou contato visual com qualquer uma delas, mantendo seus olhos fixos no chão ao falar.
- Por favor, eu gostaria de ficar sozinho com meu pai.
- Kurt, nós... – Mercedes começou.
- Por favor. – Ele repetiu mais firmemente, quase voraz.
Enquanto elas se levantavam para se retirar, Kurt permaneceu fitando um ponto qualquer próximo a seus pés. Os sapatos brancos de Quinn invadiram seu campo de visão e ele sentiu uma mão apertando seu ombro no que deveria ser um ato de tentativa de confortá-lo, mas acabou pressionando um de seus hematomas formados mais recentemente. Com hostilidade e um chiado involuntário, Kurt se afastou com certa violência, fechando os olhos quando a lembrança do abuso do dia anterior o atingiu como um raio.
- Kurt... – Ele ouviu a voz de Quinn soar trêmula.
- Quinn, não adianta. – Rachel sussurrou e poucos segundos depois a porta fechou, deixando-o sozinho.
Com passos pesados e com a respiração alterada, Kurt puxou uma cadeira para junto da cama e sentou-se. Olhar para a figura imóvel de seu pai fez com que um nó se formasse em sua garganta e um soluço abalou seu corpo antes que ele pudesse impedi-lo.
Lágrimas quentes desceram sem parar, soluços fazendo seu corpo inteiro tremer. Ele chorou por seu pai, pelo medo de perdê-lo, pela solidão que o consumia. Ele chorou pelos hematomas em suas costas, pelas raspadinhas jogadas em seu rosto, pelos neandertais que o chamavam de aberração. E mesmo quando o cansaço ganhou a disputa e Kurt pegou no sono com sua cabeça apoiada no colchão da cama, as lágrimas ainda molharam o lençol estupidamente branco.
Kurt acordou algumas horas depois, sentindo seu pescoço doendo e um peso enorme em suas costas. Resmungando baixinho, ele levantou a cabeça e esfregou os olhos. Seu pai continuava do mesmo jeito, imóvel, mas um movimento próximo à janela o chamou a atenção.
O garoto que Kurt havia visto mais cedo no corredor o observava, seus olhos brilhando cheios de esperança. Quando Kurt apenas levantou uma sobrancelha, o garoto sorriu e assentiu, lançando um olhar para Burt antes de sumir.
Em seus 16 anos de vida, Kurt já havia lidado com vários tipos de espíritos terrenos. Alguns foram violentos, outros dramáticos, alguns irritantes e outros céticos, alguns carregados de culpa e outros divertidos, mas ele nunca havia encontrado um que fosse tão passivo.
Sem energias para realmente se preocupar ou sequer pensar sobre o assunto, Kurt deu um beijo na testa de seu pai e caminhou pesadamente para fora do quarto, indo em direção ao banheiro. Ao adentrar o local, Kurt pôde sentir uma presença, mas fez seu caminho até a pia sem olhar ao redor. A água da torneira desceu fria e Kurt encheu suas palmas para jogá-la no rosto, passando as mãos molhadas pelos cabelos em seguida.
Ao endireitar sua coluna, Kurt deu de cara com seu reflexo no espelho e, se ele já não fosse acostumado com esses acontecimentos, teria gritado ao perceber que sua imagem não era a única sendo refletida. Sobre seu ombro, ele pôde ver o rosto esverdeado de uma jovem mulher. Seus olhos fundos estavam rodeados por grandes manchas roxas, seus lábios sem cor então se esticaram em um pequeno sorriso vitorioso.
- Eu preciso de ajuda. Me disseram que eu deveria procurá-lo. – Sua voz soou rouca e estrangulada.
- Quem disse? – Kurt perguntou apenas por curiosidade e virou-se para a jovem.
- Os outros que estão aqui no hospital. Eles estão sempre de olho em você. Eles sabem sobre o seu pai e sobre o seu dom. – Ela explicou como se contasse um segredo.
Kurt sabia sobre os outros espíritos terrenos que rondavam o hospital, ele podia ouvi-los durante a noite, bem após o horário de visitas, quando ele optava por dormir no hospital. Kurt os ouvia conversando; eles dividiam histórias sobre seus passamentos e as vidas que viveram, mas nenhum nunca viera pedir sua ajuda.
- Em que posso ajudá-la?
- Eu preciso que você dê um recado a minha mãe. Ela ainda está no hospital, mas você não irá alcançá-la se não correr. Meu nome é Susan, diga a ela que nos conhecemos na faculdade há alguns meses.
- Certo. – Kurt assentiu. Ele não acreditava que poderia se passar por um estudante de faculdade, mas achou melhor seguir com o plano. – E qual é a mensagem?
- Eu não gastei o dinheiro da venda do carro, está tudo guardado em um fundo falso da minha escrivaninha. Você precisa ser rápido.
Kurt correu pelos corredores, seguindo o caminho que Susan lhe sussurrava no ouvido. Ao encontrar a mãe de Susan, Kurt disse exatamente o que a jovem havia sugerido e entregou a mensagem com as mesmas palavras. A mulher, que já estava chorando quando Kurt se aproximou, tremeu com os enormes soluços que lhe escaparam. Agradecendo repetidamente, ela explicou que, sem aquele dinheiro, ela e as irmãs mais novas de Susan não teriam como comprar comida.
Kurt não era o maior fã de demonstrações de afeto, mas aceitou o abraço da mulher com bom grado. Por alguns segundos ele se permitiu sentir bem pelo alívio que havia proporcionado à desconhecida. Uma pequena brisa morna passou rapidamente pelo corredor e mesmo sem olhar ao redor, Kurt sabia que Susan havia feito a travessia em paz.
Os corredores estavam vazios senão pelos espíritos que o cumprimentaram simpaticamente enquanto Kurt fazia seu caminho até a lanchonete do hospital. O apetite há muito já se fora, mas um copo de café seria bem vindo.
A atendente do balcão não tivera nenhuma simpatia ao servir-lhe um copo com o líquido escaldante, quase o queimando através do plástico fino. Talvez seu mau-humor tivesse alguma relação com o espírito terreno que estava bagunçando todos os pedidos e sujando as mesas com os restos de comida deixados sobre as mesas. Kurt pôde ouvir a moça resmungar alguma coisa sobre seu trabalho nunca acabar naquele lugar.
Quando Kurt se sentou em uma das mesas limpas – as quais eram poucas –, o garoto de cabelos escuros que ele havia visto anteriormente no corredor e na janela do quarto de seu pai apareceu a alguns metros de distância. Na expressão do garoto havia um quê de curiosidade enquanto ele o observava.
Kurt ainda esperou por algum tempo depois que seu café acabou, dando ao garoto a oportunidade de se aproximar e pedir ajuda, mas ele permaneceu parado, apenas olhando.
Com um suspiro cansado, Kurt se levantou e fez seu caminho de volta para o quarto em passos lentos e pesados. Dentro do cômodo, nada havia mudado desde sua saída, então Kurt afundou-se na cadeira e segurou firmemente a mão de seu pai.
Mesmo que sem esperanças, Kurt murmurou mais algumas súplicas, algo que ele sempre fazia quando o medo parecia lhe consumir com mais voracidade. A única diferença foi que dessa vez Kurt obteve uma resposta.
A mão a qual Kurt estivera segurando contraiu-se sob sua palma e a pálpebras que estiveram fechadas por tanto tempo tremeram levemente, quase como se lutassem contra uma força invisível que as estivessem impedindo de se abrir.
- Pai? – Kurt chamou e sua voz soou desesperada, porém cheia de esperança. A mão de Burt deu um pequeno espasmo em resposta. – Enfermeira! – Ele gritou na direção do corredor e logo o quarto estava cheio, Kurt sendo obrigado a se afastar de seu pai. Lágrimas silenciosas desceram quentes por suas bochechas e algo em seu peito pareceu descontrair-se. Kurt respirou fundo; Burt estava bem.
Kurt ainda perdeu dois dias de aula depois de Burt ter voltado para casa. Carole só poderia trocar o horário do seu turno a partir da segunda-feira, então Kurt ficou com seu pai na quinta e na sexta apesar de todos os protestos.
No sábado de manhã, Kurt entrou na cozinha e foi recebido por seu pai resmungando sobre sua comida, que segundo ele era "sem graça e sem gosto" e segundo Kurt era "sem gordura e sem riscos para o coração". Finn achou a discussão hilária e passou a chamar a nova dieta de Burt de "Dieta Sem"; Kurt apenas revirou os olhos.
Na mesa, sentada ao lado de Burt, estava uma garotinha de feições pálidas e longas mechas loiras que caiam em cascata sobre seus ombros. Ela olhava para Burt com um pequeno sorriso.
- Temos companhia. – Kurt avisou, passando direto pela mesa e abrindo a geladeira.
- De novo? – Burt olhou ao redor inconscientemente, mas era em vão.
- Bom dia, Sr. Hummel. – A garotinha desejou, rindo. Seu sotaque era forte, mas Kurt não sabia dizer de onde era ela.
- Ela disse bom dia.
- Oh, é aquela garotinha novamente? Onde ela está? – Burt sorriu e olhou para onde Kurt apontou. – Bom dia, querida. – Ele desejou simpaticamente, ainda sem conseguir realmente focalizar os olhos no rosto da menina.
Às vezes eles recebiam visitas assim; algumas passageiras e outras constantes. Os espíritos que vinham em visita normalmente não procuravam nada em especial, alguns às vezes estavam curiosos em relação ao que ouviram dizer sobre o dom de Kurt e vinham checar por eles mesmos, mas sempre deixavam a casa mais animada.
Os únicos que sabiam sobre o que Kurt era capaz de fazer eram Burt e Carole, que ainda estavam pensando se seria uma boa ideia contar para Finn. O segredo poderia acabar se tornando demais para a cabeça do garoto e a última coisa que Kurt precisava era que Finn desse com a língua nos dentes e entregasse de bandeja mais um motivo para os idiotas da McKinley o chamarem de aberração.
Quando Kurt e Burt conversaram com Carole, a mulher ficou em choque por algumas horas. Ela então pediu um tempo sozinha e subiu as escadas para tomar um banho. Não foi fácil acalmá-la quando um dos espíritos escreveu uma mensagem no espelho condensado do banheiro bem diante de seus olhos. A mensagem dizia apenas "acredite" e sumiu antes que ela pudesse abrir a boca para gritar.
Três meses e mais algumas experiências depois, Carole bateu timidamente na porta do quarto de Kurt, uma foto já amarelada de tão antiga em suas mãos. Kurt fechou seu livro de geometria e fez um gesto para que ela se sentasse ao seu lado na cama.
- Kurt, esse é meu falecido marido Chris. – Ela estendeu a fotografia para Kurt, mas não tirou os olhos da imagem. – Eu queria saber se você já... Se você acha que... – Carole pigarreou e começou novamente. – Você me explicou como é importante que os... espíritos façam a travessia logo após sua morte e o quão perturbados e perdidos eles podem ficar caso isso não aconteça... Eu queria saber... Eu pensei que talvez você pudesse me dizer se ele fez a travessia.
Kurt olhou a foto com muita atenção, mas soltou um suspiro de derrota quando não conseguiu se lembrar do acontecido. Ao ver as lágrimas brilharem nos olhos de Carole, Kurt apressou-se em procurar uma solução.
- Eu era apenas um bebê quando ele morreu, mas minha mãe pode tê-lo ajudado.
- Sua mãe? – Carole franziu o cenho.
- Sim, ela não tinha o mesmo dom que eu, mas ela sempre foi sensível em relação a espíritos terrenos. Ela podia ouvi-los e falar com eles, mas não conseguia vê-los como eu consigo.
- Então você não tem como saber? – A voz de sua madrasta soou tão fraca que Kurt quis abraça-la.
- Eu posso perguntar... – Ele ofereceu com honestidade genuína.
Após receber um leve aceno de cabeça como resposta, Kurt virou-se para o garoto que estava sentado ao pé de sua cama com um livro apoiado em seus joelhos, respondendo a mesma questão de inglês pela centésima vez. O garoto olhou para Kurt com uma sobrancelha levantada e colocou o livro de lado, se aproximando para examinar a foto com cuidado e em seguida sumiu no ar.
Longos minutos se passaram e Carole trouxe a foto para junto do seu peito enquanto as lágrimas, que até então só haviam ameaçado cair, molhavam seu rosto sem piedade. Kurt esperou em silêncio e quando o garoto reapareceu, ele automaticamente alcançou a mão de Carole.
- Christopher Hudson, passamento por overdose?! – Quando Kurt assentiu, o garoto continuou. – Travessia feita cinco dias após a morte.
Kurt repetiu o que foi lhe dito e Carole não segurou mais os soluços. Sem pensar duas vezes, Kurt a envolveu em um abraço que ele esperava que fosse reconfortante e afagou suas costas carinhosamente.
- Obrigada, Kurt. Muito obrigada.
Vários meses já haviam se passado desde então e Carole, durante a maior parte do tempo, conseguia lidar bem com os acontecimentos diários.
Depois de tomar café da manhã, quando a garotinha já havia ido embora, seu pai resolvera comer direito e Carole estava fazendo panquecas para Finn, Kurt subiu até seu quarto para arrumar sua cama e separar a roupa suja por cor e tipo de tecido.
Àquela altura, Finn provavelmente já havia dito ao pessoal do New Directions que Burt havia saído do coma e estava em casa, sendo bem cuidado. Ninguém havia falado diretamente com ele ainda e Kurt sinceramente esperava por uma ligação, mas talvez eles achassem que Kurt ainda estava com raiva, levando em consideração seu comportamento quanto às tentativas de seus amigos de ajudarem-no.
Era sobre isso que Kurt estava pensando quando um cheiro forte de framboesa encheu o quarto. Ele olhou ao redor com o cenho franzido, mas não havia nenhuma indicação de onde o cheiro poderia estar vindo. Abrindo a porta, Kurt desceu um dos lances de escada, mas o cheiro ficava mais fraco conforme ele descia, então não tinha nenhuma relação com o que Carole estava cozinhando.
De volta em seu quarto, Kurt foi até o banheiro e checou cada um de seus produtos que estavam organizados no armário, mas nenhum deles era a fonte do cheiro. Já se dando por vencido, Kurt olhou ao redor mais uma vez e de repente o aroma se dissipou.
- Bom dia. – Uma voz macia desejou bem atrás dele e Kurt virou-se. O garoto que o estivera observando no hospital estava em pé no batente da porta do banheiro, sorrindo-lhe.
- Bom dia. – Kurt respondeu, ainda um tanto quanto confuso sobre o que havia acontecido com o aroma que desaparecera do ar tão rápido quanto surgira.
- Meu nome é Blaine. – Ele estendeu uma mão.
- Kurt. – Kurt apenas observou a mão que lhe fora estendida com uma sobrancelha erguida e após alguns segundos, Blaine a deixou cair ao seu lado, parecendo envergonhado.
- Kurt. – Blaine repetiu como se estivesse testando o jeito como o nome rolava em sua língua. – Prazer em conhecê-lo. Desculpe por ter aparecido sem avisar, mas eu não quis incomodá-lo no hospital. – Blaine pigarreou. – Fico feliz em saber que seu pai está melhor.
- Obrigado. – Ele permitiu-se sorrir levemente. – Em que posso ajudá-lo, Blaine?
- Eu não tenho certeza. – Blaine riu sem graça. – Eu precisava falar com você porque aparentemente você é a única pessoa que não está me ignorando. Eu tentei pedir ajuda no hospital, mas eles nem sequer olharam para mim.
Kurt suspirou e sentou-se na beirada da cama, olhando para o rosto contorcido com apreensão de Blaine. Eram raros os espíritos terrenos que recorriam a ele sem saber que estavam mortos e estes eram sempre os mais difíceis.
- Blaine, você sabe por que você estava no hospital?
- Não. Eu não consigo me lembrar, mas deve ter acontecido alguma coisa com meu pai, pois meu irmão estava lá também. Deve ter acontecido algo e por isso meu irmão não quis falar comigo. A culpa é minha. – Blaine havia começado a andar de um lado para o outro, as mãos na cintura e a cabeça baixa.
- Porque você acha que a culpa é sua? – Kurt forçou.
- Nós tivemos uma discussão idiota e eu fugi de casa. Eu só precisava caminhar um pouco, esfriar a cabeça. – Os passos de Blaine adquiriram um ritmo quase frenético sobre o piso.
- E o que aconteceu?
- Eu não lembro! – Ele respondeu cheio de frustração, passando as mãos pelos cabelos em um movimento que refletia nervosismo.
- Blaine. – Kurt chamou calmamente. – Talvez seu pai esteja bem e talvez você não esteja.
- O que você quer dizer com isso? – Blaine olhou para Kurt como se achasse que ele fosse louco.
- O que você acha que pode ter acontecido com seu pai? – Ele rebateu.
- Talvez ele tenha ido atrás de mim e se envolvido em um acidente.
- Blaine, vá para casa. Vá ver seu pai. Quando você tiver certeza do que aconteceu com ele, me procure novamente.
Ainda com a testa franzida e com um olhar desconfiado, Blaine sumiu.
