Disclaimer: Nada meu, nunca.
Cacilda Becker, quanto tempo que eu posto nada D: Ok, voltando no dia do aniversário da Ray. Aliás, presente pra ela, coisa ninda q
Eu já tava com essa idéia há um tempão, até porque, MelloNear + Segunda Guerra Mundial + Near's POV = impossível, mas FODA.
Acho a Segunda Guerra bem interessante e eu queria postar logo tudo de uma vez pra parar de acumular fics de capítulos estacionadas, mas foda-se. Não dá tempo.
Enfim, a fic, yay.


Polônia, Julho de 1942.

A Alemanha estava em guerra e os campos de concentração eliminavam mais não-arianos a cada segundo. Mais corpos jogados para um lado qualquer, empilhados de forma desleixada, como se fossem peças de roupa. Era repugnante, deprimente e, acima de tudo, assustador. Ainda mais por imaginar que isso aconteceria comigo, se eu não desse um jeito de fugir.

Nós não sabíamos como andava a guerra, não importava se houvesse amigos na linha de frente. Todos naquele inferno estavam alheios a isso, incluindo eu, não havia nenhum modo de receber notícias. Estava em Auschwitz havia seis meses, e já conseguia contar minhas costelas. Eu imaginava como fugir. A segurança incluía camadas de arames eletrificados, cachorros provavelmente hidrófobos segurados por homens que agiam assim como os mesmos. Sem contar com o muro alto, por volta de quatro metros. Não tinha saída. Estávamos presos em nome de der Führer.

Bom, para nós, ele não era o Führer. Para nenhum de nós. Eu ouvia os sussurros. Todos se referiam a ele como "Saukerl", sempre bem baixinho, quase inaudível. Quem sabe o que poderia acontecer se os pegassem falando assim do estimado Führer?

Uma coisa que pudemos tirar dessa experiência é que nada é tão ruim que não possa piorar. Claro, a lei de Murphy fala isso, mas quem realmente crê nela? Ao menos, conosco, ela foi bem real.

Os mais inúteis morreram primeiro. Eu tive que me esforçar muito. Eu sempre fui mais fraco, e para fugir das pesquisas médicas, tive que sujar meu cabelo, até parecer negro. Meu cabelo é, na verdade, branco. Com uns reflexos prateados. Sempre me orgulhei dele, embora nunca tenha demonstrado. Nunca demonstrei nada naquele lugar maldito, sempre mantive uma máscara fria. Em branco. Nunca daria o prazer de ver meu rosto se contorcer de dor, exaustão ou fome para aqueles idiotas. Nunca.

Com o tempo, eu descobri. Havia uma única saída.

Para os prisioneiros daquele lugar, não havia coisa alguma. Tal qual banheiros. Havia apenas uma lata para cada cela. Todo dia, uma vez por dia, passava um carroção, e nós, os judeus, os enchíamos com o conteúdo das latas. O meu serviço era, junto com outros dois judeus, empurrar aquele tonel até a saída. O tonel ficava grudado ao fundo, formado por uma grande tábua de madeira. Esperei os outros dois se retirarem, cansados e sem esperanças. Cheguei a pensar em falar do meu plano para eles, mas já era tarde. O caminhão que levava o barril estava para vir. Todo dia, às sete da tarde.

Roubei um canudo e uma meia de seda. Coloquei a meia de seda na cabeça, o canudo na boca e tomei o maior fôlego da minha vida e entrei no tonel.

É uma sensação impossível de descrever. Uma mistura de asco, expectativa, nervosismo, ansiedade, tudo mexendo e remexendo, enquanto se respira por um canudo extremamente fino.

Eu não levantaria, mesmo que me faltasse ar e custasse minha vida. Der Führer e seus seguidores eram assassinos, e eu me recusava a morrer nas mãos de assassinos.

Não era possível ouvir nada, mas eu consegui sentir quando começou a se mover.

O desespero era enorme, eu quase desejei morrer ali mesmo. Quase. Eu não tinha ido tão longe por nada. Mas o cheiro era sufocando e o canudo muito fino.

Em algum momento, o tonel começava a virar. Ou haviam me descoberto, ou... Eu havia conseguido. Antes que eu pudesse pensar em algo, eu senti algo gelado.

Era água.

Eu tinha sido jogado, junto com todo o conteúdo, em um rio.

Não conseguia acreditar. Eu tinha conseguido fugir de Auschwitz! Ah, o alívio... De longe, a melhor sensação da minha vida. Anos de rostos vazios, meses de ódio oculto... Pela primeira vez em muito tempo, eu sorri, tive vontade de rir, gritar, pular, chorar. Submerso na água do rio, eu esperei a água me limpar. Levantei e tirei a meia, jogando-a em algum lugar qualquer. Deitei-me na margem.

O céu polonês se torna a coisa mais linda do mundo, quando se escapa da morte certa. Sendo verão, as estrelas enchiam a noite. Também era lua cheia, o que deixava tudo bem claro.

Olhei para trás e vi que ainda era possível enxergar a sombra do campo de concentração, as silhuetas dos guardas e dos mortos-vivos esperando serem apenas mortos.

Talvez eu devesse ter dito a alguém esse plano. Ao menos, mais um vivo.

Contudo, eu não conseguia me arrepender. Era boa demais a sensação, e eu não confiava em ninguém, de qualquer forma.

Eu poderia não estar completamente fora de perigo, mas estava no caminho certo. Com certeza estava.

Olhei para o meu antebraço esquerdo, só para constatar que ainda estava ali. 296555. Meu número. Eu esperava que, de alguma forma, aquela cicatriz houvesse sumido. Aquele número era a prova de que, para Hitler, eu deveria estar enterrado a sete palmos. Assim que cheguei em Auschwitz, me marcaram com uma navalha, para me identificar. Eu não poderia mais andar com camisetas. Não que isso fizesse alguma diferença, claro, eu sempre usei mangas compridas mesmo.

Eu estava exausto. Deitei-me ali mesmo, eu não tinha dormido na noite anterior, nem na noite antes dessa. Ansiedade.

Com os pés ainda na água, adormeci.


Não, não teve beta. Só a Ray lendo os trechos Q
Mas acho que ela gostou o.o
Não, o Mello ainda não apareceu. Só capítulo que vem -s 8D
Pros que perceberam, sim, eu usei a idéia do Pedro Bandeira em "Anjo da Morte", porque ele é Deus e eu sou xonada nele (L) e o vocabulário alemão dou graças ao "A Menina que Roubava Livros" e a própria Ray :D
Ok, reviews. Vale de tudo, menos ofender minha pessoa e meus progenitores, ok? ):