O silêncio reinava no cômodo onde se encontrava o casal, ambos dormiam profundamente, tentando desfrutar o máximo possível do aconchego de suas camas e do calor do corpo do companheiro até dar a hora para se levantarem e irem trabalhar. Só não contavam que alguém não dividisse as mesmas idéias e entrasse, sorrateiramente, no quarto para acordá-los.

A pequena espiava os pais dormindo enquanto soltava risinhos baixos pela brincadeira que iria fazer com os mesmos. Aproximou-se, lentamente da cama, indo na ponta dos pés para não fazer barulho, e entrou por baixo das cobertas ficando bem no meio do pai e da mãe. Decidiu começar com o pai e lhe cutucou de leve, mas não surtiu efeito, tentou mais uma vez com um pouco mais de força e o ouviu resmungar algo, sorriu com a reação e se virou para a mãe fazendo o mesmo. A mãe, como tinha um sono mais leve, entreabriu os olhos mas como não viu nada pensou ser Sasuke, seu marido, e voltou a dormir devido ser muito cedo.

Saori colocou a mão na boca para não rir e repetiu o mesmo ato, várias vezes, com o pai e depois com a mãe. Sasuke já estava ficando irritado com aquilo e decidiu perguntar a esposa, Sakura, qual era o problema e porque ela o estava cutucando, mas ao se virar percebeu que algo se movia no colchão e tentava conter uma risada. Sorriu ao descobrir quem estava por trás da gracinha e por acordá-los. Ao levantar seu olhar para a esposa viu que a mesma também havia notado a filha mais nova de apenas cinco anos, escondida entre os lençóis. E em um olhar cúmplice decidiram entrar na brincadeira da menina.

Quando achou que seus pais haviam voltado a dormir decidiu continuar a brincadeira, mas qual foi seu espanto ao ser puxada, por braços fortes, pra fora das cobertas e logo em seguida ser atacada com cócegas pelo pai e a mãe. A pequena garota se contorcia de tanta graça enquanto pedia para os pais pararem, o pai apenas respondeu de forma brincalhona:

- Então a senhorita achou que podia vir brincar e nos acordar desse jeito e não iria ser castigada?

- haha...pa...ra...otou-san... – tentava falar Saori em meio ao riso.

- Sasuke, acho que ela já aprendeu a lição, deixe-a respirar! – falou Sakura rindo da filha e do marido.

Atendendo ao pedido da mulher parou com as cócegas e ao se ver livre das mãos do pai se jogou em seu colo rindo e desejando bom dia ao mesmo. Sasuke apenas acariciou o rosto alvo da pequena, de cabelos e olhos tão negros quanto os seus, que sempre vinha acordar os pais, todos os dias, de um jeito bem inusitado, sempre inventando novas brincadeiras que apesar de infantis, ele não conseguia imaginar de onde ela tirava essas idéias.

Antes que mais alguma coisa pudesse ser dita, Sakura ouviu a porta do quarto se abrir e passar por ela um garotinho de cabelos cor de ébano, de sete anos, esfregando os belos olhos verdes em claro sinal de que havia acabado de acordar e ainda tinha sono, chegou perto da mãe que o recebeu de braços abertos, o aconchegando em seu colo enquanto o mesmo murmurava com sono:

- Por que acordaram tão cedo? Ouvi risadas lá do quarto e acabei acordando, o que houve?

- Pergunte para a sua irmã, foi ela quem nos acordou e fez todo esse barulho! – respondeu Sasuke olhando para o filho mais velho, Daisuke.

Daisuke direcionou o olhar para irmã que estava no colo do pai, esperando uma resposta, mas a mesma apenas riu e se aproximou do irmão, batendo as duas pequenas mãozinhas no rosto, repetidas vezes, para que ele acordasse

- Nissan, acorda primeiro que ai eu te conto!

- Baka, não me bate, isso dói! – falou resmungando enquanto esfregava o local que a irmã havia batido.

- Daisuke tem razão, não faça isso Saori! – repreendeu Sakura, sabia que a filha estava brincando mas ela podia machucar, sem querer, o mais velho.

- Gomen, Nissan! – falou já com a voz um pouco chorosa, não gostava quando a mãe ou o pai brigava com ela e não queria machucar o irmão.

Daisuke percebeu o que ia acontecer, com certeza a mais nova iria abrir o berreiro e se tinha uma coisa que não gostava era de vê-la chorando, então decidiu distraí-la para evitar as lágrimas, e começou a fazer palhaçada para que Saori risse. Sasuke resolveu ajudar o filho, sabia que, às vezes, para não dizer sempre, mimava demais a pequena, mas ela era a sua princesa e faria de tudo por ela ou Daisuke ou Sakura.

Sakura apenas observava a cena dos três com um sorriso terno no rosto, se considerava a mulher mais feliz do mundo por ter uma família tão linda quanto aquela. Nunca imaginou que o garoto que sempre amou desde o colégio, Uchiha Sasuke, o garoto mais bonito, com seus cabelos arrepiados tão negros quanto seus olhos, e popular, aquele que todas as garotas desejavam, viesse a se apaixonar por ela, Haruno Sakura, uma menina de temperamento forte de madeixas estranhamente rosa e olhos verdes que era apenas mais uma dentre tantas naquela escola, nem tão pouco sonhou que um diria viria a ser a senhora Uchiha Sakura.

É claro que nem sempre o namoro foi um mar de rosas, tiveram que passar por muitas coisas juntos, enfrentando o preconceito dos pais de Sasuke que achavam que Sakura queria dar o golpe da barriga, pois a mesma acabou engravidando de Daisuke com dezessete anos, e mesmo contando com a ajuda dos pais de Sakura para cuidarem do filho enquanto ambos cursavam a universidade, tiveram que aprender juntos como serem pais cedo e descobriram que junto com o crescimento vem a independência e a responsabilidade, além de ter que agüentar as intrigas causadas por Matsumoto Karin, uma menina que era obcecada por Sasuke, e fez de tudo para tentar separar o jovem casal, coisa que até conseguiu uma vez mas o amor que os ligava acabou falando mais alto do que qualquer armação e graças a isso estavam juntos há mais de oito anos.

Sasuke notou o olhar perdido em lembranças da esposa e resolveu mandar os filhos se arrumarem para irem tomar café, todos juntos. E apesar dos protestos de Daisuke que ainda pretendia voltar a dormir, Saori conseguiu convencê-lo, deu um beijo nos pais, assim como o irmão mais velho, e saiu arrastando o mesmo para fazerem o que pai pediu. A sós com a mulher se aproximou de seu rosto e com um beijo cálido murmurou baixinho em seu ouvido:

- O que foi, meu amor? Estava tão distraída.

Sakura sorriu para o marido, enquanto o mesmo beijava lentamente seu pescoço, e repondeu:

- Eu estava apenas relembrando o passado e vendo o quanto eu sou feliz hoje, e devo tudo isso a você e as crianças.

- Eu te amo Uchiha Sakura, e se sou feliz é porque eu também tenho vocês comigo, não seria metade do homem que sou hoje sem vocês, mesmo com todos os problemas que passamos, mas quem sabe hoje não se torne um dia especial e que possamos comemorar. – respondeu com um sorriso de canto.

Sakura afastou um pouco o marido para olhá-lo diretamente, para Sasuke dizer isso com certeza era porque o negócio que estava tentando fechar a meses junto com o seu sócio e melhor amigo do casal, Uzumaki Naruto, deveria estar perto de se realizar. Arqueou uma sombrancelha pedindo mais explicações a Sasuke.

- Vamos receber uma resposta hoje, mas esta tudo praticamente certo, só estamos esperando uma confirmação. E isso acontecer é melhor se preparar pois iremos jantar para comemorar – falou vendo a empolgação da mulher que não se conteve e pulou em seus braços.

Desde que descobriu que Sakura estava grávida, Sasuke começou a trabalhar nas empresas do pai de seu melhor amigo para conseguir uma grana a mais, já que seu pai era contra o namoro dos dois e não queria ajudar em nada, se Sasuke quisesse alguma coisa ele teria que trabalhar e ralar por vontade própria e foi isso que ele fez, ao mesmo tempo em que cursava administração. Com o tempo conseguiu abrir um pequeno negócio com o Naruto, e com a realização desse novo contrato conseguiria dar uma vida melhor a sua família, era com isso que contava.

- Meu amor, isso é ótimo! Eu sabia que conseguiria! – falou beijando com ardor os lábios do marido.

Este se aproveitando da situação resolveu aprofundar o beijo, fazendo leves caricias no corpo da mulher, enquanto deitava a mesma na cama, prensando-a com o peso de seu corpo. Deixou os lábios da esposa e começou a beijar o pescoço e o ombro enquanto ouvia Sakura gemer baixinho seu nome.

- Sasuke...as crianças! – tentava fazer com que o outro parasse, aquele não era o momento para se amarem, mas a cada toque do marido ela se perdia cada vez mais nas sensações que sentia.

- Não se preocupe...eles vão demorar. – respondeu entre uma caricia e outra, retirando a camisola da esposa.

Já se encontravam na sala esperando os pais que insistiam em demorar, Daisuke tendo herdado o temperamento do pai, já fazia bico demonstrando estar irritado com o atraso dos mais velhos, já Saori ria da cara emburrada do irmão, achava graça quando o mais velho fazia aquele bico.

- Do que você tá rindo, pirralha? – perguntou mal-educado Daisuke.

Saori crispou os lábios pronta para brigar com o antes que Saori respondesse os pais apareceram no cômodo os chamando para tomar café. Saori correu para os braços da mãe dizendo que já ia chamá-los, pois o irmão já estava irritado. Sakura olhou de sua filha para Sasuke como se dissesse que a culpa era dele por terem ser atrasado. Sasuke apenas revirou os olhos e pegou o mais velho no colo, se dirigindo para a cozinha.