Série Alouette
por Nimori

tradução: Rebecca Mae
betagem da tradução: Ivich Sartre

Rating: Nc-17
Alertas: Sexo homossexual bastante rude.
Shipper: Lucius/Harry
Disclaimer: Vê aquela moça bem ali? É dela. Não meu. Vê todo o dinheiro? Mesma coisa.
Feedback: é uma coisa maravilhosa.

Sinopse: Um pássaro engaiolado cantará, ao menos para conservar seu espírito.

Hospedada em: www . nimori . slashcity . net / fiction / series . php ? seriesid(igual)2

Nota do Traducious: Alouette é uma série composta de três one-shots chamadas "Je Te Plumerais", "A Exaltação da Cotovia" e "O Olhar do Pássaro" (ou, no idioma original, "Je Te Plumerais", "The Exaltation of the Lark" e "Birdseye". Esta tradução, bem como todas as outras que o grupo apresenta, foi realizada com consentimento de sua respectiva autora.

Nomes de personagens seguem o idioma original de Harry Potter, enquanto lugares, objetos e animais seguem a tradução oficial dos livros.

Pensamentos/ênfase


Je Te Plumerais

Ainda estava vivo.

Haviam raspado sua cabeça, mesmo que crescesse novamente toda noite, e ainda estava vivo.

Não queria pensar no que aquilo significava.


O tempo se tornou um fantasma, o lumos que nunca cessava pairando sombriamente sobre sua cela, erradicando o dia e a noite, refeições chegando ao que pensou serem intervalos irregulares. Ele sabia o que Voldemort estava fazendo; o Lorde das Trevas era sonserino e sonserinos gostavam de jogos psicológicos tanto quanto plantas gostavam da luz do sol.

Acontecimentos se sucediam no mundo lá fora. Podia sentir, e sabia que Voldemort queria que sentisse isso e desse a si mesmo por desamparado.

As refeições apareciam e os dejetos desapareciam e Harry Potter não via outro rosto desde a morte do tempo, desde o amanhecer do crepúsculo interminável.


Ele deu voltas. Ele cantou. Resolveu problemas de Aritmancia nas paredes. Lembrou-se dos répteis no zoológico e se perguntou se haveria uma placa fora de sua cela.

Thamnophis potterica, o potter de jardim do norte europeu. Inofensivo. Originário do sul da Inglaterra, Thamnophis potterica é encontrado agora principalmente na Escócia, mas continua a migrar para o sul no verão. Estima-se que a espécie tenha entre 16/17 anos. Criado em cativeiro.

Ele deu voltas. Ninguém veio.


Alguém veio.

Luz, mais clara que seu lumos obscuro; luz, oscilando conforme a pessoa que a segurava se movia. Sua porta se abriu e dois Comensais da Morte mascarados atiraram um corpo pálido e pintado de sangue em seu chão.

Eles saíram, levando consigo sua luz e deixando ali seu fardo mutilado, mas agora, oh, agora havia antes e depois. E isso lhe concedeu a esperança de que o tempo tivesse meramente hibernado, que fosse acordar logo e trazer de volta o dia e a noite e as aulas e seus amigos e cachorros pretos e sardas e Feijões de Todos os Sabores e olhos brilhantes por trás de óculos de meia-lua e predições inovadoras sobre sua própria morte e suco de abóbora e olhos fuziladores, negros como um besouro, que o odiavam, e se esgueirar pelos corredores à noite, certo de que ninguém podia vê-lo, mas também sabendo que poderia ser visto se quisesse ser... Que poderia existir para alguém.

Poderia sobreviver à espera, porque agora havia um antes e um depois. Antes de essa porta se abrir. Depois de essa porta se abrir. Capturou um ponto de referência nessa nova chegada, e a vitória tinha um sabor doce.

Deixou seu convidado onde os Comensais o haviam atirado, e retornou à sua centésima qüinquagésima primeira recitação de Alouette¹.

Cantarolou com um zunido as palavras que não sabia, as quais eram muitas.


Depois de um tempo – e Harry não estava certo de quanto tempo, pois andava pensando e pensar às vezes aumentava a percepção do tempo e às vezes a reduzia -, Lucius Malfoy se sentou.

"Potter. Pare de cantar". Quebrada, rouca voz.

"Não. Alouette, humm-humm alouette, alouette, je te humm-humm-humm".

"Quiçá eu estivesse errado", Malfoy disse, estremecendo.

Harry ficou feliz de ver que seu longo e aristocrático nariz parecia quebrado.

"Há um inferno afinal".

Harry riu. "Deixou seu mestre puto?".

"Você poderia dizer isso".

"Acabei de dizer, humm-humm alouette--".

"Merlin me salve".


"Você vai bagunçar!" .

Malfoy disparou-lhe um irado e inconsciente olhar, as maçãs de seu rosto coradas e úmidas, e retornou aos seus laboriosos esforços de alcançar o reservatório de água. "Bagunçar... O quê... Potter?".

Harry apontou para o intrincado desenho que fizera arrastando areia em círculos concêntricos. Hermione teria dito que parecia muito zen, e então lhe presenteado com uma nada condensada história do budismo.

"Ótimo". Malfoy se sentou novamente contra a parede, ofegando e tentando não mostrar. "Traga-me um pouco d'água então".

Harry encarou-o e olhou, entre a bacia d'água que se auto-completava e a culminação de horas ou dias ou semanas de paciente desenho na areia, dividido. Suspirando, levantou-se e foi até a bacia, somente então percebendo que não tinha copo. Pratos e tigelas apareciam e desapareciam com a comida, e nunca havia recebido utensílios. Dando de ombros, Harry juntou as mãos como uma concha.

Pouquíssima água sobreviveu ao trajeto e Malfoy curvou seus lábios quando Harry o alcançou, embora entre a penosa oferenda ou o levemente sinistro, arranhado e abatido aspecto das mãos de Harry ele não pudesse dizer. Entretanto, aceitou a água, lábios rudes e rachados contra a palma de Harry.

Harry fez várias viagens a mais antes que Malfoy o dispensasse, jogando tudo em cima do desenho de areia, arruinando todos os esforços de Harry em preservar sua sanidade através da filosofia oriental.


"Alouette, humm-humm alouette--".

"Gentile".

"O quê?".

"Gentile alouette".

"Gentile alouette, allouette, je te...".

"Plumerais". Silêncio por um momento. "Então?".

"Não sei o resto".

"Pelo amor de Talesien²... 'Je te plumerais la tete, je te plumerais la tete, et la tete, et la tete'".

"O que significa?".

"Cotovia, gentil cotovia, eu te depenaria. Eu depenaria tua cabeça, e tua cabeça, e tua cabeça".

"Isso é mórbido".

"É uma canção infantil, Potter. São todas macabras".

Harry ficou em silêncio por um momento, então, "Grandes, verdes pedaços de gosmentas tripas arrancadas, carne de macaco mutilado, pezinhos sujos de passarinhos...". ³

Malfoy choramingou e deixou a cabeça cair sobre os joelhos.


Só o tempo, puta caprichosa, diria se a perna de Malfoy estava quebrada ou apenas severamente luxada, mas no momento, ele parecia apreciar ter Harry buscando coisas e carregando.

Não que houvesse muito para buscar e carregar. Refeições, porque Harry já tinha ficado sem por tempo demais e sabia como era ruim; água, pela mesma razão; e o cesto de dejetos, porque não queria conviver com o cheiro. O acréscimo de outro corpo à cela sem sabão era ruim o bastante, mesmo se Malfoy não pudesse cheirar nada através de seu nariz dilacerado.


"Je te plumerais le nez, je te plumerais le nez, et le nez, et le nez. Alouette, alouette...".

"Você vai ficar em silêncio?".


Eventualmente Harry molhava as tiras de suas vestes, que andara usando para se limpar, e as trouxe até Malfoy, e o ajudou a tirar o sangue. Olhar para o sangue seco que havia formado crostas e para os olhos inchados e enegrecidos lhe fez ter sonhos ruins. Malfoy praguejou quando Harry limpou o nariz quebrado e o olho tenro, mas que ao menos não parecia mais ter sido massacrado após uma luta perdida com um lobisomem.


"Je te plumerais les yeux, je te plumerais les yeux, et les yeux, et les yeux. Alouette, alouette...".

"Você não pode cantar alguma outra coisa – qualquer outra coisa?".


Malfoy aceitou aprender a jogar damas, mas somente porque não tinham como transformar cascalho em peças de xadrez e nenhum deles conseguia lembrar tão bem de um tabuleiro de gamão a ponto de desenhá-lo no chão. Movia as pedras com uma pretensiosa e delicada e terrivelmente precisa mão, poupando a outra enquanto esperava o inchaço de seus dedos diminuir e o púrpura violento esmorecer.

Venceu gloriosamente Harry uma vez que pegou o jeito.


"Je te plumerais les mains, je te plumerais les mains, et les mains, et les mains. Alouette, alouette...".

"Potter, por favor. Estou pedindo com gentileza. Fica. Quieto".


Tiveram algumas brigas depois que a perna de Lucius melhorou. Harry, voluntário o bastante para se apiedar de um homem desamparado, se recusou a continuar o elfo-doméstico uma vez que Malfoy podia andar, enquanto Malfoy achava divertido ver o quanto conseguiria que Potter fizesse por ele.


"Je te plumerais les jambes, je te plumerais les jambes, et les jambes, et les jambes. Alouette, alouette...".

"Maldição, Potter, cala essa boca antes que eu te afogue na bacia".


Malfoy ter redescoberto a independência levou Harry novamente a um estado ainda mais alto de tédio. Até que uma conversa de argumentos ríspidos sobre os benefícios de ser criado em uma família puro-sangue levou Malfoy a se oferecer para ensiná-lo a dançar, e Harry a concordar.

"Ron não sabe dançar também", Harry murmurou, relutante e ansioso e estranho ao permitir que Malfoy posicionasse suas mãos em seu ombro e cintura. "Ele é puro-sangue, então não vejo como isso possa ser um benefício de ancestralidade".

"Perdoe-me, eu deveria ter dito puro-sangue com classe e um pouco de dignidade. Cabeça erguida, siga minha liderança".

Harry resmungou. "Você seria realmente mais feliz se o mundo fosse reduzido a bruxos de alto status e dinheiro antigo, que usam somente vestes de veludo tecidas à mão, como Virgil, mas não Homer, e pensam que caviar é brega? Todos os vinte e sete deles?".

"Parece utopia pra mim", Malfoy disse. "Mas caviar nunca é brega e veludo é quente demais para o verão, então teríamos que permitir seda também".

Levou um momento para Harry perceber que Malfoy havia feito uma piada e quando percebeu, ficou tão surpreso que perdeu o passo e Malfoy tropeçou sem seus calcanhares.

"Pirralho desastrado".

"Ei, foi você quem tropeçou em mim. E já que você me machucou, acho que pode esperar um troco".


"Je te plumerais les pieds, je te plumerais les pieds, et les pieds, et les pieds. Alouette, alouette...".

"Alouette, gentile alouette".

"Alouette, je te plumerais. Mais uma vez! Alouette...".


Tinham se acostumado a se sentarem juntos sempre que estavam parados; familiaridade e apatia desvaneceram qualquer determinação de suportar estoicamente o leve tremor de frio. Harry sempre achara Malfoy fisicamente imponente, mas nunca havia o percebido como homem, como seu peito era largo, como seus braços eram sólidos, até eles se deitarem abraçados.

Malfoy adormeceu, seu hálito fazendo cócegas suaves na orelha de Harry, cuja composição leve se adaptava muito bem de encontro à forma maior. Divagou se Malfoy sabia que seus braços se entrelaçavam em torno de seu companheiro de cela toda vez que dormiam juntos e decidiu que provavelmente Malfoy não sabia. Pouca coisa escapava de seus olhos astutos.

Ainda assim, era prazeroso ser tocado desse jeito, ser abraçado como se fosse amado. Imaginou como seria ser amado de verdade, e pensou que sua posição atual chegava perto o bastante.

Afinal, era difícil sentir falta de uma coisa que nunca tivera.


"Je te plumerais les bras, je te plumerais les bras, et les bras, et les bras. Alouette, alouette...".

"Desista, Potter. Eu sei como calar você agora".

"Por favor, cale".


O jeito experimental de seu primeiro beijo ajustou o tom para o que se seguiu, embora Malfoy nunca estivesse totalmente certo de que Harry não ia subitamente estapeá-lo e maldizê-lo pelo Comensal da Morte sonserino que era. Malfoy estivera, de fato, estranhamente humilde quando pressionou primeiro seus lábios mornos e macios contra os de Harry e embora Harry tivesse respondido com uma ansiedade aliviada, eles nunca perderam a hesitação. Harry achava que nunca perderiam. Eram ambos desconfiados demais, esperando que o outro fosse se afastar e enfurecer-se em sua presunção, esperando lembrar de sua inimizade.

Mesmo quando se deitou no chão duro, Malfoy indo e vindo forte e rápido entre suas pernas, suor deslizando por eles e grudando sujeira em suas peles, Harry não podia relaxar totalmente. Gritava e gemia e implorava e mordia, agarrando o cabelo longo, embaraçado e sujo, puxando como se pudesse refrear seu pseudo-amante – como se alguém pudesse direcionar um Malfoy -, mas nunca se esqueceu que era um Malfoy trepando com ele, nunca se esqueceu que ele próprio pertencia a cachorros pretos e sardas e cabelo castanho lanzudo, que o tempo não havia adormecido.

Mas enquanto ele existisse nesse vácuo, passaria felizmente horas ou dias ou semanas ajoelhado, lambendo e chupando um pênis grosso que seu lumos amortecido fazia parecer tão escuro. Nunca ficaria cansado de senti-lo deslizando dentro dele; nunca sentiria tédio de novo, nunca enquanto Malfoy estivesse disposto a possuí-lo... Rápido ou devagar, com força ou gentilmente... Era tudo gostoso.

Mais que tudo, ele amava a boca quente de Malfoy, em qualquer lugar nele. Seu pescoço, seus mamilos, seu pênis... Sussurrando contra sua odiosa cicatriz. Sussurrava para ele também, dizendo a ele como eram belos os seus olhos, como era macia sua pele, como era forte seu espírito.

Dizia outras coisas às vezes, coisas como, "Não me deixe", e "Eu ficaria perdido sem você", e "Não quero precisar de você".

Sim, Harry amava a boca de Malfoy mais que tudo.


"Je te plumerais la bouche, je te plumerais la bouche, et la bouche, et la bouche. Alouette, alouette...".

"Oh, Merlin, isso, bem aí...".


Não achava muito apropriado gritar "Malfoy" ao gozar, então treinou a si mesmo para pensar "Lucius" quando quer que seus lábios se encontrassem, até que esse nome foi chamado em paixão. Malfoy parecia gostar disso, e parou de chamá-lo de Potter até nos momentos em que não estavam fazendo sexo – os quais se tornaram raros.

Parecia que, se não estavam trepando, estavam lambendo, chupando, beijando um ao outro, ou, quando a exaustão os proibia, simplesmente deitando um nos braços do outro. Era, de longe, a coisa mais interessante para se fazer em sua cela, muito mais do que damas, argumentos antiquados e políticas sobre os quais nunca concordariam.


Uma vez, Malfoy se ergueu depois de entregar um entusiástico sexo oral e, ao invés de erguer as pernas de Harry sobre seus ombros e trepar com ele até que perdesse os sentidos, montou nele e se afundou em seu pênis que vazava.

Harry só pôde engasgar em simpatia pelo gemido dolorido de Malfoy, lembrando-se com carinho das poucas vezes em que Malfoy o possuiu sem prepará-lo primeiro, e elas quase rivalizavam com Malfoy tirando sua virgindade numa pura, excitante, bela agonia.

Então Malfoy começou a cavalgá-lo, e ele se esqueceu como era ser possuído e descobriu o prazer de possuir. E era tudo gostoso.


Um dia, acordou e pensou que estava cego.

Não estava; sua luz havia apagado.

A noite caiu.


Na breve, pesada, liberal, íntima escuridão, sua gaiola estremeceu, e pela primeira vez fizeram amor, e quando Lucius despejou seu sêmen quente em seu corpo, Harry o recebeu como um ritual de sacrifício ao deus, há muito tempo falecido, do prazer inocente.


"Harry?".

Óculos de meia-lua e gentis olhos de um coração partido.

"Lucius?", Harry sussurrou, e sentiu umas vestes macias e limpas cobrirem o corpo que ele não sentia mais a necessidade de vestir.

Dumbledore afastou o olhar, para a porta. "Espere".

Harry se sentou para encontrar Malfoy sob o domínio de dois bruxos em vestes azuis de estilo oficial, saindo dali.

Dumbledore encarou Harry de volta. "Acho que vamos viajar juntos afinal".

Os dois bruxos não pareceram felizes, mas esperaram enquanto Dumbledore ajudava Harry a ficar de pé. Os olhos de Malfoy continuaram fechados, mas Harry ouviu seu sussurro suave.

"Gentile alouette...".


A sala de exames de St Mungus cheirava como a sala de aula de Snape, ou ao menos como o que Harry achava que a sala de Snape cheiraria: não conseguia, de fato, se lembrar. As árvores coradas de vermelho e dourado através da janela o assustaram, acreditava que Voldemort o havia capturado em março. Fizera dezesseis no escuro então – seu aniversário mais esquecido não fora celebrado nem por ele próprio.

Puseram Malfoy no próximo cubículo, embora as enfermeiras parecessem pensar que Harry tivesse medo dele e tentaram mudá-lo. Dumbledore tinha um sétimo sentido sobre tais coisas, contudo, e apareceu prontamente para acabar com tais tentativas.

Harry repousou, limpo e completo e morno pela primeira vez em oito meses, ouvindo a voz de Malfoy cantarolar num timbre familiar. Parecia estar chamando Draco, e Harry subitamente se lembrou do outro Malfoy, que odiava. Estranho pensar que tinha conseguido esquecê-lo.

"Nada tema, Lucius. Draco de fato escapou, e voltou para Hogwarts em meados de maio. Foi ele, na verdade, quem nos informou que nosso senhor Potter era um impostor de polissuco".

"E...".

Dumbledore parecia se apiedar dele e respondeu a pergunta não feita. "Narcisa já recebeu o beijo do dementador". Harry podia positivamente ouvir o pestanejar na voz de Dumbledore. "Acho que você vai achar fácil atribuir certas ações ilegais a ela".

Malfoy não respondeu, mas Harry conhecia aquele silêncio cheio de dissabor bem demais. Sorriu para si mesmo.


"Je te plumerais la tete, je te plumerais la tete, et la tete, et la tete. Alouette, alouette...".

O suave barítono chegou até sua cama, nenhum pouco além, e Harry repousou encarando as árvores sem folhagens, ermas contra o céu noturno, recortado contra a janela.

Estava escuro demais e desejou que alguém com uma varinha conjurasse aquele lumos obscuro.

"Allouette, gentile alouette...".

"Fique quieto e vá dormir, Lucius", sussurrou.


Os aurores levaram Malfoy antes que a medi-bruxa permitisse a Harry visitantes e Harry ficou feliz, não suportaria Sirius e Ron e Hermione com Malfoy escutando. Mal podia suportar a si próprio, e algumas vezes chegou a levantar, ir até a porta, abri-la devagar e olhar para fora.

A placa sempre dizia "Potter, Harry, Quarto 203", mas pensava que podia muito bem ter ali "Transferido do Zoológico de Riddle. Espécime raro!".


O cabelo que havia raspado tinha ido para a poção polissucco, como ele havia temido, mas o impostor havia sido Peter Pettigrew, o que tinha sido muito bom, já que Sirius agora estava livre. Hermione, lá de Edimburgo e da universidade bruxa de lá, disse nunca ter desistido de procurar Harry, e tinha ido tão baixo a ponto de trabalhar com Snape. Ron, prestes a ir para sua primeira operação de campo como um auror, não podia ficar muito e Hermione tinha que voltar para as aulas. Enquanto Harry ficou aliviado de vê-los ir, também os amaldiçoou por abandonarem-no aos lamentos de um super-protetor, emocionalmente abalado, padrinho.


Na altura do Natal, ele escapou dos apertos de Sirius e se instalou na Torre da Grifinória com seus novos colegas de quarto - Harvey Morrow, Gavin O'Shea, Perseus Wilderson, Mick Sterling, e Colin Creevey – disposto, se não pronto, a retomar os quatro meses que havia perdido.

Draco Malfoy também estava repetindo o ano já que, enquanto sua mãe expunha seu pai como um traidor para o mestre, havia sido oferecido como sacrifício ao defender Lucius um pouco veementemente demais. Como perdeu um mês de aulas e passou o resto do ano letivo agonizando pelo destino do pai, Draco terminou indo muito mal em seus NIEM's.

fEvitaram um ao outro, na maior parte do tempo. Draco ganhou os holofotes com mais e mais freqüência conforme as notícias dos trâmites legais de seu pai corriam os jornais, mas finalmente desapareceram quando o Malfoy mais velho, usando mão de meias-verdades, conseguiu jogar todo o envolvimento de sua família com Voldemort na cabeça de sua esposa morta.

O que não era menos do que Harry havia esperado.


A vida estava quieta.

Até Poções correu sem contratempos, já que Harry permitia feliz que Snape olhasse com uma satisfação maligna sua parte na queda de Voldemort, superestimando o famoso Harry Potter. Depois de um tempo, Snape se tornou rabugento diante da falta de interesse de Harry em continuar seu conflito e parou. Os olhos de besouro o vigiavam constantemente, mas não mais com malícia.

A vida estava quieta e o tempo acordou de seu sono, devagar e groguemente, e nunca mais havia sido o mesmo.

Sempre parecia brilhante demais, ou muito escuro.


O correio chegou uma manhã, logo antes dos exames, e uma coruja estranha derrubou uma caixa de ouro amarrada com uma fita verde em frente a Harry. Teve que apanhá-la no ar, ou teria caído sobre seus ovos.

Desamarrou a fita, ciente dos olhares furtivos das outras mesas, e da curiosidade nada súbita de Ginny e Colin. Levantou a tampa, puxou um bilhete dobrado e encontrou, sob ele, centenas de pequenas e delicadas penas, cobertas de pó de ouro, com as pontas em pequenas esferas de bronze.

"Quem mandaria um conjunto de penas assim?". Colin deu uma espiada por cima do ombro de Harry.

"Ooh, são penas de cotovia," Ginny disse. "São para boa sorte e dias ensolarados".

"O que são?", perguntou, erguendo uma contra a luz, e virando-a para vê-la brilhar.

"Decoração", Colin disse, perdendo o interesse. "Você executa um Wingardium Leviosa nelas e deixa no ar. Elas vão levitar por horas, como velas". Ele apontou ao teto, o nariz de volta no livro de feitiços.

O bilhete, quando o desdobrou, dizia: Tu m'as plumé.


Hermione achou que esse novo Flat era muito Zen e presenteou-o com um livro sobre a história do Budismo. Harry polidamente não mencionou que já havia lido e aceitou seus elogios quando à paz de seus móveis esparsos e a decoração feita de pedra e areia.

Ron achou que os dois eram malucos e disse isso a eles.


Uma noite de verão, apagou todas as luzes e conjurou um lumos obscuro, enviando sua pacífica sala de estar num crepúsculo e acendendo a luz de centenas de penas douradas, brilhando em suas bases polidas de bronze. Oscilavam nas correntes de ar, traçavam cursos, aportavam em novos mundos.

"Como eu amo essa luz".

Não sabia do homem parado no umbral da porta, sem convite e sem anúncio, e escolheu não questionar a violação de seus feitiços de proteção. O longo cabelo loiro-prateado cintilava agora, escovado e macio, livre da imundice que a água nunca teria sido capaz de lavar, macio, caindo logo abaixo dos ombros. Tinha consertado o nariz, mas não estava exatamente o mesmo.

"Adoro como colore seus olhos", Malfoy continuou, "como os aprofunda e acalma sua ansiedade".

Harry alcançou e capturou uma das penas, trazendo-a a seus lábios. Como amava a boca de Malfoy, especialmente quando...

"Não me deixe. Estou tão perdido".

...Formava palavras doces que o faziam se sentir amado e querido. E agora essa boca as pronunciara sem o catalisador de paixão, sem a pretensão de escapar, e pressionou um beijo casto em sua nuca. A incerteza se fora. Harry se inclinou de volta ao corpo forte, tão mais largo que ele. "Je te plumerais la tete, et les yeux, et le nez, et tes levres qui me baisent, oh, e suas mãos que me tocam..."

Lucius gemeu, e suas mãos e seus lábios obedeceram, deslizando através do ventre de Harry, flutuando até seu pescoço para beijar seu lóbulo da orelha. "Case comigo".

Amava quando aquela boca dizia coisas assim, sinceras ou não. "Sim".

Soltou a pena capturada para abraçar sua gentil, frágil cotovia e rodopiá-la, cheia de alegria e aterrorizada em sua inesperada liberdade.

Finis


¹ALOUETTE Tradicional.

Alouette, gentile alouette,
Alouette, je te plumerais
(Cotovia, gentil cotovil
Cotovia, eu te depenaria)
Je te plumerais la tete,
(Depenaria sua cabeça,)
Je te plumerais la tete,
Et la tete, et la tete,
(E tua cabeça, e tua cabeça),
Alouette, alouette, oh-oh,
Alouette, gentile alouette,
Alouette, je te plumerais.
Je te plumerais le nez (teu nariz), etc.
Les yeux (teus olhos), la bouche (boca),
Les bras (braços), les mains (mãos),
Les jambes (pernas), les pieds (pés).

²Durante uma pesquisa rápida no google, Rebecca encontrou referências sobre Talesien como demônio, vampiro e banda de rock (?).

³TRIPAS ARRANCADAS
Grandes, verdes pedaços de gosmentas tripas arrancadas
Carne mutilada de macaco
Pezinhos sujos de passarinhos
Grandes, verdes pedaços de tripas arrancadas
E eu esqueci minha colher!
Grandes, verdes pedaços de gosmentas tripas arrancadas
Carne mutilada de macaco
Pezinhos bem pequenininhos de passarinhos
Globos oculares franceses fritos
(analogia com batata frita – French Fries)
Rolando até o fim de uma rua lamacenta
E eu esqueci minha colher.
...Mas eu tenho minha palha!
Grandes, verdes pedaços de gosmentas tripas arrancadas
Carne mutilada de macaco
Pezinhos de passarinhos torturados
Todos presos
De propósito em pus de porquinho-do-mar.
E eu sem uma colher!
Puxa vida! (mas eu tenho minha palha)
Grandes, verdes pedaços de gosmentas tripas arrancadas
Carne de macaco mutilado
Pezinhos sujos de passarinho dilacerado
Tubo de meio quilo de pus de porquinho-do-mar
Nadando em limonada rosa
Sanduíche de sarna, cuspe em cima
Vômito de macaco, merda de camelo
Olho de águia e biscoito de cocô
Faço um sanduíche só pra você.

(.)Na cultura celta, a canção da cotovia, ouvida no dia de Santa Brigid, prometia sorte e dias ensolarados para quem quer que a ouvisse.

(.) Tu m'as plumé.
Tu me depenaste.

(.) Je te plumerais la tete, et les yeux, et le nez, et tes levres qui me baisent...
Eu depenaria tua cabeça, e teus olhos, e teu nariz, e teus lábios que me beijam...


Nota da Tradutora: Essas músicas são canções infantis e não têm versão para o português (ao menos não até onde me consta). A próxima fanfic da série será publicada em breve, aquí neste mesmo endereço.

Rebecca.

Nota da Beta: Adorei a fic.

Ivich.