Nota da autora: eu sei que esse jogo é velho, fracasso de crítica e tudo o mais. Mas, de alguma forma, tive vontade de escrever essa história... É baseada no final ruim de Carrie, supondo que Malus/Drácula casa-se com ela. Se alguém achar que vale a pena continuar, aceito sugestões.

Pôr do sol

Carrie estava deitada de bruços no jardim frontal da mansão, o queixo apoiado numa das mãos. O sol parecia estar ainda alto no céu, mas ela sabia que, a partir daquela hora da tarde, a descida do astro era vertiginosa.

Estava tudo quieto, nem um ruído, nem uma brisa. Isso também era enganoso, ela sabia bem, bem demais. De dia o sol quente e resplendente a protegia e consolava, mas mal ele se punha, todos os horrores e pesadelos despertavam na escuridão profunda de uma noite interminável. E a cada suplício, parecia-lhe que um pouco daquelas trevas se aderia ao seu coração, fazendo com que o sol fosse cada vez menos quente e acolhedor.

A ex-heroína levantou-se e pôs-se a caminho de seu quarto. Era preciso chegar lá antes do crepúsculo. Seus aposentos não evitavam o mal maior, a suprema fonte de todas as outras criaturas horripilantes que habitavam o palacete, porém eram uma espécie de santuário respeitado por todos os demônios subordinados. Já era alguma coisa. Dentro de sua apatia existia ainda uma espécie de dignidade concessiva. Ela era uma prisioneira, mas não algo tão abjeto a ponto de poder ser humilhada por qualquer um.

Seus passos, antes silenciosos e decididos, agora eram tortuosos e desajeitadamente nervosos. Ecoavam pelo chão de pedra do andar inferior, eram abafados pelos tapetes doas andares superiores. Ela finalmente alcançou a cobiçada porta, não pôde, contudo, experimentar muito alívio ao fechá-la atrás de si.

O quarto era luxuosamente mobiliado, continha todos os aparatos e comodidades que uma dama poderia desejar, desde uma cama com dossel, vários travesseiros e cobertores, colchas bordadas a ouro e prata, até uma penteadeira repleta de frascos de cristal os mais vários, além de gavetas transbordantes de jóias.

Carrie não gostava dessas coisas, todas presentes dele. Achava que tudo transpirava maldade e vício. E, principalmente, nada daquilo lhe parecia equivalente ao preço que ela pagava. Foi sentar-se junto à janela para assistir ao pôr do sol. A estrela fundia-se a uma distante colina, coberta por aquela pavorosa Floresta do Silêncio. Os raios que acariciavam o rosto da desditosa moça não mais a esquentavam, mal a iluminavam. Um arrepio percorreu-lhe a espinha; implorou mentalmente para o sol não deixá-la, mas ele continuou surdo e distante, insensível às súplicas lancinantes e tácitas daquela alma desesperada, despedaçada.

Num instante, tudo se acabara, e agora ela sentia a atmosfera latejante, repleta de espíritos malignos recém despertos, de ventos gelados e uivantes, de alegorias de sonhos maus. Ela retirou-se para a cama e fechou as cortinas do dossel. Abraçou-se a um travesseiro e esperou, ouvidos atentos coração disparado. Talvez ele não viesse hoje. Já houvera noites em que não viera, ela suspeitava que com a intenção de dar a ela sempre uma falsa esperança, que ele pudesse estraçalhar para se divertir.

E depois de horas reais de espera, todas contadas segundo a segundo, a porta abriu-se sem ruído, mas ela sentiu que se abriu, e não podia haver dúvida a respeito de quem entrava...