Hallo. o/
Pois é, acho que nossa cara ocultista com transtorno de personalidade já estava merecendo ter sua história contada.
Juro que vai ser breve. xD
Disclaimer: Saint Seiya pertence a Masami Kurumada e a fic Heavenly Skies veio da cabeça de nossa caríssima Mache-san, que ainda está me devendo o Valar Pornosis prometido. XD
Legendas:
- blá blá blá...- diálogo
- "bla bla bla.." -pensamento
- Flashback
- 'blá blá blá...'- citações ou entonações.
Cap 1 - O senhor e a criança
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Monastério Nyeina - Deserto Nraim
Sua meditação havia terminado e Zara Alasseätya havia chegado a uma decisão. Partiria. Seu espírito exigia isto e a vida na Ordem dos Arcanos exigia total dedicação, absoluta entrega. E, no atual momento, isto era algo que a mestiça não poderia fornecer. Ela foi caminhando lentamente até o seu quarto, observando os neófitos estudando, conversando ou ajudando nas tarefas. Muitos a cumprimentaram. Seus alunos. Seus "bichinhos de estimação", como chamava quando queria pisar no calo de um deles. Monges mais experientes também eram vistos. Todos lhe eram tão caros. Tudo ali, naquele oásis de pedra clara em meio ao inóspito tinha lugar cativo em seu coração.
A professora chega a seu alojamento. Um cômodo modesto com uma cama, uma mesinha, um baú e uma lamparina presa à parede. A simplicidade daquele local sempre fora tocante aos olhos da jovem, que começa a preparar-se para a partida. Dentro de uma sacola iriam seus poucos pertences. Seu hábito ficaria para trás. Aquele traje já havia se tornado parte dela; uma roupa composta de duas camadas. A primeira e de baixo, branca e sem nenhum adorno. A de cima, um pouco mais elaborada, preta, se assemelha a um casacão longo e com mangas largas. As peças ficam presas por uma cinta de veludo branco.
De toda a sua vestimenta, só iria com ela a máscara. Sua companheira há 6 anos. Branca. Seu escudo contra aquilo que pouco lhe serviu na vida. Seu rosto. Suas feições. Marcantes, singulares...élficas. Aquela palavra lhe causando arrepios e dor ao coração. Elfos. Imortais. Belíssimos. Envolventes. Como fora seu pai. Poderoso entre seus, temido por muitos, imensamente amado e odiado pela própria filha. Zara termina sua arrumação e ruma para o lavatório feminino do mosteiro. Era pequeno, iluminado por velas, perfumado de incensos e nutrido pelas águas subterrâneas que a areia ocultava.
Os livros do Monastério afirmavam que nem sempre Nraim fora um deserto, mas acabou se tornando uma desolação pelo fogo dos dragões. Se aquilo era verdade, ela não sabia. Seu interesse por Geologia era bastante limitado. Ela se despe e antes de se afundar no caldário, acaba se observando por alguns segundos. A pele daquele tom profundo de caramelo, os cabelos cor de vinho e os olhos de âmbar. Sim, Zara era bem ciente de sua imensa beleza e, mais ainda, ciente de como sofrera devido à ela.
Seu banho foi breve e logo a professora estava de volta a seu pequeno claustro. Zara se senta em sua cama e abre sua sacola, tirando da mesma um pequeno embrulho feito de algodão preto. Dentro dele havia cartas com imagens desenhadas. Seu Archeion. Comumente chamado de tarô. A meia-elfa distribui as cartas delicadamente sobre a cama e passa a olhar cada uma delas, sabendo que não tiraria dali resposta alguma que lhe desse pista sobre seu incerto destino. Não que as cartas realmente pudessem fazer tal coisa, longe disso!
A moça ri brevemente pensando nisto, no erro frequente das pessoas em assumir que as cartas continham o futuro. Não, não...a função do Archeion era mais refinada. Se ele não permitia ler o futuro, era bastante eficiente em ler quem pedia por respostas a ele. Sim, os arcanos da Ordem usavam o "tarô" para desvendar os outros. A escolha das cartas, as perguntas feitas...tudo servia para que se pudesse saber quem era a pessoa que buscava o conhecimento. Ao passar o indicador direito pela "Morte", Zara se corta e o sangue surgindo levemente de seu dedo a faz pensar exatamente nisso.
Sangue...
Seu sangue.
Como ele havia surgido nesse mundo...
OoOoOoOoOoOoOoOo Flashback oOoOoOoOoOoOoOoO
32 anos antes
Vila de Umma
A pequena e próspera cidade humana seguia seu ritmo pacato naquela noite. Alguns bebendo na taverna, outros passeando, uns simplesmente não fazendo nada - só aproveitando o calor e o céu estrelado. Em uma as ruas do vilarejo, estava uma modesta casa de pedras de dois andares. No primeiro pavimento ficava a oficina do mestre-construtor Vanno Alasseätya; no andar de cima ele morava com sua família, composta por sua esposa Sybil (habilidosa tecelã) e sua filha Muna. A parte de residência era dividida em uma sala, dois quartos e uma cozinha. Vanno ainda trabalhava naquele dia, criando em madeira uma maquete para o serviço que estava prestando para o ilustre protetor daquele lugar.
Sim, o mestre-construtor estava felicíssimo! Seu trabalho fora reconhecido pelo senhor de Tol Lairen, uma imponente construção escavada parcialmente nas montanhas e parcialmente erguida com as pedras desalojadas da mesma. Ali vivia Aemon Lairelandon, um poderoso e antigo elfo que, por motivos não sabidos, pouco tempo passava na companhia dos seus, preferindo fazer seus negócios com humanos. A presença daquele ser havia ajudado o humilde vilarejo a crescer, além de mantê-lo a salvo de contendas que ocorressem.
- Ainda aqui? - Sybil havia chegado com uma bandeja contendo vinho, pão e queijo. Ela sorria e deposita o objeto sobre um banquinho próximo, a mesa estava ocupada pela maquete e outras ferramentas. A mulher passa uma das mãos pela testa cor de caramelo e suada. Seus cachos cor de vinho estavam presos em uma trança, os olhos castanhos cintilavam. - Desse jeito não vai ter forças para trabalhar amanhã.
Vanno ri alto.
- Força não me falta, querida! Esse serviço, por si só, me dá vontade de passar o dia inteiro planejando! - Vanno se serve do alimento trazido. Ao fundo, o som dos morcegos passeando pela noite e o som de algo caindo. O construtor usa a manga da blusa para secar o rosto branco e úmido. As costas das mãos coçam os avermelhados olhos verdes; o cabelo castanho parecia um ninho de cobras. - Dizem que o senhor Aemon é generoso no pagamento de quem lhe serve bem. Se tudo der certo...
- Vai dar. - interrompe a esposa.
- O dinheiro servirá para muitas coisas. Ampliar a oficina e a casa, gerar um bom dote para a Muna... - o homem pensava nas benesses que aquele trabalho poderia trazer à sua família. - Ah, Sybil. Abençoado foi o dia em que o senhor Aemon surgiu em nossas vid-
Suas palavras são interrompidas por um vizinho desesperado a entrar em sua oficina.
- VANNO! SUA CASA! - o casal se assusta e logo percebe várias pessoas se aproximando. O trio corre para o lado de fora e percebem que havia fogo no andar de cima. Onde Muna dormia!
- MUNA!
Gritavam a mãe e mais alguns vizinhos, enquanto o pai e outros tentavam abrir a porta que lhes permitiria ir para segundo andar. A menina não respondia, só o fogo parecia vivo naquela parte da habitação. Mesmo com a força de muitos, a porta pesada não abria e o fogo ameaçava sufocar todos. Não demorou para baldes de água surgirem, mas não ajudarem muito. A fumaça se espalhava, assim como o desespero. Os que não conseguiam agir clamavam por socorro, Sybil chorava ajoelhada na calçada, pensando em sua filhinha morrendo queimada.
Vanno feria imensamente as mãos lutando contra madeira, pedra e fogo. Em meio ao pânico instaurado, ouve-se o som de cascos de cavalo. Numa fração de segundos, surge um corcel negro, montado por um homem. Altíssimo, belíssimo em sua pele de alabastro, cabelos prateados e olhos cor de âmbar. Sua roupas eram de uma cor tão escura quanto a noite. Era o senhor. Aemon Lairelandon. Um velho se aproxima do cavalo e de seu cavaleiro.
- Nos ajude, senhor! - o pobre humano ofegava e chorava. - Há uma criança presa lá dentro! - ele aponta para o andar em chamas.
O elfo apenas acena brevemente e desce do cavalo, fazendo com que todos se afastem. Hábil, ele abre caminho pelo pavimento inferior da residência e que ameaçava desabar. Na escada, ele desembainha a espada e em dois golpes, arruína a porta. A mão direita brandia o aço, a esquerda levava a capa ao nariz, suas pernas afastavam os obstáculos. Logo, ele viu a criança. Deitada na cama, possivelmente desmaiada, cercada pelas chamas e muito perto de morrer devido a elas. Suas vestes sofriam com o fogo, como parte de sua pele, mas isso era irrelevante. Sempre existia a cura élfica.
Ele pega a criança com o braço esquerdo, devolve a espada ao seu local de origem e vai até a janela da sala. Os sons da madeira estalando e a cor da pedra indicavam que logo tudo colapsaria. Assim sendo, ele salta, para espanto dos observadores e pousa graciosamente no chão. A criança ainda adormecida. O choque com a cena fez com que muitos ficassem estáticos.
- Afastem-se. Isso vai desabar.
A voz profunda do elfo se encerra poucos segundos antes da estrutura vir ao chão. A fumaça sufocando, o pânico dominando e aquele furor humano o deixando realmente nervoso. Aproveitando o contexto, Aemon assobia para seu cavalo e logo monta o animal e ruma para Tol Lairen, carregando aquela pequena carga. Sim, logo que recobrassem a razão, os pais da menina viriam correndo, desesperados, mas o estado dela inspirava cuidados urgentes e pitis humanos pouco ajudariam se a pequena fosse ter alguma chance de sobreviver.
A cavalgada até sua casa foi breve. Uma trilha escavada nas montanhas o levou até os pesados portões de ferro da entrada, que prontamente se abrem. O corcel para no pátio, as rédeas vão logo para as mãos de um servo espantado com a cena e Aemon desce do animal; dando pouca atenção às reações alheias. Uma senhora de cabelos grisalhos de aproxima e recebe uma ordem curta e direta.
- Prepare um quarto! - Aemon adentra sua mansão e ruma até a biblioteca, onde estava um outro elfo de cabelos negros e olhar confuso. Lairelandon deita a menina num pequeno divã e checa novamente pelos sinais vitais dela. - Pulso fraco.
- Que se passa aqui? - questiona o elfo moreno. - Quem é esta criança?
- Uma que vai morrer em breve caso não pratique tuas artes de cura, Doran. - Aemon abre espaço para que o outro examine a pequena. - Incêndio, creio que a fumaça a tenha feito perder a consciência.
- Entendo.
Doran esfrega as mãos e logo elas começam a emitir um brilho suave. Ele deixa os mencionados membros planarem sobre o corpo da criança enquanto entoa cânticos em língua élfica. Durante este tempo, Aemon se desfaz de sua capa e sua blusa, ambas queimadas. Sua mão direita também sofrera, mas nada absurdo. Ele passa a mão saudável pelos cabelos e percebe também que parte de seu rabo-de-cavalo havia sido consumido também. O "herói" da noite revira os olhos. Não pelo resultado de sua boa ação, mas pelos sons que sua audição privilegiada capturava.
Rodas, vozes, cavalos. Humanos. Provavelmente os responsáveis ou quem conhecia aquela menina. A senhora grisalha bate à porta, abre-a levemente a afirma que o quarto já estava pronto. Com tal indicação, Doran pega o corpo da humana e vai seguindo para o local indicado junto com a mulher. Aemon seguia para seus aposentos de modo a vestir-se mais apropriadamente. Não que ele considerasse aquela turba muito digna de cerimônia, mas seu cansaço lhe impedia de ser rude sem necessidade.
Além do mais, povo satisfeito é povo obediente.
Ele se troca e vai até a escada central do amplo salão de entrada. Ali se senta e um jovem servo humano vem pegar suas ordens. O último se dirige logo até o portão de acesso à propriedade e o senhor apenas se mantém em paciente espera. Pelo que seus ouvidos captavam ao longe, a turba estava já diante do portão e um servo foi recepcioná-los. Mais alguns poucos segundos se passam até um casal ser levado à presença do elfo. Ao homem, ele já conhecia. Trabalhava na restauração de uma das alas de Tol Lairen. A mulher devia ser sua companheira e, pelos cabelos cor de vinho, não era difícil notar que se tratava da mãe da criança que trouxera.
- Sejam bem vindos à minha casa. - diz o elfo sem se levantar da escada. - Mestre Vanno, a menina é sua filha?
- Sim, senhor. - responde o combalido homem, que é logo cortado pela esposa.
- Onde está nossa filha, senhor? - a voz de Sybil era desespero puro. - O senhor a trouxe, não foi? - ela ia se aproximando de Aemon. - Por favor, nos devolva a Muna!
Sybil acabara de ser impedida de andar mais pelo marido.
- Não sei como lhe agradecer pelo que fez, lorde Aemon. - o homem tosse. - Mas precisamos levar nossa filha.
- Permitam-me descordar. A menina inspirou muita fumaça, está bastante fragilizada, não há tratamento apropriado na cidade e... - imponente, o elfo se levanta e percebe o casal se encolher timidamente perante sua presença.Ótimo. - Até onde eu pude notar, o lar de vocês foi consumido pelas chamas. - um peso enorme se abate sobre os humanos. - Isto posto, questiono se ainda resta alguma necessidade de a menina ser retirada daqui.
Silêncio como resposta.
- Assevero que sua filha foi muito bem cuidada. Eu a trouxe para minha casa para evitar que mais dano fosse feito a ela. Sim, admito que eu poderia ter avisado de meu intento, mas pânico generalizado raramente se presta a ajudar quando se necessita agir racionalmente. - o elfo estende a mão direita na direção do casal fazendo um convite. - Me acompanhem, por gentileza.
O trio vai seguindo a escada e o casal Alasseätya não pode evitar de se impressionar com o local. As paredes escavadas na própria rocha eram decoradas com tapeçarias variadas. O chão fora coberto com mármore branco e azul. Quase não havia móveis no corredor, mas os que lá estavam eram feitos de madeira clara e muito brilhosa. Eles passaram por algumas portas até chegarem a um último quarto. Dentro dele, Muna dormia pesadamente, velada por Doran e por uma moça humana. O casal se prostra imediatamente ao lado da filha. Dando graças pela salvação dela.
OoOoOoOoOoOoO
Nas semanas seguintes, Muna e sua família permaneceram sob a hospitalidade de Lairelandon. Nada havia sobrado da casa da família, logo, eles ficariam morando no alojamento dos outros trabalhadores de Tol Lairen. O orgulho de Vanno chegou perto de recusar, mas Aemon fora implacável ao lembrá-lo de que a penúria em que se encontravam o construtor e sua família não abria muito espaço para manifestações tolas de sentimento elevado de dignidade pessoal. Com isto, pouco restou ao homem a não ser manter-se sob a benevolência de seu empregador.
Durante aquele tempo, mais pode ser sabido sob Tol Lairen. A fortaleza dos Lairelandon foi esculpida nas montanhas por habilidade anã, a pedido de Sorian Lairelandon, há mais de 500 anos, após ele abandonar a terra dos elfos. Quem olhasse para montanha, via apenas sua face e uma curiosa porta de ferro azulado. Atravessando o portão e encravado em meio as pedras, estava a Tol Lairen.
Foram 100 anos dedicados a erguer os 4 andares do lugar. No primeiro, ficavam os estábulos, alojamento dos empregados e pátio central. No segundo, ficavam a biblioteca, sala de entrada e sala de música. O terceiro era dedicado a quartos sobressalentes. No último estava os aposentos do senhor. Estrategicamente inserido na rocha para permitir ver sem ser visto. Da sacada, o elfo tudo via para além dos seus portões. Do lado de fora deles, ninguém nada poderia observar do que sucedia no lado de dentro.
Eram poucos empregados fixos, todos humanos. O único outro elfo que lá habitava era Doran Gelaidh, o curador. Amigo de longa data do dono da fortaleza. A rotina era seguida à risca com refeições em horários determinados, pausas a cada 4 horas, ordenados sendo pagos por serviço prestado. O serviço que Vanno e outros moradores de Umma foram designados para fazer era uma ampliação. Lorde Aemon desejava ter um jardim na parte de trás de Tol Lairen, onde já havia uma escavação devidamente feita, mas que resultou numa área ociosa. Quando a construção chegou ao fim e o belo jardim com uma fonte central estava concluído, Aemon chamou o Alasseätya para uma conversa. Uma que marcaria imensamente o destino dos dois.
Estavam o elfo, Vanno e Doran na biblioteca.
- Serviço exemplar o de vocês, Vanno. - o elogio fez brilhar o rosto do construtor. - E o que planeja para sua vida, agora?
- Bem, senhor...com o dinheiro que recebi, acho que poderei alugar uma casa onde possa trabalhar e viver com minha família. - afirma o homem. - Só não sei por quanto tempo, pois qualquer senhorio vai querer pagamento pontual e eu vou voltar pros os serviços avulsos.
- Na dependência da necessidade alheia. - completa Doran.
- Sim, mestre Doran. Sybil já olhou alguns locais, mas preciso ver também. Uma oficina, mesmo humilde, exige espaço.
- Tenho uma proposta a lhe fazer, Vanno. - diz Aemon. - Não repetirei o elogio, mas dado o trabalho que me foi prestado por você, creio que posso lhe dar alguma assistência nesse seu novo momento de vida
O outro elfo e o humano estavam surpresos. Rompantes de benevolência não combinavam em nada com Lairelandon.
- Vá até Umma e procure um lugar. Quando o tiver encontrado, venha até mim e eu porei em suas mãos o dinheiro para comprá-lo. Não, não é uma doação. - o senhor se levanta e vai até a janela, seus olhos olhando para a lua. - Considere um empréstimo, cujo reembolso será de 60 porcento, não mais e não menos. O prazo não me preocupa, pois tempo é algo que eu tenho de sobra.
Os olhos do humano estavam esbugalhados. Os do ouvinte élfico, focados no seu amigo.
- "Que voules-vous, Aemon?" (O que você quer, Aemon?) - pensa Doran.
- E...e o resto, senhor? - questiona Vanno. - Como eu poderei pagar.
- Cobrarei de algum outro modo. Não hoje, tampouco amanhã. No entanto, fique descansado...não tenho a menor intenção de exigir de você ou dos seus nada que esteja além da sua capacidade. Digamos que o resto a ser pago se converte num saldo a meu favor.
Mais alguns minutos de conversa e Vanno de despede.
- Que bela a sua atitude, meu amigo! - havia um sarcasmo muito óbvio nas palavras de Doran. - Nobilíssimo colocar uma pobre família humana novamente no caminho da bem-aventurança.
Aemon ri sonoramente.
- Ah, meu bom Doran. Não foi nobreza e sim a inescapável ciência de que nada prende mais alguém à sua vontade do que a dívida de honra. - pela janela, ele via o construtor interagindo com sua família. - E o que o favor se não isso?
Como ditaria o óbvio, Vanno Alasseätya aceitou a oferta.
Duas semanas depois, ele e a família começaram a construir o novo lar. Uma casa um pouco maior do que a anterior, feita de tijolos, com um pequenino quintal. Quando finda a arrumação, o estimado benfeitor élfico e o amigo dele foram convidados para cear com os humanos. Por cortesia, aceitaram e, naquela noite agradável, Zara sabia ter ocorrido a primeira interação mais real entre seus pais.
Seu coração chora, pensando em como um momento de meiguice poderia chegar ao fim que chegou.
Durante seu tempo em Tol Lairen, a tímida Muna quase não olhava para seu salvador. Agradeceu-o pelo feito assim que pode, mas era muito difícil para uma menina de 10 anos não ficar intimidada com o elfo. Até as pessoas mais velhas ficavam. Mas algo nele deixou Muna absolutamente fascinada, algo que ela achava ter mantido em segredo.
Só que, durante o jantar, para o pesar da criança, Aemon percebeu. Sim, o elfo acabou notando o fascínio que seus longos cabelos prateados haviam gerado na criança. Tal coisa ocorreu quando estavam todos no jardim, conversando calmamente. A luz da lua intensificou o brilho das melenas élficas e o rosto boquiaberto de Muna denunciou a todos Julgando-a inconveniente, Sybil repreendeu a filha, tão apenas para ser impedida por seu convidado. Aemon Lairelandon pega a menina no colo e fica conversando com ela, até mesmo permitindo que ela ficasse com uma mecha do cabelo dele nas mãos durante aquele tempo.
A professora ouviu de sua avó que tal momento fora lindo. Cheio de ternura. O sorriso gentil de Aemon e o brilho nos olhos da pequena Muna que, para surpresa de todos, acabou pegando no sono no colo do elfo. Ele mesmo a colocou na cama antes de partir. No dia seguinte, enquanto cuidavam e seus afazeres, os Alasseätya são surpreendidos por um súbito presente de mestre Aemon. Um muda de acácia-rubra. Muna a plantou e, junto com a árvore, foi crescendo, linda e vermelha.
Zara se lembrava bem daquela frondosa árvore, no quintal da casa dos avós. As flores tinham o mesmo tom de fogo que os cabelos dela e de sua mãe, as folhas tão verdes quanto os olhos de Muna. Só que, ao contrário do vegetal, Muna Alasseätya não mais estava nesse mundo. O corpo dela fora colocado sob a proteção das raízes da acácia-rubra. A essa altura, mulher e árvore já eram uma só coisa. Em seu âmago, a mestiça esperava que em cada flor que se desprendia e, em cada folha que o vento carregava, estivesse parte da essência de sua mãe.
Pois, quem sabe um dia, uma dessas folhas não chega até ela e aplaca um pouco da dor terrível que a ausência de sua mãe ainda lhe causava?
CONTINUA
