N/A: Songfic com a música See a Little Light, da Belinda.
"És
responsável por aquilo que cativas" Stay
alone in my room
Every
moment passing too soon
Watch
the candles burn into the night
Fall
into a dream
Wake
up and everything´s the same
A
second older but alone just like a child Jeté,
Assemblée, Arabesque.
Os
passos delicados a desafiavam. Equilíbrio era fundamental para
qualquer bailarina, mas infelizmente não era seu forte.
Estava
no chão outra vez.
Fechou
os olhos, ignorando a dor que tomava conta do seu tornozelo,
ignorando a voz desdenhosa de sua irmã mais velha em sua
mente, lhe dizendo que por mais que tentasse, jamais dançaria
bem o bastante.
Estava
com dezoito anos, dançava desde os nove. Simplesmente não
era possível estar errando os passos básicos.
Levantou-se
devagar, reprimindo o gemido. Jeté,
Assemblée, Arabesque.
Fechou
os olhos, sentindo cada passo de cada vez. Cada movimento tinha vida
própria, e ela precisava demonstrar essa vida.
Pas
couru, Fouetté.
Não
cairia dessa vez. Não podia cair.
Estava
tão presa a sua própria dança, a seus próprios
pensamentos, que não notou o par de olhos azulados que a
observavam.
-
Por que você não dança com música?
Parou
de dançar imediatamente, e se virou, mas não abriu os
olhos. Ainda não decidira se estava incomodada ou alegre por
ele estar ali, e seu olhar poderia traí-la em ambos os casos.
Conhecia
o dono daquela voz bem demais para ter alguma dúvida de quem
era.
-
Porque preciso me concentrar nos passos da música, dançar
com ela.
-
Como assim?
Ela
sentiu o interesse na voz dele. Sorriu por dentro, satisfeita.
-
Primeiro, eu ouço a música sem dançar. Assim,
conheço seu ritmo. Depois, vejo os passos que compõem a
dança, e os treino. Apenas depois, com a música, uno a
coreografia ao ritmo.
-
Não torna tudo mais difícil?
-
Eu acho mais fácil.
Foi
quando se permitiu olhar para ele. Analisar demoradamente as íris
nem verdes, nem azuis, os traços finos que compunham seu
rosto, e os cabelos negros e lisos. Perceber a sobrancelha direita
levemente arqueada, numa típica ironia da parte dele.
Rodolphus
Lestrange jamais poderia ser dado como alguém que se
interessasse por ballet. Contudo, ali estava ele, conversando
tranqüilamente sobre o assunto.
-
Sua concepção de dificuldade é estranha,
Andromeda.
-
Não. É a sua concepção que não
está adequada a visão da dança, Rodolphus. Você
não tem como entender. Às vezes, o mais simples é
o mais demorado.
Ele
deu de ombros.
-
Talvez não tenha como entender mesmo. Para mim tudo que é
rápido, caminha junto do que é simples.
-
E você gosta de coisas simples, então.
-
Pelo contrário. Admiro o que é complicado. Por isso que
gosto de ver você dançar.
Foi
a vez de ela arquear a sobrancelha.
-
O que quer dizer com isso?
-
Apenas que admiro ballet, pois sei que não é uma dança
simples. Não são apenas passos dados ao acaso. Tudo em
um significado, creio eu.
Ela
assentiu.
-
É verdade.
-
Então, –ele sorriu –o ballet conta histórias
através dos movimentos. Eu aprecio isso.
Ela
sorriu também, levemente, afastando um fio de cabelo negro que
caíra do coque para o rosto. Podia ficar ali apenas
observando-o sorrir para ela, enquanto falava sobre dança.
-
Não vai voltar a dançar, Andie?
Ela
aumentou o sorriso.
-
Se você ficar assistindo agora, não vai ter graça
depois que me ver dançando com a música.
-
Pelo contrário. Vou apreciar ainda mais, pois vou lembrar de
cada passo que você está dando agora. Vou ver o esforço
que você empenhou na dança mais do que veria se visse
apenas o resultado final.
-
Você gosta de ver as etapas de algo, então.
Não
era uma pergunta, nem exatamente algo direcionado a ele. A morena
tinha dito aquilo mais para si mesma.
Mas
ele sorriu ao responder.
-
Você sabe que sim.
E
ela recomeçou a dançar.
Jeté,
Assemblée, Arabesque. If
you just give me a sign
To
live and not to die Coupé,
Pas de chat, Derrière
-
Você está gastando muito tempo aqui, não acha?
-
Então, por que vem me ver ao invés de ficar com sua
noiva?
Rodolphus
não respondeu, apenas sorriu levemente.
-
Bella não aprecia a dança, não é mesmo?
-
Ela não gosta muito.
O
que era lamentável, na opinião de Andromeda. A irmã
mais velha era a bailarina mais espetacular que ela já vira.
Bellatrix parecia movida por algo maior do que ela quando dançava.
O
dom que ela própria sempre desejara ter, e jamais conseguira.
E que a irmã sempre gostava de lembrar que era algo que ela
jamais possuiria. Andromeda sempre caía durante os ensaios
quando eram crianças, e seus pais insistiram que suas três
filhas aprendessem a dançar; Bellatrix jamais.
Era
quase irônico que a irmã com menor talento fosse a mais
apaixonada por aquela arte.
Mas
Rodolphus provavelmente não sabia disso. Via a dança
com os olhos de alguém de fora daquele delicado mundo de
movimentos e melodias.
E
ele jamais vira Bella dançar.
-
Então, Andromeda Black, a dança é algo que eu
posso apreciar apenas com você.
Ela
ficou em silêncio, atingida pelas palavras dele. A dança
era sua única ligação estrita com ele, o único
momento em que ela era a única atenção das íris
azul-esverdeada a sua frente.
-
Mas você não dança... –as palavras saíram
incertas, quase temerosas.
Acostumara-se
com a presença constante dele ali, com os olhos dele a
seguindo, curiosos. Por um instante, teve medo que suas palavras o
afastassem.
Ele
não notou, ou pareceu não notar.
-
Mas acho algo belo de se ver, mesmo não participando. –ele
ficou alguns instantes em silêncio, como se ponderasse se valia
a pena acrescentar. –Belo e intocável.
Ela
olhou para ele inquisitiva. Rodolphus apenas sorriu.
Then
I could see a little light
I
could find some piece of mind
I
don´t know where you are
Maybe
near or maybe far
I
just need a little light Entrechat
quatre, Devant, Assemblée
-
E então, você finalmente está dançando com
música.
A
bailarina parou de imediato.
-
Já lhe pedi para não me interromper dessa maneira,
Rodolphus.
Ela
se voltou para ele, sem saber se estava irritada ou satisfeita com a
presença dele ali. Ambos os sentimentos lhe eram comuns a
respeito do cunhado, e misturavam-se em um só, deixando uma
queimação estranha dentro do peito.
Ele
continuou sem lhe dar atenção, entretanto.
-
Bella me contou uma coisa interessante hoje...
Ela
arqueou a sobrancelha, sem entender.
-
Vai me deixar entrar no salão de música ou não?
Andromeda
aumentou a expressão de descrença.
-
Você nunca pediu minha permissão para fazer isso.
-
Porque eu não sabia que eu era a única pessoa que você
permitia que assistisse seus ensaios.
A
jovem mordeu o lábio com força, sentindo o rosto arder.
Subitamente a sensação de que algo queimava em seu
peito pareceu aumentar e passou também para a boca do
estômago. Ele não podia saber daquilo.
Mas
conteve-se em amaldiçoar a irmã mais velha apenas em
pensamento.
Respirou
fundo, tentando disfarçar o constrangimento, parecendo
irritada.
-
Você é o único que se interessa, apenas isso.
Cissy prefere o piano. Bella aprecia música apenas como
ouvinte, segundo ela mesma.
Em
seguida deu de ombros, como se tentasse dizer algo casual.
Ambos
sabiam que não era.
-
É uma pena, então.
-
O quê?
-
Eu vou te pedir para dançar outra vez.
Ela
sorriu felinamente.
-
Como se você nunca fizesse isso, não é mesmo?
Rodolphus
balançou a cabeça.
-
O pedido de hoje é diferente.
-
Sim? –o sarcasmo do sorriso aumentou –Algum passo em especial?
-
Para ser sincero, não.
-
Então, qual é a grande diferença?
Lentamente,
ele se posicionou em frente a ela. Andromeda continuou o encarando. O
cinza dos seus olhos contra a cor meio verde, meio azul dos dele.
-
Você sempre dança para si mesma, ou para um público
invisível. Hoje, Andie, eu quero que você dance para
mim.
Fora
um erro olhar diretamente nos olhos dele, agora ela não tinha
como fugir. Não tinha como fingir que não estava
abalada. Não tinha nem mesmo como recusar o pedido.
-
Por mim, tudo bem.
Não
havia como impedir que sua voz saísse mais trêmula do
que gostaria.
Respirou
fundo e fechou os olhos. Coincidência ou não, a vitrola
estava começando a tocar uma música nova. Uma das suas
favoritas.
Sissone,
Pas marché, Detourné. Cada movimento, cada passo, era
essencial. Lembrou-se da voz de Cissy em sua mente, lhe dizendo que
ela sempre dançava melhor quando não se prendia a
passos, deixava a música fluir. A capacidade de dançar
sem precisar de passos pré-determinados era a vantagem que
possuía sobre quase todas as bailarinas que conhecia,
inclusive Bella. Era a hora de seguir o conselho da irmã mais
nova, e se deixar levar.
Rodolphus.
Ele lhe pedira para que ela dançasse para ele, e
exclusivamente para ele. Jamais poderiam compartilhar do mesmo mundo,
mas ela poderia deixar que ele visse o seu, através da dança.
Podia deixar que ele penetrasse no seu universo, ainda que por poucos
instantes, ainda que apenas como um observador.
Deixou
a música percorrer o corpo, guiando seus movimentos,
preenchendo-a por dentro a ponto de transbordar, e se transformar nos
passos.
Elever,
Chainé.
Livre.
Por aqueles poucos momentos de liberdade, permitiu-se abrir os olhos
e visualizar Rodolphus fascinado. O brilho dos olhos dele a seguindo
em cada gesto foi o que a incentivou, com um sorriso felino, a
aproximar-se. Tour
Piqué.
Passos
ao redor dele. Para ele.
Estava
próxima o suficiente para que, se o moreno fosse um bailarino,
estendesse a mão e o convidasse para dançar com ele.
Desejou poder compartilhar seu universo particular com ele, seus
segredos, sua visão de mundo. Levá-lo a participar de
tudo isso através de sua dança.
E
sem se dar conta do que pretendia até que o gesto acontecesse,
estendeu-lhe a mão, os olhos fixando-se por um instante nos
deles enquanto girava.
Pela
primeira vez desde que haviam se conhecido, Andromeda notou uma
expressão de surpresa no rosto do cunhado. O que não o
impediu de segurar a mão dela antes que a morena recuasse.
Ela
parou numa meia volta, e voltou o rosto para as íris azulados
dele. Fascínio. Ele estava fascinado por sua dança. Ela
estava fascinada pela forma com que ele agia a respeito disso.
E
no meio disso, Andromeda percebeu outro sentimento que não
pudera discernir antes. Desejo.
Assim,
quando Rodolphus puxou-a de encontro a ele, ela não se
permitiu recuar, nem fechar os olhos. Azul esverdeado contra o cinza.
O
sorriso de ironia de seu rosto desapareceu; o dele não estava
lá havia um bom tempo.
Não
podia ceder. Mas, mais do que tudo, desejava fazer isso. Fechar os
olhos e permitir que os lábios se encontrassem admitiria que
ele poderia, permanentemente, ser o centro da sua dança.
E
quando resolveu fazer isso, a música parou. O disco acabara.
O
silêncio os atingiu como um cristal quebrado no chão
faria em outra situação. O encanto acabou junto da
melodia.
E
Andromeda voltou a sorrir, se afastando delicadamente.
-
Espero que tenha gostado da apresentação.
-
Mais do que você pode imaginar, Andie. Mais
do que você pode imaginar.
Hear
a clock ticking
On
a life that could have meaning
If
I could find the love light in your eyes
See
a million people
Everyone's
so lonely
But
we don't have to be alone tonight Developpé,
Echappé, En i'air.
Chovia.
O barulho dos pingos d'água na janela se misturavam à
música e lhe trazia uma sensação reconfortante.
-
Está um pouco frio para estar com essa roupa fina, não
acha?
Suspirou,
de costas para ele. Há quanto tempo ele estaria ali, parado, a
assistindo? A porta não devia fazer barulho quando aberta?
-
A dança me aquece.
-
É a sua única forma de se aquecer, não é
mesmo?
-
Do que está falando?
Ela
estremeceu ao ouvir que ele fechava a porta atrás de si.
Ouviu
os passos leves dele em direção a ela. Não se
virou, entretanto.
-
Eu gostaria que você dançasse para mim, outra vez.
-
Por quê?
A
voz não saiu tão firme quanto ela gostaria. Não
tinha coragem para voltar-se para ele.
Sentiu
um toque leve nos seus cabelos. O peito queimava tanto por dentro,
que parecia que explodiria. Ansiedade, irritação e
desejo.
E
quando ele sussurrou em seu ouvido, ela sentiu que segurava a
respiração.
-
Porque você estava maravilhosa aquele dia.
Andromeda
estremeceu outra vez. Virou-se lentamente, incerta.
-
A mesma música?
-
Uma mais longa, por favor.
Ela
assentiu com a cabeça e foi até a vitrola, colocando o
disco no começo.
Écarté,
Gran jaté en tournant, Plié.
Os passos não eram mais aqueles simples. Havia uma leve
provocação em meio a delicadeza, um leve traço
de perigo em sua liberdade. Não devia deixar que ele a
observasse daquela maneira. Não devia permitir que ele fosse o
centro de sua dança. Não outra vez.
Por
dentro, Andromeda sentia que estava tremendo. Rodolphus havia dito
que achava sua dança maravilhosa. E para ela, isso era tão
ou mais importante do que se ele tivesse dito que a achava
maravilhosa num sentido geral.
Então,
decidira que o surpreenderia. Dançaria da forma mais perfeita
que já dançara. Apenas para que ele pudesse admirá-la
ainda mais.
Pas
de ciseaux,
Manége, Temps de flèche.
A música a envolvia por dentro e a aquecia por fora. Ao mesmo
tempo que a ansiedade fazia com que buscasse ser o mais delicada e
precisa, bela... e intocável, como uma vez o próprio
Rodolphus definira o ballet.
Jeté,
Assemblée, Arabesque.
Estava próxima a ele de forma a parecer próxima e
inalcançável. Assim como ela se sentia a respeito da
perfeição.
Assim
como ela se sentia a respeito dele.
Chainé,
Reverence.
E
quando a música parou, dando lugar a uma nova melodia, e
Andromeda parou de dançar, a jovem esperava que a magia
acabasse, da mesma forma que na outra ocasião.
Mas
a música que tomara o lugar da outra não permitia que
isso ocorresse. Ainda havia algo no ar, a cada nota que tocava, que
parecia vibrar dentro de si.
Rodolphus
a observava em silêncio, os olhos de cor indefinida sem
expressar sentimento algum. A jovem sentiu que o rosto queimava. Será
que o moreno não gostara da sua dança? Será que
ela falhara em algum passo sem perceber?
Ele
caminhou lentamente até ela, o rosto frio. Apenas quando
estavam a menos de dois palmos de distância, ela o ouviu
sussurrar.
-
Você é perfeita, Andromeda.
Ela
fechou os olhos quando sentiu o rosto do moreno se aproximar do seu.
A pulsação estava acelerada quando os lábios
dele tocaram os seus. Primeiro suavemente, depois com uma intensidade
que a surpreendeu, a trazendo para junto de si com a mesma ansiedade
que ela sentia, o mesmo desespero. O mesmo desejo.
Naquela
tarde, a morena descobriu uma nova dança. Uma dança
criada a partir de duas pessoas, cuja melodia era feita sussurros e
gemidos. Uma dança em que ela podia deixar Rodolphus
conduzi-la nos passos, a dança na qual ele não era
apenas um observador, mas parte essencial. Uma dança tão
bela quanto o ballet.
Estava
anoitecendo quando, abraçada ao moreno, olhando a chuva cair
lá fora, Andromeda sentia-se como em um sonho. Um sonho no
qual ela não gostaria de acordar nunca. O disco terminara de
tocar, mas pela primeira vez, o silêncio no salão de
música não estava incomodando-a.
-
Por que você gosta tanto de ballet, Andie?
A
voz dele tão próxima a seu ouvido tirou-a de seus
pensamentos. Não, não era um sonho. O calor que sentia
vindo da pele dele era real demais.
Ela
fechou os olhos, respirando profundamente antes de falar. Nunca
dividira aquela informação com ninguém, nem
mesmo suas irmãs.
E
quando a voz saiu, estava visivelmente emocionada.
-
Porque o ballet, de todas as danças, é a única
que os passos não se prendem apenas ao chão. É
uma dança que desafia a terra e o ar. O ballet, de certa
forma, é a dança que representa liberdade. - E... –ela
ficou alguns instantes em silêncio – é a única
coisa que faz com que eu me sinta livre também.
Ele
não disse nada. Andromeda não precisava se virar para
saber que ele sorria.
-
E você, Roddie? Qual é a arte principal pra você?
Ela
ouviu um risinho de sarcasmo e se voltou para ele. Havia uma
expressão divertida nos olhos azulados.
-
Você gosta de desenhos, Andie?
Ela
acenou com a cabeça.
O
moreno então soltou delicadamente o abraço, e se
dirigiu à janela. Mais por curiosidade do que qualquer outra
coisa, ela o seguiu.
Não
pode conter o riso quando viu o que ele estava fazendo.
A
chuva havia deixado as janelas úmidas, e o vapor se acumulara
no vidro. E Rodolphus usara esse vapor para fazer um desenho em
especial. Uma
sapatilha.
De
repente, Andromeda sentiu vontade de chorar.
Then
I could see a little light
I
could find some piece of mind
I
don´t know where you are
Maybe
near or maybe far
I
just need a little light Brisé,
Glissade, Pas de cheval.
-
Quem é Ted Tonks?
A
voz dele soava inquisitiva. Ela respirou fundo antes de se virar e
encará-lo.
-
Por que o interesse?
-
Bella me falou que ele está te escrevendo com freqüência.
Bellatrix,
sempre Bellatrix. O que a irmã mais velha tinha a ver com a
sua vida, afinal?
-
Um amigo meu, que conheci em Hogwarts. Por quê?
-
Porque, segundo a sua irmã, ele não passa de um
sangue-ruim.
-
E daí?
Andromeda
perguntou, com leveza na voz. Já esperava que ele crispasse os
lábios em fúria com aquilo. Desejava que ele fizesse
isso, na verdade.
-
E daí? Andromeda Black, o que todos nós temos feito
para impedir que gente como essa pare de freqüentar nosso meio?
Ela
revirou os olhos. Como se ela já não estivesse cansada
de saber sobre os Comensais da Morte. Sua irmã e Rodolphus
pertenciam àquele círculo que prezava o sangue-puro da
raça bruxa. Nem que para isso precisassem usar meios que, ao
menos para ela, eram desumanos.
No
momento, eles estavam prestes a desencadear uma guerra no mundo
bruxo, e satisfeitos com isso. Andromeda já vira o líder
deles em uma ocasião em que seus pais, apoiadores fiéis
do grupo, o chamaram para uma festa da família. Um homem que
se auto-denominava Lord Voldemort. A morena jamais saberia explicar
exatamente o motivo, mas não gostara dele. E muito menos da
devoção que era prestada em torno da sua figura.
Mas
não poderia dizer nada daquilo a Rodolphus. Não quando
ele prestava a mesma lealdade e devoção que todos no
seu circulo prestavam àquele homem.
-
Ao meu ver, Ted é tão bruxo quanto eu ou você.
-
Jamais torne a dizer isso! –ele elevou o tom de voz –Jamais me
compare alguém com sangue tão imundo!
A
morena não reagiu, já esperava uma atitude assim. Bella
costumava se comportar de maneira bem pior.
E
foi justamente sua falta de reação que fez o cunhado
baixar o tom, quando perguntou novamente. Não que a pergunta
fosse menos incisiva que antes.
-
Por que ainda conversa com ele?
-
Porque Ted entrou, logo depois de se formar, para o Ballet Bruxo de
Londres.
O
que era exatamente o que ela gostaria de ter feito, se não
fosse a negativa de seus pais e os comentários irônicos
de Bella, dizendo que, por mais que tentasse, ela jamais conseguiria
um lugar ali, na maior companhia de dança bruxa da
Grã-Bretanha.
Rodolphus
ficou em silêncio por alguns instantes, como se a analisasse. O
rosto sem expressão era traído pelos olhos, que
faiscavam de fúria. Andromeda decidiu que apreciava aquilo. O
cunhado percebera que estava em terreno perigoso.
-
Ao menos, a que Casa ele pertenceu? – ele perguntou, com voz menos
ofensiva.
-
Hufflepuff.
Ela
não pode evitar o sorriso de ironia ao responder. Assim como
ele não conseguiu disfarçar a expressão de um
misto de surpresa e desagrado.
-
Por Merlim, Andie! Onde você anda com a cabeça? Além
de um sangue-ruim, ele é Hufflepuff?
A
morena ficou em silencio, se divertindo com a expressão nos
olhos dele. Cada palavra não dita estava ali. E ela sabia que,
ao menos uma parte delas, eram verdadeiras.
Andromeda
também zombara de sangues-ruins e Hufflepuffs durante boa
parte dos anos que passara em Hogwarts.
Até
que por um acidente com os seus horários, acabara virando
colega de Aritimancia de Ted Tonks, em seu sexto ano. Não que
isso tivesse acabado com a zombaria, na verdade.
-
Qual é o problema com isso?
Rodolphus
riu, cínico.
-
Todos sabem o problema dos Hufflepuffs, Andie. –quando ela abriu a
boca para retrucar, ele ergueu a mão –Não precisa me
dizer nada. Hufllepuff é uma casa para pessoas que,
simplesmente, não possuem casa. O seu amiguinho provavelmente
é uma daquelas pessoas que gostam de ver saídas para
tudo o que existe, mas não é capaz de tomar essa saída
por si mesmo. Está sempre em cima do muro, com medo de acabar
tomando uma atitude errada. Ele é sincero, é claro, com
todos, exceto ele mesmo. E gosta de trabalhar atrás do palco,
por detrás da cena, preparando as coisas para permitir que os
artistas brilhem, dando o suporte. Ele nunca vai tomar um lugar como
personagem principal, porque, simplesmente, essa não é
a sua função. Mesmo que tenha alcançado alguma
posição, dificilmente será de destaque. Porque
falta coragem, inteligência e ambição para tanto.
Ele é uma pessoa mediana. E nada é mais medíocre
do que ser mediano.
O
esgar das palavras dele foi tão forte que Andromeda, mesmo sem
querer, não pode deixar de sentir raiva. Especialmente porque
Ted era exatamente assim.
-
E se eu lhe dissesse que o Chapéu Seletor tentou me enviar
para a Hufflepuff?
Perguntou,
em tom de desafio, apenas para ver a reação dele.
Rodolphus
deu uma risadinha de desdém.
-
Eu lhe diria que está mentindo, minha querida.
-
E por que estaria? –retorquiu Andromeda, entre dentes.
O
moreno começou a caminhar levemente, indo em sua direção.
-
Porque não é apenas Bella que me fala sobre o seu
interesse pela dança. Narcissa comentou sobre a sua vontade de
entrar para a Companhia Londrina. Como seus pais te proibiram, você
passa todas as suas tardes aqui. Não só para descontar
a frustração; como para se aperfeiçoar ao
máximo, uma vez que Bella julga que você não é
uma grande bailarina. Aposto que quando se sentir segura o bastante,
irá fazer o teste para entrar no Grupo, nem que seja para
mostrar aos outros, e a si mesma, que é capaz. Estou certo?
Andromeda
mordeu o lábio com força, mas assentiu. Um misto de
ódio e surpresa a preenchia. Pelas irmãs, que falavam
tanto da sua vida pelas suas costas, justamente para ele. E
principalmente, por cada palavra que Rodolphus dizia ser verdadeira.
Ele
sorria, vitorioso. E passando a mão de leve pelos cabelos
dela, disse:
-
Você é uma Slytherin de corpo e alma, Andie. Nasceu para
brilhar e sabe disso.
Por
um instante, Andromeda teve vontade de fechar os olhos e permitir que
os lábios de Rodolphus tocassem os seus, e a conduzisse para a
dança que pertencia apenas aos dois.
Mas
o que fez foi dar um passo para trás, o encarando friamente.
-
E é por isso que prefere se casar com Bellatrix?
A
voz dela estava vazia de emoção, mas Andromeda pôde
perceber que suas palavras o atingiram mais daquela maneira, do que
se ela estivesse perguntado aquilo em meio a lágrimas.
-
Então, tudo isso são ciúmes, Andromeda?
Ela
sorriu cinicamente.
-
Não fui eu quem entrou nesta sala querendo satisfações
sobre as pessoas com quem me correspondo, Roddie.
-
Eu estou preocupado, sim, se você quer saber. Preocupado com o
fato que uma meninazinha possa arruinar sua vida e o nome da sua
família.
Os
olhos dele faiscavam com algo muito semelhante ao ódio.
Andromeda jamais tinha visto aquela expressão no olhar dele.
Era aterrorizador, na verdade.
O
que não significava que ela não apreciasse.
-
Você vai casar com a minha irmã, e salvará o nome
da família, caso algo aconteça.
-
Então, você planeja algo.
Não
era uma pergunta.
-
Quem sabe?
-
Andromeda, o que você pretende?
A
voz dele era incisiva. Ela fingiu não notar.
-
Diga-me, Rodolphus, qual o futuro que eu tenho nessa casa?
Ele
arqueou a sobrancelha.
-
Do quê está falando?
-
Em ficar aqui, sem crescer em absolutamente nada, até que meus
pais arrumem um casamento com alguém de uma respeitável
família sangue-puro? Bella gosta de você, Cissy ama o
Lucius. Mas, para mim, essa idéia é simplesmente
desprezível.
-
O casamento?
-
Não exatamente. Mas o fato de me casar com alguém que
meus pais escolham para mim. Porque sei que vou odiar essa pessoa.
-
Como pode ter tanta certeza?
Porque
te amo, era o que ela gostaria de responder.
Mas
apenas balançou a cabeça.
-
Porque essa deveria ser uma escolha apenas minha, não?
Ele
não respondeu.
If
I could see a little light
If
I could find some piece of mind
If
you just give me a sign
I
could see a little light Battement
frappé, Soutenu, Failli
-
Meus parabéns.
Mesmo
sem se virar, ela podia sentir a surpresa que, subitamente, devia ter
tomado conta da face dele.
Era
a primeira vez que ela mostrava ter conhecimento da presença
dele ali antes que o moreno se pronunciasse.
Aprendera
a ouvir os passos leves pelo corredor, mesmo que para isso sua
atenção se desviasse da dança. Não se
importava. Estava trancada ali desde a manhã mesmo. O corpo já
estava exausto, Cissy já tentara lhe tirar dali pelo menos
três vezes, sem sucesso.
-
Obrigado.
Ela
se virou. Rodolphus estava frio. Simplesmente. Não havia sinal
da alegria que ele devia aparentar.
Silêncio.
Ele apenas a encarava. Ela mordia o lábio com mais força
do que o normal. O sentimento de algo queimando em seu peito dessa
vez subia até sua garganta, a sufocando. Piscou, para impedir
que os olhos lacrimejassem demais.
-
Você não vai dançar?
A
voz dele também estava impassível. Andromeda balançou
a cabeça.
-
Eu estava dançando até você chegar.
-
Você não costumava se importar com a minha presença
aqui. Falando nisso...
Ele
lhe estendeu um pacote. A morena franziu a testa, e o encarou
friamente.
-
Você já me deu meu presente de aniversário ontem,
Rodolphus.
Aliás,
ele lhe dera dois presentes. E pelo menos um deles, ela
definitivamente não gostaria de ter recebido.
Ele
balançou a cabeça.
-Aquilo
não foi um presente, foi uma lembrança. O verdadeiro
presente eu gostaria de entregar agora, quando estivesse a sós
com você.
Ainda
com expressão desconfiada, ela pegou o pacote delicado e o
abriu.
Teve
de segurar uma expressão de surpresa, e as lágrimas que
tomaram mais força do que ela gostaria.
Sapatilhas.
De um branco delicado, puro e brilhante. O tecido extremamente macio,
de sapatilhas caras, usadas apenas por profissionais.
E
para alguém que dançava com sapatilhas gastas havia
meses, pois seus pais estavam decididos a não incentivá-la
a continuar dançando, não poderia haver presente maior.
Não
podia conter a gratidão ao passar os dedos pelo presente,
fazendo com que, pelo menos por alguns instantes, se esquecesse
complemente do ódio que estava sentindo pela pessoa que a
presenteara.
-
Obrigada, elas... elas são lindas...
-
Você as merece, Andromeda.
Por
mais simples que fossem aquelas palavras, Andromeda pôde
perceber o que não fora dito através delas. Foi o que
fez com que o ódio voltasse.
-
Sim, é uma consolação, não é
mesmo?
Ele
arqueou a sobrancelha.
-
Do que está falando?
-
Não seja estúpido, Rodolphus.
-
Andromeda, eu...
Ela
ergueu os olhos das sapatilhas, fixando-se nas íris dele.
Completamente
contra sua vontade, sentiu uma lágrima escorrer pela sua face.
-
Por que no dia do meu aniversário, Rodolphus, por quê?
-
Bella me pediu.
Rodolphus
não mentiria a respeito daquilo. Não havia motivos para
isso.
O
casamento. O maldito casamento tivera a data marcada ontem, no seu
aniversário de dezenove anos. Bellatrix sabia que aquilo a
atingiria. De alguma forma, a irmã mais velha sabia. Do
contrário, não teria feito aquilo.
Mais
uma vez, Bella lhe mostrava que possuía o que Andromeda mais
desejava. O dom de dançar... e Rodolphus.
-
Você poderia ter negado.
A
voz dela estava firme, mas ela tremia por dentro.
-
E havia motivos?
-
Talvez por alguma consideração que você pudesse
ter.
-
Estou falando em motivos que não denunciassem o que há
entre nós. –ele disse, sério.
-
Não há nada entre nós, Rodolphus.
-
Então por que está tão furiosa por causa do meu
casamento com sua irmã?
-
Porque você não a ama.
-
Como pode ter tanta certeza disso?
Andromeda
engoliu em seco. Não iria chorar não frente dele. Não
podia.
-
Não tenho. Apenas não vejo amor na forma com que você
a trata.
-
Não costumo demonstrar o que sinto.
-
Eu sei.
O
silêncio era, mais do que nunca, completo e incômodo. O
disco terminar de tocar sua última canção.
Sem
dizer nada, Andromeda foi até ele, e colocou outro na vitrola.
A música recomeçou.
Pra
sua completa surpresa, ela ouviu Rodolphus suspirar atrás de
si.
-
Andie, eu...
-
Não precisa dizer nada, Rodolphus.
-
...e se eu te pedisse em noivado?
Lentamente,
ela se virou, sem acreditar no que estava ouvindo. Talvez fosse
apenas impressão. Não havia nenhuma expressão
nos olhos dele, afinal.
-
Eu estou ouvindo bem?
Ele
rolou os olhos. Parecia estar fazendo um esforço imenso para
dizer aquilo. Se não estivesse tão furiosa,
provavelmente Andromeda apreciaria aquilo.
-
E se eu desmanchasse o noivado com Bellatrix, e pedisse a sua mão
em casamento?
Um
sorriso maldoso percorreu seus lábios quando perguntou.
-
Oras, você não ama Bella?
-
Não.
Andromeda
piscou com força. Devia estar sonhando, simplesmente.
Mas
não estava. Os seus batimentos cardíacos não
estariam tão fortes se fosse apenas um sonho. Sua garganta não
arderia tanto a cada palavra que pronunciava, incerta, temendo pela
resposta.
-
E você me ama?
-
Talvez. Você me ama, Andromeda?
Maldito.
A deixara completamente desarmada.
Qualquer
resposta seria perigosa. No fim, a resposta saiu mais trêmula
do que a morena gostaria. Mas menos temerosa do que seria, se ela
respondesse a verdade.
-
Talvez.
Ele
sorriu levemente.
-
Então, não há problemas.
Mas,
ao menos para Andromeda, havia sim. A começar pela fúria
da sua irmã; e para completar...
-
Rodolphus, antes, tem uma coisa que quero saber.
-
Sim?
Ela
encarou fixamente os olhos dele, tentando mais uma vez definir de que
cor eram, realmente, as íris dele. Assim como tentava
descobrir quem realmente era Rodolphus Lestrange.
-
Se eu me casasse com você, eu seria livre para dançar?
Você me disse certa vez que eu nasci para brilhar. Quero saber
se você me daria essa chance, de verdade.
Ela
quase podia ler os pensamentos dele. E quando os lábios se
moveram lentamente, a resposta foi pouco mais do que um sussurro.
-
Não.
A
dor em seu peito se tornou quase insuportável. Respirando
fundo, como se juntasse forças, a morena tirou a fita negra de
seda que prendia os seus cabelos, desmanchando o coque e deixando que
os fios desabassem sobre as suas costas. E caminhou lentamente até
Rodolphus, sentindo os passos, um de cada vez, como se dançasse.
Mas infelizmente, era a dança mais dolorosa de sua vida.
Quando
estava próxima o bastante, aproximou os lábios dos dele
em um beijo. Desesperado, angustiado. Apaixonado.
Afastou-se
lentamente, sem tirar os olhos dos dele, enquanto colocava a fita na
mão dele, e a fechava.
-
Então, Roddie, isso é o máximo que pode haver
entre nós.
Os
olhos dele se desviaram dos dela para a fita, e se voltaram para o
rosto da cunhada novamente. Sem expressão alguma.
-
Agora, Rodolphus, se você puder me dar licença... eu
preciso ficar sozinha para ensaiar.
Ele
abriu a boca para protestar, mas balançou a cabeça e a
fechou novamente, assentindo. E saiu dali sem dizer uma palavra.
Apenas
quando o barulho dos passos no corredor estavam distantes demais para
ser ouvidos, e a morena se viu completamente sozinha, Andromeda se
permitiu chorar.
I
don´t know where you are
Maybe
near or maybe far
I
could see a little light
If
I could see a little light
I
could see a little light En
dehors, Relevé, Glissade dessous
-
Muito bom, senhorita Black. Muito
bom.
Ela
sorriu e fez uma reverência. Estava cansada, mas satisfeita.
Desceu
do palco lentamente, pensando em cada momento de descanso que teria
após mais um dia de ensaios puxados. Sua estréia seria
dentro de um mês, e precisava estar perfeita. No momento,
aquilo não passava de um rápido intervalo.
De
todos os seus colegas da Companhia, um, em especial, lhe sorria.
Era
um rapaz comum, de cabelos castanhos e olhos azul-claros. Mas o
sorriso dele a fazia sentir-se aquecida por dentro.
-
Você estava ótima, Andie.
-
Obrigada, Ted.
-
A sua roupa para a apresentação ficou pronta, segundo
Anne. Você quer vê-la?
Ela
assentiu, e se encaminharam para o camarim. Lá, Andromeda teve
vontade de chorar.
A
tule branca era perfeita. Formaria um lindo par com as suas
sapatilhas brancas, que ainda não havia usado em
apresentações. As sapatilhas que Rodolphus lhe dera.
Lembrar-se
dele era tão doloroso quanto tentar tirá-lo da sua
cabeça.
Sua
fuga não demorara mais de um mês depois que o casamento
dele com Bella fora marcado. Andromeda estava decidida que, uma vez
que iria perdê-lo de qualquer maneira, ao menos não
assistiria a confirmação daquilo. Então, decidiu
perseguir seu sonho. Fora a sua escolha, afinal. O homem que amava ou
o seu futuro como bailarina. Mas não tinha coragem para ver
aquilo expresso no casamento do moreno com sua irmã.
Andromeda
sempre seria uma Slytherin, afinal.
E
Rodolphus subestimara muita coisa sobre os Hufflepuffs. Como sua
amizade, lealdade e bondade. Como eles jamais deixariam alguém
sem ajuda, especialmente um amigo.
E
Ted não a abandonara.
O
rapaz conseguiu um teste para ela, e, depois que a morena fora
aprovada, um lugar para que ficasse. Ele era adorável. Na
verdade, quase... apaixonante.
E
ao contrário de Rodolphus, ao menos Ted podia compreender o
seu mundo, porque o compartilhava.
A
dança é um mundo à parte, feito de movimentos e
sons, que exige muitas vezes lágrimas e sacrifícios,
que apenas quem participa dele é capaz de entender. E ali,
finalmente, Andromeda encontrara pessoas que a entendiam.
Mas,
mais do que tudo, encontrara sua liberdade. A liberdade que apenas
dançar lhe proporcionava, transcendendo o corpo. E outro tipo
de liberdade que jamais havia conhecido: o de não precisar de
ordens ou controle de ninguém, além de si mesma. E
amava aquilo mais do que tudo.
Voltaram
para o palco para continuar os ensaios. No fim, Andromeda conseguira
provar que era uma bailarina tão boa quanto o possível.
Talvez não perfeita, mas boa o suficiente para estar ali, onde
queria.
A
música começou, e ela fechou os olhos, respirando
fundo. Os passos começaram, lentamente. Andromeda procurou
lembrar-se da tarde em que dançara da forma mais plena, para
que Rodolphus a admirasse. Procurou a perfeição
daqueles passos, a beleza dos movimentos. Como se estivesse dançando
para ele outra vez. Apenas para ele.
Na
verdade, estava. Rodolphus jamais saberia, mas ele seria o centro da
sua dança. Cada apresentação seria dedicada a
ele. Lembraria-se dos traços do moreno, e das palavras dele,
sempre que se superasse na sua arte. Para
sempre.
Jeté,
Assemblée, Arabesque.
Stay
alone in my room
Every
moment passing too soon
Watch
the candles burn into the night
