Conflitos Internos
Certo sábado em meados do mês de julho, Lily Potter estava profundamente adormecida quando um barulho alto vindo do andar inferior da casa a acordou.
Ela sabia que, quando havia barulho demais, deveria correr para ver o que estava acontecendo.
Possuía um filho de dez anos de idade extremamente barulhento e dado a travessuras – ainda que extremamente gentil e sincero –, o que por si só já era um caso para preocupação; somado a isso, havia seu marido, James Potter, de quem o menino claramente herdara o temperamento brincalhão. Em suma, a receita para o desastre para qualquer mulher que desejava ter a casa arrumada para as constantes visitas.
Ainda assim, preguiçosa, ela se demorou um pouco mais do que deveria. Afinal, dois minutos a mais não podiam fazer tanta diferença assim. Certo?
Um segundo som, que lembrava – para o terror de Lily – uma pequena explosão, acordou definitivamente a mulher alguns segundos depois, que rapidamente vestiu as suas pantufas e correu para a cozinha, de onde parecia vir o barulho.
A cena que viu ao mesmo tempo a chocou e divertiu. James usara um feitiço que ele mesmo inventara para transformar o chão da casa em um imenso colchão de molas. Harry, seu filho, ria enquanto pulava de um canto a outro da sala, enquanto o pai cuidava para que ele não chocasse com nenhum dos móveis, fazendo-os flutuar com a sua varinha.
Lily pigarreou para anunciar a sua presença. Harry estava rindo alto demais para ouvir, mas James, próximo à porta, olhou para a esposa e se pôs a fazer a sua melhor expressão de fingida culpa.
- Desculpe por acordá-la, querida. Eu prometi ao garoto que faria algo novo quando a primeira carta de Hogwarts dele chegasse.
Essa resposta desarmou Lily. A carta de Harry chegara enfim; seu filhinho finalmente iria para Hogwarts. Um misto de alegria e saudades antecipadas se apoderou dela, ela não soube como reagir.
James, ao perceber que a bronca que levaria fora adiada pelos sentimentos conflitantes da esposa, correu até o outro lado da sala para buscar a carta supracitada. Observando o movimento do pai, Harry se voltou para a porta e viu a mãe parada.
- Mamãe, eu vou para Hogwarts! – Gritou o garoto, dando o pulo mais alto que Lily vira até o momento.
A mulher sorriu timidamente e assentiu, ainda pensando no quanto a presença do menino faria falta naquele ano. Harry achou aquela demonstração de felicidade o suficiente, pois perdeu o interesse na mãe e voltou a brincar, fazendo os objetos mais improváveis quicarem no chão, no teto e caírem em sua mão.
Sentiu, de repente, os braços de James a envolvendo. Lily pegou a carta que ele segurava e leu; não mudara muito desde o dia, mais de vinte anos antes, em que ela recebera a sua própria.
Ela sentiu, finalmente, a felicidade sobrepor totalmente o sentimento de tristeza que a saudade criava. Fora feliz em Hogwarts e, agora, era a vez de seu filho ser.
