Autora: Blanxe
Revisada por: Andréia Kennen
Casal: SasuNaru
Gênero: Yaoi, Canon, Romance, Angst, MPREG, Violência.

Aviso: Essa fic faz parte dos arcos que se iniciaram em Reminiscência. Para entender essa fic, é necessário que leiam as anteriores em ordem para não ficarem perdidos.


Cem dias me fizeram mais velho
Desde a última vez que vi seu lindo rosto
Milhares de mentiras me fizeram mais frio
E eu não creio que possa te olhar do mesmo jeito…

(3 Doors Down — Here Without You)

oOo

Ele estava no escuro mais uma vez.

Novamente, enfurnado naquele quarto como se o dia não houvesse raiado, como se a vida ao redor dele tivesse sido transformada num fúnebre lamento. Era seu pai e a dor preenchia o coração do adolescente a cada novo amanhecer com aquela realidade que se mostrava imutável. A mesma realidade parecia estar devorando aos poucos o que restara da alma de Sasuke, o tirando de si sem que lhe desse uma chance de ajudá-lo.

Os ponteiros do relógio agiam contra o garoto, o tempo era seu inimigo e ele precisava de mais, muito mais do que simples minutos, horas, ou dias, para resolver aquele enigma. Mas seu pai não tinha tanto tempo, via a sua vida se esvaindo a cada mover dos ponteiros.

A cada raiar do sol, Sasuke Uchiha se esvaía.

Literalmente, ele não partiria desse mundo. Não, Sasuke Uchiha era muito teimoso até mesmo para entregar os pontos definitivamente. Ele havia feito uma promessa e continuava honrando-a, mas vivia como um fantoche inanimado, sem propósito, sem alegria, sem motivação.

Ainda assim, estava morrendo. A sua luz interior vinha se apagando desde que matara, pela segunda vez, a pessoa que mais amava. O filho temia um dia bater à porta do quarto do pai e não encontrá-lo mais, e tudo o que estaria a sua frente seria um estranho, uma carcaça vazia e sem conserto.

Nunca acreditou em baboseiras românticas como: morrer por um grande amor. Era jovem demais para isso, sequer sabia o que era realmente a grandiosidade de tal sentimento. Mas agora via com seus próprios olhos o poder de devastação que aquela coisa abstrata tinha. Talvez fosse até tocado por ela, acaso viesse a perder Sasuke – prova de que não era imune aos estragos acarretados pela intensidade do que sentia e do vínculo que mantinha com o pai.

Mas ainda era cedo demais para desistir.

Muito cedo.

Não era um Uchiha à toa. Sua determinação era maior do que qualquer destino maldito que houvesse sido lançando contra a sua família.

Poderia mudar tudo, se conseguisse chegar ao seu propósito. Mas, por enquanto, aquela era outra manhã e aquele ali era seu amado pai, e tudo o que Hoshi gostaria era de ser suficiente para que ele reagisse, que voltasse a ser o seu otousan de sempre.

Inspirou profundamente e, com um olhar determinado, adentrou o quarto daquela casa que não era a sua - localizada distante de Konoha – e sim, a casa de seus pais: uma propriedade que havia sido de seus avós e que, por conseguinte, pertencera aos Uchiha durante anos e anos.

Ainda estavam na Vila da Folha; ainda chovia do lado de fora fazendo um ruído metódico e, até mesmo, reconfortante no telhado. Ele não se identificava com aquela residência, não conhecia aquelas paredes, mas disseram-lhe que passara seu primeiro ano de vida sob aquele teto e que seus pais haviam sido, por algum tempo, muito felizes ali.

Aproximou-se e deitou de lado no colchão antigo na cama de casal, mantendo-se de frente para o pai e ficou olhando-o num misto de incerteza e pesar. Ele não estava dormindo e suas olheiras denunciavam o quanto o sono vinha lhe fazendo falta. Nunca vira os olhos do pai tão tristes, nunca o vira tão derrotado antes.

Tentava ter uma breve ideia do que seu otousan sentia, de como aquele quarto guardava a história dele, de como tudo o que perdera estava relacionado aquele santuário.

A única coisa que tinha certeza era que não queria e não permitiria que seu pai se esvaísse naquele lugar, também. Não deixaria que ele seguisse os fantasmas que ali habitavam.

Hoshi viu os orbes negros, idênticos aos seus, se moverem como se admirassem seu rosto e suas feições, e, finalmente, escutou o mais velho comentar, com a voz embargada e os olhos pesados.

- Você se parece tanto com Itachi… O rosto, os cabelos, os olhos, o nariz, a boca… - fez uma pausa, tocando delicadamente a boca de Hoshi. Fazendo um leve e constante carinho com o polegar, observou, cativo, o leve estremecer do lábio inferior sob seu dígito, e prosseguiu: - Mas o sorriso… é dele. Igualzinho ao dele. Naruto sorria de um jeito meio travesso, meio inocente, como você sempre sorri.

Hoshi sentiu o peito se constringir e os olhos arderem, decidindo se encolher perto de Sasuke, antes que fosse tarde demais. O pai o acolheu, abraçando-o, sem estar realmente ciente das lágrimas que borravam a visão do garoto.

- Sinto muito, otousan. - Hoshi pronunciou-se incerto e ao mesmo tempo sentindo-se impotente perante aquele sofrimento.

Sasuke acariciou os cabelos longos do garoto entre seus dedos e, nostálgico, continuou:

- Ele ficou feliz em vê-lo crescido, disse que parecia com meu irmão… Ele teria sido seu pai preferido se não tivesse… se eu não tivesse tirado-o de você…

Itachi…

Era sempre Itachi e Naruto.

- Eu não poderia amar nenhum outro mais do que amo o senhor, otousan. - Hoshi afirmou, acabando com ínfimo espaço que ainda separava seus corpos, envolvendo o mais velho com os braços e o apertando contra si.

- Eu tenho certeza que, se você tivesse a chance, o amaria mais do que qualquer um. - Sasuke fechou os olhos, respirando suavemente o cheiro dos cabelos longos e lisos do filho, e concluiu: - E eu não o condenaria por isso, pois essa é a exata maneira que me sinto em relação a ele, mesmo depois de… tanto tempo.

Hoshi apertou mais o pai e permaneceu calado apreciando a sensação morna do corpo maior, enquanto segurava as lágrimas. Não teria como argumentar com Sasuke naquele estado, não queria contrariá-lo num momento como aquele, mas a verdade era única:

Jamais poderia amar alguém tanto quanto amava seu otousan.

Ninguém era, nem nunca seria tão importante quanto Sasuke.

E era por ele que iria agir.

Era por aquela pessoa que cuidara de si e agora o tomava em seus braços - mesmo sendo ele a precisar mais de apoio -, que Hoshi estava a alguns passos de cometer algo inimaginável.

Algo que mudaria as suas vidas, quem sabe, para sempre.

oOo

Continua…


Notas da Autora:

Nem demorou pra Recorrência ser postada, não é?

Então...

A Karura Shinigami, mais uma vez, teve um trabalho danado pra criar um trailer pra Recorrência.

Quem quiser dar uma olhada, tem um link direto no meu profile ou é só acessar o link a seguir, lembrando que tem que retirar os espaços, ok?

www .youtube. com/ watch?v=bnJg8vhTu6A


Agradecimentos aos leitores que comentaram em Essência, principalmente, aos que não tive como responder por email...

Respostas dos reviews sem email do Epílogo de Essência:

Aline Cristina - Que bom que está gostando dos arcos e espero que goste de Recorrência também!

Nancy - Eu agradeço muitíssimo pelos elogios feitos no Epílogo de Essência, mas não era a minha intenção arrasar com os leitores... tee-hee... Sei que muita gente ficou triste, principalmente, pela morte do segundo - ou quem sabe primeiro - filho do Sasuke com o Naruto, mas era um fato que precisava acontecer, pelo menos, pro desenvolvimento do que imagino pro enredo de Recorrência e de Consequência... Se o Hoshi vai conseguir ajeitar as coisas, ainda não sei, mas tentar, pelo menos, ele vai... tee-hee

Mimi - Eu também curti a cena do Sasuke se estressando com o Hoshi... Acho que foi um bom ponto pra mostrar o quanto o Sasuke estava sobrecarregado com tudo o que ainda estava passando por causa da morte do Naruto... Agradeço os elogios e espero que goste desse novo arco da história.

Coisinha Uchiha - Realmente, não tem como o Sasuke saber sobre a gravidez do Naruto, mas pode deixar que o ciúme do Sasuke vai continuar, com certeza... Se você realmente quiser desenhar a cena que citou, tem o meu consentimento, sim...


Ah! Como prometi na Essência, estarei colocando mais uma vez o significado do título da história...

Recorrência
sf (lat recurrentia) 1 Ação de recorrer. 2 Med Reaparecimento dos sintomas de uma moléstia, após sua remissão. 3 Filos Volta sobre si mesmo; reação do efeito sobre a própria coisa. 4 Repetição continuada da mesma operação ou fenômeno, ou de um grupo de operações.

Recorrência foi um título sugerido pela Evil Kitsune e, com certeza, diz tudo sobre esse arco.

Espero que gostem dessa continuação!