Lughnasadh
"O que nós fizemos?" a voz de Abeforth era pouco mais que um sussurro, e o corpo imóvel de Ariana parecia gritar mais alto do que qualquer som do mundo.
"Eu preciso ir embora" falou Gellert, os olhos dardejando pela cena.
"O QUE nós fizemos?!" repetiu o jovem, atordoado.
"Eu preciso ir" continuou o alemão, tenso.
"POR QUE? POR QUE?" A voz de Abeforth tinha crescido para uivos de lamentação, enquanto o irmão continuava parado, olhando de um para o outro, sem saber o que fazer.
"Agora. Preciso ir."
O loiro encaminhou-se para o quintal, por onde costumava entrar e sair da casa de sua tia, enquanto Albus via seu irmão começar a chorar, desesperadamente. Abeforth o olhou, com uma súplica tão intensa que mal poderia ser colocava em palavras.
"Albus... Por favor..."
Mas seu coração, apesar de partido, não tinha dúvidas.
"Gellert... Espere!" correu, tentando alcançar o loiro, trêmulo.
"Preciso ir, Albus..."
"Nós precisamos conversar."
"Agora não. Eu preciso ir" repetiu, nervoso.
"Nós fizemos uma bobagem, certo. Mas ninguém vai estranhar, ela sempre teve a saúde frágil e então..."
"Eu. Preciso. Ir. Agora." parecia que o outro tinha dificuldade de sequer articular alguma outra frase.
"Gellert... Fique. Nós podemos conversar depois do funeral... Só fique."
"Eu não posso. Preciso... Preciso ir agora." O loiro evitava qualquer espécie de olhar direto para o ruivo, cujo desespero marcava cada palavra, cada olhar, cada gesto. Nunca antes tinha precisado tanto de alguém -- de Gellert -- para manter-se são. Tudo que precisava era de um ombro amigo -- do ombro de Gellert -- para ajudá-lo a preparar as coisas e então... Estaria livre para seguir o companheiro na tão esperada busca pelas Relíquias.
"Mas, Gellert... Isso faz tudo tão mais fácil! Espere e nós..."
"Você tem outras coisas, Albus" ele falou, decidido, e levantando o pedaço de cercado solto pelo qual costumava passar.
"Não vá" pediu o ruivo, colocando toda sua necessidade naquele pedido, todos os sonhos destruídos, toda a confiança.
"Adeus, Albus" respondeu Gellert, os olhos firmes nos dele pela primeira vez, e Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore soube, naquele momento, que não tinha volta.
Algumas árvores fazem uma colheita amarga, até demais.
