Clarisse desceu do avião suspirando. Estava quente. Tirou o casaquinho cinza e andou marchando até sua mala. Devia encontrar seus pais em algumas horas. Tentou lembrar onde guardara o papel com o nome do hotel, ainda cabisbaixa. Não que não quisesse estar na Califórnia. Não que realmente não gostasse de novidades, aventuras e caras gatos de outros países. Mas viajar com a família não era realmente o que ela esperava das férias.
Tinha dois irmãos – Guilherme e Antonio – que não eram as melhores pessoas do mundo. Eram malhados, bronzeados e todos cheios de testosterona explodindo nos músculos. Não pararam de falar de californianas gostosas da praia por um minuto e aquilo deixava Clarisse enjoada. Ela queria conhecer a praia da Califórnia. Até porque seu hotel ficava em South Beach. As praias eram lindas e as pessoas deveriam ser mais bonitas ainda. Mas, branca do jeito que era, ela daria um tchau pra praia passando de táxi, cheia de protetor solar. Dizem que a camada de ozônio é mais ferrada perto dos States. Ninguém sabe ao certo.
Ficou espiando a cidade crescer enquanto passava com o táxi pelas enormes estradas, prédios e casas bonitas. Era quase oito horas da noite – ela verificou o fuso horário – e as ruas estavam iluminadas. O som de música era ambiente, como se tudo ali estivesse em sintonia. O cheiro era diferente. Era áspero e salgado.
Desceu no hotel para encontrar seu pai conversando com o recepcionista. Marchou com a mala de rodinhas para o lobby.
"Fez boa viagem?" ele estava risonho. É, sim, fizera. Fora a menina ao seu lado que tinha ouvido de não sei quem que os Jonas Brothers estavam no avião e encheu a paciência de Clarisse a viagem toda, ela realmente tinha se divertido. E não tinha nada de Brother nenhum por lá, pra sua maior felicidade. Ela não gostava muito de celebridades.
Por mais de seis anos, quando criança, ela tinha sido fanática pela Xuxa.
Até o dia que conheceu a Xuxa.
Fim.
Nenhuma celebridade era legal. Nenhuma celebridade distribuía sorrisos sem estar ganhando algo em troca. Nenhuma celebridade distribuía seus milhões de um filme com os pobres do mundo.
Clarisse tentava fazer sua parte. Sua família tinha dinheiro – suficiente! - e ela sempre pagava McDonalds pras crianças que ficavam perto da sua faculdade. Pelo menos, era o mais próximo de pobreza que ela tinha por ali.
Entrou no elevador rezando por um banho. Estava então, na Califórnia e tinha quase dois meses para descobrir lugares legais pra visitar.
Tirou o All Star e soltou os cabelos loiros. Estavam compridos e ela tentou anotar mentalmente que teria que corta-los em breve. Ligou a TV e um programa comum americano – TMZ – estava no ar. Sorriu ao ouvir que Brad Pitt estava em Los Angeles. Talvez conseguisse dar um pulo lá e tirar uma foto da bunda dele para Marina, sua amiga.
Com a imagem da bunda do Brad Pitt, ela entrou no banho.