Juntos

Now I stared at you from across the room

(Agora eu olhei fixamente em você através da sala)

Until both my eyes were faded

(Até ambos meus olhos serem amortecidos)

Alan Parrish se considerava uma pessoa afortunada. Tivera a oportunidade de conhecer duas versões de sua vida. Em uma delas acabara preso numa selva durante vinte e seis anos e durante esse tempo perdera seus pais, que morreram sem saber se ele estava vivo ou não; e quando voltara, o mundo estava completamente mudado. Além do fato de a maioria das pessoas que o conhecera, tivessem feito dele uma história de horror para seus filhos.

A única pessoa que não o esquecera completamente e que também tivera a vida arruinada fora Sarah Whittle, que, mesmo que não tivesse noção disso, se tornara uma mulher deslumbrante. Ela sempre fora a garota de seus sonhos. Desde que eram crianças e brincavam na varanda dela. Fora ela que povoara seus sonhos durante a adolescência em meio à selva. Ela era a garota... A mulher que ele defendera de um crocodilo, arriscando a própria vida. E sempre a defenderia de tudo que pudesse.

Naquele mundo louco em que vivera por um dia e no qual a reencontrara, já adulta, não soubera exatamente como reagir ao revê-la depois de tantos anos. Sarah estava linda, bem mais do que ele lembrava, e ele, completamente desajustado a tudo. Ela simplesmente desmaiara ao vê-lo. Fora um pouco traumático, mas tivera a oportunidade de carregá-la em seus braços. Pudera tocá-la e sentir seu corpo colado ao seu. Tudo bem que tivera que convencê-la a jogar com Peter, Judy e ele, mas cada oportunidade que tivera para tocá-la novamente fora aproveitada. Sarah era perfeita, mesmo agindo como uma louca às vezes.

I was in a rush, I was out of luck

(Eu estava agitado, eu estava sem sorte)

Now I'm so glad that I waited

(Agora eu estou tão contente que eu esperei)

Well you were almost there, almost mine...yeah

(Bem, você estava quase lá, quase minha...yeah)

They say love ain't fair, but I'm doing fine

(Dizem que o amor não é justo, mas eu estou indo bem)

Alan ficara muito surpreso com o quase beijo que aconteceu entre eles após tê-la salvado. Sarah ficara desapontada, ele pudera notar, mas não havia como explicar naquele momento que não queria que seu primeiro beijo acontecesse na frente de Judy e Peter. Não queria que todos soubessem o quão inexperiente ele era, embora fosse óbvio, e... Só no momento em que Sarah se colocou sobre uma porta para tentar puxá-lo do chão que o engolia, ele pudera perceber que nada daquilo importava. Nada era mais importante que poder sentir os lábios dela. Sua inexperiência e o fato de haver duas crianças presentes não mudariam seus sentimentos e desejos. Ele queria mais do que tudo beijá-la; e estar cara a cara com ela, sentindo seus braços o envolvendo, podendo tocar seu lindo rosto; não ajudara nem um pouco. Ele queria mais do que tudo beijá-la naquele momento. Sarah não o deixaria daquela vez e nem ele se separaria dela novamente. Nunca mais.

Now you were fine by night, but when the morning light comes

(Agora você estava bem à noite, mas quando a luz da manhã vem)

Comfortable as rain on Sunday

(Confortável como a chuva num domingo)

And I'm a lucky soul that holds your hand so tight

(E eu sou uma alma de sorte que mantém sua mão apertada)

E, juntos, eles conseguiram fugir daquele pesadelo onde tiveram que viver sozinhos durante vinte e seis anos. Voltaram a ser apenas crianças de doze anos. Tiveram uma segunda oportunidade. Sua vida estava em aberto. E Sarah o beijara. E fora isso. Ele sabia naquele momento que estava preso a ela para sempre. Mesmo sendo uma criança. Amava-a demais para deixá-la esquecer disso.

Naquela noite, depois de jogarem fora aquele jogo que quase destruíra duas vidas, mas que, de alguma forma, abrira seus olhos, e trocarem seu primeiro beijo, ele a acompanhara até sua casa e sentaram para conversar na varanda. Um lugar que, mesmo agora que voltaram a ser crianças, lhe parecia menor.

- Você acha que vamos nos esquecer de tudo que aconteceu? – Alan perguntou após algum tempo.

- Você não quer esquecer os anos que passou na selva? – Sarah indagou receosa, pois Alan nunca mencionara aquele período de sua vida e o que tivera que fazer para sobreviver lá durante aqueles vinte e seis anos.

- Não sei, Sarah. – O garoto respondeu com um suspiro. – Passei por muitas coisas ruins, mas acho que também aprendi muitas coisas importantes. – Ele tinha um olhar perdido. Provavelmente estava recordando tudo que passara por lá. – Acho que não quero esquecer. – Alan, na verdade, queria esquecer, mas chegara a conclusão de que era melhor lembrar. Era melhor do que perder uma parte de si.

- Então tenho certeza de que não vai esquecer. – Ela respondeu com um pequeno sorriso. – Você é muito cabeça dura. Conseguiu voltar da selva depois de vinte e seis anos, lembra? É claro que consegue manter algumas lembranças aí. – Sarah tocou a cabeça dele com um dedo, brincalhona. Alan a encarou e em seguida baixou os olhos, ficando vermelho.

- Eu tinha bons motivos para voltar. – A jovem também corou e segurou a mão dele.

- Espero que agora tenha bons motivos pra ficar. – Alan sorriu envergonhado e aproximou seu rosto do dela. Eles trocaram mais um beijo tímido. Aquele era o melhor dia da vida dele. Estava tendo sua segunda chance de viver sua vida ao lado das pessoas que amava e da garota de seus sonhos.

Hope you hear this one day

(Espero que você escute isso um dia)

Don't fool yourself, this is my truth

(Não engane você mesma, esta é minha verdade)

- O que está acontecendo aqui? – Perguntou um garoto entrando na varanda de maneira arrogante e assustando o casal que se separou rapidamente.

- Não é da sua conta. – Respondeu Alan com raiva. Billy sempre aparecia para estragar tudo.

- É da minha conta se você está beijando a minha namorada. – Rebateu o menino furioso.

- Eu não sou sua namorada. – Disse Sarah com um suspiro. – Nós fomos juntos ao cinema uma vez e você segurou minha mão. Foi só isso. Não significa que somos namorados. – A jovem se levantou e cruzou os braços, também começando a ficar com raiva. Ela lembrava como Alan ficara irritado ao mencionar Billy no passado alternativo deles e queria que ele soubesse que nunca havia existido nada entre eles.

- O que está dizendo, Sarah? Que prefere namorar esse idiota que apanha de todo mundo? – Perguntou Billy zombeteiro. – Só pode ser uma piada. – Concluiu caindo na gargalhada.

- A única piada aqui é você. – Respondeu Sarah estreitando os olhos. – Entenda de uma vez que não quero ser sua namorada. Não gosto de você e quero que deixe a gente em paz. – Alan estava surpreso com as palavras dela e enquanto isso Billy se aproximou, levantando a mão para bater na jovem. Sarah fechou os olhos esperando o impacto, mas Alan, que se levantou do banco apressadamente, segurou o braço de Billy e o encarou com fúria nos olhos. Não importava se ele era mais fraco que Billy, não iria permitir que ele tocasse num fio de cabelo de Sarah contra sua vontade.

- Você ouviu a Sarah. É melhor ir embora daqui. – Billy puxou seu braço da mão dele agressivamente.

- Você não é ninguém pra me dar ordens, Parrish. – Respondeu com raiva. – Seus pais podem ser ricos, mas você não tem nenhum poder sobre mim.

- Só queremos ficar em paz. É difícil demais entender isso? – Insistiu Alan sentindo-se frustrado. Depois de tudo que passaram, ainda tinham que perder tempo discutindo com um idiota como Billy?

- Vamos resolver o problema agora mesmo, se quiser, Parrish. – Disse Billy fechando a mão e indicando que deveriam lutar. – O vencedor fica com a garota.

You take this hand, you take this heart

(Pegue esta mão, pegue este coração)

Steal my bones from 1000 miles apart

(Roube meus ossos a 1000 milhas de distância)

- Não sou uma coisa pra vocês brigarem por mim. – Respondeu Sarah ficando vermelha de raiva. – Eu sei tomar minhas decisões sozinha. E não vou namorar com você, Billy. – Alan deu um pequeno sorriso ao ouvir aquilo, mas Billy se sentiu confuso e ofendido. Ele não sabia pelo que Alan e Sarah haviam passado. Não sabia que eles haviam deixado de ser adultos a pouco mais de uma hora. Ele era apenas um menino que achava que podia conseguir tudo a força.

- Você é uma idiota. – Billy falou dando um empurrão na garota, que caiu sentada no chão. Alan, que fora pego de surpresa e não conseguira impedi-lo, voou sobre Billy com fúria e o derrubou no chão. Alan conseguiu prendê-lo contra o chão com seu peso e começou a dar socos no rosto do outro menino. Ele parecia estar possuído. Sarah, que não se machucara, rapidamente se levantou e começou a puxar Alan, tentando afastá-lo de Billy.

- Pare, Alan! – Ela gritou, assustada com a reação dele. – Você vai acabar matando ele. – Sarah o abraçou pelas costas impedindo-o de continuar com os socos. – Eu estou bem. Não me machuquei. – Ao sentir os braços dela ao redor de si, Alan foi se acalmando. Parecia que seus instintos animalescos do tempo que passou na selva, ainda estavam à flor da pele. Billy estava com o rosto ensanguentado, respirando ofegante, mas o importante é que ele respirava. Logo ele conseguiu reunir forças pra se mexer e Alan começou a se erguer para permitir que ele se levantasse. Sarah o libertou para que fizesse isso, mas, antes de sair totalmente de cima de Billy, Alan segurou-o pela camisa e aproximou seus rostos.

- Fique longe de mim e da Sarah. – Falou Alan num sussurro ofegante e ameaçador. – Se alguma vez você sequer pensar em tocar em um fio da cabeça dela de novo, vai se arrepender. Eu prometo. – Billy podia notar, pelo olhar dele, que Alan não estava mentindo. – Você me entendeu? – Billy apenas o encarou em silêncio, com medo daquele novo Alan. – Essa garota é minha. Você entendeu? – Alan o sacudiu levemente pela camisa e Billy assentiu. Finalmente ele saiu de cima do menino e permitiu que ele se levantasse. Billy levantou cambaleante e se afastou do casal, ainda assustado.

I swear it's you that I've waited for

(Eu juro que é você quem eu esperei)

I swear it's you, I swear it's you

(Eu juro que é você, eu juro que é você)

I swear it's you that my heart beats for

(Eu juro que meu coração bate por você)

Sarah ficou parada atrás de Alan sem saber o que dizer. Nunca o vira desse jeito, tão transtornado. O menino se voltou para ela respirando de maneira ofegante e a jovem não sabia se deveria se aproximar ou não.

- Alan... – Ela chamou preocupada e receosa.

- Eu sinto muito, Sarah. – Alan respondeu voltando a parecer o garotinho que ela conhecia e que, por vinte e seis anos, pensara que havia perdido. – Sei que você não é um objeto e sei que me descontrolei, mas o Billy, ele... Ele sempre me subjugou e eu nunca revidei, só que, dessa vez, ele empurrou você e... Acho que enlouqueci. – Alan parecia tão desolado que Sarah sentiu um aperto no peito ao vê-lo daquele jeito. – Um dos meus maiores medos enquanto estive na selva era que você tivesse se casado com ele e se esquecido de mim. Eu te amo. – Sarah arregalou os olhos, surpresa. – Eu nunca achei que você fosse uma coisa, mas, de alguma maneira, você é minha. É minha melhor amiga. É a única garota de quem já gostei. Eu... – Sarah o puxou pelo casaco e lhe deu um beijo um pouco mais demorado que os outros e, em seguida, o abraçou.

- Eu sei. Eu sou sua, Alan. – A jovem disse com um pequeno sorriso enquanto ele correspondia ao seu abraço, aliviado. – Eu também te amo.

- Você quer namorar comigo? – Alan perguntou com o rosto próximo aos cabelos dela, de onde podia sentir o cheiro de lavanda que vinha deles. Sarah se afastou dele, apenas o suficiente para encará-lo, e assentiu com um sorriso radiante. Alan também sorriu e beijou sua namorada, oficialmente, pela primeira vez. E ele esperava que esse fosse apenas o primeiro de muitos.

And it ain't gonna stop, it just won't stop

(E elas não vão cessar, isso não vai parar)

It just won't stop

(Isso não vai parar)

I swear it's you

(Eu juro que é você)

[Won't Stop – One Republic]

Início e Término: 29/03/2017.