Esta é minha primeira fic postada aqui. Eu a dedico àquela que primeiro acreditou no meu talento (?) enquanto ficwriter.

Uchiha Yuuki, essa é pra você =D. Sempre achei que NejiTen fosse seu casal favorito.

Disclaimer: Naruto não me pertence. Mas que DROGA!

Fic em três partes.

I - Matar.

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A água escorria, lenta, por suas costas suadas.

Primeiro, um choque do corpo quente contra o líquido frio. O ar que se prendia nos lábios dele, em falta momentânea. Depois, a refrescância, o abandono do corpo naquele dia de intenso calor. E as gotas iam descendo, matreiras, procurando espaço entre os músculos talhados e os cabelos compridos.

Estendeu a mão para o shampoo, abriu-o. Fez com a outra mão uma concha, despejou o conteúdo do frasco nela, fechou-o, devolveu-o ao seu lugar de origem. Espalhou a substância cremosa por ambas as palmas antes de lançá-las aos cabelos, esfregando com energia, arrancando todo o pó grudado pelo suor após horas de treinamento.

Usava os fios crescidos, sedosos como os de uma mulher. Usualmente, deixava-os presos em um rabo frouxo, que desvendava toda a extensão e a textura das melenas acastanhadas.

A espuma, agora. Nuvens de sabão a escorrer da cabeça e dos ombros, esbranquiçadas. Quando criança, pensara serem assim as nuvens do céu, e não de algodão. Nuvens imensas de sabão, etéreas. Deslocavam-se da órbita celeste e vinham desfazer-se em seu couro cabeludo, ruidosas ao contato da água fria.

Esperou que o líquido removesse todo o vestígio de sabão que poderia haver ainda em seus cabelos. Conferência feita, e era a vez do condicionador. O creme espalhou-se fácil pelos fios dóceis. Desembaraçados, foi-lhes permitido o contato com a água mais uma vez. As gotas continuavam a percorrer, agora mescladas ao viscoso do condicionador, o desenho preciso daquele torso.

Buscou o sabonete. Outra brincadeira infantil. Fingia ser aquele um tesouro perdido por piratas, escondido nos amplos mares do box de seu banheiro. E o prêmio, ao perpassar o seu corpo de menino de três anos, deixava espalhado pela pele um percurso de pedras preciosas.

Agora, era o homem quem se banhava. De nada valiam aquelas lembranças tolas. Que as deixasse morrer no mais íntimo de seu coração. Detestava lembrar que em um primeiro tempo fora feliz, antes que o mundo shinobi deixasse seus efeitos gravados nele, real e permanentemente.

Corria a barra alaranjada pelos braços. O sabonete tinha um cheiro bom, misto de camomila e lavanda. Precisava daquele contato, era como uma redenção para seus músculos cansados. E uma nova aplicação de energia.

Sentiu no ombro esquerdo algo arder. Era um corte com o qual não contava. Droga. Deveria ter sido em algum momento do último treino, horas antes. Dificilmente seu juuken falhava. Ele em geral era capaz de repelir qualquer arma ninja lançada contra ele. Mas era difícil, quando se combatia com uma especialista.

Percorreu o tórax, o abdômen, compelindo a barra perfumada com força. Desceu um pouco mais, até encontrá-lo. Nas suas mãos, era apenas uma anatomia banal. Nas dela, uma fonte de deliciosas torturas. Meneou a cabeça à simples lembrança do toque feminino. Não havia tempo para aquilo. Não naquele momento.

Direcionou o seu trabalho para as pernas e os pés. Um lado do corpo de cada vez. Arqueou o tronco, verificando se havia algo ainda por limpar. Verificou silenciosamente que não. Levou uma das mãos até o chuveiro, fechando o registro. As coisas seriam mais rápidas agora.

Secou o corpo com a perícia de quem já fizera aquela operação muitas vezes. A roupa o esperava ali ao lado, pronta para ser colocada. Ele a vestiu, peça por peça, o espelho enorme refletindo seus movimentos.

Por último, o protetor de Konoha. Amarrou-o em volta da testa, gesto conciso e rotineiro, mas tão especial para ele. A bandana representava a sua graduação ninja, o reconhecimento do seu poderio enquanto shinobi. E também ajudava a esconder o amargo tracejado verde, lembrança latente de seu destino.

Tinha à mão todo o equipamento de que precisaria para partir. Era incomum sua saída em horário tão avançado, ainda mais após um treino longo e extenuante. No entanto, a mensagem entregue pelo ANBU não poderia ser mais direta.

Hyuuga Neji tinha uma missão.

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Os integrantes dos dois times saltavam de modo coordenado por sobre as árvores, indo em direção a Konoha. Fazia já duas semanas que haviam se retirado, para cumprir uma missão em um país distante. Estavam cansados, sujos, os organismos protestando pela falta de comida nutritiva durante a viagem extensa. Enfim, o lar não parecia longe. Mais duas horas de corrida, ou três, e chegariam.

Andavam em fila indiana, e Neji era o último da formação. Com o byakugan ativado, protegia a retaguarda do grupo, sem perder a concentração por um segundo sequer. Era certo que já estavam próximos de Konoha, mas era melhor não arriscar. Vigilância e cuidado, esse era o seu lema.

Viu, não sem expressar um muxoxo de insatisfação, que os seus companheiros de missão já iam abandonando, pouco a pouco, o estado de vigilância extrema. Encabeçando a fila, apenas Shino parecia concentrado, embora Neji conhecesse o shinobi o suficiente para arriscar que aquela aparente concentração camuflava com facilidade um desligamento do mundo, uma viagem por seu universo interior. Depois dele, Hinata e Kiba vinham conversando, a mulher sorrindo timidamente, o homem contando piadas com sua postura tipicamente selvagem. Na sequência, Tenten e Lee, a primeira se divertindo com os comentários do ninja de verde acerca de seus treinos exagerados e da necessidade de manifestar o fogo da juventude.

Neji disfarçou um soluço irritado, novamente contrafeito. Por que diabos Tenten tinha que ser tão simpática? Mas calou logo o pensamento, com medo de se descobrir em flagra. Ela nem era oficialmente dele. Não sentia ciúmes. Não sentia.

O ninja sentiu-se subitamente cansado. Correra um percurso longo, os olhos sempre esquadrinhando a região, cercados de veias salientes. Talvez não fosse uma má ideia relaxar um pouco, afinal. Seu espírito ameaçava ceder, pouco a pouco, aos clamores da carne.

Foi então que aconteceu. Um grupo de ninjas inimigos, saídos da vegetação densa, os atacou. Imediatamente, os seis se colocaram em posição de luta, prontos para defender uns aos outros. Olhando as bandanas, Neji pôde apenas identificar que se tratavam de ninjas da vila oculta da Nuvem.

Um deles se adiantou, lançando uma bomba de fumaça no meio do grupo. Por algum tempo, nada se via além do vapor enevoado expelido pelo dispositivo. Forçando a vista cansada, Neji projetou a visão do Byakugan, procurando os amigos ao redor, tentando precisar a localização de seus inimigos.

Pôde ver os companheiros de Konoha ao seu redor, à média distância uns dos outros. Desorientados, uns mais intoxicados peça fumaça branca do que outros. Mas todos pareciam bem, e seguros. À exceção de uma pessoa, que não se encontrava ali.

Neji forçou a vista ainda mais, sentindo as veias latejarem de dor, a precisão do byakugan desvendando até os detalhes mais ínfimos. Viu que os ninjas inimigos se dispersavam, cada um seguindo uma direção diferente. E viu também que aquele que parecia ser o líder do bando, o que lançara a bomba, carregava um corpo desacordado nos braços. Hinata.

Era imperativo que a recuperasse. Partiu na direção do ninja da Nuvem, alcançando-o depois de algum tempo. Rendido, o homem não teve opção senão lutar contra o shinobi de Konoha. E a batalha começou, sangrenta, tendo como testemunha apenas as árvores altas da floresta em torno de Konoha, e a herdeira Hyuuga, que jazia, desacordada, junto à raiz de uma das maiores árvores.

Neji sempre se perguntara se o fato de ele proteger Hinata envolvia algo mais do que simples dever familiar. Ele a odiara, por um tempo, assim como odiara toda a família principal, odiara o selo gravado em sua testa e o maldito destino que ele não conseguia mudar. Entendia seu pai, depois de tantos anos. Ele pagara, com a vida, o preço da própria liberdade.

Mas o clã era uma tradição. Um mito. Crescera sendo o guardacostas da prima. Era fiel às juras, dele e de seu pai antes dele. Era fiel às tradições estabelecidas por outros, bem antes dele, e que regiam a sua vida, como regeram a de seu pai, como regeriam a de seus filhos, se ele um dia os tivesse. Aceitava o encargo, em nome da honra. Logo, não hesitou quando o ninja rival estava próximo o suficiente. O símbolo do yin e do yang surgiu, nítido, sob seus pés, ao som da sua voz.

Hakke Rokujuuyon Shou.

Um golpe típico dos Hyuuga. O oponente não teria como escapar.

Ni Shou.

Sua primeira infância, a época mais feliz. Ondas de espuma pelo piso gelado, mãos que o acarinhavam, o vestiam, cuidavam dele. O som agradável da voz do pai, chegando em casa. Uma história leve e divertida, antes da hora de dormir.

Yon Shou.

O silêncio que ele não entendia. Sussurros, olhares de pena. Então o chamaram, e ele viu. O pai parecia tão pequeno naquela mortalha imensa, os olhos brancos cerrados para sempre. A única pergunta, a mais importante, ninguém ousava responder.

Hachi Shou.

Já tinha idade para saber. E os odiava. Tudo o que era precioso para ele, aquela corja lhe retirara. O toleravam por compaixão apenas. Só que sempre odiara que tivessem pena dele.

Juuroku Shou.

Enfim, poderia medir suas forças com um rebento da família principal. Não teria piedade da garota tímida, quase encolhida por detrás do casaco grosso que usava. Poderia talvez matá-la. Não fazia diferença. O destino dela era ser um estorvo, mesmo.

Sanjuuni Shou.

Ele contara a verdade. Ali, na frente de toda Konoha. Agora a vila inteira sabia sobre o destino de ódio dos Hyuuga. E ele aniquilaria o garoto loiro que estava a sua frente, depois da confissão. Afinal, o rival era um perdedor. Enquanto ele era um gênio.

Rokujuuyon Shou.

Fora vencido. O inacreditável acontecera, sucedido por uma ainda mais surpreendente visita de Hiashi. A carta deixada pelo pai não abria espaço para dúvidas. Era outra a verdade. Torta a sua ideologia. Embaciado o seu caminho.

O ninja da Nuvem jogou o corpo para a frente, gemendo de dor, sessenta e quatro pontos do corpo impedidos de circular chakra graças aos golpes ágeis de Hyuuga Neji. No entanto, a sua constituição física era forte o suficiente, a ponto de ele ainda manter-se de pé e, em um gesto de covardia, ameaçar recolher o corpo inerte de Hinata em seus braços, para fugir da luta.

Só que Neji pensou tão rápido quanto ele. E previu o golpe covarde do inimigo.

Não importava se seu outro ataque era fatal. Não seria o primeiro sangue derramado do qual se iria requerer a culpabilidade em suas mãos. Era a sua vida contra a do outro ninja. Era a vida de Hinata, da família principal e da ideologia Hyuuga. Se fechar sessenta e quatro pontos de chakra do inimigo não adiantava, ele finalizaria o serviço. Com o próximo golpe, os trezentos e sessenta e um pontos seriam atingidos, e a vida do oponente extinguida. Simples assim.

Antecipou-se ao inimigo, a palma da mão direita espalmada, em um gesto certeiro.

Hakke Sanbyarurokujuuichi Shisa.

Acabara, afinal.

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Repetia pela décima vez o prognóstico de Tsunade. Hinata ficaria bem, só passaria aquela noite no hospital em observação, mas estaria liberada logo pela manhã. Só que o ninja de roupa coral parecia não querer se convencer disso.

Neji bufou, vencido. Estranho o relacionamento de Hinata e Naruto, desde que a prima perdera a timidez e se confessara, enquanto o hiperativo reconhecera os próprios sentimentos, decidindo-se, ambos, a iniciar um namoro. Que se amavam era evidente. Mas o amor, entre eles, alcançava os limites do desespero. Temiam um pelo outro quando saíam em missões diferentes, como se não confiassem na capacidade shinobi do parceiro. As horas em separado eram um martírio cruel para ambos. E, naquele momento em especial, Naruto se apegava às notícias de Hinata.

Aquele era o amor romântico, concluiu. Não nascera para ele, pois era um ser racional por excelência. Aquele desapego de si próprio, aquela renúncia voluntária. Não.

Ele não amava, nem mesmo a ela. Tinham um relacionamento passional. Eram colegas desde a academia. Suas lembranças de adolescência e da carreira ninja muitas vezes se fundiam. Era dedutível e até natural que eles se envolvessem em algum ponto de suas vidas.

Mas sem amores extremos. Sem maiores concessões. Porque ele era racional, e ela também. Talvez fosse essa a característica que mais o agradava em Tenten. Para ela, os homens não eram príncipes encantados. Ele não precisava forjar palavras vazias, nem tentar impor sentimento aos carinhos ocos. Ela muito menos.

Juntos, supriam a carência um do outro, e bem. Sempre que o primeiro precisasse, sabia que o segundo estaria ali, à disposição. Ambos não passavam de dois amigos que iam para a cama de vez em quando. Só sexo, nada de amor.

Ou pelo menos era o que Neji pensava.

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CONTINUA...

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Olá, pessoas! =D

Sou nova no FF, essa é minha primeira fic aqui, e pouquíssimas pessoas me conhecem nesse site. (fico pensando: será que alguém além da Yuuki vai ler isso? =O)

Essa fic não será muito longa; terá apenas três capítulos. E, por mais que em alguns momentos a Hinata tenha ficado mais em evidência, essa fic é NejiTen. (a Hinata é só do Naruto, e de ninguém mais!). No entanto, eu admito que a história vai ser muito mais centrada no Neji e no papel dele dentro do clã Hyuuga. A Tenten é o lado humano do Neji, pra além das tradições e destinos, um lado que ele reluta em aceitar.

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Mais um recado: essa fic é Rate M. Não coloquei essa qualificação por acaso; mas o que vem por aí eu vou deixar como surpresa ;D

Beijos!

p.s.: Yuuki, querida, espero que goste. Muito obrigada MESMO por apostar em mim!

Próximo capítulo: Honrar