Capítulo 1 : Alvo Fácil
Hermione despediu-se de sua amiga Ginger e rumou para sua casa, a última da rua. Ela morava num bairro antigo de Hove, cidade vizinha de Londres, onde a maioria das casas eram confortáveis mansões provincianas. Olhando para o céu, ela previu uma grande chuva: havia muitas nuvens cinzentas e uma brisa levantava um mormaço estranho do chão. Ao divisar o carro de seus pais na entrada da casa Hermione sorriu. Eles eram o tipo de casal que vivia para o trabalho, ambos trabalhavam juntos num grande consultório odontológico no centro de Londres.
Ela correu para alcançar a porta de entrada, batendo-a atrás de si:
Mãe, Pai? – chamou, mas não obteve respostas.
Hermione passou do hall de entrada para a sala de estar, e da sala de estar para a cozinha. A casa parecia inabitada.
Manhê? – chamou mais uma vez.
Resolveu subir as escadas, passou pelo quarto dos pais... nada. Então, um pouco cansada, resolveu recolher-se ao seu quarto.
Hermione era filha única, por isto, seu quarto era decorado com todas as coisas que uma garota normal de dezesseis anos poderia desejar: uma televisão, um celular, um aparelho de som, diversos cd's de bandas conhecidas no mundo trouxa, fotos, bonecas e outras coisas espalhadas pelo aposento.
No entanto, havia um cantinho, o lugar preferido de Hermione, onde ela guardava coisas escuras, cobertas de pó e coisas estranhas como pele de araramboia e outros componentes de poções, um caldeirão e muitos, muitos livros de magia.
Desde que recebera a carta de Hogwarts, Hermione contou com o apoio dos pais trouxas, mesmo sabendo que eles sonhavam em ter sua filha formada como uma dentista. Ela agradecia por seus pais e se entristecia em pensar que Harry Potter, seu melhor amigo, não tinha o incentivo de pais como os dela, que mesmo trouxas, compreendiam sua vocação.
Hermione escolheu entre sua coleção um livro sobre "Runas Antigas" e debruçou-se sobre a cama acolchoada para ler. Concentrava-se em sua leitura para terminar uma composição sobre a "Iluminação de Odin" quando escutou um barulho no andar de baixo.
Mãe? – chamou, sem obter novamente uma resposta. Preocupada, Hermione levantou-se num pulo e aproximou-se da porta, abrindo-a devagar para que não causasse nenhum som. Andou vagarosamente até a o corrimão da escada e espiou: lá embaixo um homem, de aparência bárbara e nórdica, examinava o lugar. O coração de Hermione de um pulo. Já estava quase descendo as escadas quando viu uma outra pessoa, uma mulher que ela conhecera há dois anos atrás na copa de quadribol: Narcisa Malfoy. "O que Narcisa Malfoy estava fazendo em sua casa?", Hermione pensou consigo mesma. E quanto pisou um pé a frente para descer as escadas, foi puxada bruscamente para trás e caiu sobre quem a puxara. Hermione tentou se levantar, ela estava prestes a gritar, quando uma mão forte tapou sua boca.
Draco, algum sinal da nojentinha? – Hermione escutou Narcisa gritando lá de baixo. O pavor começando a assomar sua mente. O que estava acontecendo, onde estariam seus pais?.
Não, Mãe, nada! A Granger teve ter saído. – Hermione escutou a voz da pessoa que a mantinha prisioneira. Uma voz gélida que Hermione bem conhecia: Draco Malfoy.
Mmmfffoy! – Ela tentou dizer, mas como seus lábios estavam firmemente presos na mão de Draco, conseguiu apenas balbuciar.
Impossível! – gritou a mãe de Draco – Eu acabei de escutar a voz daquela "sangue-ruim". Procure novamente, ela deve estar escondida.
Draco levantou-se com esforço e arrastando Hermione de volta para o quarto, libertou-a soltando-a sobre a cama.
Fique quieta, Granger! Minha mãe não será tão gentil quanto eu.
O que vocês querem? Onde estão meus pais? – perguntou Hermione assustada, tomando cuidado para falar baixo. Preferia mesmo a companhia de Malfoy à sua mãe e ao homem nórdico.
Draco foi até a porta espiar o corredor. Hermione começou a pensar num plano, talvez conseguisse fugir pela janela.
Granger – Draco disse, dirigindo-se a garota novamente – Minha mãe está a mando de VOCÊ-SABE-QUEM. Ele quer matar a todos que tenham contato com Potter. Minha mãe iria atrás dos Weasley, mas dizem que Molly Weasley é muito boa com feitiços de defesa. Tanto que deveria ser uma auror se não tivesse se casado com o fracassado do Weasley, e como você é apenas uma bruxa adolescente, é um alvo muito mais fácil.
Oh, meu Deus. E Harry? Ele está bem? – Hermione perguntou a beira do desespero.
Está, sim, infelizmente. Ninguém pode tocar nele enquanto esta na casa dos tios trouxas.
E onde estão meus pais. Eles deviam estar aqui. Vocês não vão machucar meus pais, vão?
Draco abaixou os olhos.
Eu não tinha como impedir. Alias foi uma sorte você ter subido logo ou mamãe teria pegado você. Nós estávamos no quintal, quando escutamos a porta bater.
O que fizeram com meus pais? – Hermione perguntou... sentindo as lágrimas rolarem pelo rosto – O-que-fizeram-com-meus-pais? – perguntou ela, sentindo seus dentes rangerem de raiva e desespero.
Minha mãe os matou com a maldição "Avada-Quedavra".
Por um momento Hermione escutou a voz de Draco como se ele estive muito longe dela, de repente a imagem do garoto loiro a sua frente foi se escurecendo. A última coisa que viu antes de desmaiar, foi os braços de Malfoy, aparando-a segundos antes de desabar no chão.
Hermione sentiu uma das faces formigar, alguém estava lhe dando palmadinhas.
Granger! Acorde! – Malfoy voltou a lhe dar tapinhas e pequenas sacudidelas.
Não... não pode ser! – Hermione balbuciou tentando recuperar a consciência. Seus pais estavam mortos e Narcisa Malfoy queria assassiná-la.
Draco ajudou a se levantar. Ela não conseguia conter as lágrimas, parecia que seu mundo havia desabado.
Vamos, Granger, recomponha-se. Você precisa fugir, minha mãe vai subir daqui a pouco e não vai pensar duas vezes.
Não... – Hermione agarrou com força as vestes de bruxo de Malfoy. – Diga para mim que é mentira... diga que meus pais estão vivos.
Hermione imaginou que por um instante, Draco fizera uma careta de tristeza, mas depois encarnou um ceticismo gélido.
Sim, Granger, estão mortos. E você também vai estar se não fugir daqui. Vem eu te ajudo a descer pela janela.
Hermione não conseguia se mover, mas Draco a puxou pela mão. Ele abriu a janela e olhou para baixo.
Certo! Tem uma trepadeira, vai ser fácil. Agora, presta atenção. É melhor ir para onde o Potter está, eles estão pensando em atacar os Weasleys, ok. Você está me escutando, Granger.
Ela estava embora não quisesse estar.
Draco ajudou Hermione a passar pela janela. Hermione desceu com cuidado e em silêncio. Draco ouviu passos no corredor, sabia que sua mãe estava bem perto.
Vai, agora, corre! – ele sussurrou.
Hermione se virou e correu, alcançando logo a rua. Ela não parou de correr por muito tempo. A chuva desabou sobre sua cabeça, logo, seu vestido, branco e mimoso, estava completamente encharcado e sujo. Ela tirou a varinha de um dos bolsos e ergueu-a. Não teve que ficar assim muito tempo. Logo um ônibus púrpura – o nôitibus - , aparecendo do nada, estacionou ao seu lado. Ela entrou, pagou ao cobrador e sentou-se completamente arrasada sobre uma cama.
E aí, para onde vai? – perguntou-lhe o cobrador.
Hermione pensou por uns segundos. Ela queria muito ir para a Toca, mas sabia que precisava ir para onde Harry estava e tentar avisar aos Weasleys. Por um momento pensou em ir ao Largo Grimmauld, mas poderia ser arriscado. Assim, sem outras opções, respondeu:
Casa dos Durleys, Little Whinging, rua dos alfeneiros numero 4.
