Prólogo

Algumas coisas a gente não pede para acontecer, certamente esse era o caso.

"Vocês são iguais. Bastardos, egoístas e com um futuro bem previsível."

"Mamãe?" As lágrimas não conseguiam afagar a dor do peito, da solidão, da incerteza e do medo.

"Você!" Apontou o dedo para a filha. "Foi egoísta ao deixa-lo, ao deixar o hospital, ao deixar a si mesma largada no meio do caminho."

"Deixar um viciado conviver com a minha filha seria...".

"E você?" Perguntou em um tom intimidante. "Viciada no trabalho, viciada na solidão, na tristeza. Olha para a sua irmã, não tão bem sucedida profissionalmente quanto você, mas ela chega em casa e não se sente morta."

"Pensei que poderia contar com você." Lamentou num sussurro.

"Essa é a minha forma de fazer você acordar. Você errou, erros possuem consequências e não faça uma alma inocente pagar. Se você não contar, eu contarei." Ela não sentia pena ou remorso por dizer tais palavras, era o certo. "Eu quero o seu melhor e por isso não vou deixar a escolha em suas mãos para depois de uma péssima decisão eu dizer 'Oh, querida! Sinto muito'. Essa é a minha forma de ser mãe."

Cuddy se encolheu no sofá e puxou os joelhos ao encontro do queixo abraçando a si mesma. Olhou para aquele apartamento enorme e engoliu em seco. Olhou hesitante para o telefone centenas de vezes antes de pressionar as teclas.

"House? Por favor, não desli.."

Tu...tu...tu...tu...

Ela tentou por dias e dias e a resposta era a mesma: o silêncio.

Capítulo 1

Ela não conseguia segurar as lágrimas. Mais do que um empregado, Wilson era seu amigo. Ela mal poderia acreditar! Tão jovem e com um futuro tão trágico. Tão amado, complacente e gentil levou uma rasteira da vida logo na esquina. Câncer! Chegava a ser patético o fato de que a morte o traiu com a mesma doença que ele passou a vida toda salvando vidas; Irônico.

E ela não poderia evitar pensar em House. Wilson era o único que até então não havia o abandonado e hoje o fez para sempre. Ela temia por House, pois o mesmo havia projetado todas suas fraquezas em sua amizade, no qual Wilson empenhava papeis além de um amigo.

Arlene dirigia e observava Lisa Cuddy absorta em seus pensamentos enquanto lágrimas silenciosas rolavam por seu rosto. Olhou para o tamanho da barriga da filha e temeu pela sobrecarga de estresse que estava caindo sob seus ombros, entendeu que não poderia impedir que ela se despedisse do amigo, portanto a ajudaria a suportar as emoções. Havia mais um problema, House estaria lá e ela lamentava o fato de serem muitas mudanças para um único dia.

Cuddy observou a igreja e respirou fundo algumas vezes, sua mãe a ajudou a sair do carro e segurando em seu braço subiram lentamente a escadaria.

"Devagar, Lisa. Você está bem?" Cuddy assentiu, mas não foi convincente.

"Exceto pelo fato de que minhas pernas e minhas costas estão me matando mais do que nos outros dias." Arlene suspirou observando a filha.

"Querida, preciso falar com você antes de entrarmos." Arlene olhou para o céu buscando as melhores palavras. "House está lá dentro." Arlene percebeu as expressões faciais da filha se tornar mais severas. "Está muito perto de a Sofia dizer oi para o mundo, controle-se."

Cuddy assentiu e deu um leve sorriso.

Cuddy assentiu e deu um leve sorriso.

"Será muito estranho." O sorriso se perdeu no meio da frase.

"Ele preferiu assim."

"Estamos falando do House, mamãe." Arlene viu como os olhos da filha se iluminavam ao pronunciar o nome dele. No momento, de raiva, mas brilhavam. "Wilson disse que contou a ele, não será uma surpresa."

"Está preparada?" Cuddy assentiu. "Vamos."

Cuddy se sentia muito incomodada com os olhares estranhos a ela, muitos vieram cumprimenta-la e ela foi gentil, ignorando os olhos arregalados a sua barriga e os cochichos relacionados a ela. Ninguém ousou perguntar, ter sido uma chefe séria evitou palavras inconvenientes a ela, de certa forma se sentia grata.

Ela suspirou forte quando chegou a frente do caixão e não resistiu quando viu o corpo pálido do amigo. Ela reprimia soluços e devido a isso seus ombros tremiam violentamente. Tocou suavemente o rosto dele com os dedos trêmulos e sentiu que foi demais para ela. Arlene a levou a uma cadeira próxima e se ajoelhou diante dela, permitindo que ela a agarrasse e exalasse todas aquelas emoções. Beijou os cabelos da filha e olhou para a direção oposta, vendo a tão conhecida figura encostada na parede. Seus olhos estavam vermelhos e a barba grande, ele parecia ter envelhecido uns 10 anos. Cuddy não poderia vê-lo da posição sentada, mas Arlene o observava atentamente. Após algumas xícaras de chá calmante, Cuddy parecia bem, porém não seria sensato ficarem até o enterro. Cuddy se levantou e pediu a mãe para que não a acompanhasse, ela precisava se recompor e pensar com clareza. As portas laterais da igreja davam a um ambiente muito natural, grama, árvores, plantas e alguns banquinhos de madeira. Algumas pessoas estavam por lá, fugindo do ambiente pesado de dentro da igreja.

Cuddy desceu alguns degraus com cuidado e exalou uma respiração profunda algumas vezes. Não se sentia muito bem. Quando estava prestes a se sentar no banco uma tonteira a atingiu, fazendo com que soltasse um suspiro pesado e perdesse um pouco da audição e da visão. Ela queria se mover para se sentar, mas acreditava que não conseguiria, mal percebeu quando se sentou, ouvia algumas palavras em voz distante, mas não conseguia entender ou absorver o rosto diante dela.

"Respire fundo." Ela conseguiu entender e com os olhos fechados o fez. Ela reconheceu a voz, mas manteve-se concentrada em se recuperar. "Está bem?" Ela assentiu abrindo os olhos.

"Obrigada." Sua voz não saiu mais do que um sussurro.

Ele pensou em se levantar e deixa-la ali sozinha, mas algo o prendeu. Ele observava a barriga enorme reprimindo a vontade de tocá-la. Ela percebeu e não resistiu ao impulso de tocar sua mão e trazê-la até sua barriga.

"Você parece ter engolido uma melancia." De repente ele parecia o mesmo de quando namoravam. "Você não parece com raiva." Ela sorriu sutilmente e foram surpreendidos por um chute.

"Acredite, estou furiosa." Cuddy estava surpresa pelos olhos arregalados dele, que, ainda mantinha a mão pressionada sob sua barriga. "Sinto muito, House."

Ele retirou a mão rapidamente e os olhos dele fugiram para longe, em um lapso de vulnerabilidade. Ela queria consolá-lo, mas a sensatez a manteve quieta. Ela queria sentir raiva, mas não conseguia. O silêncio predominava entre eles e ela queria falar tanto, gritar tanto, bater nele ao mesmo tempo em que desejava abraça-lo. Era simplesmente estranho o poder que esse homem tinha de causar uma série de sentimentos simultâneos dentro dela.

"Eu só queria saber se você gostaria de participar disso." As palavras saíram de forma fraca e ela se amaldiçoou por isso.

"Quer pensão?" Ela bufou irritada e ele suspirou expressando descontentamento. "Eu não sei."

Ela assentiu como se compreendesse.

Cuddy prendeu a respiração quando uma forte dor semelhante a dor de cólica atingiu a região do ventre, ela se reprimiu, mas não conseguiu esconder dos olhos atentos dele.

"Eu te odeio tanto nesse momento, House. Com todas as minhas forças."

Eles não sabiam exatamente como ela conseguiu se expressar, mas seus olhos pareciam duas brasas acesas. Ela se conteve, mas as lágrimas escorreram involuntariamente, misturadas a dor emocional e física. Ela sentiu algo escorrer entre as pernas e soube que esse era o momento.

O momento de muita coisa mudar.

x-x-x

Cuddy fazia graças para Sofia e a menina de apenas dois meses e meio a presenteava com sorrisos banguelos, fazendo com que seu coração saltasse a cada demonstração afetiva da filha. Ela não imaginou que seria assim, ela estava tão feliz! Não completamente realizada, mas sua filha tinha trazido mais sentido a sua vida. Ela tinha Rachel, que a cada dia crescia mais inteligente e cheia de virtudes e tinha um bebê que trouxe esperanças que ela havia perdido há muito tempo, além de um emprego promissor, sua mãe e alguns amigos. Mas algo faltava, ou melhor, alguém. Alguém que estava separado por muros psicológicos e por uma simples porta de madeira.