1ª Parte - Empacotando o passado
Seu escritório estava cheio de caixas de papelão. Umas vazias, outras já fechadas e etiquetadas, umas meio cheias, ou dependendo do ponto de vista, meio vazias...
Catherine, ainda inconformada, com a saída dele, estava ao seu lado, dando-lhe apoio e ajudando a empacotar aquelas coisas... repulsivas, em seu modo de ver,Se coubesse a ela decidir, jogaria a maior parte daquelas coisas, no lixo.
Grissom, ao contrário, pegava cada vidro, cada quadro, cada peça, com ternura. Toda sua vida estava lá; quase 30 anos de lembranças de casos, estavam lá... Viu um quadro de borboletas e lembrou de Sara. Sem dúvida a única coisa humana, boa e maravilhosa, que tivera ao longo da vida.
As lembranças todas eram coisas frias, mortas, com quem ele não podia conversar, tomar um chocolate quente no inverno e ocupar sua cama, nas inúmeras noites vazias.
Sara... Sentia sua falta, de muitas maneiras. Quando percebia uma indecisa borboleta, pousando numa flor; quando esticava o braço, no lado dela, na cama, e não encontrava ninguém; quando sentia falta de alguém com quem comentar, um programa de tv, uma ópera, um livro que lera... Até um silêncio a dois, tinha seus encantos.
E não podia, e nem devia esquecer da Sara-mulher, que o deixava louco, na cama; que tinha beijos incríveis, com gosto de morango e cujo corpo parece que nascera para se encaixar no seu.
Tinham falado para ele esquecê-la. Ora, ele nem podia, nem queria isso. Amor não se compra de baciada, na quitanda da esquina; ele nos escolhe e se torna nosso dono. Sentia que estava condenado a amar Sara Sidle, até o fim de sua existência.
Ele aceitava pagar com sofrimento, o pouco tempo de felicidade que tivera.
Não a vira mais desde aquela época terrível, que se seguiu ao funeral,, de Warrick; foi um tempo difícil, ela não deveria ter vindo, numa época tão conturbada! Nem ele ser tão imbecil, a ponto de pôr outra vez, o trabalho, na frente dela.
Trabalho no qual agora, ele se mostrava desatento, alheio, distraído; muito diferente do Grissom de um tempo atrás. Ele já estava um pouco assim. Piorou muito depois que Sara rompeu com ele, pela Internet. Ficou mais arredio do que nunca, e perdera totalmente a esperança de voltar a vê-la, outra vez.
Catherine que estava trabalhando em silêncio, até então, não se agüentava mais; não era afeita a longos silêncios, nem ficar horas remoendo um assunto. Era prática; preferia que ele tivesse uma atitude corporal, como berrar, xingar, chorar, quebrar alguma coisa, enfim; que aquele sofrimento cerebral, contido, mudo, silencioso, que a deixava sem saber o que fazer.
- Você tem certeza que é isso mesmo que quer?
Por um momento pensou que ele não tivesse ouvido. A resposta demorou a chegar.
- Tenho. Já conversamos sobre isto, Cath!
- Não conversamos, não! Eu perguntei, você desconversou e não respondeu.
- Bom, o quê você quer saber? – Perguntou entre impaciente e aborrecido.
- Quais seus planos? Para onde você vai? O que pretende fazer? Se aposentar? Tirar longas férias?
Ele suspirou (como fazia muito, atualmente), parou com um vidro nas mãos, e olhando sem ver (assim era que olhava para as pessoas, ultimamente), respondeu:
- Pretendo fazer uma longa viagem e depois estudar as várias propostas que recebi, me afundar numa cidadezinha pacata, que tenha uma universidade e lecionar entomologia, até morrer!
- Bem, parece um plano, pra mim! – Disse a loira, mais aliviada. – E para onde pretende viajar?
E novamente, aquele olhar perdido, que angustiava Catherine.
- Não sei, Cath!
- Grande! – Replicou ela, batendo os braços. – Você não sabe para onde vai. Sua saída originou-se de um impulso! Quem você é: um rebelde sem causa?
Ele respondeu no mesmo tom de voz. Átono e sem brilho. Era isso, que exasperava Catherine; se ao menos, ele demonstrasse irritação, raiva... Mas essa apatia, ela não tinha idéia de como lidar com isso!
- Planejei tudo, a minha vida inteira, e deu tudo errado! Quem sabe assim dê certo?
- Ora, Gil, isso é atacar o caos, com o caos!
- Que seja! Não sei mais o que fazer: estou sem respostas, Cath!
Catherine então, deu-lhe um forte abraço, emocionada e chorosa. Também não estava sendo nada fácil, para ela. Nem tinha começara a assimilar a morte de Warrick e agora, esse problema envolvendo Grissom e Sara. Ela também não tinha respostas.
Nick chegou um pouco depois. Apesar do sorriso, que trazia pendurado no rosto, dava claros sinais de exaustão. Há dias já, que vinha dobrando os turnos, aliás, todos os CSI's estavam fazendo isso.
Ao ver os dois abraçados, Nick teve receio de ter chegado num momento impróprio, de confidências. Quem sabe? O chefe era tão estranho, tão fechado... Só Cath e Brass, se aproximavam dele; os demais não ousavam.
Grissom se recompôs mais depressa e afastou Catherine, um palmo de si, e perguntou ao subordinado o que ele queria.
- Eu vim saber se vocês queriam uma mãozinha!
- Não, Nick, obrigado! Já estamos quase acabando, aqui.
- Ainda bem!Porque estou "pregado", Grissom! – E soltou um suspiro de alívio, bem audível.
Catherine que enxugava os olhos com as costas das mãos, começou a rir. Nick percebeu a bobagem que falou e tentou consertar:
- Quero dizer... Se você precisar... Humm... Estou à disposição...Hum... – Quanto mais falava mais embaraçado se sentia, e mais enrolado ficava.
- Está tudo certo, Nick, pode ir pra casa descansar! Você já fez muito, por hoje! - E, Grissom deu-lhe dois tapinhas nas costas.
Assim que ele saiu, Catherine perguntou a Grissom, se ele não ia lhe falar do telefonema que recebera. Grissom disse que ele mesmo iria.
- Você?
- Sim, por que o espanto? Até sexta, eu sou um CSI!
- Oh, eu sei!Não é esta a razão do meu espanto. Quando você dormiu pela última vez?
- Eu estou bem Cath! Você tem o número de Vartann? Telefone pra ele, diga para não mexer em nada, que eu já estou chegando – e saiu antes que Catherine pudesse falar alguma coisa.
Catherine ligou para o detetive:
- Vartann? É Catherine. NÃO MEXA EM NADA, que Grissom logo estará por aí. Ele vai tirar fotos. É, eu sei que o Nick tirou, mas ligaram do laboratório fotográfico e informaram que não podem fazer a revelação, pois entrou ar na câmera. Não sei como foi... Acontece!O que? Sim, presumi que a vítima não estaria mais aí. Não tem importância. Alguém representa aí, que eu verifico aqui – e saiu apressada, ao encontro do Dr Robbins.
