Romance é:

...não saber como tudo aconteceu.

Sinopse: Eles não sabem como aconteceu, ou se realmente aconteceu. Tudo o que sabem é que foi completamente irresistível…

"-Sasha! Princesa! Volta aqui!"

A menina ruiva riu mais e correu por entre as dezenas, se não centenas de pessoas que se amontoavam no local.

"-A mamã vai ficar chateada se continuares a correr para longe!"

A menina parou no mesmo instante e agarrou-se às pernas da ruiva mais velha.

"-Não não!"

"-Só se prometeres não voltar a correr para longe. Está aqui muita gente, podes perder-te."
"-Tá bem." – Anuiu meio triste, adorava correr no meio de toda aquelas pessoas que diziam coisas estranhas – "'Bamos' subir?"

Olhou para a longa fila que se formava para comprar os bilhetes, e depois para o ar expectante da menina.

"-Vamos demorar muito tempo na fila." – Disse pegando-a ao colo.

"-'Bamos' subir?" – Perguntou de novo com um sorriso grande na face.

"-Vamos então."

A fila era enorme, a espera ainda maior, mas valeu a pena ao ver o sorriso da menina ao chegar ao topo da conhecida Torre Eiffel.

"-Quero 'ber'! Quero 'ber'!" – Gritou irrequieta.

Agarrou na menina ao colo para que ela pudesse ver a bonita vista lá em baixo.

"-Casas pequeninas!" – Gritou – "E carrinhos!"

"-Estamos muito alto Sasha! Gostas?"

"-Sim! 'Bamos' outro lado!" – E saltou do colo da ruiva mais velha correndo para longe.

"-Sasha! Sasha volta aqui!" – Gritou vendo a menina desaparecer por entre os turistas.

Ainda sem avistar a pequena ouviu um choro de criança.

"-Sasha onde estás?!" – Gritou aflita, sabia que o choro era o dela – "Sasha!"

E foi quando a viu, sentada no chão, lavada em lágrimas. Correu até ela e pegou-a no colo.

"-O que foi princesa?"

"-Eu... e... cai... chão... doí-doí... perna..."

"-Já passou meu amor..."

Só então reparou no homem parado a seu lado, aparentemente perplexo.

"-Foi ele!" – Gritou a menina por entre soluços apontando para o homem.

Ela encarou o homem, que mantinha o mesmo ar espantado, e depois para a menina nos seus braços.

"-Meu amor, o que aconteceu?"

"-Ele 'im-purou-me'." – Disse com dificuldade.

"-O que ela diz é absolutamente falso. Eu não a empurrei, eu nem se quer a vi." – Disse finalmente.

"-Ela é uma criança! Peça-lhe desculpa."

"-Não esta à espera que eu peça desculpa a uma miúda de 3 anos, pois não?"

"-'Quato'!" – Disse a menina erguendo quatro dedos em frente do homem.

"-Que seja" – Disse irritado desviando o olhar da pequena.

"-Vai pedir-lhe desculpa, ou não? Ou é assim tão arrogante que não pode pedir desculpa a uma menina de quatro anos que acabou de derrubar."

"-Eu não sou arrogante." – Disse irritado – "E tanto não sou que peço desculpa. Satisfeita?"

"-Bastante. Vamos embora Sasha?" – A menina assentiu e a ruiva colocou-a no chão.

"-E eu é que sou arrogante?" – Ouviu perguntar enquanto se afastava – "Hei! Estou a falar consigo!"

"-O que foi agora?" – Perguntou irritada.

Não gostara do ar daquele homem, muito menos da forma arrogante e superior com que ele olhava para ela.

"-Acho que começamos mal…"

"-Você atropelou-a!" – Disse irritada apontando para Sasha.

"-E eu já pedi desculpa."

"-E o que quer que eu faça? Que o agradeça eternamente por ter cumprido o seu dever, ainda por cima contrariado?!?"

Ele pareceu controlar qualquer coisa, uma frase menos própria talvez, e suspirou.

"-Vamos começar tudo do princípio?" – Perguntou de forma mais simpática, esticando a mão na direcção dela.

Ela duvidou. Não custava ser simpática, principalmente quando o homem também o estava a ser, mas havia algo que não estava certo com ele. E ela esticou a mão para apertar, a dele como forma de cordialidade. Mas isso nunca chegou a acontecer.

Aconteceu rápido, tão rápido que o seu cérebro não acompanhou e ela não entendeu o que se passou. A face do homem contorceu-se numa expressão estranha e a mão dele afastou-se da dela enquanto ouvia uma exclamação qualquer numa língua diferente.

"-Como disse?" – Perguntou espantada, sem entender o que se passara.

Não fazia a mínima ideia do que ele tinha dito, mas parecia um palavrão.

"-Controle essa miúda!" – Bradou afastando-se dela.

Sentiu a pequena Sasha a agarrar-se às suas pernas rindo de forma marota.

"-Sasha!" – Repreendeu.

A menina parou de rir e soltou as pernas da ruiva mais velha.

"-'Xe-culpa'."

Ela pegou a mão da menina e olhou o homem à sua frente.

"-Eu peço desculpa. Ela é uma criança, ainda não tem plena consciência daquilo que faz."

"-Ela saltou em cima do meu pé. Ela arruinou o meu par de sapatos mais caro. Armani! Comprados esta manhã!"

Ela revirou os olhos para conter a vontade de gritar: "fútil!"

"-Está tudo bem?"

"-Não! Não está tudo bem!" – Gritou exaltado –"Quer dizer…Esqueça, ok? Vamos esquecer que a fedelha irritante…" – ela fez uma cara estranha mas o homem não parou de falar – "…não arruinou os meus sapatos caros. Vamos beber um chocolate quente. Eu ofereço" – Completou perante o ar pouco convencido da ruiva.

"-'Xim! Xim! Xim'!" – Gritou a menina pulando de um lado para o outro.

"-Não Sasha. Sabes bem que temos de voltar para o hotel, o teu pai está à espera."

"-Mas…mas…"

"-Sem mas." – Disse fazendo a menina baixar os olhos tristemente.

"-É apenas um chocolate quente. Além do mais não é todos os dias que encontre alguém com quem possa conversar na minha língua."

Ela ponderou. Sasha ficaria triste se não aceitasse, e ela própria concordava com o que ele acabara de dizer – num país estranho qualquer pessoa que fale a nossa língua é boa para conversar.

"-10 Minutos então."

"-Óptimo. 10 Minutos para conversar parece-me bem."

E ela pela primeira vez sorriu, talvez aquele homem não fosse tão mau assim.

Entraram na zona de restauração da Torre Eiffel, lá o ar estava bem mais quente e a ruiva pode afrouxar o cachecol colado ao seu pescoço.

"-Procurem uma mesa, eu vou buscar os chocolates quentes."

"-Sasha." – Chamou assim que se sentaram numa mesa.

"-'Xim'…"

"-Promete que te vais portar bem, e que vais ser simpática para o senhor."

"-O 'xenhor' é o teu amigo?"

Como é que ela iria explicar a uma criança de quatro anos que estava sentada, prestes a iniciar uma conversa com um homem que não conhecia de lado nenhum?

"-Não é bem isso princesa…. São coisas de crescidos."

"-Também 'podo' ser 'quexida'?"

"-Um dia desses vais ser."

"-Amanhã?" – Perguntou inocente fazendo a ruiva mais velha rir.

"-Não… daqui a alguns dias, muitos dias, mas não te preocupes, quando fores crescida vais saber. Vais receber uma carta de Hogwarts."

"-Falaste em Hogwarts?" – Perguntou ele pousando os chocolates quentes na mesa.

"-Hum… sim…. Um antigo castelo abandonado…"

"-Não é abandonado." – Respondeu ele naturalmente.

"-Não?" – Não podia ser, coincidência a mais. Ela não só encontrava alguém que falasse a mesma língua que ela como ainda encontrava uma pessoa com magia –"Quero dizer… conheces Hogwarts?"

Ele ergueu a sobrancelha, duma forma que lhe pareceu um tanto familiar – mas também já todas as coisas lhe pareciam familiares, de tantas saudades que tinha de casa, dos amigos, do seu pequeno mundo – e antes que ela pudesse relacionar aquela expressão com algum nome conhecido a menina ruiva começou a falar.

"-Hogwarts é 'pa' onde vão os meninos 'gandes'. Onde 'apendem-se' magias!" – Explicou ao homem, causando uma reacção estranha na ruiva mais velha. Ela olhou expectante para o homem e depois falou apressadamente.

"-A Sasha tem uma imaginação muito fértil e…"

"-Isto não é imaginação dela, e parece que ambos sabemos." – Cortou ele – "Parece que não é só a língua que temos em comum."

"-'Bamos' ter com o papá?" – Perguntou afastando a sua atenção do homem à sua frente.

"-Vamos sim princesa. Combinámos com ele às 11:00 e são…" – olhou rapidamente para o relógio de pulso – "… 11:45." – Concluiu – "…por isso ainda tens muito tempo para…" – Olhou o relógio outra vez, mais como reflexo do que outra coisa – "Oh! Eu preciso de ir! Tenho pessoas à minha espera e…"

"-Mas nem tivemos tempo de conversar."

"-Eu preciso de ir. Preciso mesmo." – Disse conforme desviava o olhar do dele –"Vamos princesa. O papá está à espera."

Levantou-se da mesa, pegou a menina pela mão e preparou-se para sair da zona coberta.

"-Espera." – Disse ele – "Desço com vocês."

A ruiva nada disse. Deixou que ele lhe abrisse a pesada porta de vidro e saiu para o exterior misturando-se com as dezenas de turistas na zona.

"-O elevador!" – Disse alto puxando a menina pela mão. Se perdessem aquele teriam de esperar 15 minutos pelo próximo.

Foram os últimos a entrar no elevador, que logo começou a andar.

"-'Bamos' ver o papá?"

"-Sim Sasha."

"-'Agoda'?"

"-Sim agora."

"-E o 'xenhor' também 'vamos' ver o papá?"

"-Não o senhor não vai ver o papá connosco."

"-'Pu-quê'?"

"-Porque o Senhor tem coisas a fazer. Chegámos!" – Disse quando o elevador parou – "Vamos ter de correr um bocadinho, ok princesa?"

"-'Xim'!"

"-Obrigada pelo chocolate quente." – Agradeceu antes de lhe voltar as costas.

"-Só uma coisa!" – Disse alto quando ela se afastou – "Gryffindor ou Slytherin?"

"-Gryffindor!" – Gritou de longe, retomando o passo apressado de antes.

"-Slytherin." – Sussurrou olhando em volta. Nunca a Torre Eiffel parecera tão diferente.

- - -

"-Papá!" – A voz alegre da menina ecoou pelo Hall do luxuoso Hotel e ela correu até ao homem e saltou-lhe para os braços, abraçando-o pelo pescoço.

"-Olá princesa! Por onde andaram?" – Perguntou desviando o olhar para a ruiva mais velha "-Atrasada Ginevra? Nem parece teu."

"-Eu sei…Perdi a noção do tempo." – Disse beijando a face do homem.

"-Com algo de interessante?"

"-A tia Gin e eu 'vamos' à 'gande' Torre e depois um 'xenhor' 'im-purou-me' e depois a tia Gin ralhou com o 'xenhor' e depois 'vamos' beber chocolate quente e depois 'vamos' ter contigo." – Respondeu a menina fazendo o pai rir.

"-Um 'xenhor' Ginevra?" – Perguntou com um sorriso maroto.

"-Um homem qualquer, que sem querer deitou a Sasha ao chão e como compensação ofereceu-nos um chocolate quente."

"-E desde quando é que dás confianças a 'um homem qualquer'?"

"-Tantas perguntas Ron! Aceitei porque não sou mal-educada e pronto."

"-Sei…"

"-Vamos almoçar?" – Perguntou desviando o assunto – "Onde está a Mione afinal?"

"-Na terceira convenção do dia. Não sei como é que ela aguenta tanta palestra."

"-É o que ela gosta. Nunca vai deixar de lutar pelas causas perdidas no mundo mágico, como os direitos dos elfos domésticos ou a protecção dos hipogrifos."

"-É por ela ser tão estranha que eu gosto tanto dela." – Comentou casualmente olhando para a filha em seguida "-Vamos almoçar?"

- - -

Não sabia o que mais gostava na cidade de Paris, se das vistas, do movimento das ruas ou das luzes brilhantes durante a noite. Certamente que não era das pessoas, com as quais evitava contactar – contacto humano era coisa que não lhe fazia falta. E era exactamente por não gostar de pessoas que nunca tinha tido vontade de possuir um andar num maravilhoso edifício antigo com vista para o Sena ou para Torre Eiffel. Assim sendo a sua 'casa', durante aquele ano, fora uma das mais caras suites do De Vendôme.

A sua rotina, como a de qualquer outro homem de negócios, reduzia-se a reuniões e refeições – e se a sorte estivesse do seu lado – a algumas horas de descanso.

Era o caso. Depois de ter dormido umas três horas sem interrupções decidira passear um pouco pela cidade, ver as vistas, evitar as pessoas. A Torre Eiffel não era um bom exemplo de local para evitar pessoas, estando constantemente cheia de turistas, mas tinha curiosidade de descobrir o que viam as pessoas naquele monte de aço.

E agora, parado no meio da multidão, vendo a mulher ruiva desaparecer ao longe, percebia o que viam na Torre Eiffel.Nunca antes lhe tinha acontecido algo assim, uma situação tão fora do seu controlo que até tinha medo de pensar nela. Desde quando dava atenção a crianças choronas? Era fácil a resposta, e qualquer pessoa que o conhecesse saberia responder correctamente – Nunca!

Agora que a sua 'aventura' acabara tinha de voltar ao Hotel e trabalhar. O problema é que ele nem desconfiava do que lhe estava reservado.

- - -

"-O que vais fazer esta noite Ginny?"

"-Ficar no hotel, ler um livro, qualquer coisa assim. Mas porquê Mione? Vocês querem sair? Porque se quiserem eu posso tomar conta da Sasha."

"-Não, pelo contrário. Eu tenho uns convites para um baile de máscaras esta noite, mas tanto eu como o Ron queremos estar um pouco mais com a Sasha, aproveitar o tempo juntos. Então eu pensei que tu podias aproveitar os convites, sair e divertires-te."

"-Um baile de máscaras Hermione? Eu não sei…"

"-Vá lá Ginny, vai ser divertido. E além do mais o tema é incomum. Figuras mitológicas para não levantar as suspeitas dos muggles. E não tens de te preocupar, porque o baile vai ser no salão de festas do hotel."

"-Eu nem se quer tenho nenhuma fantasia ou sequer conheço figuras mitológicas."

"-Não te preocupes. Esta tarde vamos à procura de uma loja de fantasias e eu ajudo-te com a figura mitológica que hás-de escolher. Até já tenho uma ideia em mente."

"-Eu acho que isto não vai correr lá muito bem…"

"-Deixa de ser pessimista maninha." – Disse Ron enquanto tentava fazer com que a filha não se cobrisse de gelado de morango – "Vê se te divertes, estás a precisar."

"-Bem… Vou tentar."

- - -

"-Oh não Hermione, nem pensar!"

"-Qual é o mal Ginny? É só um vestido"

"-Um vestido muito revelador."

"-Nem por isso. E além do mais fica-te esplendorosamente bem. Eu sabia que ias dar uma óptima Afrodite, ainda para mais com os teus cabelos ruivos. É perfeito."

"-Os meus seios vão saltar para fora do vestido a qualquer momento Hermione. Eu não posso usar isto."

"-Não sejas tontinha. Tens um corpo perfeito e o vestido não poderia ficar-te melhor. Agora só nos faltam alguns adereços e ficas pronta. Precisamos de algumas flores pequeninas para pores no cabelo, uma gargantilha bonita e uma bracelete para colocar a meio do braço. Vais ficar linda."

"-Só espero não sair de dentro do vestido no meio da festa."

"-Só vais sair dentro dele se algum homem simpático te ajudar."

"-Não tem piada."

"-Claro que tem… mas tu estás muito irritada dentro desse vestido para o admitir. Agora vamos, ainda temos compras a fazer."

"-Ok, ok. Vou só trocar o vestido pela minha roupa decente."

Vinte minutos depois, devidamente vestida e com todos os adereços que Hermione supunha que ela iria precisar, saíram da loja.

"-O que foi?" – Perguntou vendo a cunhada meio distraída.

"-Nada Mione. Pensava ter visto alguém que conhecia."

"-Aqui?"

"-Pois… foi só impressão."

"-Vamos aos gelados então? Tal como costumávamos fazer quando íamos à Diagon-Al para comprar os materiais?"

"-O problema vai ser encontrar gelados como o do Sr. Florean Fortescue."

"-Até eu tenho de admitir, não há gelados como os dele. Daqueles que podes andar com ele na mão durante uma hora e não se derrete, a Sasha adora-os."

"-Nessa ela sai ao pai. O Ron era capaz de ficar um dia inteiro sentado na esplanada que não pararia de comer gelados. A mãe tinha de o arrastar para longe de lá sempre que íamos à Diagon-Al."

"-Ele ainda faria isso… se eu deixasse."

"-Sabes, nunca pensei que o Ron pudesse ou sequer quisesse ser pai." – Comentou enquanto se sentavam numa bela esplanada bem perto do Museu do Louvre.

"-Eu também achava isso, e nos primeiros tempos ele até foi um pai bem desajeitado. Mas agora não é capaz de estar muito tempo longe da filha."

"-Nem de ti…"

"-É o que parece. Mas e a menina Ginny, o que é feito dos seus namorados?"

"-Depois daquela história com o Harry as coisas não têm corrido lá muito bem."

"-Sabes, devias ultrapassar isso. A Dona Molly quer mais netos na família."

"-Não é tão fácil assim. Ele trocou-me, de um dia para o outro, por uma mulher qualquer que nem ele conhecia só para depois ela o abandonar a ele. Enfim… nunca mais senti nada forte por outro homem, a não ser…"

"-A não ser?" – O empregado chegou com a lista de gelados e elas não demoraram muito a escolhê-los.

"-Bem… foi uma coisa estranha…" – Respondeu assim que o empregado se afastou – "Hoje, na Torre Eiffel, houve um homem que derrubou a Sasha sem querer. Ele foi mal-educado no princípio mas depois foi cordial e até nos ofereceu um chocolate quente. A Sasha não gostou lá muito dele, mas agora que penso nisso eu senti uma atracção, algo que não sei explicar."

"-Céus! É preciso ter azar. O primeiro homem por quem sentes uma atracção depois do que aconteceu é um francês que nunca mais vais ver."

"-Mas sabes o que é mais engraçado? É que ele não só não é francês como também andou em Hogwarts."

"-Sério? Como soubestes disso?"

"-Enquanto ele ia buscar o chocolate quente eu fiquei a falar com a Sasha e acabei por mencionar Hogwarts no momento em que ele voltou." – Respondeu enquanto brincava com a colher do gelado – "Eu disse que era um castelo abandonado – tal como os muggles o vêem – mas ele disse algo como ' afinal não é só a língua que temos em comum'. Estranho, não?"

"-Talvez se encontrem de novo, daqui a alguns anos. Ou talvez já se conheçam e não se lembrem um do outro."

"-Vai por mim Mione, se eu conhecesse alguém como ele eu lembrar-me-ia, de certeza."

"-Sabes, as pessoas mudam. Se calhar era um aluno mais velho, mais novo ou de outra casa. Com tantos alunos em Hogwarts não te poderias lembrar de todos."

"-Tens razão, mas como provavelmente nunca mais o vou ver, não importa. Deve ser casado e ter uma dúzia de filhos ou algo do género. Porque toda a gente tem defeitos e ele parecia muito perfeito, deve ter um segredo obscuro ou assim." – Disse fazendo a amiga rir, tanto que as duas caíram no riso esquecendo o gelado durante uns minutos.

"-Ou talvez seja impotente, ou viva com os pais, ou seja gay!" – Completou fazendo a ruiva rir ainda mais que antes.

"-Vamos parar com isto. Ele já deve ter as orelhas a ferver."

"-Como é que ele se chama?"

"-Não sei…Não sei nada sobre ele a não ser que frequentou Hogwarts. Mas é melhor assim, não vale a pena ficar encantada por um homem que nunca mais vou ver na vida, não é?"

- - -

"-Que tal estou?" – Perguntou dando uma volta sobre si mesma.

"-Estás linda."
"-Ginny, não achas que esse vestido é um bocado reduzido."

"-Não sejas chato Ron, a tua irmã não tem 16 anos!"

"-Sim, mas não deixa de ser minha irmã!"

"-Enquanto o casalinho discute eu vou andando, tenho uma festa à minha espera."

"-Ficaste muito animada com a festa de um momento para o outro, o que aconteceu?"

"-Não sei… mas acho que tem alguma coisa a ver com a garrafa de Fire Whiskey que estava no meu quarto." – Respondeu rindo – "Não esperem por mim amanhã se eu não aparecer."

"-Hermione…" – Disse assim que a irmã saiu do quarto – "…o que é que tu fizeste com ela?"

"-Vamos esperar que ela não beba muito champanhe lá em baixo. A Ginny nunca foi boa com a bebida."

- - -

Ridículo. Era exactamente assim que se sentia, ridículo.

Quando recebera o convite para o baile de máscaras duvidara seriamente da saúde mental de Jethro Knoxville o dono da multinacional com a qual estava em negociações. Mas as suas dúvidas deixaram de o ser quando descobriu que as figures mitológicas masculinas só usavam saias – ou pelo menos as que ele conhecia. E isso parecia ser um impasse porque um Malfoy não usava saias. Excepto talvez aquele antepassado escocês, Wallace McCulloch Malfoy de sanidade mental tão duvidosa como a do dono da multinacional.

Mas não Draco Malfoy, um Malfoy muito orgulhoso da sua masculinidade. E depois de muito ponderar entre os dois lados da questão – a sua masculinidade ou um negócio multimilionário – ele decidira que tinha chegado a altura de fazer um pequeno sacrifício pela empresa Malfoy. E esta era a história de como Draco Malfoy acabara dentro de um fato estranho composto por duas partes – uma das quais uma saia – escolhido pela sua assistente.

"Ao menos não vou ser o único de saia."

E tinha razão. Figuras mitológicas tinha sido um mau tema e todos os homens presentes concordavam com isso. Então o seu plano era simples, cumprimentar o anfitrião da festa, ficar dez minutos, subir para o seu quarto de hotel e despir aquela fantasia horrível.

Porém o seu plano ia ser deitado por terra, ele é que ainda não sabia.

- - -

Ela não sabia se era efeito do Fire Whiskey ou se era da própria situação, mas a realidade é que ela tinha uma imensa vontade de rir. Era da sua imaginação ou todos os homens naquele salão estavam de saia? Céus! Era muito engraçado mesmo!

"-Champanhe?" – Perguntou-lhe um homem, obviamente convidado da festa, que carregava duas taças de liquido borbulhante.

Ela esforçou-se, esforçou-se imenso, mas não foi capaz. Desatou a rir.

"-Desculpe-me, a sério. Eu não sei o que me deu para rir daquela maneira." – Disse ainda a segurar o riso.

Viu o homem a afastar-se, irritado, e sorriu, a roupa dele era ridícula de mais. E foi então que o viu. Ela conhecia aquela cara, e devido aquela festa de máscaras conhecia também o corpo. E que corpo!

Caminhou sensualmente, as coxas a balançarem e o cabelo a esvoaçar levemente enquanto andava na direcção dele – o que se revelou mais difícil do que supôs.

"-Parece que nos encontrámos de novo…" – Disse numa voz calma, baixa, apelando para a sensualidade – embora ela achasse não ter o mínimo jeito para aquilo.

Ele voltou-se, devagar, e ela sorriu. Embora ele estivesse com o mesmo tipo de saia que alguns homens que ocupavam o salão, não parecia engraçado, ele parecia estranhamente mais atraente ainda, como se aquelas roupas incomuns o deixassem ainda mais másculo.

"-E ainda bem." – Concluiu apanhando a mão dela e beijando-a suavemente.

Ele não demonstrou, porque simplesmente não gostava de se expor aos outros, mas aquela ruiva acabara de provocar em si uma reacção inexplicavelmente boa. Lembrava-se perfeitamente de como a achara bela aquela manhã, mas o que tinha diante dos seus olhos naquele momento não era só beleza, era também sensualidade e uma presença inacreditável. E então soube que a queria para si. Por uns minutos, umas horas, o que fosse, queria conquistá-la, como se conquista um titulo de melhor jogador de Quidditch ou melhor empresário do ano. Queria-a!

"-E será que agora eu posso saber o teu nome?"

"-Só depois da primeira dança." – Respondeu puxando-o pela mão.

Talvez Hermione tivesse razão, aquela seria uma noite divertida.

Ela colou o corpo ao dele, sentindo a sua pele a aquecer. "Deve ser o álcool", pensou ao sentir o seu corpo a reagir à proximidade do dele. Passou as mãos em torno do pescoço dele, tocando suavemente o seu cabelo e ele respondeu descendo as mãos até às ancas dela. E aquilo tornou-se mais que uma dança, era a expressão de uma outra coisa, de outro desejo talvez. Os corpos não se separavam e quaisquer que fossem os movimentos que fizessem os narizes quase se tocavam e os olhos nunca se desviavam. E o primeiro beijo aconteceu sem que se dessem conta, como se fizesse parte da série de passos ousados daquela dança quente e sensual. E depois o segundo e o terceiro, uma série de beijos profundos e cheios de desejo seguidos de toques ousados mas quase imperceptíveis.

Ela tremeu involuntariamente ao sentir os beijos dele no seu pescoço. Céus! Desde quando não sentia uma sensação daquelas? Muito provavelmente desde que Harry tinha ido embora. E naquele momento ela quis deixar-se levar, deixar-se conquistar por um estranho e fazer uma loucura qualquer.

"-És casado?" – Sussurrou ao ouvido dele. Não conseguia parar de pensar nas especulações que ela e Hermione tinham feito sobre ele. Mas era difícil não duvidar de uma coisa que parecia tão boa, boa de mais para ser real.

E ele riu no seu ouvido, um riso curto mas divertido.

"-Nunca. E tu?" – Perguntou de volta.

"-Nem pensar." – Respondeu fazendo-o sorrir.

Não queria saber mais nada, nem os seus defeitos, o que fazia, o que gostava, o que desejava. Talvez ele fosse uma pessoa horrível, com um passado deplorável, ou talvez fosse a melhor pessoa do mundo, com todas as qualidades que alguém poderia invejar, mas isso não importava. Só queria poder divertir-se durante aquela noite sem correr o risco de ficar desiludida.

Desiludida não ficou, nem quando a dança acabou, nem quando ele a puxou para a varanda do grande salão. Dali não se via muito, porque a noite escura escondia a praça que dera nome ao hotel, mas o ar era bem mais fresco e agradável.

"-Gostas de Paris?" – Perguntou de repente, quebrando o silêncio da noite.

"-Há cidades melhores, mas é aqui que tenho parte importante do meu negócio. E tu, o que te traz por cá?"

"-Curiosidade, sempre quis saber como é estar noutro país, ver todos os dias coisas novas. É uma boa sensação… pudemos fazer tudo o que quisermos, comportarmo-nos de forma que nunca imaginaríamos, só porque ninguém nos conhece."

E ele assentiu, era assim que se sentia, mais livre, menos comprometido com a sua vida. Se assim não fosse ele nunca teria ido até à Torre Eiffel, muito menos derrubado aquela garota e nunca a teria conhecido.

"-Vamos para dentro?" – Perguntou estendendo-lhe a mão. Ela riu e deixou-se levar por ele.

Nunca as coisas tinham sido tão fáceis com ninguém, tão livres e descomprometidas – tão simples. E era por isso que ela se deixava levar, para continuar a sentir aquele sentimento de satisfação e felicidade, como se o futuro pudesse esperar mais um pouco e tudo o que importasse fosse o presente.

Um tropeção dela – uma mistura inconveniente de álcool e distracção – fez com que o loiro parasse e a olhasse.

"-Alguém bebeu champanhe a mais." – Sugeriu.

"-Isso e as sandálias que me estão a matar, não aguento mais de dores nos pés."

Ele riu – o mesmo riso curto e divertido – e baixou-se em frente dela.

"-Ninguém vai reparar." – Disse baixo, a sua voz sendo abafada pela música no salão.

Desatou os atilhos compridos que serpenteavam pelas pernas dela e descalçou-lhe as sandálias.

"-Melhor?" – Perguntou dando-lhe as sandálias para a mão.

"-Muito melhor. Obrigada. Tinha vontade e fazer isto desde que aqui cheguei."

Porque é que era tão fácil falar com ele, ser natural ao lado dele? Melhor, porque é que ela não o conhecera antes, no tempo de Hogwarts ou talvez um pouco depois? Se o tivesse conhecido por essa altura certamente que não teria de passar pela má experiência de ser trocada por outra mulher – ou talvez tivesse. De qualquer modo a adivinhação nunca tinha sido o seu ponto forte.

"-Vamos fazer um jogo?" – Perguntou de repente, no mesmo tom que usara na varanda.

Era sempre assim, um pouco mais de álcool e lá estava Ginevra Weasley pronta a dizer disparates e a fazer asneiras.

"-Um jogo? Não querendo ser muito óbvio, mas tu mal te manténs em pé… tens sorte de conseguir encontrar o caminho para o teu quarto, quanto mais fazer um jogo."

"-Eu pergunto-te algo, e depois tu perguntas-me algo, mas nada de pessoal? Pode ser?" – Perguntou apoiando-se no braço dele.

E por falar em disparates, aquele tinha sido um dos maiores de sempre. Mas ele pareceu nem reparar, pegou-a pelo braço e começou a caminhar.

"-Onde é que vamos?" – Perguntou olhando em volta.

"-Arranjar um sitio para dormires. É a minha vez de perguntar. Qual é o número do teu quarto?"

"-Hei! Nada de pessoal, lembras-te?"
"-E onde te vou deixar? Não estás em muito bom estado, e ficar no baile está fora de questão."

"-Mas eu não tenho sono. Onde é que vamos?" – perguntou ao entrar num dos elevadores do hotel – "Não gosto de elevadores, são pequenos demais." – Disse baixinho entrelaçando os seus dedos nos dele.

"-Não sabia que não gostavas de elevadores. Como é que entraste no da Torre Eiffel então?"
"-A Sasha queria mesmo subir."
"-Ela é tua filha?"
"-Oh! Não! Sobrinha… filha do meu irmão mais chato."
"-Boa descrição. Chegámos."

"-Onde?"

"-Já que não me dizes o número do teu quarto e eu não te posso deixar sozinha no baile com todos aqueles homens de saias, proponho que fiques na minha suite."

"-Eu devia voltar para o meu quarto."
"-Queres que eu te leve então?"

Ela murmurou qualquer coisa, uma desculpa ou uma razão para se ir embora, mas ele não a deixou ir, porque se o fizesse ela acabaria caída no chão, de tão tonta que estava.

"-Vamos lá, tu ficas na cama e eu arranjo-me na sala de estar."

"-Sala de estar?"

"-É uma grande suite."

Na realidade não era uma grande suite, era uma suite enorme. Tão grande e bem decorada que ela não sabia o que mais gostava ali, se a sala em tons cremes e dourados ou o quarto azul que se mostrava por detrás de uma porta de madeira clara.

"-Este é o quarto. Tens um banheiro ali…" – Disse apontando – "… e tens outro ao lado da sala. Pega qualquer coisa que queiras das gavetas ou do armário. Se te sentires mal ou precisares de alguma coisa vou estar na sala."

"-Já vais? Sem trocar de roupa?"

"-Ora aí está uma óptima ideia, trocar de roupa."

Já se tinha esquecido da roupa ridícula que vestia, e tudo por causa dela. Não se lembrava da última pessoa que o fizera baixar a guarda daquela maneira, muito menos da última mulher. E se o conhecessem bem saberiam que aquela era a primeira vez que uma mulher deslumbrante se encontrava no seu quarto, sem segundas intenções.

"-Ajudas-me?" – Perguntou voltando-se de costas para ele, mostrando os atilhos delicados que mantinham o vestido no lugar.

Não demorou muito para que ela sentisse as pontas dos dedos dele – inexplicavelmente frias – tocando levemente as suas costas. Arrepiou-se de imediato, não por ser uma má sensação, mas era estranha, pois conseguia sentir os dedos dele a mover-se bem perto da sua pele sem efectivamente os sentir.
Estava a fazer aquilo de novo, a pensar de mais nas sensações, o que era totalmente errado, pois as sensações são para serem sentidas, não reflectidas. E então deixou-se levar, relaxou respirando fundo e fechou os olhos permitindo-se sentir. Era tão bom, tão simples, tão surreal. Então os dedos dele tocaram-lhe realmente, pousados nos seus ombros, e a sua voz soou suave, sedutora, profunda bem perto do seu ouvido.

"-Feito."

Ela achava que estava arrepiada antes, mas nada se podia comparar àquilo, principalmente porque ele continuava a respirar bem perto do seu ouvido, não deixando aquele arrepio passar.

Os atilhos estavam soltos, bem soltos na realidade, e a única coisa que segurava o vestido era o delicado nó atrás do pescoço dela, só tinha de o desfazer.

Ouviu-a a murmurar algo, em forma de protesto, quando as suas mãos se afastaram da pele dela para desmanchar o nó do vestido.

Qualquer vergonha ou pudor que pudesse ter por estar assim, em trajes menores, em frente de um estranho estava a ser suprimida pelo Fire Whisky e como tal a única coisa que sentiu quando as mãos dele tocaram as suas coxas foi um calor intenso a espalhar-se por todo o corpo – nada de negações ou vontades de ir embora.

Nada daquilo era como nos filmes muggles, cheio de romance ou paixão, era apenas tensão sexual entre dois estranhos, toques sem cuidado, sem delicadeza e beijos brutos. Ela tremeu ao sentir os lábios dele no seu pescoço, beijando-a deixando uma trilha de marcas vermelhas até ao seu ombro.

O seu auto-controle nunca tinha sido lá muito bom naquelas situações e muito menos naquela, com aquela mulher não funcionavam as técnicas tradicionais de concentração como tentar nomear todos os capitães da equipa de Quidditch dos Slytherin ou enumerar as empresas com as quais tinha feito contractos milionários nos últimos anos. Então ali estava ele, completamente rendido aos encantos de uma estranha, beijando-a e acariciando-a sem sequer hesitar.

Afastou-se dele, e encarou-o.

"-Como é que isto se tira?" – Perguntou com um sorriso passando a mão no peito dele.

Ele não respondeu com palavras, apenas despiu aquela peça de roupa estranha atirando-a para trás de si.

O corpo dele era quente, muito mais do que poderia imaginar, especialmente naquele momento em que ele a prensava contra o colchão fofo. As peças de roupa que vestiam estavam agora no chão ou a pender da ponta da cama, transformando aquele quarto num cenário de desejo e ânsia.

"-Não pares…" – Pediu quando os lábios dele de afastaram por instantes da curvatura do seu pescoço.

Ele não parou, continuou a beijá-la, de uma forma lenta, torturante, descendo pelo corpo dela e parando bem perto do seu umbigo. Ele ficou praticamente parado, observando-a, respirando lentamente contra a pele dela. Era contraditório, porque a respiração dele causava-lhe muitas cócegas mas ao mesmo tempo o olhar que ele lhe lançava era uma das coisas mais sexy que alguma vez tinha visto. Estar perto dele era cada vez mais uma contradição, porque cada gesto dele tinha dois pólos praticamente opostos, os seus toques eram torturantes mas ao mesmo tempo excitantes, os beijos que lhe dava no pescoço eram delicados mas ao mesmo tempo quentes, escaldantes e o olhar dele… bem o olhar dele era tão difícil de descrever – se bem que ela nunca fora boa a descrever olhares – mas parecia algo desejoso mas ao mesmo tempo frio. Como é que isso era possível? Nem ela sabia explicar.

Puxou-o pelo pescoço e beijou-o com fervor, era assim que o queria, bem próximo do seu corpo.

Ele não controlou os seus desejos por muito mais tempo, não conseguia, não com ela a beijá-lo daquela forma. Uniu o seu corpo com o dela, desejoso de aumentar o prazer que sentia, desejoso da ouvir gemer. Por segundos esqueceu-se das necessidades dela e moveu-se rapidamente, para satisfazer as suas próprias. Foi quando sentiu as pernas dela a cruzarem em torno da sua cintura que abrandou o ritmo e se concentrou nela. Mas nem as estratégias de concentração mais rebuscadas o fizeram manter o ritmo lento por muito tempo, e não demorou muito para que sentisse o corpo dela a chegar ao orgasmo, tremendo violentamente debaixo do seu. Também o seu corpo foi percorrido por uma intensa onda de prazer, que não demorou mais do que meros segundos, seguidos de um total relaxar. A sua respiração acelerada e quente atingia a curva do pescoço dela fazendo-a tremer ocasionalmente.

Nunca lhe tinha acontecido algo assim, totalmente descontrolado, completamente prazeroso e completamente livre de remorsos. 'Que todos os bailes terminassem assim' – passou na sua mente, como um pensamento bem distante.

"-Será que ainda é cedo de mais para saber o teu nome?" – Perguntou lentamente deixando-se cair na cama fofa.

"-Ginny, Ginny Weasley." – Disse encostando-se ao peito dele.

Mesmo estando de olhos fechados e de costas coladas no peito dele ela pôde perceber a ironia na gargalhada dele. Devia ter tido alguma piada, mas ela não entendeu 'Culpa do Fire Whiskey', arriscou.

"-Prazer, o meu nome é Draco, Draco Malfoy." – Murmurou ao ouvido dela.

Oh sim! Agora ela entendia a piada.

- - -

O seu corpo estava dorido, a cabeça latejava mas ao contrário disso aquela manhã era igual a todas as outras, a cama fofinha do hotel, a corrente de ar a entrar pela janela aberta, o som da água a correr no chuveiro…

Som da água a correr no chuveiro? Isso não era – definitivamente – igual a todas as outras manhãs. Olhou em volta, as paredes azuis saltando-lhe imediatamente à vista. Via ainda o seu vestido no chão, perto das suas sandálias, e a porta do banheiro entreaberta. Não se demorou muito a ver o que se passava à sua volta, em vez disso levantou-se rápido, vestiu o vestido e pegou nas sandálias.

A última coisa que ouviu antes de fechar a porta da suite atrás de si foi a água do chuveiro a ser fechada.

- - -

"-Ron!" – Chamou forte, mas não o suficiente para que a porta fosse aberta. Mas não era de admirar, o que para ela parecia forte não passava na realidade de um sussurro dito com mais força – o Fire Whiskey não tinha sido uma boa opção.

Ouviu umas batidas do outro lado da porta, fraquinhas, como se alguém estivesse a tentar abrir a porta mas não soubesse como.

"-Sasha, princesa, chama o papá." – Um gritinho agudo e uns segundos depois ela via a porta à sua frente a abrir-se.

"-O que é que te aconteceu?"

"-Preciso da chave do meu quarto se faz favor, sem perguntas se puder ser."

"-Queres que eu te prepare uma poção? Eu e o Harry tivemos de preparar algumas depois de sairmos de Hogwarts…"

"-Não obrigada, não quero ficar a sangrar do nariz durante 3 horas… prefiro dormir num sítio bem escuro e silencioso."

"-Tens aqui a chave e por favor, troca-me esse vestido por alguma coisa mais decente."

Ela revirou os olhos e caminhou lentamente até ao seu quarto, do lado oposto do corredor. Uma vez lá dentro despiu o vestido e deixou-se cair na cama – iria dormir até bem tarde.

- - -

Não demorou muito para perceber que ainda se lembrava bastante bem das aulas de estudos Muggles e do ridículo clássico que a professora os obrigara a ler. 'Cisserella' ou algo assim era o nome da muggle patética que perdia o sapato na história. Só que a sua não perdera o sapato e sim a roupa interior.

Deixou-se ficar sentado na cama, parado, a olhar para algum ponto indefinido, até que o maldito telefone tocou – chamada de despertar. A partir desse momento não demorou muito para que ele saísse do quarto de hotel, completamente arranjado pronto para voltar à sua vida rotineira de homem de negócios.

- - -

Ela caminhou até à porta do quarto, um tanto desorientada e sonolenta.

"-Ginny, o que te aconteceu?"

"-Fala baixo Hermione." – Pediu franzindo os olhos com a claridade que vinha de fora do quarto.

"-O Ron disse que apareceste a meio da manhã e desde então que nunca mais te viu. Estás a sentir-te mal?"

"-Não devia ter bebido tanto…" – Comentou, deixando-se cair na cama, com as mãos na cabeça.

"-Mas fora isso está tudo bem, não está?"

"-Hum…hum…"

"-Isso quer dizer que te divertiste. O baile foi bom?" – Perguntou com um sorriso maroto.

"-Eu fui para a cama com o Malfoy."

"-Como?"

"-Eu até te contava os detalhes… se me lembrasse bem…"

"-Não é isso que eu quero saber! Como é que o Malfoy veio parar a Paris, a este hotel e, acima de tudo, ao baile?"

"-E eu lá sei! E o pior de tudo, ou o melhor já nem sei, é que foi ele que 'atropelou' a Sasha na Torre Eiffel. Sortuda eu, não?"

"-Eu não sei o que dizer…"

"-Não há nada para dizer, não é? Ao menos ele não é casado, gay e muito menos impotente."

"-Não há nada que eu possa fazer… não sei, para ajudar?"

"-Ajudar o quê Hermione? Eu fui inconsequente, dormi com um estranho que afinal não era tão estranho assim, ponto final acabou-se a história."

"-Queres descer connosco para jantar?" – Perguntou depois de alguns minutos de silêncio, mesmo sabendo que ela não iria aceitar.

"-Não, obrigada. Aproveitem o vosso tempo juntos. Qualquer coisa eu como no restaurante do hotel ou chamo o serviço de quartos."

"-Tens a certeza que ficas bem?"

"-Sim claro, divirtam-se."

A morena olhou uma última vez para a amiga antes de sair do quarto. Assim quer Hermione saiu Ginny enrolou-se nas cobertas e tapou a cabeça com o travesseiro – ali ela estava bem, no escuro e no silêncio.

- - -

"-Hermione, larga esse livro."

"-Só mais um pouco Ron."

"-A Sasha já está a dormir, e nós também já devíamos estar."

"-Mas este livro é muito interessante. Fala de uma maneira totalmente diferente de fazer feitiços, uma combinação de poesia com magia."

"-Sim, completamente interessante." – Disse ironicamente, puxando-a pela mão.

"-Ron! Deixa-me só experimentar um."

"-Isso não funciona Hermione, agora vem dormir."

"-Funciona sim, queres ver?"

"-Mostra lá então." – Disse incrédulo, apenas para que ela se apressasse.

"-Este parece-me bem. 'Para que o desejo possa encontrar e às dúvidas possa responder, uma nova verdade se vai mostrar, quando este feitiço eu acabar de dizer'.Pronto."

"-Não aconteceu nada Hermione, nem uma faísca e isso nem sequer rima como deve de ser. Agora vem."

"-Tens razão… não aconteceu nada, talvez não funcione mesmo."

"-Foi o que eu disse." – Concluiu com um sorriso satisfeito puxando-a mais para si – "Agora vamos aproveitar enquanto a Sasha dorme."

- - -

Acordou com o barulho das ondas, mas se bem se lembrava nunca tinha acordado com aquele som porque não havia mar em Paris. Rio sim, o Sena, mas não estava tão perto assim e nem tão agitado para produzir aquele som. Outra coisa estranha era a claridade, que mesmo com os olhos fechados percebia ser muita.

Abriu os olhos e sentou-se na cama rapidamente e concluiu que nada que pudesse ter pensado a prepararia para o choque que teve. Aquele não era definitivamente o seu quarto de hotel, aquilo parecia tudo menos um quarto de hotel. Era uma cabana! Ao seu lado direito tinha uma porta fechada, que supôs ser o banheiro e à sua frente havia algo, que não uma porta. Era mais uma espécie de cortina com contas de madeira e conchinhas brilhantes que separava o quarto do que parecia ser uma mistura entre a sala e a cozinha.

Levantou-se da cama, e andou muito devagarinho até à cortina, sem saber o que ou quem esperar. 'Pelo menos ainda estou com a minha roupa', pensou, ao começar a sentir um enorme calor provocado pela sweater Weasley com que dormia.

Aquilo não era lá muito espaçoso, para dizer a verdade era até bem minúsculo, uma bancada, uns armários e uma mesa pequena constituíam a cozinha e na parede contrária do cómodo dois cadeirões pequenos e uma estante de livros bem antigos.

Estava preocupada, não sabia como ali tinha ido parar. Aquele era um lugar completamente estranho sem nada que ela reconhecesse. Como é que lá tinha ido parar – mesmo depois de inspeccionar a cabana – continuava um mistério.

Os seus pés enterraram-se na areia fina e branca assim que saiu da cabana. Estava muito sol, o calor sentia-se no ar e principalmente na areia. Olhou em volta, estranhando ainda mais a situação, como é que ela fora parar a um local assim, cheio de areia branca, palmeiras e um mar lindo, azul-turquesa, ao fundo?

Caminhou pela areia quente em direcção ao mar, tentando encontrar algo que lhe desse uma pista ou o engraçadinho que tinha feito aquilo. Para onde quer que olhasse, do seu lado esquerdo ou do lado direito, tudo não passava de um areal imenso e algumas palmeiras – nada de outras cabanas, outras pessoas ou o que quer que fosse. Foi então que notou algo na areia, bem perto da beira-mar, parecia uma pessoa!

Correu, o mais que pode para alcançar a pessoa deitada na areia, quando lá chegou desejou não ter saído da cabana. Pensou em aproximar-se mais, para ver se ele estava bem, mas pensando melhor não valia a pena. Foi quando tentava decidir se se aproximava para o acordar que ele próprio acordou ao sentir a água fria a tocar-lhe nos pés.

Ele sentou-se na areia, com um ar extremamente apavorado, olhando em todas as direcções e percebendo-a ali, parou de se mover.

"-Que horas são?" – Perguntou visivelmente alterado.

"-Nós estamos numa ilha deserta e tu perguntas que horas são?"

"-Ilha deserta?" – Perguntou olhando em volta.

E foi então que ele reagiu explosivamente.

"-O que raio estou aqui eu a fazer?! Como é que me trouxeste para aqui Weasley?!"

Ela ignorou-o e começou a caminhar de volta à cabana. A ideia de estar numa ilha completamente deserta parecia agora extremamente tentadora.

"-Hei! Eu estou a falar contigo!" – Disse puxando-a pelo braço.

Ela voltou-se lentamente e encarou-o com atenção. Ela queria estar completamente bêbada, para o poder beijar e culpar o Fire Whiskey.

"-Eu ouvi."

"-Então porque não respondeste?"

"-Achas mesmo que fui eu que te trouxe para aqui?" – Perguntou retoricamente entrando na cabana.

O espaço não era lá grande coisa mas ela acabou por perceber que a cama até era bastante confortável, principalmente com o livro interessante que tinha em mãos. Não sabia se tinha passado demasiado tempo a ler ou se o tempo naquela ilha estranha passava de forma diferente. Tudo o que sabia é que o sol estava a pôr-se lá fora e ela não o tinha visto desde que entrara.

De novo, a ideia de estar naquele lugar sozinha não lhe agradava. A cabana começava a ficar escura e lá fora não se via muito além das estrelas no céu e o luar reflectido no mar.

"-Draco?" – Perguntou, recebendo como resposta o rebentar das ondas.

Talvez ele tivesse conseguido arranjar uma maneira de sair daquele lugar. Não se preocupou muito, Hermione daria por falta dela, de certeza.

- - -

"-Já viste a Ginny hoje?"

"-Não, passei o dia fora do hotel com a Sasha. Achei estranho ela não ter vindo ao nosso quarto de manhã…"

"-Eu vou ter com ela."

"-Deixa Mione, provavelmente ela foi jantar fora com alguém. Alguém daquele baile…"

"-Duvido muito…" – Murmurou, mais para si do que para o ruivo.

- - -

Procurou, procurou e fartou-se de procurar. Nada, nem sinal da sua varinha. Não gostava do escuro, odiava o escuro e a única fonte de luz que conseguira era uma vela minúscula. Desistiu de procurar a varinha, provavelmente nem sequer estava ali, e caminhou até ao banheiro. Era pequeno, a combinar com o resto da cabana, e não tinha muito para além de uma box apertada – a peça mais visível naquela escuridão.

Enquanto procurava uma toalha esbarrou contra uma bancada, onde aproveitou para pousar a vela.

Com a toalha na mão, e guiada apenas pela luz fraquinha da vela, caminhou até ao box e deixou correr a água. Era quente, não muito, mas o suficiente para que ela relaxasse. Por momentos esqueceu que estava naquele lugar estranho, concentrando-se apenas na boa sensação que era a água quente e a espuma a escorrerem-lhe pelas costas.

Gritou alto, quebrando o silêncio, ao sentir algo estranho e frio a tocar-lhe as costas.

"-Hei, hei, para quê os gritos?"

Ela não o via lá muito bem, estava escuro e tinha a cara cheia de água, mas conseguia senti-lo bem perto.

"-O que é … o que estás aqui a fazer?" – Perguntou ainda com o coração acelerado de tamanho susto.

"-A apanhar banhos de sol. O que é que achas que eu estou a fazer?"

"-Mas eu estava aqui primeiro!"

"-E depois? Não vou correr o risco de ter de tomar banho com água gelada só porque a 'princesa' estava aqui primeiro."

Ela murmurou algo irritada e começou a tirar a espuma do corpo e dos cabelos.

"-Podes parar de te mexer? Não é como se estivéssemos numa banheira de uma suite presidencial."

Ele não respondeu, ou pelo menos não verbalmente, em vez disso sentiu-o aproximar-se, as mãos dele tocando-lhes na face levemente, primeiro no nariz depois nas bochechas e por fim nas laterais, encaixando perfeitamente. Arrepiou-se, a água deixara de correr quente, contrastando com a respiração dele bem perto da sua face. O beijo que trocaram em nada se parecia com um beijo, porque no escuro o melhor que conseguiram fazer foi chocar os narizes e beijar o canto da boca, um do outro. Ela riu, divertida, e passou as mãos atrás do pescoço dele tocando-lhe os cabelos, para ter a certeza que da próxima seria trocado um beijo a sério.

Não havia nada que pudesse culpar por aquele beijo além dela própria, nada de Fire Whiskey, nada de livre-trânsito de consciência, nada de nada. E para evitar mais uma das suas famosas crises de consciência e eterno arrependimento afastou-se dele com dificuldade.

"-Mas…" – Reclamou do afastamento dela.

Ela não respondeu, ainda com espuma no corpo e sem ver praticamente nada à sua frente, saiu do box. Demorou uns minutos para conseguir finalmente sair do banheiro, molhada e enrolada numa toalha fofa.

Agora, sentada na areia, com apenas uma toalha a cobrir-lhe o corpo não sabia qual arrependimento era maior, se o que achou que sentiria se ficasse ou o que efectivamente sentia por não ter ficado. Não valia a pena aquele sentimento irritante, muito menos quando estava presa num lugar com ele por tempo indefinido.

Era tempo de voltar para dentro, as suas pernas começavam a ficar dormentes de estar tanto tempo sentada na areia e os braços arrepiados da brisa gelada. Entrou devagar, talvez ele já estivesse a dormir e nem desse pela sua entrada.

"-Porquê fugir?" – Perguntou quando ela se sentou no cadeirão a sacudir os pés cheios de areia.

"-Para não me dar vontade de ser tua." – Respondeu sem pensar, arrependendo-se logo em seguida.

"-Essa foi original." – Concluiu sentando-se no cadeirão em frente do dela.

Instalou-se um silêncio profundo, os olhares desviados um do outro, focados num ponto distante, cruzando-se acidentalmente e afastando-se logo de seguida.

"-O que vais fazer assim que voltarmos?" – Agradecia pela pouca luz que havia, assim podia disfarçar melhor o facto de não conseguir parar de olhar para ele.

"-Quem disse que vamos voltar?" – Respondeu bruscamente. 'Não era necessário', pensou logo de seguida – "Vou viajar." – Respondeu num tom mais brando –"Era o que eu teria feito se não tivesse acordado aqui, teria viajado para New York."

"-Ah…"

"-E tu? Vais continuar em Paris?"

"-Não… Só quero voltar para casa, o quanto antes."

"-Tens a certeza? Paris é uma cidade fantástica."

"-Tenho a certeza, só quero voltar para casa." – Respondeu desviando o olhar do dele.

Mais silêncio e olhares incómodos, e bastou que passassem alguns minutos para ela ceder.

"-Eu… hum… acho melhor ir… vou para o… hum…quarto."

Ele assentiu vagamente, parecendo pouco interessado e ela caminhou até ao quarto sem mais demoras.

O sono não vinha, constatou depois de várias voltas na cama, de um lado para o outro. E se aquela cama confortável não a deixava dormir imaginava o estado em que ele estava naquele cadeirão. Podia tê-lo acordado, podia ter-lhe dito que a cama era extremamente fofa e que conseguiria adormecer num instante, mas ao vê-lo dormir, completamente torcido no cadeirão, não teve coragem de o fazer. Podia ter voltado para a cama, era um facto, mas já que não ia dormir mesmo ficou sentada no cadeirão, do outro lado da sala, apenas a observar.

Mas não demorou mais do que meros segundos para que o 'apenas observar' se transformasse numa vontade quase incontrolável de o tocar, nem que fosse para afastar a madeixa de cabelo que lhe caíra para a face durante o sono.
Caminhou lentamente, tendo o maior cuidado para não o acordar. No caminho tropeçou num objecto qualquer, fazendo um grande barulho. Ele movimentou-se no cadeirão fazendo-a estacar por uns instantes. Ajeitou a toalha em torno do corpo e deu dois passos na direcção dele.

A sua mão tremia, com medo que ele acordasse, mas a vontade que tinha de afastar aquela madeixa de cabelo era bem maior que o medo. Tocou-o levemente, tão levemente que a madeixa de cabelo permaneceu no mesmo local. O toque foi mais firme da segunda vez, firme o suficiente para que ele se virasse no cadeirão. Parou durante uns segundos, a mão suspensa tal como a respiração, tentando decidir – ir ou ficar? Não faria mal se lhe tocasse só mais uma vez, faria?

Teve a sua resposta quase de imediato, sentindo o seu pulso a ser agarrado por ele, antes mesmo de voltar a tocá-lo. Estremeceu e tentou afastar-se dele, mas tudo o que conseguiu foi sentir o aperto dele a aumentar.

"-Eu… hum…" – A voz saiu rouca, vacilante, na incerteza de saber o que dizer.

De todas as coisas que pensou que ele faria, de todas as frases rudes que ele podia ter dito, o que fez foi a última coisa que lhe passava pela cabeça – puxou-a contra o seu corpo fazendo-a sentar nas suas pernas.

O gesto fora brusco, tanto que por uma fracção de segundo ela retraiu-se, nada que o toque suave dele nas suas costas não resolvesse.

"-Com vontade de ser minha agora?" – Sussurrou ao ouvido dela.

Corou violentamente, sem saber muito bem a razão, se pelo tom profundo dele, se pela frase ou se pelo facto de estar apenas de toalha.

Quando os lábios dele tocaram os seus correspondeu com vontade. As sensações, as emoções multiplicavam-se e ela tentava ao máximo não pensar no que estava a acontecer. Não queria fugir, queria fazer durar o sentimento de plenitude que era estar com ele.

Não percebeu quando a mão dele deixou de agarrar o seu pulso, ou pelo menos não deu conta disso até sentir a toalha a escorregar pelo seu corpo.

Os beijos eram ardentes, as carícias ousadas, e as respirações ofegantes, tornando a ansiedade e a excitação crescentes.

"-Não pares." – Reclamou quando as mãos dele se afastaram do seu corpo.

"-Normalmente é preciso tirar a roupa nestas situações…" – Disse.

Ela não respondeu, inclinou-se mais para ele e beijou-o lentamente. Com dificuldade e alguma ajuda as calças dele acabaram no chão, em cima da toalha que antes cobria o corpo dela. Sentiu as mãos dele, quentes a subirem lentamente pelas suas coxas.

Suprimiu um grito de surpresa quando ele se levantou de repente, agarrando-a com força, e caminhou até ao pequeno quarto. Assim que ele a pousou no chão ela não hesitou, empurrou-o fazendo cair na cama. Os carinhos, as atenções tinham sido deixadas para outra vez. Desta vez eles tinham pressa.

Debruçou-se sobre ele, os joelhos apoiados na cama e as mãos apoiadas no peito dele. Ouviu a respiração dele a acelerar à medida que as suas mãos desciam até ao elástico dos boxers. Podia ter feito aquilo com delicadeza, com sensualidade, fazendo-o ansiar um pouco mais. Mas não! Fê-lo de maneira rápida, atirando os boxers para trás de si e engatinhando sobre o corpo dele logo em seguida.

Outro grito de surpresa foi suprimido quando ele a fez girar, invertendo as posições – por mais que gostasse do jeito dela de comandar não suportava ficar muito tempo fora de controle. Os beijos eram ardentes e os gestos rápidos, apressados. Os toques dele demoravam-se pouco no corpo dela, não queria perder tempo em carícias.

Cruzou as pernas em torno da cintura dele, facilitando a união dos dois corpos. Foi rápido, o momento, os movimentos, a tensão crescente, até culminar em dois ou três segundos de prazer puro. Depois sentiu o cansaço a tomar o lugar do prazer, a respiração desacelerar e o corpo a ficar menos tenso. Só queria sentir os beijos dele no seu pescoço, lentos, carinhosos. Aos poucos a sua respiração foi voltando ao normal, os beijos dele foram cessando e os seus olhos tornaram-se mais pesados.

Sentou-se de rompante na cama, o seu corpo gelado e o barulho das ondas como som de fundo. A seu lado Draco dormia impávido e sereno e nem se moveu quando ela se levantou da cama. Caminhou até à sala, devagar para não tropeçar em nada e apanhou a toalha caída no chão, com que enrolou o corpo.

Estava quente do lado de fora da cabana, apesar da aragem gelada que soprava de quando em quando. Deixou que os seus pés se enterrassem na areia à medida que caminhava até à beira mar – era uma boa sensação.

Os seus pensamentos estavam bloqueados, não conseguia pensar em nada que não tivesse a ver com ele. Era como um disco riscado, sempre a repetir a mesma frase de uma canção, os toques dele repetidos vezes e vezes sem conta na sua cabeça, os beijos, as palavras, multiplicados sem fim. Voltou para dentro, talvez a escuridão da casa e o calor quase insuportável a fizessem pensar noutra coisa. Mas não, perto ou longe dele os pensamentos eram os mesmos.

Talvez fosse melhor dormir. Sim, dormir era uma boa solução. Deitada bem na ponta da cama, sem sequer lhe tocar. Demorou muito para que aqueles pensamentos abrandassem e ela caíssem no sono, principalmente depois dele a abraçar e a aconchegar de encontro ao seu peito.

- - -

Acordou de repente, com o choro aflito da filha. Ron dormia profundamente a seu lado, e nem pensou em acordá-lo. Andou apressada até ao cómodo ao lado, encontrando a pequena Sasha a chorar, sentada na cama.

"-Pronto, pronto princesa."

"-'Xonho' mau!"

"-Já está tudo bem agora." – Disse segurando na menina ao colo – "Vamos dormir?"

"-Conta 'istóia'."

"-Uma história, tudo bem. Era uma vez…"

"-Nã! Do 'livo'."

"-Do livro? Qual livro Sasha?"

"-O da 'istóia'!"

"-Vou buscar o livro princesa."

Levantou-se da cama da pequena e caminhou até ao seu quarto onde procurou pelo livro de histórias. Sem sucesso. Qualquer que fosse o local onde procurasse o resultado era sempre o mesmo – nada de livro.

"-Aqui está." – Pegou no livro e caminhou até à filha – "Encontrei princesa."

"-Boa!" – Sentou-se no colo da mãe e olhou para o livro.

Acendeu o candeeiro e só então reparou que o livro que segurava não era um livro de histórias e sim o livro de feitiços.

"-Era uma vez uma bruxa muito velha e muito má que morava numa torre muito alta." – Inventou folheando o livro – "Ela passava os dias a fazer feitiços e poções no seu grande caldeirão."

"-'Feiticos'?"

"-Sim! Feitiços terríveis, que ela inventava para fazer maldades. Para separar os príncipes das princesas."

"-Era como o 'feiticos'?"

"-Como eram? Deixa cá ver." – Folheou o livro apressadamente, sem encontrar nenhum feitiço que se adequasse à história. Olhou para as letras da página onde tinha parado, trocando algumas palavras o feitiço ficaria perfeito para a sua história – "A bruxa velha e má, sempre que acordava fazia um feitiço. Punha as mãos no ar e fazia a sua voz mais assustadora para dizer: O príncipe e a princesa separados vão ficar! E tudo lhes vai correr mal, desde o amanhecer até ao deitar!" – Disse fazendo a menina rir – "Pronto princesa, é hora de dormir."

"-Mas e o 'feitico'?"

"-Não te preocupes, esse feitiço só afecta princesas crescidas." – Disse aconchegando-a.

Não tardou para que a pequena adormecesse. Ela caminhou até ao seu quarto e pousou o livro que segurava na mesa da cabeceira.

'O Ron tem razão… estes feitiços não funcionam.'

- - -

Não sabia dizer, quando acordou, quanto tempo tinha dormido ou qual a altura que tinha adormecido. O que sabia é que Draco Malfoy já não estava ao seu lado, ela já não estava na cama onde adormecera e as ondas do mar já não se ouviam.

Olhou em volta, alarmada, as ondas do mar tinham-se tornado uma constante e sem elas sentia-se perdida. As suas coisas estavam espalhadas pelo quarto e ela percebeu estar de volta ao De Vendôme. Era cedo, o sol mal entrava pela janela e ela tinha a nítida sensação que tudo aquilo não passara de um sonho.

O estranho é que ela ainda tinha os pés cheios de areia.

- - -

"-Ron, eu vou ver da Ginny."

"-Mas não tinhas uma conferência daqui a 5 minutos?"

"-Ron! É a tua irmã! Devias estar preocupado com ela! Estamos num país estranho, com pessoas que não conhecemos, algo pode ter acontecido!"

"-Achas mesmo Mione?"

"-Eu tenho cara de quem gosta de fazer dramas? Ela não apareceu nem uma vez ontem. O encarregado da entrada disse que não a viu, e o mesmo disse o maitre do restaurante."

"-Tentaste no quarto?"

"-É claro que tentei no quarto. Ela não me respondeu e eu não encontrei a chave do quarto dela que nós guardámos."

"-Eu dei-lha quando ela chegou do baile. Diz-se só uma coisa… por acaso tentaste abrir a porta com magia?" – Comentou com um sorriso fazendo a mulher corar.

"-Não me lembrei disso…" – Disse, quase num murmúrio.

"-Vai à tua conferência, eu vou ver dela."

"-Não, tu ficas com a Sasha e eu vou ver dela."

"-Mas e a conferência?"

"-Eu deixo essa passar. Olha pela Sasha, volto já."

Ele deu ombros, era verdade que Hermione não se preocupava à toa, mas também era verdade que Ginny era responsável o suficiente para deixar de dar notícias.

Bateu à porta do quarto da ruiva e esperou resposta. Nada, nem sinal dela. Tentou de novo, e outra vez a seguir dessa. Silêncio foi tudo o que ouviu. Discretamente murmurou um feitiço e abriu a porta lentamente. O quarto estava sem luz, a não ser o sol que entrava pela janela. Os seus sapatos fizeram algum barulho à medida que caminhava, como se estivesse a pisar pequenos fragmentos de vidro.

"-Areia?" – Questionou-se ao olhar para o chão – "Ginny?! Ginevra!"

"-Já vou!" – Ouviu.

"-Areia no chão?" – Perguntou assim que viu a ruiva, enrolada numa toalha e a pingar.

"-Aconteceu-me a coisa mais estranha do mundo Mione. Sonhei que estava numa ilha completamente deserta para além do Malfoy, e que nós… tínhamos dormido juntos. Quando acordei aqui estava enrolada naquela toalha…" – disse apontando para a toalha em cima da sua cama – "… e com os pés cheios de areia. Estranho, não?"

"-Tens a certeza que foi um sonho? Tu estiveste a dormir durante 24 horas? Isso é praticamente impossível, já para não falar que toalhas e areia não saem dos sonhos das pessoas."

"-O que podia ter sido então?"

"-Já consideraste a hipótese de ter mesmo acontecido?"

"-E como é que eu e o Malfoy íamos lá parar? E como é que eu voltava para cá?"

"-Eu não sei… mas sonho não foi com certeza. Não tocaste em nada que possa ter sido um botão de transporte?"

"-Não… eu estava a dormir e quando acordei estava lá, numa cabana numa ilha deserta."

"-O que aconteceu lá? Para além de tu e o Malfoy terem… dormido juntos."

"-Eu acordei lá, andei às voltas na cabana. Saí e caminhei até à beira-mar. Não havia lá nada, só areia. Areia, muito mar e o Malfoy a dormir no chão. Ele acordou com uma das ondas, acusou-me de o ter levado para lá. Eu voltei para dentro e deixei o Malfoy do lado de fora. Pensei que ele tivesse achado uma maneira de sair da ilha porque até ao anoitecer eu não o voltei a ver. Decidi tomar um banho mas ele apareceu para me atormentar. Voltei a sair da cabana e tornei a entrar. Falámos um pouco… dormi-mos juntos e quando acordei estava aqui."

"-Só isso?"

"-Que eu me lembre…"

"-Mas isso não explica o porquê de lá teres ido parar ou o porquê de teres voltado."

"-Queres saber? Não faz diferença. Eu estou de volta, pronta para voltar definitivamente para casa, pronta para esquecer o que aconteceu com o Harry, pronta para esquecer o que aconteceu com o Malfoy, pronta para começar de novo. Vou voltar para casa."

"-Voltar para casa?"

"-Sim, não quero esperar mais tempo, nem quero tomar mais do vosso tempo."

"-Mas…"

"-São as vossas férias. Aproveitem o vosso tempo em família."

"-Tens a certeza? Ainda tens mais uma semana e Paris é tão grande, tem tanta coisa para ver."

"-Obrigada Mione. Tudo o que eu quero é voltar para casa, para os sítios que eu conheço, para as pessoas com quem eu estou acostumada. Achas que me consegues arranjar um botão de transporte?"

"-Para amanhã?"

"-Para ontem." – Respondeu.

"-Tudo bem. Faço isso enquanto te arranjas e arrumas as tuas coisas."

Não demorou muito, 20 minutos depois as suas coisas estavam arrumadas e ela estava pronta para sair do seu quarto. Estava a apreciar a vista da janela do seu quarto quando ouviu as batidas na porta.

"-Entra!"

Não se voltou, queria aproveitar os seus últimos momentos ali para guardar na memória a bela vista.

"-Deixa o botão de transporte em cima da cama, já saio para me despedir de vocês e da Sasha."

Assustou-se. Esperava que fosse Hermione a entrar no quarto, a deixar o botão de transporte em cima da cama e a sair, mas a porta não tornou a abrir, em vez disso sentiu umas mãos fortes que a fizeram voltar.

"-O que é que tu…"

O beijo ansioso dele silenciou-a, tal como as carícias dele que percorriam o seu corpo.

"-Nã… eu vou embora… tu vais para New York… e…"

Ele não quis ouvir, nenhuma desculpa, nenhuma razão o ia parar naquele momento. Ela não o impediu, talvez porque ela queria aquilo tanto quanto ele. Não era uma despedida lamechas ou uma troca de juras de amor eterno – era apenas um encontro um tanto furtivo entre dois adultos não tão desconhecidos assim.

As mãos dela afundaram-se nos cabelos loiros no momento em que ele a ergueu. Os beijos eram fogosos, apressados, tanto que as respirações ficaram aceleradas num instante. Não queriam parar, nem o teriam feito se não fossem interrompidos.

"-Ginny!"

"-Já vou!" – Gritou de volta saindo do colo dele.

Ajeitou as roupas, os cabelos e respirou fundo tentando acalmar a sua respiração.

"-Eu…" – Ele respondeu com um beijo profundo.

"-Até qualquer dia." – E antes que ela pudesse ter respondido ele aparatou.

"-Ginny!"

"-Vou já… vou já!" – Disse caminhando até à porta – "Pronto, já aqui estou!"

"-Estavas a falar com alguém?" – Perguntou olhando em volta.

"-Não, não estava a falar com ninguém."

"-O Ron e a Sasha estão à tua espera. Ela fez um desenho para ti. Tens tudo pronto?"

"-As malas, preciso de as encolher."

"-Vai lá despedir-te deles, eu trato disso."

"-Obrigada. Eu não demoro."

"-Como correu?" – Perguntou minutos depois, quando a ruiva retornou ao quarto.

"-A Sasha não gostou muito da ideia de eu ir embora. Mas ela vai ficar bem."

"-Sabes que não tens de ir, pelo menos não tens de o fazer durante esta semana."

"-Eu sei, mas eu quero realmente ir. Também é só uma semana, não faria muita diferença."

"-Tudo bem, já não te tento impedir mais. Tinha só de ter a certeza que não tinhas mudado de ideias nesta última meia hora."

"-Não, continuo com a ideia de voltar para casa. Agora vou indo."

"-Já te despediste de tudo? De Paris?"

"-Sim, definitivamente já me despedi de Paris."

"-Então aqui está o teu botão de transporte." - Agarrou no botão de transporte, ansiosa por sentir o puxão no umbigo.

Voltar a casa e esquecer era definitivamente a melhor opção.

N/A: Fic escrita para o o III Challange de NC - A capa está no meu PhotoBucket

Kika Felton
07 / 01 / 07