N/A: Er... Eu já disse que não tomo jeito/ Lisa se esconde atrás da cadeira / Acho que a área de Challenges do 3V deveria ser proibida para mim, porque praticamente todas as vezes em que entro lá, surge uma idéia para participar de um. Eu, realmente, não sei como vocês me aturam...

Pierrot foi daquelas idéias que atormentam a alma e pedem ardorosamente para serem escritas. Eu cheguei a sonhar com várias passagens da fic, e simplesmente não resisti à tentação de escrevê-la. Ela surgiu, primeiramente, para concorrer ao I Challenge de Bailes, que foi mestrado por meu maninho Assuero; mas o prazo do mesmo se extinguiu antes que eu a concluísse (para falar a verdade, o resultado se deu por meio de votações, segundo as regras do fórum, mas mesmo assim faltava algumas cenas). Porém, ela se encaixava perfeitamente com muito dos itens do IV Challenge Triângulo Amoroso e a fic concorreu a ele, ganhando em primeiro lugar / olhos mais do que brilhantes /.

A uma fic UA, que se passa na Inglaterra do século XVII. As cidades aqui mencionadas eu tomei por base a Inglaterra atual, então, não sei ao certo se elas existiam nessa época, então, perdoe-me quem é um conhecedor maior sobre o assunto e minhas colocações serem completamente erradas.

Harry Potter e cia não me pertencem; mas, como a Tia Jô já acabou a série e sua meia já está mais do que abarrotada de dimdim, estou pensando seriamente em pedi-la para me ceder os direitos autorais sobre as personagens. Pelo menos por um segundo; não quero ganhar nenhuma espécie de lucro com isso... Era só pelo gostinho de dizer que são meus mesmo.

Pierrot, Colombina e Arlequim também não são minhas, elas são personagens da Commedia Dell'Arte, uma comédia de improviso que surgiu na Itália, em meados do século XVI. Para quem não os conhece; nem nunca ouviu falar deles; que não entende porque "O Pierrot apaixonado chora pelo amor da Colombina" (Pierrot, Los Hermanos), ou porque raios alguém jura "Para sempre ser Arlequim" (Colombina, Ed Motta) para a Colombina... Vão ficar sem saber/ pausa para risada maléfica / É brincadeirinha, gente. O caso é que não chegou a hora exata de falar, mesmo que resumidamente, sobre eles.

A fic não é composta de várias song fics. Os trechos das músicas que iniciam cada capítulo correspondem ao "tema" do capítulo, ou ao ponto de vista de uma personagem. Acrescentando também o fato de que, apesar de ela se chamar Pierrot, não tem muito a ver com a música de Los Hermanos (ela serviu de inspiração para a idéia da fic, na realidade). E, sim, eu AMO Los Hermanos e todos os capítulos da fic possuem trecho de músicas deles.

E trecho em itálico é um flashback.

Enfim, espero que gostem da fic!

Beijos!


Pierrot
Por Lisa Black

"Ele não vai descobrir; Draco Malfoy é Arlequim demais para perceber que o Pierrot não é tão ingênuo como ele atina que ele seja. E a Colombina, tão pouco, atende pelo nome de Ginevra Weasley."

Capítulo I

"É que eu já sei de cor
qual o quê dos quais
e poréns dos afins
Pense bem
ou não pense assim!"

(Paquetá – Los Hermanos)

"O lápis-lazúli e o verde-água estendiam-se e misturavam-se pela campina como um imenso tapete entrecortado por uma estreita estrada de terra, cujo fim era guardado por um largo portão de ferro. Já de longe, o contorno suntuoso do palacete dos Weasley era visível, destacando-se pelo seu antigo estilo Tudor.

Em meio a esse cenário, um casal dividia uma montaria que trotava em direção à suntuosa moradia. O garoto de cabelos arrepiados conduzia o animal tranquilamente, segurando as rédeas firmemente com as mãos, prendendo a garota a sua frente em um frouxo abraço. Ela, por sua vez, amparava-se no dorso do rapaz, enlaçando-o com ternura pela cintura; seus rubros cabelos desalinhando-se um pouco devido à breve brisa que lhe cortava o rosto.

Quem os visse de longe, ou que não os conhecesse, julgaria que eram dois jovenzinhos enamorados; porém, não passavam de dois irmãos de criação retornando de uma tranqüila volta a cavalo.

A ruiva remexeu-se um pouco por entre os braços do garoto e ergueu a cabeça a fim de observá-lo atentamente. Alguns instantes depois, a garota rira baixinho, atraindo um pouco da atenção do garoto para si.

-Tão sério... – ela comentou num ar risonho. – Você devia sorrir mais, Harry. – ela balançou um pouco as pernas num ar meio arteiro, deslizando um dos braços pela cintura do rapaz para cutucar-lhe de leve a barriga.

-E você deveria parar de cutucar a minha barriga, Miss Weasley. – ele rebateu num ar meio rouco, forçando-se a não rir ao mesmo tempo em que, de uma forma um tanto quanto vã e sutil, tentava se desvencilhar do ataque da irmã.

-Ora, vamos, Harry James Potter, eu quero ver um sorriso... – ela insistiu, investindo um pouco mais em seu ataque. O cavalo escuro relinchou, como quem protesta, devido tanto ao fato das notáveis movimentações bruscas em seu lombo quanto ao do seu cavaleiro estar perdendo o rumo, fazendo-o seguir num ziguezague irregular, afastando-se aos poucos da estrada.

-Ginny! – Harry a repreendeu, aos risos. A garota pareceu satisfeita com o fato, pois adquirira um ar triunfante e cessara, de imediato, o arremeter dos seus dedos na cintura do rapaz, a fim de fazer-lhe cócegas. – Se você cair e se machucar, depois não venha dizer que a culpa foi minha. – ele prosseguiu num ar de falsa censura.

-Eu confio em você. – ela murmurou, voltando a se recostar no peito dele. – Sei que jamais me deixaria cair e, muito menos, faria algo para que eu acabasse por me machucar. – a ruiva o encarou firmemente, segurando algumas mechas embaladas pela leve brisa que soprava e que estavam a lhe atrapalhar a visão. – Posso conduzir o cavalo?

-Mas já estamos perto de casa. – Harry retrucou num ar sério. – Não vai dar para você fazer muita coisa, Gi.

-E quem disse que eu quero voltar para casa agora? – ela lançou-lhe um olhar emburrado. – Nossos passeios estão cada vez mais curtos. – Ginny soltou com um suspiro. – O que está acontecendo, Harry?

O garoto não respondeu a um primeiro momento, apenas se limitou a desviar o olhar dos orbes avelã da irmã, que o mirava de modo determinado à espera de uma resposta.

-Nós não somos mais crianças, Ginny. – ele disse, por fim, num tom ligeiramente rouco; seu rosto adquirindo um leve rubor.

-Certo, eu sei que você já tem treze anos, e eu sou um ano mais nova que você; não é necessário me lembrar isso. – ela não abandonara o ar imponente e um pouco irritado. – Agora vá direto ao ponto.

-Você não é mais uma criança. – sua voz, a esse ponto, não passava de um tênue murmurar. – E, bem, você já é quase uma mulher agora.

-Sim, quase. Eu não sou por completo. – Ginny rebateu, visivelmente impaciente. – Posso ter desenvolvido um pouco o corpo, mas minhas regras ainda não vieram.

-Você fala isso com tanta naturalidade... – Harry confessou num suspiro. – Será que você não percebe que, mais cedo ou mais tarde, elas virão e você vai se casar? Talvez até esteja prometida a alguém e não saiba, além disso... – Harry parou de falar a um movimento brusco do cavalo, só depois notando que fora Ginny que havia puxado as rédeas com certa irritação, fazendo o animal parar de chofre.

-O que você quer dizer com isso, Harry? – ela questionou pausadamente, sua mão crispando-se ainda mais em torno das rédeas.

-Estou querendo dizer que, quanto mais cedo acabarmos com isso, melhor será para nós. – ele revelou, meio ofegante. – Nós estamos muito ligados um ao outro, Ginny. Ligados demais. Daqui a algum tempo iremos seguir caminhos diferentes: você terá um marido e viverá com ele, em sua propriedade; quanto a mim, irei me casar com alguma nobre e viver na casa que era de meus pais. A separação será mais dolorosa se não começarmos a nos acostumar com a ausência do outro desde agora.

-E se eu não quiser me afastar de você? – Ginny retorquiu com os olhos meio vermelhos, mirando o garoto com certa mágoa e raiva. – E se eu não quiser nenhum pretendente? Eu podia...

-Não daria certo, Ginny. – ele a interrompeu, de imediato. – Eu não deixaria você estragar a sua vida para viver comigo... – ele retesou um pouco, como se a idéia não lhe agradasse. – E com a minha futura esposa. Seja ela quem fosse.

-Somos irmãos, Harry. – a ruiva insistiu num ar sério; os olhos ainda mais vermelhos na tentativa de segurar as lágrimas. – Você não pode simplesmente me pedir para me afastar de você. Seria o mesmo que me pedir para me afastar do Ronald, dos gêmeos...

-Você sabe que não é a mesma coisa. – Harry a interrompeu seriamente, percebendo o cavalo começara a dar um giro em torno de si mesmo, mas pouco lhe importava o fato no momento. O que ele não notara era que Ginny puxava as rédeas do cavalo para o lado, a fim de mudá-lo de direção, fazendo com que ele desse as costas aos portões do palacete. – E nós não somos irmãos, Ginny.

-Você chegou à nossa casa quando tinha três anos, Harry, logo depois da morte dos seus pais. Podemos não ser irmãos, mas fomos criados como tal. – ela falou num tom doce, abandonando as rédeas do cavalo com um suspiro. – Meus pais te têm como um filho. – ela fechou os olhos e respirou fundo. – Não me peça para me afastar de você. – repetiu numa voz rouca. – Eu não quero me afastar de você.

-Mas, Ginny...

-E eu sei também que não é de seu agrado se afastar de mim. – ela falou num meio sorriso. – Então, não pense nessas coisas por agora, Harry. – completou, acariciando de leve a face dele. – Ainda temos algum tempo antes de nos preocuparmos nisso.

-No dia em que elas descerem, eu vou embora. – o garoto murmurou num ar sisudo. – Vou morar na casa que me pertence, com Sirius.

-Mas...

-Ginny, você deve me prometer que irá me avisar sobre isso. – ela negou, avidamente, como uma criança teimosa. – Gi, por favor, você sabe que não vamos poder ficar juntos pela vida inteira; nós somos... Nós somos irmãos.

-De criação. – ela completou num tom rude. – E você mesmo não me dissera a pouco que nós nunca fomos irmãos? – murmurou num ar embargado. – As pessoas podem nos considerar como tal, mas... Que mandemos às favas esses malditos costumes! Você está colocando empecilhos onde não existe, Harry.

-Você está confundindo as coisas... – ele tentou se justificar num tom rouco.

-Quem está confundindo as coisas aqui é você, Harry Potter! – ela explodiu, alteando um pouco a voz.

-Ginny, vê se me escuta... Eu não quero ser a razão da ruína da família que me acolheu com tanto carinho e afeto um dia, irmã. – ele segurou seu rosto com as duas mãos num gesto delicado, e sorriu. – Algum dia, você saberá do que eu estou falando.

-Eu não quero saber... – ela protestou num tom rouco. – Eu não...

-Já chega, Ginny. – ele a repreendeu num tom firme. – Eu quero que você me prometa. – ordenou, soltando o rosto dela delicadamente.

A ruiva respirou fundo, encarando o garoto a sua frente de modo ofegante. Seus olhos de um verde intenso a perfuravam a espera de uma resposta, ao que ela balançou a cabeça num gesto inconformado. Numa ação impulsiva, ela tomou o rosto de Harry com suas mãos e puxou-o para perto de si com certa violência, selando os seus lábios ao dele de forma incerta e ansiosa. Alguns instantes depois, a ruiva moveu os lábios como quem iniciaria um beijo e se afastou dele, com o rosto adquirindo um leve rubor.

Harry apenas a encarava, num estado entre espanto e euforia, ao que Ginny retirou as mãos do rosto dele lentamente e, num gesto gracioso, desceu da montaria.

-A promessa fora selada, assim como os nossos lábios. – ela falou num tom quase inaudível, procurando não encará-lo. – Quando elas descerem, eu lhe direi. – ela alteou um pouco a voz antes de suspirar. – Até mais, Harry. – e, ao falar isso, levantou um pouco as saias do vestido e pôs-se a correr em direção aos portões da sua casa, sem olhar para trás.".

O som de cortinas sendo abertas sem nenhuma cerimônia preencheu o aposento no qual um rapaz de cabelos escuros, agora mais desalinhados do que o normal, ressonava tranquilamente. A penumbra que se instalara no quarto até então deu lugar a um impetuoso facho de luz que adentrou ferozmente por entre os vitrais da enorme janela.

Essa mesma luminosidade que deixava a vista uma leve quantidade de poeira proveniente do movimentar das cortinas que dançavam pelo quarto atingiu o rosto de Harry, fazendo-o resmungar alto durante o sono e virar o rosto para o outro lado. O responsável pelo feito riu e, logo depois, o som dos seus sapatos batendo contra o piso de ladrilho nevado preencheu o local enquanto ele caminhava de forma altiva até o leito do moreno.

Sagazes olhos gris estudaram Harry calmamente antes de cruzar os braços e esboçar um sorriso meio torto. A expressão estranhamente severa foi substituída por uma arteira quando o rapaz, ainda meio sonolento, murmurava um "Ginny, fecha isso...".

-Sinto-lhe informar, Mr. Potter, mas eu não sou a Ginny. – Sirius falou pausadamente e a reação do outro foi quase de imediata. Sobressaltando-se, Harry abriu os olhos e mirou o padrinho, meio atordoado e com os olhos meio cerrados por causa da intensa luz que adentrara em sua retina. O sorriso torto de Sirius se alargou. – Bom dia, Harry.

-Hum... Bom dia, Sirius. – ele falou num ar desanimado, afundando o rosto no travesseiro e tornando a fechar os olhos. – Por que você tem que me acordar sempre com o abrir dessas malditas cortinas?

-Porque é engraçado ver você pensar que quem faz isso é a sua irmã. – automaticamente, Harry abriu um dos olhos e mirou o padrinho com certo ar de desagrado.

-Eu não acho engraçado. – falou num tom mais grave, erguendo o tronco calmamente e se sentando na cama sufocando um bocejo, observando o ar quase divertido que Sirius exibia. – Eu fui acordado por ela dessa forma durante longos anos, acabei me acostumando com isso. – se justificou, passando a mão pelos cabelos, estudando o padrinho com uma atenção maior do que o normal. – E espero que tenha um bom motivo para vir me acordar tão cedo. – completou, mal-humorado.

-Você tem visita. – Sirius murmurou com certo pesar. Harry piscou demoradamente e se preparava para dizer algo, mas o mais velho prosseguiu. – E não é a Hermione Granger.

Harry suspirou pesadamente, presumindo quem poderia ser. Ou, se não, seria outra vindo por um motivo igual. A feição do rapaz se tornou ligeiramente carregada, pensando que certamente isso não devia ocorrer no tempo de seus pais ou avós; e em como gostaria que, ao menos nesse quesito, a sociedade não resolvesse insinuar que poderia haver novos ditames sem se mostrar tão impolida.

-Por que você não deu uma desculpa qualquer? – ele resmungou, antes de se levantar da cama a contragosto.

-Qual seria a desculpa dessa vez? – Sirius preponderou num arquear de sobrancelha, observando o afilhado a uma curta distância de si, mirando-o como se a culpa daquele momento fosse toda dele. – Se você continuar assim, Harry, todas as moças da corte vão achar que você não quer se casar.

-Sim, esse é o fato. – Harry rebateu quase num revirar de olhos. – Eu não quero me casar. – avaliou, passando por Sirius e começando a transitar pelo quarto.

O homem girou meio-corpo, seguindo o afilhado com o olhar. Harry contornou a cama e foi se dirigindo até o armário marfim situado no outro extremo do aposento. Soltando um som que lembrava um riso prendido, Sirius se preocupou em abrir as cortinas da outra janela do quarto, que ficava próxima à cabeceira da cama de Harry. A enorme massa de poeira que escapou delas fez o nariz do moreno protestar um pouco.

-Nem se a noiva for Ginny Weasley? – alfinetou Sirius sorrindo de forma visivelmente atrevida. A reação de Harry foi imediata: o rapaz parou, de súbito, e virou-se rapidamente para Sirius, que lhe lançava um olhar por cima dos ombros. O rosto do rapaz estava lívido e os olhos ligeiramente arregalados.

-É ela que está... – ele começou, mas ao ouvir a escandalosa gargalhada do mais velho, bufou de raiva. – Sirius! – o repreendeu, ficando subitamente envergonhado antes abrir a porta do armário com certa raiva. Suas dobradiças douradas rangeram num nítido protesto.

-Você queria que fosse ela, não? – ele insinuou. Harry não disse nada e, novamente, os passos suntuosos de Sirius ecoaram pelo recinto antes de ele se recostar na lateral do armário e cruzar os braços calmamente.

-Eu não queria que fosse ela, Sirius. – Harry murmurou, carrancudo. Sirius lançou um olhar furtivo para a enorme porta que os separava. – Ela é minha irmã.

-Não, ela não é sua irmã. Pelo menos não é irmã consangüínea... Até quando você vai continuar mentindo para si mesmo, Harry? – falou com certo afinco. Segundos depois, a cabeça de Harry se sobressaiu por detrás da porta do móvel. Sirius sentiu ganas de rir ao notar que ele estava ligeiramente corado e tentava manter uma feição indiferente, mas sua sobrancelha meio arqueada indicava ao padrinho que ele estava meio incomodado. – Admita que você só está aqui para esquecê-la. – completou, meneando a cabeça quando notou que o mais jovem fingira não ter escutado o que ele havia dito e voltara a se esconder atrás da porta. – Você devia tomar coragem e dizer a ela tudo o que guarda dentro de si, Harry. Você é jovem e precisa se casar. Mais cedo ou mais tarde você não vai mais poder resistir ao cerco que todas elas estão fazendo e, um dia, vai acabar sucumbindo perante uma delas. E esta, com certeza, não será Ginevra Weasley.

Como resposta, Sirius obtivera a porta do armário sendo fechada com violência e um mal-humorado Harry jogando um jaleco para ele, ao que ele prontamente segurou e conteve um novo riso. Sirius permaneceu em silêncio por alguns instantes, observando Harry vestir-se de modo mais atento do que o normal. Por fim, deu de ombros e suspirou de leve, sabendo que o rapaz não iria se manifestar sobre esse assunto. Ele nunca se manifestava.

-As cortinas precisam ser trocadas. – falou num ar entediado, desviando o olhar de Harry para as mesmas. Aquilo pareceu atrair a atenção de Harry, pois o mesmo parara de afivelar o colete negro e mirara Sirius, confuso.

-O que disse?

-As cortinas... – Sirius voltou-se para ele, repetindo. – Elas precisam ser trocadas, estão empoeiradas demais.

-Ah... – Harry começou, meio evasivo. – Vou providenciar isso depois. – concluiu, voltando a atar o colete.

-O que acha de mudarmos a cor delas de índigo para vermelhas? – insinuou, sabendo que as cortinas da residência dos Weasley eram invariavelmente vermelhas. Sirius apenas recebera um olhar assassino de Harry em resposta.

-Quem é a moça que está me esperando, Sirius? – o rapaz questionou, emburrado.

-A moça se chama Cho Chang. Os pais dela compraram a propriedade dos Abbot semana passada. – Sirius começou, sem emoção. – Particularmente, creio que você não vá achá-la mais bonita do que a Ginevra, mas...

-Ela veio com alguém? – Harry o interrompeu de modo cortês, ignorando o sorriso quase trocista que Sirius lhe lançara.

-Com o irmão e uma dama de companhia. – Sirius estendeu o jaleco a Harry, ao notar que ele acabara de ajeitar o colete. – Os pais da moça são mais recatados, não acharam muito seguro trazer sua pudica filha num recinto nobre, mas que só tenha homens na família.

Harry arqueou uma sobrancelha e ajeitou o jaleco, soltando um breve muxoxo. Logo se dirigiu a uma tina situada em cima de um pequeno móvel claro escondido num canto do quarto e lavou o rosto sem muita cerimônia.

-Você é a única pessoa que eu conheço que se lava depois que está devidamente vestido. – ele avaliou e Harry, ainda enxugando o rosto, se virou para Sirius, que tratou de completar. – Eu só gostaria de entender isso.

Harry, a um primeiro momento, não disse nada, apenas se limitou a desabar numa cadeira acolchoada situada ao lado do móvel com a tina, mirando a cama a sua frente com um olhar meio distante.

-Acho melhor eu não te dizer o porquê disso. – confessou, meio envergonhado, preocupando-se em puxar seus sapatos que estavam debaixo da cadeira e começar a calçá-los.

-Posso dizer que presumo o que seja, ou melhor, quem é a responsável por essa sua estranha mania. – falou depois de um tempo em silêncio. Harry bateu o pé direito uma vez, como quem confere se o sapato está devidamente posto e se levantou num leve impulso, tomando rumo para fora do quarto sem dizer uma palavra.

Sirius o seguiu e, logo, os dois passaram a transitar pelo extenso corredor forrado por um longo tapete felpudo azul, cujas paredes eram adornadas de quadros de antigos antecessores da família Potter. Aquela ala da casa se restringia somente aos aposentos da família e pessoas próximas.

-Há quanto tempo você não procura saber de notícias dela? – Sirius questionou, desviando o olhar do quadro do avô de Harry, Charlus Potter, e arqueando uma sobrancelha para ele. O jovem suspirou penosamente e encolheu os ombros, esboçando um ar cansado.

-Não sei ao certo. Talvez um ano ou mais. – ele passou a mão pelos cabelos, meio cansado. Logo eles estavam a descer uma das extremidades da escada bifurcada que os levaria até o saguão de entrada da casa. – Bom, a essa altura, pode ser até que ela esteja casada, ou...

-Você só saiu da casa dos Weasley por causa disso, suponho. – presumiu Sirius num ar sério. – Ela já estava prometida a alguém e você sabia disso, estou certo?

Harry não respondeu, mas pela feição carregada que ele exibira, o padrinho soube perfeitamente que suas suspeitas estavam corretas. Desistindo de tentar arrancar mais alguma informação do afilhado, ele resolveu voltar a atenção para os últimos degraus da escada que estavam descendo e o caminho que percorreriam até a sala na qual os Chang os esperava. Talvez pudesse pedir a Remus que tentasse dissuadir Harry dessa idéia insana de lutar contra os próprios sentimentos. Ao ver de Sirius, o velho amigo sempre fora melhor com palavras do que ele; mas isso não era muito importante no momento.

-Desculpem-me pela demora, não estava composto o bastante para atendê-los. – a voz meio grave e lustrosa de Harry preencheu o recinto, desviando Sirius dos seus pensamentos e atraindo a atenção dos outros dois ocupantes da sala na qual eles agora adentravam. – Espero que isso não tenha gerado muito incômodo aos senhores. – completou, lançando um singelo sorriso cordial.

-Não houve incômodo algum, cavalheiro. – um rapaz robusto, com os olhos ligeiramente puxados respondeu, se levantando quando Harry atravessou o recinto e vinha cumprimentá-lo. – Suan Chang. – ele sorriu um pouco enquanto apertavam-se as mãos. – Creio que não deva nos conhecer; nós mudamos para a antiga propriedade dos Abbot há muito pouco tempo.

Harry assentiu com um meneio de cabeça antes de falar algo. Sirius lançou um olhar meio de esguelha para Cho e percebeu que ela analisava Harry minuciosamente, estando sentada no outro sofá, ao lado de sua dama de companhia. Arqueou uma sobrancelha, sabendo que a moça se mostrava visivelmente interessada no seu afilhado, e seu olhar não parecia ser tão casto assim.

-Quero apresentar ao senhor a minha irmã, Cho Chang. – o rapaz falou seriamente e, tão logo isso ocorrera, a moça pôs-se de pé e se aproximou dos dois. Sirius quase riu ao notar o desânimo que Harry escondeu quando se virou e tomou a mão enluvada da moça entre as suas e encostou os lábios nela, como mandava a etiqueta.

-Encantada, Mr. Potter. – Cho Chang, que possuía os olhos escuros igualmente puxados do irmão, sorriu gentilmente para Harry. Os seus longos cabelos negros e lisos contrastando-se com sua pele e vestido brancos lembravam ligeiramente uma fina boneca de porcelana. Harry retribuiu o sorriso amigável da moça e se afastou, tornando a adquirir um porte mais aprumado.

-Igualmente, Miss Chang. – falou numa última mesura. – Como vocês já conhecem meu padrinho, Sirius Black, as formalidades entre os senhores estão dispensadas. – eles assentiram e Harry conteve um suspiro. – Queiram sentar-se, por favor. E sintam-se à vontade. – Harry pediu, ele mesmo ocupando o lugar ao lado de Sirius, que já havia se acomodado. Suan Chang optou por ocupar o sofá próximo, e Cho interpôs-se entre ele e a dama de companhia.

Uma infindável, monótona e, porque não dizer, rotulada conversa entre os presentes se iniciou entre eles. Sirius participava vez ou outra, se divertindo intimamente perante os olhares de censura que Harry lhe lançava disfarçadamente de quando em quando, acusando-o mudamente de pô-lo naquela embaraçada situação.

Os Chang, aparentemente, só se deram por satisfeitos para irem embora quando o sol já ia alto – e depois de, implicitamente, enumerar diversas e exageradas qualidades da subentendida pretendente do herdeiro dos Potter – e o estômago de Harry agradeceu mentalmente por isso, pois ainda não tinha feito desjejum.

Quando se viram mais uma vez no saguão de entrada, com as visitas devidamente longe e a porta principal lacrada, o moreno de olhos gris reparou que o afilhado lhe lançava olhares desafiadores, como se disposto a atiçá-lo a dizer algo quanto a isso. Ele, contudo, manteve-se impassível, a priori, seu rosto demonstrando todo o divertimento que a fúria do mais novo estava lhe causando.

-Você deve concordar que ela é uma boa pretendente. Não é melhor que a Ginny, é claro, mas ainda assim é uma boa pretendente. – ele observou calmamente. Harry revirou os olhos e reprimiu um bufo de raiva.

-Por que você tem sempre que falar da Ginevra, Sirius? – inquiriu num tom aborrecido.

-E por que será que, desde que você pôs os pés nessa casa, você nunca mais a chamou de Ginny?

Harry pareceu ligeiramente desconcertado, mas ainda procurou manter-se mais apático.

-Esse é o nome dela, não? E... – Harry resmungou algo ininteligível. – Por Deus, Sirius, até quando você vai insistir com isso? – ele alteou um pouco a voz, meio impaciente. – E quantas vezes eu preciso dizer que eu não amo a Ginevra? – o rapaz falou no ar mais sisudo que pôde, mas seu breve corar, de certa forma, o traiu. Sirius não disse nada, e tão pouco riu.

Perdurou-se um silêncio em que um se limitou apenas a encarar o outro. Sirius achou que era melhor parar de pressionar o afilhado por agora e notou pelo olhar que Harry lhe lançava que ele se sentiria imensamente grato por isso. Suspirou e meneou a cabeça, resignado com a pérfida postura do rapaz.

-Certo, continue a fingir que eu continuo a acreditar. – falou, por fim. Harry pensou em protestar, mas Sirius percebeu e resolveu prosseguir. – Vá para a sala de refeições, vou pedir para a Marie levar algo para você. Depois, vamos cavalgar um pouco para acalmar os ânimos.

-Eu não preciso me acalmar. – resmungou com certa teimosia e Sirius não conteve um revirar de olhos.

-Pense o que quiser, então. – e, dizendo isso, se retirou, deixando um Harry meio emburrado para trás.


N/A: Depois daquela N/A enorme, eu ainda tenho coisa para escrever aqui embaixo? Certamente é o que vocês se perguntam. Bem... Er... Não necessariamente. / corada-mor / Mas eu resolvi colocar um trechinho do próximo capítulo. XD.

"-Ginny, você o ama, não é? – Ron acusou seriamente ao que Ginny fechou os olhos e respirou fundo. – Você gosta do Harry.
Ela não negou e, tão pouco, preocupou-se em assentir. Abaixando o olhar para não ter que encarar o irmão, crispou os punhos sobre a saia do vestido creme que usava antes de responder ao questionamento dele
-Você já sabe da resposta, então, acredito que não preciso dizer. – murmurou, amarga. Houve um suspiro profundo de Ron como uma réplica.
-Ginny, como você pôde deixar isso acontecer? – ele questionou, baixinho.
-Ron, você acha que a pessoa escolhe por quem vai se apaixonar? Simplesmente ocorre, não há como impedir isso."

Espero que gostem! Beijos!