Nota da autora:
Bem-vindos, tributos.
Espero que gostem deste conto (Ou headcanon gigantesco, para quem sabe o que é isso) que criei ontem a noite e achei bom o suficiente para postar (: Já estava querendo há tempos contribuir para esta quantidade absurdamente pequena que são as fanfics de Hunger Games em português, portanto, fiz a minha parte.
Os contos são independentes, não é uma long-fic com fatos em ordem. Eu posso voltar ou avançar a cada novo 'capítulo', mas vale lembrar que só escreverei mais se houver algum comentário.
Ah, tentei ser fiel em relação à personalidade dos personagens (Sejam razoáveis, sou habituada a escrever UA) e espero que tenha conseguido. E eu também gosto de usar a tradução literal para os termos famosos dos livros (Tipo, Real or not real? - Que na tradução do Brasil ficou 'Verdadeiro ou falso?') Enfim, é isso (:
Boa leitura!
Os personagens de The Hunger Games pertencem à Suzanne Collins, a mim pertence apenas o enredo da história.
O medo
Não sou frequentadora assídua de hospitais, especialmente agora que são inexistentes os confrontos em Panem e a única maneira de eu me ferir é na floresta. Porém, desta vez é diferente. Não estou contundida ou doente, é algo muito pior, algo que declarei impossível desde que entendi a crueldade do mundo.
As poucas pessoas que vagam pelos corredores não hesitam em dedicar olhares para mim, provavelmente imaginando o motivo da minha vinda até aqui. Desde o término da guerra, há quase dez anos atrás, sou aclamada pelo que fiz pelo país e o sentimento de gratidão dos distritos nunca se esvaiu, continuo sendo uma figura tão importante quanto – Ou até mais – que a presidente Paylor. E os pares de olhos sobre mim conseguem me deixar ainda mais apavorada. Tenho medo que vejam no meu rosto o motivo para tanta euforia, tanto pavor, e a notícia se espalhe por todo o doze antes mesmo de Peeta colocar os pés em casa.
Cerro os olhos quando dou de cara com a neve. É uma longa caminhada daqui até a Vila dos vitoriosos, o que me consola é que no meio desta tempestade há pouquíssima gente nas ruas. Ótimo, serão menos rostos para encarar. A sensação de minhas pernas estarem congeladas não é pelo frio e sim pela notícia que estou tentando absorver há vinte minutos. São dois extremos: A sensação de estar gelada e saber que as mãos que seguram o envelope pardo estão suando como se expostas ao sol do terceiro Massacre Quaternário.
As primeiras lágrimas estão caindo antes que eu gire a maçaneta, assim que me refugio dentro de casa escorrego contra a porta e o pranto preso na garganta ecoa no ambiente vazio.
Prim. Penso nela porque o fato dela estar morta significa que falhei ao tentar proteger o que mais amo. Se não pude salvá-la, o que poderá acontecer com esta criança? Como eu pude deixar isto acontecer? Trazer um ser inocente para um lugar como este, provavelmente um bebê com os olhos dóceis do garoto com o pão, o que torna as coisas ainda piores. Eu não aguentaria vê-lo sofrendo e eu morreria se o perdesse. Por enquanto ele está aqui, aquecido e seguro, mas e depois?
Percebo que perdi a noção do tempo assim que ouço Peeta tirando a neve das botas. Não quero encará-lo agora porque ele foi quem fez isso comigo. Se não tivesse insistido tanto eu não estaria sofrendo por algo que ainda não tenho. Não tenho? Então o que explica meus braços envolvendo o ventre ainda liso? Eu não estaria fazendo isso se não soubesse da existência de um ser aqui dentro. A não ser que eu queira voltar para a Capital e para usar novamente as pulseiras de 'mentalmente desorientada'.
- Katniss?
Não respondo e nem poderia mesmo que tivesse a intenção. Uma palavra e o choro incessável voltaria, assustando Peeta e talvez até levando-o a ter outro ataque de loucura. Ele surge na sala já de olhos arregalados, provavelmente por causa dos papéis espalhados e os vidros quebrados. Seus desenhos de mim, de Prim, Finnick, Cinna e todos aqueles que passaram por nossas vidas repousando no chão gelado, assim como eu.
- Katniss! - Peeta corre até mim, pegando-me nos braços com uma expressão de desespero – Você está bem?
Meus olhos antes perdidos ficam presos em seus orbes azuis, a resposta para todas as suas futuras perguntas sai em forma de sussurro e o deixa estatelado:
- Estou grávida.
O rosto de Peeta vai de choque à fascínio em segundos. Ao menos ele tem a decência de esconder o sorriso que quer exibir. Ele sempre quis e conseguiu finalmente. Será que não é capaz de ver o perigo? Como pode não perceber que perderemos nosso filho, que logo será tirado dos nossos braços por outra guerra, por outra onda de miséria e fome que transformará Panem novamente em um lugar esquecido, abandonado e maltratado. Eu não quero que meu bebê viva num lugar como este, onde matavam-se crianças por diversão, então como Peeta pode querer também? Pensando assim, a raiva toma espaço.
- Vá, grite para todos a grande novidade. Você não precisa conter esse sorriso, espalhe para Panem inteira sobre a minha gravidez!
Ele iria se o meu tom não fosse tão agressivo. Ele realmente contaria para todos até que chegasse nos ouvidos de minha mãe, no Distrito 2, ou então nos de Gale.
Gale. O que meu melhor amigo acharia disso? Sei que também tem vontade de ter filhos, se é que já não os tem. Tenho certeza que se estivesse aqui jogaria na minha cara o quão ridícula estou sendo por não achar minha gravidez uma benção. Diria que nós dois e os outros lutamos justamente por isso, por uma nação melhor para criar nossos filhos e que me recusar a ter uma criança negaria também o meu êxito. Gale me convenceria.
- Você não quer este bebê. Real ou não real?
Presto atenção na voz cansada de Peeta. Eu o fiz infeliz tendo uma reação exagerada e agora até ele acredita que o que carrego no meu ventre não deveria existir.
- Não real – suspiro – Ninguém vai tirá-lo de mim.
Porque eu já o amo. Seja um menino loiro de olhos acinzentados ou uma menininha de cabelos escuros e íris azuis, eu amo esta pequena extensão de mim que está crescendo. Um amor tão novo e igualmente forte quanto aquele que um dia senti e ainda sinto por Prim. Só que desta vez, a única diferença, é que esta criança tem uma chance. Não apenas uma chance de sobrevivência como também a chance de alcançar a felicidade. E eu lhe proporcionarei isso.
As mãos firmes de Peeta me tiram do chão, ele me sustenta em seus braços, levando-me com cuidado para nosso quarto. Encolho meu corpo contra o seu, escondendo o rosto em seu peito e em poucos segundos encharcando sua camisa. Sou posta na cama e nem por isso deixo que vá. Peeta abraça forte e diz que tudo vai ficar bem. Felizmente, tentar acreditar em suas palavras já é um agrande avanço.
- E-estou com medo – Murmuro.
- Eu também estou, mas não é incrível? A minha felicidade supera o medo, Katniss. - Suas palavras chamam minha atenção. Olho-o e reconheço que não podia ter dito algo melhor, mesmo que provavelmente tenha feito e refeito o mesmo discurso diversas vezes. Um sorriso desanimado molda meus lábios.
- Espero que um dia a minha também supere.
- Você não irá amá-lo mesmo assim?
- Eu já amo, Peeta. - Sussurro pronta para mais uma enxurrada das lágrimas que não me deixam em paz.
- Então é tudo que importa – Sorri e beija a minha testa, acariciando os meus cabelos e aos poucos conseguindo me acalmar, mesmo que para isso precise me fazer dormir. A exaustão mental ultrapassa a física, minha cabeça não está mais tranquila, ela fica ainda mais terrível com as possibilidades ruins que me mostra. Os pesadelos que terei hoje com certeza terão Prim e meu filho como protagonistas, por isso, precisarei de Peeta ao meu lado. Antes que ele vá, seguro sua mão e sussurro a frase que já é comum para nós:
- Fique comigo.
E como esperado, sua resposta breve me deixa mais conformada em relação ao futuro próximo:
- Sempre.
Sobre qualquer erro de português ou concordância: Sinto muito, não revisei muito.
Merece reviews? *cruza os dedos*
