Uma batida à porta despertou todos os integrantes daquela sala de um transe. Todos haviam permanecido compenetrados em suas tarefas habituais até aquele momento. De qualquer modo, nenhum deles esperava alguém.

-Entre. –Roy falou em um tom pouco alto, a fim de que fosse ouvido através da porta. Em seguida, um soldado entrou com uma pequena caixa entre os dedos, bateu uma continência um tanto exagerada, provavelmente era novo no local.

-Tenho um pacote. –naquele momento todos voltavam suas atenções ao que deveria fazer. Não precisavam de muito para saber o que era e para quem era entregue o pacote. Provavelmente algum presente para o Coronel, de alguma mulher.

-Deixe em cima da mesa. –ele falou sem muita emoção e apoiou a cabeça em uma das mãos, voltara sua atenção para os papéis que estava lendo antes de ser interrompido.

Mas o pacote não chegou à sua mesa. O soldado caminhou em direção à outra pessoa. Parando a frente de Riza, ele depositou a pequena caixa em um local que ela pudesse notar.

A loira levantou os olhos em tom duvidoso.

-Acho que se enganou, soldado. –ao som de sua voz, as atenções se voltaram para ela.

-Pediram que eu entregasse à Tenente Riza Hawkeye. Com licença. –ele bateu novamente uma continência e saiu pela porta. Riza observou a caixa com algum interesse, achando estranho que aquilo lhe fora destinado.

-Não vai abrir? –Roy perguntou com um falso desinteresse, sua face estava levemente voltada para a subordinada. Ele era o único discreto naquela sala, os outros homens observavam descaradamente na tentativa de descobrir o que era o presente.

-Que escolha eu tenho? Vocês parecem estar mais interessados que eu.

Riza observou mais uma vez o presente. Uma caixa vermelha, tão pequena que cabia dentro de suas duas mãos fechadas. Havia um laço dourado e fino no topo, prendendo um pequeno bilhete. Ela riu levemente, achando graça daquilo, só poderia ser uma brincadeira, mas tomou o papel e leu.

Fora de época, eu sei. Achei dentro do armário. Caso elas floresçam, poderia aceitar o que pedi?

Riza largou uma risada sem graça e sentiu a face arder, o que surpreendeu ainda mais os ocupantes. Ela desfez o laço e abriu a caixa, observando um objeto semelhante a uma flor. Contudo parecia morto, com um tom marrom de envelhecido.

A loira lançou uma olhar aos ocupantes e parou em Roy, que parecia ignorá-la, pois já havia direcionado o olhar aos papéis. Deu um leve suspiro e se levantou andando até a janela, onde manteve seu olhar fixo no horizonte.

Há alguns dias pensara naquilo e não precisava de muito para se decidir, mas aquele bulbo de flor lhe daria algum tempo para pensar. Ainda que sua decisão acabava de ser tomada.

Permaneceu, por alguns segundos, parada e observando a cidade, até que voltou a sua mesa e tomou o presente entre os dedos. Abriu a janela, deixando o vento frio de inverno incomodando os presentes e ergueu o braço para lançar o bulbo, parando naquela posição.

Seria melhor que o jogasse em sua casa, não iria ver aquela flor crescer e ser destruída ali. Fechou a janela e voltou para sua mesa, depositando o bulbo ao seu lado. Observou o calendário, constatando que era final de novembro.

-Voltem às suas atividades! –ela ordenou ao vê-los ainda observando-a. Ordem que não foi ignorada.


Aquele silêncio entre os dois não era habitual. Ela costumava levá-lo para casa todos os dias e ainda que não falassem sobre nada importante, sempre comentavam algum detalhe do dia e do trabalho.

Roy estava observando o painel do carro como quem esperava que algo saísse de lá, o que a loira achou um tanto engraçado. Aquele comportamento enfadonho não era costumeiro dele.

-Não vai sair nada de dentro do painel, Coronel. –ele saiu do transe e encostou a cabeça no banco fechando os olhos. Parecia cansado.

Não obstante, logo abriu os olhos e se reclinou ao painel novamente, desta vez tomando algo entre os dedos. Era o presente que Riza havia ganhado poucas horas atrás. Ele aproximou da face para observar com detalhes, mas não conseguia compreender o que era aquilo.

Riza riu da curiosidade do homem, mas o fez apenas para si.

-É um bulbo de tulipa, uma flor.

-Um presente pouco comum. Deve possuir algum significado para você, não é?

-Sim. –ela pausou, ponderava se deveria contar mais sobre aquilo. –São plantadas em outubro e tem que ficar congeladas por meses. Florescendo no meu aniversário.

-Quem mandou deve conhecê-la muito bem. Algum antigo namorado? –A loira virou sua face, desviando-a da estrada e observando o acompanhante.

-Isto é pessoal, senhor.

-Ora, você sabe tudo sobre mim e eu não conheço nada de você.

-Por que ao contrário do senhor, eu gosto de manter minha vida pessoal reclusa.

Ele fechou a cara e colocou o bulbo em cima do painel, como estava antes de tomá-lo em mãos. Encostou a cabeça novamente no banco e voltou sua atenção para a rua.

-Pela sua raiva de hoje cedo e de agora, quando toquei no assunto. Tenho impressão que acertei. –ele sorriu com o canto dos lábios, tomando sua costumeira postura arrogante.

Ela ignorou aquelas palavras, não precisava comentar todas as palavras dele e como não havia feito pergunta alguma, preferia continuar calada. Apenas pigarreou em sinal de que não gostava do rumo que aquela conversa estava tomando.

Foi quando ela girou o volante para a esquerda, fazendo o carro virar. Uma luz branca atingiu o olho de Roy, que soltou um gemido de dor e levou a mão à face.

Riza parou o carro rapidamente, no meio da rua e se virou para o homem, que ainda permanecia curvado e pressionando o olho.

-O que aconteceu? –ele não respondeu de imediato, pois seu olho ardia bastante.

-Alguma coisa no meu olho.

-Deixe-me ver. –ela bufou, pensava que era algo pior, provavelmente algum tipo de sujeira entrara em seu olho. Ele havia retirado a mão dali, mas ainda permanecia com as pálpebras apertadas.

Aquele homem parecia uma criança quando se tratava de dor. Riza irritou-se com aquela atitude dele e tocou o olho, puxando as pálpebras com o dedo. Observou que o globo estava avermelhado.

Roy se surpreendeu com aquela atitude repentina. Ela franzia as sobrancelhas tentando ver se havia algo que pudesse ter causado sua dor e estava bastante próxima, contanto que ele sentia o ar das suas narinas tocarem sua face.

Riza permanecia observando seu globo ocular, ainda estava vermelho, mas não era motivo para aquele modo dele de ganir. Ela havia se assustado com aquilo e não devia ser nada para tal pânico.

A loira percebeu que Roy parecia paralisado enquanto ela o analisava, o que a surpreendeu. Ela deu um sorriso inconsciente, achando graça, ao notar aquilo e assoprou levemente o olho vermelho dele.

O moreno afastou a face piscando algumas vezes e saindo de seu torpor. Riza permaneceu com as mãos no ar, onde estava ele há poucos instantes.

Roy parecia sentir menos incomodado naquele momento, porque ele mirava fixamente as mãos dele. Inclinou-se para se aproximar, e franzindo as sobrancelhas, parecia ver algo em que não acreditava.

-O senhor está agindo estranho hoje. –Riza voltaria às mãos ao volante, caso Roy não as tivesse segurado. Ele engoliu em seco e voltou seus olhos para a face da loira, um pouco incomodada. Desviou novamente o olhar para a mão dela.

-Tenente, isto é... Um anel... Você vai se casar?


Notas da autora: Bom, este capítulo é curtinho. Bem, eu não imagino escrever uma fic com muitos capítulos, então vai depender da aprovação geral. Se gostarem, eu acrescento mais capítulos, porque idéias eu tenho.

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