Hermione andava em passos pesados e apressados, percorrendo os corredores do castelo com uma série de livros na mão. Parecia estar um pouco nervosa, pois na sua expressão facial podia-se notar alguma ansiedade. Olhava diversas vezes para trás como se receasse estar a ser perseguida.
Quando finalmente chegou ao destino – a torre de astronomia – fitou o relógio de parede, certificando-se que não estava atrasada. Faltavam cinco minutos. Empoleirou-se sobre a abertura para apreciar o céu já escurecido. Precisava de se sentir mais calma. Respirou fundo e fechou os olhos.
- Granger – chamou aquela voz calculista e fria. Hermione poderia reconhecê-la em qualquer lugar, pois adorava o tom dele.
Hermione virou-se de frente para o vulto de preto, fitando-lhe primeiro os sapatos. Depois ergueu a cabeça para fitar Draco Malfoy diante de si.
- Não deixaste que ninguém te visse chegar até aqui, suponho? – Draco arqueou uma sobrancelha.
- Não – respondeu simplesmente a Gryffindor.
Sempre que estava diante de Draco parecia perder as forças e a coragem. Draco encarou-a e aproximou-se dela. Em silêncio pegou nos livros que ela ainda segurava com alguma firmeza na mão e pousou-os em cima do parapeito. Hermione prestou atenção a cada movimento que Draco fazia com as mãos. Teve vontade de agarrá-las ou de ser abraçada por aqueles braços fortes e musculados. Mas Draco simplesmente ficou a centímetros da morena, tentando perceber por que motivo ela estava tão nervosa, dessa vez.
- O que se passa? – perguntou, tentando captar qualquer movimento dela minuciosamente.
Hermione demarcou os lábios numa linha recta. Depois humedeceu-os com a língua, pois estavam secos devido à ansiedade. Mexeu no cabelo, colocando a franja para trás. Draco sabia perfeitamente que ela estava nervosa. Todos aqueles movimentos traíam a postura severa que ela tentava manter a todo o custo.
Há meses que se andavam a encontrar às escondidas. Draco tinha seguido o pedido de Dumbledore e tornara-se espião da Ordem de Fénix. Por questões de segurança tinham concordado que não diriam nada a ninguém da ordem, não queriam que nada falhasse. Dumbledore tinha sugerido a Draco que contassem a Harry Potter e aos dois amigos, "o ruivo pobretão e a sangue de lama nojenta". Draco recusara e pedira para que apenas a Granger soubesse, não queria que Harry Potter e o ruivo o encarassem como um covarde. Por mais irritante que Hermione pudesse ser jamais lhe atiraria à cara. Faziam tudo às escondidas.
Hermione parecia não aguentar mais esconder isso dos amigos, as escapadelas discretas que Ron já havia reparado, as perguntas que ela evitava a todo o custo… Sentia-se no fundo uma traidora. Mas o que lhe incomodava mais era aquela noite.
Flashback
Hermione dera como desculpa para fugir dos amigos que tinha de fazer o trabalho de poções. Não sabia mentir. Estava estampado na sua face que iria fazer qualquer coisa menos o trabalho de poções. Ron e Harry trocaram olhares cúmplices e não fizeram perguntas à amiga.
Percorreu o castelo com a mesma intensidade de sempre. O nervosismo à flor da pele. Odiava-se tanto por gostar daquela sensação sempre que ia ter com ele. Quando lá chegou já estava Draco encostado à parede de braços cruzados e com as mangas da camisa arregaçadas. Aproximou-se, cautelosa. Quando estava com Draco tudo tinha de ser assim: calculado.
- Estás atrasada um minuto. – disse, fitando o relógio de pulso.
- Desculpa, mas às vezes é difícil desenvencilhar-me do Harry e do Ron. – a voz tremia-lhe.
- Seja como for… - Draco disse, pouco interessado no que ela acabara de dizer. Desencostou-se e aproximou-se da morena. – Tenho uma novidade para transmitires à ordem. Tiveram duas baixas. O Yaxley deu cabo do Rookwood e suicidou-se a seguir.
Hermione levou as mãos à boca como se importasse com a vida dos devoradores da morte.
- Já sabes, Granger… ouviste isso num corredor perto da sala dos professores.
Hermione já sabia que não podia dizer que tinha sido Draco a trazer essas informações preciosas. Baixou a cabeça, consentindo com a ordem de Draco. De seguida olhou para ele, fitando-o olhos nos olhos. Embora os olhos cinzentos de certa forma a perturbassem, ela não desviou o olhar. Queria-lhe fazer uma pergunta e precisava de o olhar nos olhos para saber que falava a verdade.
- Diz-me, Malfoy, o que te fez mudar para a ordem?
- Eu não sou um assassino, Granger. – disse, parecendo que não tinha sido pego de surpresa com a questão de Hermione. Já esperava por ela mais tarde ou mais cedo.
- Porquê que não queres que o Harry e o Ron saibam?
- Não precisam de saber que eu sou o espião. Não quero que pensem que os estou a ajudar com outras intenções. Além disso, nunca seriamos amigos…
- E eu?
- Tu o quê, Granger? Tu nada! Simplesmente és a mais confiável dos três, por isso é que te escolhi. – disse Draco irritado. Mas quem é que ela pensava que era para fazer tantas perguntas? Não era da conta dela. Se quisesse que aceitasse a sua ajuda, mas tinha de ser à maneira dele.
- Tudo bem. Acabaram-se as minhas perguntas. Obrigada pela tua colaboração. Boa noite. – Hermione virou-se de costas, preparada para ir embora. Não precisava mais de encarar aquele olhar.
- Espera, Granger. – disse, agarrando-lhe no pulso.
Hermione sentiu o toque gélido de Draco. Talvez fosse a primeira vez que ele lhe tocasse por iniciativa própria. Virou-se para encará-lo. Em vez de a largar, agarrou-lhe os dois pulsos, fazendo-a sentir o corpo petrificar. Perdeu-se no olhar dele. Draco parecendo premeditar qualquer movimento que fazia, subiu a mão direita para a face de Hermione, segurando-a com cuidado extremo… como se fosse quebrá-la se usasse um pouco mais de força. Aproximou-se dela, deixando apenas um espaço mínimo entre os dois. Hermione susteve a respiração, receando os próximos acontecimentos. Draco encostou a testa à dela, sentindo o cheiro doce convidativo. Sentiu-se ficar tonto, ela provocava isso. Queria beijá-la. Sem saber se ela desejava tanto aquele beijo como ele, deixou os lábios dele roçarem levemente nos dela. Hermione estremeceu de olhos fechados. O hálito fresco de menta de Draco invadiu as narinas de Hermione, fazendo-a gemer baixinho. Não aguentava mais, porquê que ele estava a testar os limites dela? Sentindo a mão esquerda dele, que estava no pulso, agarrar a sua cintura aproximou os lábios. Sentiu pela primeira vez o beijo caloroso dele. Draco deixou-se envolver naquele beijo tão doce de Hermione, percorrendo o corpo dela como se não houvesse amanhã. As línguas brincavam e exploravam as bocas, deliciando-se com aquele novo sabor. Era um beijo caloroso, doce, necessitado.
Ambos desejavam aquele momento há algum tempo. Já não aguentavam estar tão perto um do outro, sem pensarem em experimentar aquele sabor. Quando precisaram de parar encararam-se sérios. Hermione não esperava que Draco sorrisse e dissesse que a amava, mas ainda assim arriscou a esboçar um pequeno sorriso frágil. Draco levou as mãos aos cabelos, despenteando-os.
- Isto nunca deveria ter acontecido, Granger.
Saiu da torre da astronomia sem sequer olhar para trás. Hermione deixou as pernas bambas levarem-na até ao chão e suspirou. No fundo, ela sabia que aquele beijo jamais deveria ter acontecido.
Fim Flashback
- Eu não consigo esconder-lhes mais. – disse Hermione.
- Não me faças uma coisa dessas, Granger. Aceitaste as minhas condições.
- Desculpa, Malfoy, mas já não aguento. Estou a perder as forças. Preciso deles. Não me posso encontrar mais contigo…
Virou-lhe as costas com as lágrimas a desfocarem-lhe a visão. Não queria ter que encará-lo, pois aqueles olhos faziam-na perder todos os sentidos e toda a razão que ainda existia nela. Draco agarrou-a pela cintura, fazendo-a com alguma brusquidão virar-se para ele. Colou os dois corpos e sentiu novamente aquela maldita vontade apoderar-se dele.
- Tens medo que eu te volte a beijar? – perguntou com os lábios a roçarem-lhe no ouvido, arrepiando-a.
- Tenho… - confessou num fio de voz.
- Prepara-te… - disse, esboçando um sorriso torto nos lábios.
De seguida pressionou a boca dele contra a de Hermione, deixando a sua língua entrar na boca dela. Hermione tentou debater-se, ele não podia fazê-la sentir aquilo tudo novamente. Com a respiração ofegante bateu com as mãos no peito dele, queria que ele a soltasse. Mas Draco continuou a beijá-la com alguma brusquidão. Hermione não conseguiu resistir e deixou aprofundar aquele beijo. Beijaram-se intensamente, as mãos de Hermione passeavam na nuca de Draco e este agarrava-lhe na cintura de forma possessiva. Quando se largaram Hermione estremeceu com a ideia de Draco fugir novamente. O loiro fitou-a ainda com um sorriso inesperado nos lábios.
- Amanhã à mesma hora no mesmo local, Granger. Mesmo que não tenha mais novidades… - a voz dele estava rouca.
Hermione sorriu e percebeu o que Draco queria dizer. E vê-lo sair da torre não lhe trouxe a mesma angustia que da última vez. Sabia que ele voltaria com mais um daqueles deliciosos beijos. Iria tê-lo para ela novamente. Novamente, novamente. E novamente.
