Sinopse: Ela, espiã contra Voldemort. Ele, Comensal da Morte. Draco Malfoy tem a missão de se aproximar, se mostrar confiável e depois disso terminar o serviço matando-a. Ele terá sucesso? O amor é algo para além do bem e do mal?
A fanfic contém spoillers de Harry Potter e a Ordem da Fênix, mas acho que se você não leu o livro não vai encontrar nenhuma revelação bombástica, pode ler assim mesmo.
Para Além do Bem e do Mal
Prólogo
"Há sentimentos antigos, dentro de nós, que não perdem a sua força, que não se deixam aniquilar pelo tempo e pelos acontecimentos; estão apenas reclinados como em cadeiras invisíveis, numa obscura sala de espera. Por serem tão antigos e anônimos, tão inativos como se não existissem. Mas, de repente, acordam, levantam-se dos seus lugares, ascendem as luzes, fazem-se tão vivos e presentes que não resistimos ao seu poder e docilmente nos submetemos às revisões da memória e à sua crítica".
Acontecia mais um pôr-do-sol solitário na famosa Veneza. Ele detestava vê-los, mas hoje teve uma necessidade quase física de sentar-se na varanda de sua suíte no hotel e observá-lo. O pôr-do-sol sempre trazia-lhe boas lembranças, triste lembranças, no entanto, às vezes não resistia ao poder de atração que o astro sol exercia sobre ele.
Um homem louro, na faixa dos trinta anos, bem vestido, acomodava-se em uma poltrona confortável. Tinha o olhar perdido e segurava a varinha, girando-a no ar de tempos em tempo.
Não havia tomado a decisão certa quando comprou esse hotel. Era pior estar sempre perto das lembranças, a dor sempre o acometia quando olhava para o jardim, para os arredores e até para o próprio quarto. Tudo naquele hotel lembrava a época mais feliz de sua vida, algo que ele sabia que não voltaria jamais. Por sua culpa não voltaria... Ele tinha estragado tudo com seu orgulho...
Fechou os olhos e soltou um suspiro resignado.
Pelo menos ali estava a salvo de vê-la. Estava longe dela e de todos que a conheciam, e que também o conheciam, ali era apenas o "Signore Malfoy", dono de um simples hotel de frente aos canais de Veneza. Poucos se hospedavam no hotel, principalmente porque parte da entrada dele estava afundando, assim como a cidade que afundava a cada ano... Como ele afundava... Não precisava de hóspedes, não precisava nem do hotel, tinha dinheiro o suficiente para manter-se até o fim da vida, que inclusive parecia muito distante, seria para sofrer mais que o fim se distanciava?
"Mas eu mereço sofrer, mereço ficar sozinho, mereço viver apenas na memória. Eu fiz tudo errado mesmo! Agora ela está longe... do outro lado do oceano e nunca mais a verei. O que fiz não tem perdão".
Imagens dela vinham à sua mente. Primeiro lembrava-se de cada detalhe do rosto, o sorriso que ele demorou a conhecer e iluminava tudo ao seu redor, o nariz meio arrebitado e com algumas sardas... Sardas! Elas eram a pista que ele não seguiu... Os olhos azuis e os cabelos pretos, que logo depois ele soube que não eram os verdadeiros dela, mas eram os que ele conhecia... Na verdade os olhos de quem ele amava eram castanhos e os cabelos ruivos, e foi justamente isso que estragou tudo...
Reabriu os olhos e percebeu que o sol já tinha se escondido atrás das outras casas, restava apenas a sua luminosidade, e o céu, completamente alaranjado. Abaixou os olhos e viu o canal, quase sempre calmo, que ficava em frente ao hotel. Percebeu que vinha uma gôndola em direção ao hotel, mentalmente xingou quem quer que fosse que estava dentro do barco. Ele não queria hóspedes! Já tinha dois, que eram espaçosos o suficiente... Na verdade, espaçosos demais! Justamente um casal de trouxas em Lua-de-mel em seu hotel! Observando-os, no dia anterior, teve certeza que trouxas e bruxos agiam muito parecidos quando apaixonados, e aquele casal era meloso o suficiente para que Draco nunca mais quisesse vê-los em sua frente. Olhando a gôndola mais de perto agradeceu por não ser um casal que nela estava, mas sim uma mulher e duas crianças, não pode distinguir melhor porque a luz já era escassa.
Torcia para que a gôndola passasse direto pela entrada do hotel. Havia tantos melhores do que o dele para se hospedarem. De propósito ele não oferecia o melhor serviço a seus hóspedes. Queria que eles fossem e não voltassem mais. Só mantinha os serviços básicos, sem mordomias.
Entretanto, para sua decepção, o barco parou justamente na entrada do hotel. A mulher desceu, e com ajuda do gondoleiro, desceu uma garota e um menino. Os três caminharam em direção à porta de entrada, e a luz dos trouxas, a energia elétrica, iluminou bem a todos.
Draco ficou paralisado em sua poltrona. Não podia acreditar no que seus olhos viam. A mulher que estava em frente ao hotel era ela.
~***~
-Mamãe, nós vamos ficar aqui? - um garotinho moreno com olhos extremamente verdes puxava a mão de sua mãe e olhava maravilhado tudo à sua volta.
-Vamos sim, Brad. - uma mulher ruiva respondeu olhando suavemente para ele.
Ela suspirou e olhou a fachada do prédio. Aquele lugar trazia tantas recordações, os melhores e o pior dia de sua vida tinham se passado ali, naquele hotel trouxa. Não entendia o porquê de ter resolvido se hospedar justamente ali, durante a viagem que fazia à Europa, mas era uma intuição e Gina Weasley normalmente seguia sua intuição, às vezes que não tinha seguido-a, arrependeu-se.
"O que estou fazendo aqui?!!"
-A senhora não vai entrar? - o bellboy do hotel a tirou de seus pensamentos, carregando as malas e olhando espantado para ela.
-Claro! Desculpe. - disse a ele sacudindo a cabeça. -Vamos, Milla. - ela se referia à garota que descera da gôndola com ela.
-Que hotel sem graça, mãe... - Milla respodeu observando o pequeno salão de entrada mal decorado.
-Ele é simples, qual o problema? - Gina detestava quando sua filha começava a agir como a garota mimada que era. -Olha, sente-se ali com seu irmão enquanto eu preencho os papéis do hotel. - disse apontando sofás cinzas que ficavam no canto mais extremo do salão. Diante da expressão decepcionada da filha complementou: -Nós vamos ficar aqui só por hoje, está bem?
-Tá! Vamos Brad. - a garota, de uns dez anos sorriu, virou-se e deu a mão ao irmão, mais novo e o levou.
-Buona sierra. Quantos quartos a senhora deseja? - o homem da recepção disse com uma falsa alegria. -Temos quase todos disponíveis!
~***~
Após uns segundos de paralisia momentânea, Draco conseguiu sair da poltrona e rapidamente desceu às escadas em direção ao hall de entrada do hotel. Espreitou-se pela parede e observou bem a mulher que agora estava no balcão falando com o funcionário.
"Só pode ser ela... Ruiva, quase minha idade, move-se com audácia... E olha como ela faz com as mãos! É ela!"
Ele tinha certeza que era a Weasley que estava em seu hotel, os modos eram os da pessoa que ele conhecia.
"Com certeza é ela... E ainda trouxe os filhinhos dos Potter". - pensou rancoroso ao observar Brad, uma cópia em miniatura de Harry Potter. "Mas... Espera!" - Experimentou novamente a sensação de paralisia ao ver Milla ao lado de Brad. "Não posso acreditar... Ela não me disse!"
O mundinho no qual Draco vivia virou-se de cabeça para baixo. Tudo o que ele tinha feito de errado parecia, agora, mil vezes mais errado. A garota tinha exatamente a idade necessária para ser... "Minha filha, só pode ser. Tem uns dez anos, cabelos da cor dos meus..."
Não sabia se devia ou não falar com Virgínia agora. A fúria tomava conta de si. Tinha raiva de si mesmo, mas também, tinha raiva dela.
~***~
-Certo, senhora. Aqui está a chave. Aproveite a estadia nessa cidade magnífica. - o homem entregou-lhe a chave do quarto e Gina se virou, caminhando até as crianças.
-Vamos! Amanhã conheceremos Veneza! Por agora vamos descansar porque a viagem foi um tanto longa. - ela disse e segurou a mão de Brad.
O bellboy os guiou até o quarto que se hospedariam, no primeiro andar. Gina tinha a velha sensação de que alguém a vigiava, mas olhando bem ao redor não encontrou ninguém.
"Isso é apenas hábito, ninguém está te espionando..." - pensou para si mesma enquanto trancava a porta do quarto.
Arrumou as malas em um canto e mandou que cada um fosse tomar um banho para descansar melhor. Ficou grata por ambos já serem grandes o suficiente para tomar banho sozinhos.
Tentou pedir comida pelo telefone do hotel, mas eles não possuíam serviço de quarto, então ela mesma providenciou tudo com um pouco de mágica da varinha. Milla e Brad comeram com gosto e meia hora depois dormiam como dois anjinhos em uma das camas. Para ela, eles eram o que tinha de mais valioso.
Deitou-se um pouco depois e tentou dormir, mas quem disse que o sono veio?
Levantou e ficou admirando a vista que tinha da cidade pela janela. Veneza era mesmo encantadora. E o que a cidade tinha de linda, tinha de triste para ela. Fazia muito calor, então resolveu descer a aproveitar a brisa que batia no jardim do hotel.
Sentou-se em uma cadeira à beira da piscina e ficou pensando. Quando esteve ali pela primeira vez jamais imaginou que voltaria tão diferente.
-Weasley?! - aquela voz ela reconheceria em qualquer situação.
~***~
Draco a seguiu até o quarto, e ficou por ali, esperando que ela saísse. Precisava falar com ela de qualquer maneira. Ele desejava não precisar fazer isso, mas queria confirmar a dúvida que o torturava, aquela garota só poderia ser sua filha. Por que ela não havia dito nada a ele? "Por quê?! Só porque você a maltratou e abandonou justamente quando ela mais precisou!" A culpa o atormentava mais e mais.
Finalmente observou-a saindo do quarto e indo em direção aos jardins do hotel. A seguiu cuidadosamente e criou coragem para se aproximar.
Tinha que parecer bem. Devia demonstrar que estava muito feliz nesses últimos anos, que não sentia a menor falta dela, assim como não se arrependia do que tinha feito, mesmo que fosse a maior mentira do mundo, já que sentia exatamente contrário.
Durante dez anos tentou fingir que não estava nem um pouco abalado com o que tinha acontecido, tentou pensar que o único sentimento que possuía era a raiva, assim como o rancor por ter sido enganado por ela, mas sabia que não era só isso. Ele a amava, e esse sentimento só tornou tudo pior.
Ela observava concentrada a água da piscina, e ele achou que era o momento para se aproximar. Sorrateiramente se sentou na cadeira ao lado da dela, que nem percebeu.
-Weasley?! - disse tentando parecer espantado por encontrá-la ali.
~***~
-Malfoy?! - Gina respondeu virando-se para a cadeira ao lado da sua e encontrando quem menos esperava.
Surpreendeu-se inundada por vários sentimentos contraditórios ao mesmo tempo. Raiva e carinho, incredibilidade e a sensação de que tinha certeza que o encontraria ali. Observando-o melhor, chegou à conclusão que ele continuava muito bonito, indiscutivelmente lindo, esse fora um dos motivos que fizera com que ela acabasse caindo nas garras dele. Os anos não tinham feito nenhum mal ao rosto de Draco, pelo contrário, agora ele não tinha mais a carinha de bebe que ela conheceu, mas sim um rosto de homem maduro. O olhar astuto e desafiador continuava exatamente igual ao que ela estava habituada, e a cor acinzentada ainda dava um aspecto frio a ele. Os cabelos agora estavam mais curtos, e continuavam da cor louro claríssimo que agora ela observava todos os dias nos cachos de Milla.
Vendo-a mais de perto Draco chegou à conclusão que a achava mais linda agora do que antes. Certamente ela ficava mais charmosa ruiva do que morena, mesmo que isso implicasse na lembrança de que ela era uma Weasley. As sardas que antes cobriam todo o nariz dela agora eram poucas que restavam, a não ser nos ombros, Draco reparou que os ombros dela continuavam salpicados por muitas sardas. Os olhos continuavam carregados de orgulho e um brilho intenso, mas agora dava para notar uma certa tristeza neles, uma tristeza que ele sabia que era culpado.
-Como vai? - "Que pergunta mais idiota para se fazer numa hora dessas, Draco!"
-Muitíssimo bem! E você? - Gina respondeu rancorosa olhando novamente para as águas da piscina.
-Acho que não tão bem como você. - ele respondeu, nem acreditando que dizia a verdade.
-Jura? Realmente, agora com a queda do seu amado Lord, o que restou? - respondeu irônica o encarando novamente. "Como ele ainda ousa dirigir a palavra a mim depois de tudo o que fez?"
-Restou esse hotel maravilhoso. E uma vida quase de trouxa. - ele respondeu sustentando o olhar para ela.
-Esse hotel é seu? - por essa ela não esperava.
-Sim, eu comprei e passei a viver aqui, há uns quatro anos. - ele respondeu com uma expressão indecifrável no rosto.
-Por quê? - a curiosidade dela era maior do que o orgulho.
-Você quer a verdade? - estar na frente dela novamente fez com que a vontade de abraçá-la como antes voltasse mais forte do que nunca poderia imaginar.
-Quero. - Gina achava toda essa história muito estranha.
-Comprei esse hotel na esperança que um dia você voltaria, relembrando tudo de bom que nós passamos aqui. Nesse mesmo lugar. - ele respondeu, agora olhando a piscina, fugindo dos olhos dela.
-Voltei. Mas nem todas as lembranças desse lugar são boas. - ela respondeu com um ressentimento na voz.
-É sobre isso que quero falar com você. - encarou-a com coragem. -Vi quando você chegou. Estava acompanhada por duas crianças. O garoto eu pude perceber que é filho do Potter, mas a menina definitivamente não tem nada dele. Ela é uma Malfoy.
-E se eu disser que infelizmente ela é. Isso mudaria alguma coisa? - Gina levantou-se e ficou de costas para ele, com os braços cruzados.
-Mudaria, sim! Por que você nunca me contou? - ele se levantou e segurou o braço dela.
Gina puxou o braço com força e olhou magoada para ele. Lágrimas já estavam nos seus olhos quando ela se afastou.
-Por quê?! E você ainda pergunta! - ela suspirou e continuou -Talvez porque você não merecesse saber! Talvez porque o que você fez não tem perdão! Talvez porque se não fosse o Harry, você não estaria me vendo aqui agora e sua filha não estaria viva!
Gina respondeu e saiu correndo, subiu as escadas do prédio e trancou-se no quarto. Não queria discutir com ele todo o passado agora. Ouviu-o gritando enquanto ia para o quarto, mas não parou para continuar a conversar. No dia seguinte iria embora antes que ele percebesse.
Draco não entendeu bem a resposta de Gina à sua pergunta, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa ela já estava longe. Sabia que o que tinha feito era errado, e conhecendo-a como conhecia, sabia que ela não o perdoaria facilmente, mas o que ela disse a respeito do Potter ele não tinha compreendido, algo que ele não sabia totalmente tinha acontecido. E certamente era algo relacionado com a morte de Lúcio Malfoy em um desses quartos de hotel.
Agora a única coisa que tinha certeza era que a garota era mesmo sua filha... Uma filha, fruto de algo tão bonito como seu amor por Gina Weasley, algo que ele jamais tinha imaginado que poderia acontecer, ainda mais da maneira que aconteceu...
Draco sentou-se novamente na cadeira perto da piscina e passou a lembrar de como tinham se conhecido e se apaixonado.
N.A.: Bom, tá aqui o comecinho de mais uma fic! Faz tempo que eu estou fazendo propaganda dela, né?! Espero que vocês gostem, sei que essa fic não será tão lida quanto Eu nunca fui beijada, mas eu vou fazer o máximo para que vocês curtam essa história também. Ah, só para avisar, eu estou sem responder e-mails ultimamente porque estava com o pc quebrado e ainda sem net, mas vou responder os mails, tá? Não pensem que me esqueci de vocês ^^
O trecho entre aspas lá em cima é da Cecília Meireles, não fui eu que escrevi, quando me deparei com ele em uma aula de português no ano passado logo vi que era perfeito p/ eu colocar no prólogo dessa fic! Então os agradecimentos desse prólogo vão p/ o Victor Ichijouji, que me agüentou fazendo ele lê-lo umas 500 vezes, a Jaqueline Granger que também me aturou falando da idéia dessa fic desde o começo, a Nessa minha beta querida que me ajudou com o italiano... (a gente tentou, né?!), a M^_^l@ (é essa Milla fica em homenagem a você, miga), a Lisa que tá sempre perguntando da fic (êêê! Finalmente saiu, né?!), a Má Silvered que ouviu a história inteira no msn messenger (que paciência! Ah, leiam a fic dela Fugindo de Verdades que tá muito legal) e também a minha professora de português que me apresentou a esse trecho da Cecília (e com isso fez com que eu me interessasse pelo poemas dela) e a minha professora de PHC (problemas do homem contemporâneo, uma matéria nada a ver que nós temos na Unisantos) por dar uma aula tão chata q me fez escrever o esquema todinho da fic... enquanto ela falava, falava, eu fiz algo mais útil (ih, que mau exemplo ^_^').
Não tenho jeito, olha o tamanho da NA... Bom, valeu! Leiam o capítulo 1!!!
