First Love

Autora: Bianca Tanaka –TAKA-

Idéia: J-music, Gazette.

Casal: Reita x Ruki / Aoi x Uruha

Genero: Yaoi/Lemon

Epílogo:

A banda se mantém na linda Kanagawa, cidade natal de Ruki, Reita e Uruha, a fins de fazerem um show que fosse perfeito. Porém eles têm uma semana e meia de ensaios e preparativos, tempo mais que suficiente para poderem andar e verem as novidades da cidade, assim como também mostra-la para Aoi e Kai, do qual não conheciam direito.

E ainda tinham que decidir que repertório utilizariam para o grande show na cidade onde, inicialmente, a banda nasceu.

Capítulo 1: Descompassados.

A manhã parecia mais caseira, isso aos olhos dos três nativos da cidade. O vento fresco batia na janela pedindo passagem para que pudesse mais uma vez tocar naqueles rostos então tão conhecidos. Os raios de sol, mesmo que fracos, adentravam na casa por todas as janelas da frente e a porta lateral da cozinha. Era lindo a vista que tinham. Praticamente uma casa de campo. Haviam escolhido algo um pouco mais longe da cidade, do centro, para poderem ter paz e sossego.

Aos poucos, um por um estava levantando. Primeiramente o jovem guitarrista, que sempre adorava aproveitar a vida. Na cidade natal então, sentia-se revigorado e jovem.

Atravessou a cozinha e parou em frente a pia, onde apoiou o corpo nos dois braços, inclinando-se levemente para frente, onde podia ver, pela janela, um extenso gramado com pedras, flores, e duas árvores fazendo uma deliciosa sombra. Pensava em colocar uma cadeira reclinável por ali e dormir, mas certamente essa idéia seria boa quando a tarde caísse.

Não resistiu em abrir a janela para sentir o cheiro que o vento frio da manhã trazia. A sentir o mesmo batendo em seus fios, agora dourados, estremeceu levemente, alargando o sorriso.

-Vai acabar se resfriando.-avisava uma voz, meio em deboche, fazendo Uruha virar para trás.

-Que nada.-ele sorriu e deu um pulo para subir na pia e sentar-se, olhando para trás.-Me lembra... sabe aquela sensação de estar em casa?-perguntou, balançando levemente as pernas.

-Sei...-Ruki suspirou, passando uma mão nos cabelos, também loiros, porém num tom mais claro que do amigo.-Me sinto jovem novamente.-comentou, alterando um pouco a voz para algo mais alegre e empolgado.

-Me sinto acabado...

Pela escada descia um Reita descabelado e desarrumado. Usava o calção de boxe que vestia para dormir de cor vermelha e uma blusa preta que sempre colocava quando acordava e a mesma caía levemente, deixando boa parte do ombro para fora. A franja que caía no olho esquerdo atualmente estava longa, mas mal parecia, pois estava todo descabelado.

O baixista foi se apoiando pelo corrimão até chegar à sala e então entrar na cozinha. Melhor, teria entrado se o mesmo não tivesse tombado no batente da porta e ficar ali, encostado.

-Acabado?-perguntou Uruha com uma sobrancelha erguida, curioso.

-... é como estar em casa.-resmungou baixo, levantando a cabeça um pouco e mostrando seus olhos negros um tanto quanto assustadores.

-Ah...hehehe.-Ruki deu algumas risadas do amigo.-As manhãs na sua casa nunca eram boas.-comentou se lembrando que uma vez passara o dia na casa do amigo, e este fazia trabalhos domésticos pesados por ser o único homem da casa.

-Hum... isso se reflete hoje. Que desagradável.-comentou Uruha dando uma leve risada do estado físico e mental do baixista.

Reita caminhou meio sem rumo até a geladeira e puxou uma caixa de leite. Depois foi até o armário e pegou um copo e depois uma colher para poder misturar a vitamina que sempre tomava pela manhã, assim como as pílulas.

-Já tentou parar de tomar isso?-perguntava Ruki apoiando a cabeça na palma da mão e olhando o amigo.

-Não.-respondeu, olhando-o com o canto dos olhos. Só Deus sabia o quanto Reita se importava em deixar o corpo ainda mais forte. Queria cada vez mais força e massa.

-Você já não...-Uruha levantou seu próprio braço e o forçou, mostrando a considerável força que tinha no mesmo. Não era muito, mas também não era pouco.-Já ta bem fortinho, Kira-chan.

-Vai acabar ficando igual aqueles caras bombados, largos e quando suam...-Ruki até tremeu de desgosto em se lembrar de uma luta que vira na televisão.-Urg!-ele se levantou quase tendo um tique.-Que horror!-ele andou até a geladeira dando risada e pegou alguma fruta, tomando novamente seu lugar.

-...-Os olhos de Uruha pararam para pensar. Tirou calmamente os óculos e, de repente, o guitarrista saltou da pia e começou a se benzer.

-... que foi?-Reita arriscou uma pergunta, arqueando a sobrancelha e virando o copo de leite após engolir a pílula.

-Imaginei você bombado, largo e suado.-respondeu abrindo o armário e dele tirando a panela de arroz japonês.

-...

-HahAHaHahhaHahahhaAha!-Ruki agachou para rir e segurar o pedaço de maçã entre os dentes para que a mesma não saísse voando da boca.

-Vocês me cansam.-resmungou Reita deixando o copo na pia e tomando rumo à sala de televisão.

Os dois que se mantinham na cozinha seguraram os risos, pois a cena de um Reita bombado, largo e suado ainda estava em suas mentes. Tinham que admitir, era hilário.

Uruha andava de um lado a outro preparando o arroz da manhã, enquanto que Ruki o ajudava nos condimentos como ovos, pepinos e uma carne leve.

Quando começava a dar por volta das dez da manhã, pelas escadas descia Kai bem arrumado e disposto. Passou pela sala e viu Reita embrulhado numa coberta e vendo atentamente a TV. Piscou algumas vezes e continuou a andar até a cozinha ao avistar os dois amigos mexendo nas palenas.

-Bom dia!-falou sorridente, andando até o fogão onde estava Ruki, que mexia na frigideira.-Humm, parece bom!-comentou, sentindo o cheiro.

-Aha! Não é só você que sabe mexer no fogão.-disse o vocalista sorrindo e virando a omelete para então depositar na taboa.

-Deixa que eu enrolo.-avisou Kai lavando as mãos e indo até a taboa onde estava a omelete.

Os três continuaram a preparar o café da manhã, mesmo que meio tarde, até que Aoi finalmente acordou.

Nas escadas, o guitarrista descia no mesmo estado deplorável do baixista. Os cabelos de trás ficavam pra cima e a franja não tinha uma direção exata. O blusão branco ia até a coxa enquanto a calça moletom preta se arrastava pela casa enquanto andava.

-Bom dia...-cumprimentou Reita, levantando apenas a mão.

-Bom dia...-respondeu o outro no mesmo tom.

-Bom Dia, Aoi-san!-cumprimentou Kai passando pela cozinha com os condimentos prontos, e os depositando em cima da mesa.

-Bom dia, Aoi.-Ruki falou, enquanto arrumava os pratos, talheres e copos.

-Aoi-kun, bom dia!-e por fim Uruha, que brincava com a panela de arroz mexendo de lá para cá na comida.

-Bom Dia a todos...-respondeu, agora se arrastando até a mesa e sentando na primeira cadeira que viu.

Ao contrário de Reita, Aoi sempre acordava naquele estado. Nunca acordava disposto, e demorava cerca de meia hora para estar totalmente disperso. E nos dias que algum membro da banda tinha que acorda-lo! Era uma luta desgastante! Aoi praticamente não acordava sem ser um barulho extremamente alto. Era difícil acordar o guitarrista, muito difícil.

-Reita, vem comer!-chamou Uruha saltando da pia novamente e andando até o amigo enquanto ajeitava o casaco cinza.

-Ahan... tô indo.-falou olhando o guitarrista rapidamente e então o noticiário novamente.

Kai carregou a jarra de suco de laranja até o centro da mesa e o depositou com cuidado. Da última vez havia deixado escorregar e cair nos amigos, mas agora ele praticamente grudava na jarra. Após terminado, andou até uma cadeira e sentou-se na mesa redonda.

Logo, Uruha colocava uma grande quantia de arroz numa travessa para que todos pudessem se servir sem ter de se levantarem, e depositou o arroz ao lado dos condimentos, para então sentar-se ao lado de Aoi e Ruki.

Reita surgiu novamente pela porta da cozinha, agora mais apresentável, e andou até a cadeira entre Aoi e Kai e sentou-se, mas acorda não caía. Se ajeitou e a primeira coisa que fez foi servir-se de suco.

A turma comeu quase em total silêncio. Hora ou outra Kai e Uruha conversavam entre si, e as vezes Ruki era convidado a entrar na conversa. O trio as vezes comentavam coisas nada ver, mas com freqüência o assunto ia parar nos LIVES que já haviam feito.

-E a vez que o Aoi virou a bunda pro público e bateu na mão na bunda, lembram??-perguntava Kai caindo na gargalhada só de lembrar. Pois por ficar num nível acima dos amigos, conseguia ver muita coisa.

-AAAAAAHAHAHAHAHHAHA!! Foi hilário! Os fãs quase tiveram um treco!-comentou Uruha batendo a mão na mesa, fazendo a mesma pular.

-Er... foi empolgação.-defendeu-se Aoi sorrindo sem graça ajeitando o pircing da boca.

-Temos que lembrar que o Uruha fez algo semelhante, hehe.-Ruki deu uma risada maldosa, fazendo o guitarrista parar de fazer barulho.

-Hã... também foi empolgação!-ele defendeu-se balançando um dos braços, sem graça.

-Vocês dois vivem de empolgação!-Kai deu uma alta risada, apontando os dois guitarristas que se encararam e deram uma risada amarela.

-Bom... suas baquetas quase voaram um dia!-Uruha apontou o baterista, que parou para se lembrar.

-Huuum...-ele apoiou a cabeça numa mão e levou um pedaço de omelete à boca.-É que eu fui girar as baquetas... mas acabaram tomando outro rumo, hehe.-disse, levando uma mão atrás da cabeça.

-Então elas voaram...?-Uruha encarou o amigo, não se lembrava de tudo.

-Sim.-ele apontou Ruki, que estava quieto e tentando disfarçar.

-...-o jovem guitarrista parou para pensar, e quando o som da ficha caindo veio, ele praticamente se tacou em cima de Aoi enquanto ria.-Não acredito!! HAAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAAHHAHAHA!!!

-... doeu.-choramingou Ruki, para então dar uma risada, se juntando ao guitarrista.

-Bom, depois que eu vi o rumo que as baquetas tomaram, eu pulei em cima da caixa de som e peguei as reservas.-Kai começava gesticulando rápido, como se estivesse encenando aquele momento.

-Agora lembrando, o Kai tinha parado de tocar por alguns segundos.-lembrou-se Aoi, voltando de sua expressão pensativa enquanto empurrava Uruha para que sentasse direito.

-E o Ruki praticamente gemeu no meio de Zetsu.-riu Uruha abaixando a cabeça no meio das pernas e rindo mais ainda.

-Ei!-o vocalista virou-se para o amigo e depositou um soco no ombro do mesmo, que bateu a cabeça na mesa e voltou a sentar-se corretamente.

-Teve a vez que o Aoi mandou uma bundada no Reita!-Kai quis cair da cadeira ao se lembrar da cena.-Aoi, você tem alguma admiração pela sua... hã... parte de trás??

-OW!-ele soltou uma risada sem graça.-Aquilo foi... bom, o Reita tava tão quieto e concentrado tocando, que me senti atiçado a jogar ele.-argumentou Aoi, levando uma mão a cara e rindo, lembrando-se.

-Você quase me fez errar!-Reita entrou na conversa, agora um pouco mais empolgado.

-Mas você foi longe.-comentou Uruha ficando já sem ar de rir.

-Eu dei o troco!-Reita dava risadas, pois realmente havia dado o troco, e um pouco mais.

-É verdade...-Aoi parou e pensou.-...eu praticamente atravessei o palco em uma perna.-e começou a rir, sem parar.

-Eu achei que você ia cair naquela hora!-falou Ruki, escondendo a cara para rir.

-HahHAhAHahAHHHAHAhhahHAHAhahAHhahahahaHAh!!

A turma se alimentou conforme relembravam os acontecimentos em palco. Pareciam realmente distraídos durante todo o café da manhã, o que acabou rendendo até o almoço.

De tarde, cada um tomava seu rumo dentro da casa. Kai ficara na cozinha preparando um bolo típico de aniversário. Uruha, como planejou, levou uma cadeira e um livro e ficou embaixo da árvore maior. Vez ou outra rezava para uma fruta não cair em sua cabeça, mas chegara ao ponto de não mais ligar quando Aoi apareceu com uma cadeira e o violão nas costas. O som do violão que Aoi fazia era tão relaxante que Uruha parava de ler para ficar pensativo.

-Vai dormir?-a voz calma e cheia de respeito que Aoi emanava chegava, as vezes, a dar um pouco de susto. Quando o guitarrista queria ficava muito sério, mas também dava total segurança para aqueles quatro jovens desembestados.

-Hã... ah!-o mais jovem tratou de se ajeitar na cadeira e cruzar as pernas, puxando o livro à frente do rosto.-Eu não, pode continuar tocando.-falou entre tossidas, desviando brevemente os olhos para o guitarrista mais velho.

-Hn...-Aoi sorriu de canto e voltou a olhar para as cordas e a mão, assim fazendo aquele som gostoso novamente.

Em meio a tantos acordes e notas, uma melodia era conhecida. A introdução de Cassis. Aoi não podia evitar tocar aquela introdução, achava tão bela. E achava que naquela paisagem, naquele local, daquele jeito, era perfeito... e Uruha precisou realmente parar de ler e observar as mãos do amigo tocar, melhor, acariciar, as cordas do instrumento.

-Ah.-ele levantou a cabeça e topou-se com um Uruha atencioso e perdido.-Uruha?

-...EU!-gritou, saltando da cadeira e jogando o livro no chão.-Pára de me assustar assim, Aoi!-reclamou se levantando e indo nas raízes da árvore, pegando seu precioso livro de possíveis 100 páginas ou menos.

-Não foi minha culpa.-ele retrucou, descruzando e cruzando novamente as pernas, pousando o violão no mesmo lugar.-Você fica perdido, você pára de se mexer... se parar de respirar não vou ficar surpreso.-disse entre risos, voltando a olhar as cordas do instrumento.

-Sem graça.-resmungou fazendo bico e voltando a sentar-se em sua cadeira.-Você ia me falar algo antes de me assustar?-perguntou enquanto procurava a página que estava.

-Eu ia...-ele parou de tocar pousando a palma da mão nas cordas.-... você reclamando me fez esquecer...-ele virou o rosto para o lado direito, pensando.

-Hãã...-ele revirou os olhos e os pousou novamente no livro, rindo de canto.-Quando você lembrar, me chama.-disse entre risos, pousando uma mão em cima do abdômen.

-Tá.-respondeu, dando risada e voltando a tocar com calma alguma melodia que não havia passado para papel.

Dentro da casa, Reita estava mais apresentável. Vestia uma calça larga de tecido leve preta e uma regata da mesma cor colada no corpo. Em cada punho estava com munhequeiras e uma corrente simples, nada chamativo. Deixara o cabelo abaixado mesmo, porém agora estava dividido como sempre estivera.

Decidiu então passar na cozinha perturbar o baterista. Revigorado, não tinha coisa melhor do que aprontar um pouco. Andou em passos leves e silenciosos e olhou rapidamente em que posição se encontrava o amigo. Sorriu de orelha a orelha ao ver que o mesmo estava de costas, mexendo na panela de arroz. Provavelmente fazendo o famoso oniguiri.

Se aproximou como um gato e olhou rapidamente se ele carregava algo cortante. Seria catastrófico se no susto Kai virasse o instrumento em sua cara ou então se cortasse. Respirou fundo e agachou um pouco e preparou as mãos na cintura do amigo e---

-Reita?

-AAAAAAAAAAAAHHHHHHH!!!!

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!

O próprio baixista saltou com seu nome sendo chamado na porta da cozinha. Mesmo pulando, teve tempo suficiente de agarrar a cintura de Kai e o sacudir, fazendo-o gritar igualmente de susto.

Ao fim, Reita pousou a cabeça nas costas do amigo e respirou fundo, tentando ver que diabos de erro cometera na brincadeira, enquanto que Kai levara ambas as mãos no coração, tentando fazer a respiração voltar ao ritmo normal.

-...? O que vocês...?-Ruki ficou olhando aquela cena enquanto segurava os risos.

-...Ruki, é você...-falou Kai olhando para a porta, ainda bufando. E então ele olhou para baixo e viu Reita ainda grudado em sua cintura.-...Reita?

-Que é?-resmungou, levantando a cabeça e respirando pesado.

-Você está me abraçando?-perguntou Kai, dando uma risadinha de deboche até que sentiu-se solto.

-Eu não!-o baixista se afastou do baterista e apoiou as mãos na pia, dando uma última respirada funda.-Até parece...-ele voltou-se para a porta e encarou Ruki.-E você, porque tinha que me chamar??-perguntou balançando os braços e dando algumas risadas.

-Hã... é que eu achei estranho.-falou Ruki virando de perfil e dando uma risada de canto.-Vocês dois, se abraçando e tudo mais...-ele piscou para o baixista e andou até a geladeira, pegando água.-Daí não acreditei que era você.-e assim sentou-se numa das cinco cadeiras, cruzando as pernas e alcançando um copo.

-Engraçado.-resmungou Reita andando até a cadeira ao lado do vocalista e sentando-se, olhando para a porta da cozinha que dava para fora.-E cadê aqueles dois?-perguntou, sentindo a ausência dos dois guitarristas.

-Desde tarde que eles estão lá fora conversando.-comentou Kai limpando as mãos de arroz e olhando a travessa de vidro cheia de oniguiris.

-Ah ta...-Reita passou os olhos para uma travessa coberta por um pano que descansava em cima do fogão, e então pousou numa estante grande. Levantou-se e pegou um copo, abriu o armário e tirou de lá uma garrafa de sua bebida favorita, Lifeguard.

-Vai beber?-perguntou Ruki olhando-o de canto.-Aproveita e ascende um cigarro, quem sabe você explode.-disse, levantando-se com um copo de água e indo até a sala.

O som da TV sendo ligada pôde ser ouvida da cozinha, e o som estava um tanto quanto alto.

-O que ele tem?-perguntou Reita depositando a garrafa de Lifeguard na mesa e bebendo um pouco da mesma, olhando assim o baterista.

-Hum...-Kai olhou para cima, andou um pouco para trás e apoiou o corpo na pia.-Ele só ta preocupado com você... vindo dele, por você, não me é surpresa.-disse, curvando os ombros pra cima e sorrindo.

-...que exagero.-resmungou Reita virando todo o copo e encostando-se totalmente na cadeira, inclinando-a um pouco para trás.

-Hehehe.-Kai soltou uma risada abafada e voltou a mexer em suas comidas que serviria logo com o cair da noite.

E assim a brisa do cair da tarde misturada com o alaranjado do sol vinha a tona. Era uma imagem linda de se ver. Tão linda, que o vocalista aproveitava para ficar na sacada de seu quarto para fotografar algumas cenas e imagens. Assim como também não pôde deixar de ver os dois amigos conversando debaixo da árvore.

-Olha, o Ruki.-Uruha parou a conversa de repente e acenou para o amigo, sorrindo.

-Sério?-Aoi virou-se para trás e avistou o vocalista, logo então acenando.-Ele está filmando?-perguntou, engolindo um seco.

-Está... porque?-o mais jovem segurou-se para não cair na risada. Sabia do medo e horror a câmeras que o outro tinha.-É apenas o Ruki, fica calmo.-disse, agora dando uma risada.

-Eu sei.-nisso o guitarrista virou-se novamente para frente, voltando a se concentrar no violão.

-Então!-ele se ajeitou na cadeira novamente.-Se você fosse puxado por um monte de fãs e sufocado?

-Gritaria.-respondeu, sem tirar a atenção das cordas do violão, dando uma risada no final.

-Hilário.-Uruha virou a cara e soltou uma risada.

-Se você caísse do palco?-Aoi continuava sem tirar a atenção do que fazia.

-Hum...-o mais novo revirou os olhos, pensativo.-Eu acho que ia ficar estirado no chão.-disse, logo dando uma alta risada só de imaginar a cena.

-Como em filmes de comédia e terror?-perguntou Aoi, sorrindo de canto imaginando o contorno branco no amigo.

-Hãããã, pode ser!-ele cruzou as pernas e levou ambas as mãos para trás, rindo.-E se eu tivesse te beijado naquele show?

Na mesma hora o violão parou. Não que fosse algo tão chocante mas... Não. Era realmente chocante. Desde quando Uruha tocava naquele tipo de assunto? Certo que a conversa era a de possibilidades, mas aquele tipo de assunto era... como dizer... constrangedor? Tanto que no show Aoi acabou por levantar a cabeça para que tal coisa não acontecesse.

O mais velho arqueou uma sobrancelha enquanto levantava a cabeça para encarar o mais novo, que ainda mantinha aquele sorriso largo, possivelmente de deboche.

-Você não presta.-retrucou o outro, balançando a cabeça negativamente.

Uruha apenas tratou de rir do comentário e virar a cara para o lado oposto do amigo, soltando um leve suspiro e olhando para os lados. Nem ele mesmo acreditava no que havia perguntado. Teria sido... empolgação? Maldita seja, sempre aprontando com ele.

-Certo, melhor: E se VOCÊ tivesse caído quando o Reita te deu aquela bundada?-falou, tentando ajeitar a situação.

-... teria sido dolorido...-comentou baixo só de pensar.-Primeiro, ergueria a guitarra pra não quebrar. O que acontecer depois, aconteceu.-ele riu.-Mas claro que levantaria, em vez de ficar morto no chão.

-Me chamou de morto?

-Não...

-Dão...-Uruha o imitou no mesmo instante. Sempre achou o sotaque do outro guitarrista um fato do que se rir.

-Não é assim que eu falo!-Aoi levantou o rosto, parando de tocar e rindo sem graça.

-É sim! É pior ainda!-ele saltou da cadeira para não levar qualquer tipo de soco.-Dãããã, dã, dã, dã, dã!-e para completar, fazia algum tipo de cara de bobo.

-EI!!-o guitarrista deixou o violão no chão e se levantou.-Eu não...!-e se aproximou mais.-Não faça essa cara de retardado!!-dizia, dando risada.

-IIII, ta estressado.-Uruha andou um pouco mais para trás, com ambas as mãos estendidas para manter qualquer distância.

-Eu não tô estressado!-falava, levantando ambas as mãos para pegar os punhos do amigo.

-Você fica estressado com tanta freqüência que nem percebe quando você está estressado.-dizia, cutucando ainda mais o amigo.

-Você me deixa estressado!-reclamou pulando em cima de Uruha.

Os dois rolaram alguns segundos na tentativa de quem desarrumava mais o outro. Aoi chacoalhava tanto o outro que nem mais direção o mais novo via, ficando totalmente descabelado.

-AHHHH, chega, chega!-pedia Uruha tentando enxergar algo além de borrões.-Pinico!

-...-Aoi parou no mesmo instante em que escutou a última palavra.-Pi...nico...?-repetiu, não acreditando que Uruha havia dito aquilo.-Você disse Pinico!??!?

-... eu disse...-respondeu o outro tentando se encontrar, totalmente zonzo.

-AAAAAAAAAAAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!

O mais velho desabou, caindo um pouco mais para o lado em cima de Uruha. Para falar a verdade, a quanto tempo não escutava o outro pedir "pinico" desde que iniciaram a banda? Lembrava-se até hoje que fora quando se conheceram, numa pequena briga em que Aoi subira em Uruha e puxara sua perna bem alto, e quando o outro falara a palavra mágica, o guitarrista mais velho praticamente perdeu o ar de rir.

-Aoi??-o loiro ajeitou a franja e olhou para o lado e encontrou o moreno caído, saindo agora de cima do mesmo e deitando ao lado ainda meio que encurvado com as mãos na barriga.

-Ah, ai, ai...-ele respirou fundo e ficou olhando por algum tempo o céu, maravilhando aquele tom de sangue.-Fala...-disse, soltando todo o ar e pousando ambas as mãos em cima do abdômen.

-Nada, só verificando se você está vivo.-falou dando uma risada e olhando pra cima, na mesma direção que o outro olhava.-Você teve a mesma crise quando a gente se conheceu!-comentou, dando novamente uma risada.

-Ah... é verdade.-confirmou respirando novamente um pouco mais fundo.-A gente tinha começado meio de perna esquerda.

-Literalmente.-retrucou o outro olhando o guitarrista com o canto dos olhos.

-...bom! Nem lembro porque eu puxei a sua perna... mas foi engraçado.-ele fechou um pouco os olhos.-Sua cara era hilária! Os gritos... e ainda, no intervalo do LIVE.

-Haha...-Uruha revirou os olhos e levou ambas as mãos para cima da cabeça, pousando apenas um braço em cima dos olhos.-Você tinha ficado estressado, como sempre.-o garoto soltou uma leve risada.-Não entendo porque comigo você sempre vem pra me bater!-reclamou, tirando o braço da frente do rosto.

Assim que olhou para cima, avistou o moreno o encarando. Mal via o rosto do amigo devido as mechas negras do outro, como também não conseguia mexer os braços. Não por estar sendo segurado... estava paralisado com a situação. Engoliu sofrido a saliva e passou os olhos a cada dimensão daquela afeição a sua frente.

Talvez Aoi estivesse de brincadeira com ele, para variar. Era o mais provável. Teria empurrado-o e o jogado na grama e provavelmente o faria dizer "pinico" cinco vezes... mas não. Não hoje. Não naquele momento.

-Droga Aoi, o que você está fazendo?!-perguntou quase rosnando, encarando o moreno que até então o encarava.

O moreno apenas balançou a cabeça de um lado a outro e sorriu de canto, deixando o outro ainda mais constrangido. E ficou naquela posição por mais alguns segundos, até que se levantou, limpou a calça e pegou o violão, assim como sua cadeira.

-Cansei.-comentou virando-se para Uruha, que ainda estava sentado no chão.

-...-o loiro mantinha a cabeça baixa tentando calcular do porque de se sentir tão constrangido.

-Uruha, vamos.-chamou o outro, mostrando a casa acenando com a cabeça.-Está escurecendo, sabia?-e começou a andar em direção à casa.

-... eu sei!-falou se levantando em um pulo e arrumando o cabelo, enquanto tirava algumas gramas que ficara em seu corpo.

Andou rapidamente até a cadeira e a recolheu, assim como apanhou o livro e o colocou no bolso de trás da calça e correu para alcançar o outro.

Lá dentro, assim que pisaram, depararam-se com Kai mexendo na louça. Aoi sempre gostou de comida caseira, e adorava assistir o amigo preparar o almoço ou janta, o que fosse. Admirava.

O loiro deixou a cadeira em algum canto e tomou rumo ao banheiro, sentia-se meio sujo depois de rolar no chão. Antes passou pela sala e viu Reita sentado ao lado da janela, com a televisão ligada, mas parecia disperso olhando para o lado de fora.

-Yo, Rei-chan!-o cumprimentou, parando ao lado do sofá.-Que foi?-arriscou, apoiando uma mão em cima do sofá.

-Nada...-respondeu, virando apenas os olhos para trás.

-Ahan, e eu nasci mulher.-brincou o outro sentando-se no sofá e cruzando as pernas.

-Bem que podia. Não ia fazer muita diferença.-Reita zombou, dando uma pequena risada de canto.

-Vou te mostrar o tanto que sou homem, daí conversamos no dia seguinte.-respondeu meio grosso, mas dando uma risada ao final enquanto mexia na caixa de cigarros preferida.

-Isso foi um desafio?-Reita arqueou uma sobrancelha e virou-se para o amigo, de pernas cruzadas.

-Desde quando isso é desafio...?-Uruha fez uma cara de desentendido, puxando o cigarro e colocando-o na boca.

-Não sei, sua cara insinua.-retrucou, olhando os movimentos do outro pegando o isqueiro e acendendo o cigarro.

-Ah, sério?-ele falava meio enrolado, segurando com os lábios o fumo.-Se você acha...-e assim olhou para baixo, enquanto sorria de canto, cruzando as pernas e colocando ambos os braços pra cima no sofá.

-Você e suas manias de provocar...-resmungou Reita se levantando e indo atrás do sofá, na direção de Uruha.-Um dia alguém te pega de jeito.-e pousou ambos os braços em cima da cabeça do amigo.

-Ai!-reclamou, entre risos.-Você acha?-dizia se ajeitando, puxando o cigarro da boca e sobrando a fumaça.-Eu acho que não tem ninguém... hã... com atitude pra cima de mim, hehe.-dizia voltando a tragar o cigarro.

-Será? Vai pensando assim que é pego de surpresa ainda.-disse dando um leve empurrão na cabeça do amigo e virando de costas para o mesmo.-Vai tomar um banho, está cheio de grama e terra. Deve ter sujado o sofá.

-Arg, esqueci...-falou dando uma leve pancada em sua própria testa e apagando o cigarro no cinzeiro, para então se levantar e ficar ajoelhado no sofá, passar um braço pela cintura e o outro pelo ombro de Reita.-Kira-chan sim é um bom alvo, né?-sussurrou ao ouvido do amigo, para então saltar antes que levasse qualquer soco.

-É... vai nessa.-respondeu virando levemente o rosto para trás olhando o amigo com o canto dos olhos.-Vai logo pro chuveiro.-disse levantando-se do sofá e andando até as escadas.

-To precisando.-disse lançando uma piscada ao outro loiro.-Você me deixou de fogo, né, Kira-chan!-e correu pro chuveiro de baixo antes que qualquer vaso ou móvel voasse em sua cabeça.

-...-Reita olhou o guitarrista correr e então voltou sua atenção à subir as escadas, pois qualquer coisa poderia cair.

Andou calmamente, parando alguns segundos em cada degrau pensando e refletindo em absolutamente NADA. Ao chegar lá em cima, olhou em volta e apenas avistou as sete portas que tinham lá em cima, assim como uma pequena sala de descanso com uma poltrona e um sofá de 2 lugares, uma mesinha ao centro e um vaso.

Reita andou calmamente olhando uma porta que a luz se mantinha acesa. Arqueou uma sobrancelha e deu de ombros. Parou atrás do sofá e olhou a grande janela que era virada para a cidade. Podia ver cada luz piscando e alguns faróis da grande cidade. Deu a volta e praticamente se jogou de costas no sofá, deitando e suspirando, mantendo a visão fixa naquela imagem da cidade natal.

Em meio a seus pensamentos, pôde escutar algo caindo e possivelmente quebrando em algum dos quartos. No mesmo instante saltou e sentou-se corretamente no sofá, porém meio defensivo. Olhou e visualizou, até que decidiu-se levantar e andar até a porta do quarto em que Ruki estava, para então arriscar.

-Ruki?-perguntou, ao lado na parede.

-Hai?-a voz veio logo em seguida. Parecia que o vocalista não estava pensativo, pois a resposta viera de uma forma tão rápida quanto o mesmo colocando o corpo para fora.-Ah, é você.-disse, meio em diferença entrando novamente no quarto e andando até uma cadeira ao lado da cama.

-Hn... caiu alguma coisa?-perguntou, entrando sem saber se podia ou não. Passou seus olhos pelas quatro paredes e então encontrou um pequeno copo caído, mas provavelmente vazio.

-Fiquei nervoso, só isso.-respondeu, pendendo a cabeça levemente para trás e suspirando.-Só de momento, não precisa se preocupar. Pode voltar para seus afazeres.-disse, apontando a porta.

-Está me dispensando?-perguntou, se aproximando e olhando seriamente o outro homem.-Desimbuxa.-falou, apoiando uma mão na cintura e encarando o outro.

-Hã?-o menor voltou a sentar-se corretamente para em seguida levantar.-Nada, já disse. Só me alterei...

-Com o que?-Reita, por mais brincalhão que fosse, conseguia ficar assustadoramente sério.

-...-Ruki abaixou a cabeça para não encarar o outro, virando a cara e logo dando as costas ao amigo.-Nada, já disse, Reita!

-Tsc, até parece que tem TPM.-retrucou ao escutar uma alteração de voz vinda do outro.-E não grite.-e assim andou até a porta.-Vem, o Kai preparou a janta.

-... depois eu desço.-falou, estranhamente, ofendido.

-Que seja.-e passou pela porta, deixando Ruki sozinho no quarto.

O mais jovem abaixou a cabeça e respirou por alguns segundos, tentando se acalmar. Mas só conseguia ainda mais aprofundar a respiração e sentir o coração se alterar de... raiva? Andou até a sacada novamente e olhou para fora, para o além daquelas redondezas cheias de verde, pedras, árvores e poucas casas. Pensava um pouco em casa, na família, nos amigos de infância.

-Que dor...-ele encurvou-se um pouco ao sentir o estômago revirar, ardendo e contraindo. Segurou ambas as mãos entrelaçadas contra o abdômen enquanto cerrava os dentes. A dor havia se tornado um tanto quanto forte de uns tempos para cá. Mas afinal, o que o deixava tão alterado?-Tsc!-estralou a língua entre os dentes e levantou-se, ignorando totalmente qualquer dor.

Apoiou-se na grade, segurando firmemente com ambas as mãos aquele ferro gelado com o cair da noite. Levantou a cabeça e olhou novamente toda aquela cena, era lindo.

"Que seja" Aquela frase de indiferença dita pelo baixista ecoava em sua mente. E doía em outro lugar. Sentiu novamente o estômago revirar e um pequeno aperto no peito. Bah, porque tanta importância com o que ele dizia ou pensava??

Revirou os olhos e virou-se de costas para a bela paisagem. Abaixou a cabeça novamente e se abraçou, sentindo o vento frio bater em seu corpo. Engoliu a saliva, meio em dificuldades, e olhou fixamente para o chão.

-Ruki, sai daí.

Novamente aquela voz grossa e chamativa se fez presente no quarto do jovem vocalista que, de susto, grudou suas mãos na grade e levantou a cabeça encarando a imagem na porta.

-O que??-indagou, olhando Reita entrar novamente no quarto enquanto ajeitava a jaqueta do corpo.

-Saí daí de fora.-repetiu, parando ao lado da cama do rapaz.

-... pra você não faz diferença, qual é da agora?-perguntou, dando alguns passos para frente.

-Eu estava brincando... deus, vem logo pra dentro.-insistiu agora com um braço levantado, chamando-o para dentro.

-Hunf.-ele virou a cara e, teimoso, continuou lá fora tomando toda a brisa que, aos poucos, estava realmente gelando.

-Mas que diabos...-resmungou. Odiava usar palavreados pesados, não importava em que situação.

Reita tirou sua própria jaqueta de veludo preta e andou, dando a volta no copo quebrado, até chegar na porta da sacada. Viu que Ruki deu alguns passos para trás, hesitante e inseguro com a aproximação do outro. Chacoalhou a cabeça negativamente e ficou a frente do outro, que o encarava numa expressão não muito boa.

-Cara feia pra mim é fome.-disse entre risos girando a jaqueta até ficar corretamente em cima do mais novo.-E já temos janta.-completou, agora ajeitando a jaqueta preta.

-... que seja...-falou baixo, olhando para alguma direção que Reita não achava.

-Você ficou chateado.-confirmou. Não tinha um pingo de dúvidas na frase do baixista ,e, sim, pura certeza.

-Não me olhe desse jeito.-ordenou o menor de perfil, porém olhando Reita com o canto dos olhos. E sua expressão realmente não era das melhores.-Disse para não me olhar assim, droga!-reclamou.

E antes de esperar qualquer reação do mais alto, virou de súbito erguendo um dos punhos em direção ao rosto de Reita. Certamente tinha força, mas com toda certeza não destreza o suficiente. O mais velho levantou uma mão e segurou a mão de Ruki enquanto tombava a cabeça para um lado.

-...!-Ruki ficou olhando-o, nervoso. Ainda mais enfurecido por não ter acertado seu alvo.-Ah..!-gemeu um pouco ao sentir seu braço sendo levado para trás e prensado contra a grade da sacada.

-Você anda muito estressado...-Reita falou segurando um braço de Ruki para trás enquanto com a outra segurava o punho do outro braço.

-...

Não tinha como negar. Estava mesmo. E não era o fato de estar na cidade natal, era coisa de muito tempo. As atividades, o trabalho, os deveres a fazer, tudo acumulando e o prazo encurtando... era de deixar qualquer um louco! Quando perdia o controle, normalmente ascendia um incenso e deitava na cama até pensar num meio de sair de cada sufoco. E pior... nunca falava nada à ninguém. Eis o motivo de sua fama... de nunca saberem o que se passa em sua mente.

Mas havia alguém, bem ali, disposto a passar aquela barreira alta e espessa de sua mente e descobrir cada segredo. Cada problema e ajudar. Cada pensamento confuso que precisasse de um caminho.

Aos poucos Reita fora soltando os braços de Ruki, mas sem soltar os punhos do mesmo. Odiaria o fato de ter um olho roxo feito pelo mais novo. Por mais sensível e indefeso que ele parecesse, era forte. Afinal, já havia tocado bateria... coisa que exigia força.

-... eu apenas preciso descansar...-falou, olhando para o chão negro. Não conseguia ver absolutamente nada naquela noite toda.

-Me fala.-Reita insistiu em saber, não iria sair sem ao menos saber o motivo de tanto nervosismo.

-Não quero preocupar ninguém com os meus problemas.-disse, forçando seus punhos a serem soltos e, ao constar-se livre, pousou ambas as mãos na grade e suspirou só de lembrar de um trabalho a fazer antes que suas pequenas "férias" terminassem.-...-suspirou longo, forçando um sorriso. Iria mostrar aquele sorriso ao amigo para que ele logo deixasse de se importar e o deixasse em paz. Não deixaria ninguém passar por sua barragem.

Assim sorriu e fechou os olhos por alguns segundos. Silêncio. Nem ele e nem o outro falava nada. Não era para menos, por mais que tentasse fingir, será que Reita acreditaria? Era o mais próximo que tinha, e com toda certeza descobriria que era uma farsa aquele sorriso... melhor, mais uma de suas farsas.

Sentiu que conseguiria segurar aquele sorriso por mais tempo e virou para encarar o outro.

Reita, que apenas observava o motivo de tanto silêncio, olhou aquela expressão desenhada pelo vocalista. Sentiu, estranhamente, uma pontada lhe afetar. Sabia que por trás daquela máscara Ruki gritava e se desesperava ainda mais. E só de pensar no estado que o mesmo ficava, sentiu-se forçado a reconforta-lo.

O mais velho segurou as mãos do outro que estavam na grade e fitou-o por estar de frente ao mesmo e viu a verdadeira face que devia ter lá. Ruki espantara-se com a atitude do outro, mas não se movia. Estava imobilizado com as mãos de Reita segurando-o e o corpo se aproximando ainda mais, pressionando-o contra a grade.

A aproximação de corpos chegara ao limite, deixando o outro totalmente sem escapatória devido a pressão posta em cima de seu pequeno corpo. O menor virou o rosto para um lado e não pôde segurar o ar que estava até então entalado na garganta. E avermelhou-se quando um abafado gemido fora feito. Sentia totalmente o baixo ventre de Reita.

Um sorriso discreto fora feito nos lábios do mais velho e não podia negar-se de satisfeito com aquele baixo som. Mas afinal, que diabos estava fazendo? E porque estava agindo tanto por impulsos? Queria mesmo...? Olhando bem a imagem totalmente indefesa de Ruki, não conseguia negar a necessidade de reconfortar aquele corpo cansado de atividades.

Não conseguia negar que realmente... desejava o mais novo.

-...Reita...-o menor forçou as palavras, sentindo as pernas falharem. Sim, estava nervoso com aquilo.

-Shh...-Reita deslizou a mão esquerda do punho do menor até a cintura, puxando-o levemente.-...me deixa te acalmar essa noite.-falou olhando-o fixamente.

Aquela frase. Tinha realmente o mesmo sentido que Ruki estava formulando em sua mente? Tinha?? E porque ele estava com aquele sentindo na cabeça?? Será que...? Impossível! ... certo? Que incerteza seria aquela? Não conseguia formular nada, não conseguia pensar direito e... novamente estava mentindo. Agora para sua própria mente. Diabos, estava uma guerra dentro de sua cabeça! Certo, do começo... estava gostando. Sim. Essa era a verdade que estava precisando sair.

Só um segundo... estava gostando?! ... droga, havia admitido para si mesmo. Mas porque logo com Reita? Seu amigo mais próximo. Seu... não! Não podia, podia?? Depois de tantos erros em relacionamentos, não queria errar logo com Reita.

Tinha medo de errar logo com aquela pessoa que em todos os momentos difíceis sempre manteve-se presente. Quando não agüentava a barra, ele sempre agüentava por ele. E quando colocava uma barreira nos pensamentos, sempre vinha pronto à derruba-la.

E agora, parecia determinado.

Aos poucos sentiu toda a tensão do momento. Toda a confusão em sua mente embaralhar ainda mais. A garganta doía, assim como alguma parte interna de seu corpo. A respiração passara a se descompassar e a visão a ficar totalmente confusa.

Mas que... o que era aquela sensação toda?