Ela estava correndo. Seu vestido branco esvoaçava suavemente por entre suas pernas; seu cabelo louro prateado estava solto e balançava ao vento; o sol acariciava sua pele alva; seu perfume doce era inebriante e ela ria. Sua risada melodiosa fazia todo o meu corpo se arrepiar de prazer. Estávamos sozinhos num campo muito verde e vasto cheio de árvores frutíferas e flores de todas as espécies inclusive margaridas, suas preferidas. Ela tinha um brilho inigualável nos olhos quando olhou para mim e sorriu. Eu senti meu coração parar por um breve momento, para então acelerar, batendo forte. Ela era tão linda... Ela parou de correr e estendeu a mão, me chamando. Eu estiquei meu braço e tentei ir de encontro a ela, mas meu corpo não obedeceu. Tentei novamente e não saí do lugar. Comecei a ficar desesperado: minhas pernas e braços não obedeciam aos meus comandos e ela estava se afastando. Por que ela estava se afastando? Abri minha boca e tentei chamar seu nome, mas minha voz não saiu. De repente, comecei a rodar cada vez mais rápido como se estivesse num rodamoinho e tudo ficou escuro.


Prólogo - Azkaban

Acordei ofegante. Estava sentado na – se é que podia chamar assim aquele pedaço de colchão – cama. Por alguns segundos indaguei onde estava, mas logo voltei a mim: eu estava em Azkaban. A luz do Sol fora substituída por um fogo azul bruxuleante nas paredes; o vasto campo verde, em paredes encardidas de toneladas de concreto; o perfume das flores dera lugar ao odor podre proveniente dos dementadores. E o pior de tudo: eu me encontrava totalmente sozinho. Suspirei derrotado e tornei a deitar. Tentei, ainda que fosse inútil tentar, me agarrar a qualquer resquício da alegria que me invadira durante o sonho. Eu estivera sonhando. Há muitos anos eu não sonhava. Não naquela prisão infernal. Ali, era praticamente impossível ter qualquer sentimento bom. Meu sono geralmente era perturbado e eu acordava nervoso e inquieto. Meus pesadelos eram constantes, visitados por fantasmas que vinham me trazer lembranças dolorosas do passado. Senti um nó formar-se em minha garganta e meus olhos encheram-se d'água. Treze anos haviam se passado e não havia um dia no qual eu não chorasse. Lembrei com pesar de Tiago e Lílian, meus melhores amigos que haviam sido covardemente assassinados. Lembrei de Remo, meu outro grande amigo, que devia pensar que eu era um bruxo das Trevas dissimulado e louco. Lembrei também de Pedro, e senti um ódio demoníaco me possuir. Aquele rato traidor merecia no mínimo, uma morte dolorosa por ter traído os amigos! Pensei em Harry, o meu afilhado. Que juízo ele não devia fazer do padrinho, ham?

Passei os dedos pelo meu cabelo, acabando com os nós que haviam se formado. Por último, mas não menos importante, pensei nela. Ah, que saudades eu sentia dela! Narcisa. Pensar nela doía. Das várias coisas inacabadas em minha vida, minha relação com Cissy era a mais importante delas. Nunca cheguei a dizer para ela o quanto ela significava para mim. E agora, eu me arrependia amargamente disso. Como ela estaria agora? Imagino que continue casada com aquele patife loiro oxigenado, o Lúcio. Retorci a boca numa careta de desgosto e franzi a testa: como que ela podia estar casada com ele, quando teve um homem como eu? Sem falsa modéstia, eu era muito melhor para ela do que ele!

"Era", uma voz lá no fundo da minha consciência me alertou. "Antes de você ser considerado um assassino" a voz disse amargamente. Eu levantei e estiquei todo o corpo. Meus músculos enrijeceram e isso doeu. Afinal, eles não eram usados há mais de dez anos. Andei pela cela apertada e tentei espiar pelo pequeno buraco quadrado que havia em minha porta de carvalho. Não consegui ver nada, estava tudo muito escuro, o que indicava que deveria ser tarde já, de madrugada.

- Ou não – resmunguei comigo mesmo – neste lugar obscuro, sempre é noite.

Ouvi alguém fungar o nariz e soltar uma risada rouca.

- Não consegue dormir de novo, Sirius? Pesadelos?

Meus punhos se fecharam e eu soltei a resposta mais suave que consegui.

- Só se for com a sua cara monstruosa, Avery.

Dessa vez, a risada foi mais alta e mais clara.

- Não se irrite comigo, Black. Há anos eu ouço você choramingar pelos cantos, sempre lamentando... Você é muito bonzinho, e muito chato. Como se o Lorde das Trevas um dia fosse ter um seguidor tão fraco! Por que será que os seus amiguinhos não acreditaram na sua inocência? Por que nenhum deles veio te ajudar? Ah, é, esqueci: eles estão mortos...

- Avery... – Espumei de raiva.

- ... Mas mesmo assim, imagino que alguns amigos seus ainda vivam não é? Curioso que eles não tenham vindo saber de você. Mas acho que você é extremamente dispensável. Nem para cuidar de seu afilhado o quiseram. Imagino que você saiba que o jovem Potter já cruzou com o Lorde das Trevas duas vezes nos últimos dois anos. Não creio que haverá uma terceira...

- Avery, estou-lhe avisando...

- ...Seu grande herói Dumbledore, por exemplo, deixou você apodrecer aqui como nós, então nem ele, o mais babaca de todos...

- Não insulte Dumbledore, seu IMUNDO! – Eu gritei.

- ... acreditou em sua inocência! Será que gostavam tão pouco assim de você, Black?

Dei um soco na porta de madeira, urrando de ódio e ouvi Avery se deliciar com a minha raiva. Minha respiração foi se acalmando aos poucos e enquanto a raiva dava lugar ao ódio contido, eu pude sentir o ambiente ficando gelado. Avery também sentiu pois eu pude ouvir sua respiração ficar entrecortada. Caí de joelhos na cela e fechei os olhos, buscando desesperadamente qualquer sentimento que não fosse de alegria e felicidade, para que os dementadores não o tirassem de mim.

Me agarrei com todas as forças ao pensamento que havia me mantido são durante todos os anos em Azkaban: de que eu era inocente. O hálito pútrido dos guardas se tornou mais e mais forte e o barulho de sucção mais alto e eu comecei a ouvir gritos, choros, o desespero daquela noite horrível. A pior noite da minha vida.

Tentei abrir os olhos, desesperado, mas a imagem que se formava a minha frente não sumia, por mais que eu piscasse: num momento estava a casa totalmente destruída , uma aglomeração de bruxos, Hagrid me pedindo a moto emprestada para levar Harry – a única pessoa que eu agora tinha no mundo – para longe de mim. Eu sentia a tristeza de perder um irmão, e te garanto, não desejo isso ao meu maior inimigo. É uma dor física, insuportável. Quase sucumbi mas noutro momento eu me encontrava numa rua cheia de trouxas, gritando contra Pedro , ele apontava o dedo para mim e chorava copiosamente, o ladrão mentiroso, verme nojento.. gritava me culpando de entregar os Potter a Voldemort e então eu tinha um acesso descontrolado de riso devido a minha raiva diante daquela acusação tão absurda e cínica. Pisquei os olhos novamente e eu pude ouvir gritos, um pânico se instalou naquela rua, muita fumaça e uma explosão: Pettigrew sumira e havia sangue por toda parte. Os trouxas estavam caídos, mortos, um pedaço da rua havia sumido e guardas vinham me levando para Azkaban. Me concentrei veementemente a esse pensamento. Eu era inocente. Não havia matado ninguém. Pettigrew era o traidor e um dia eu iria provar.

Avery chorava na outra cela, eu podia ouvi-lo pedindo perdão a alguém que não estava presente. Comecei a achar que aquele tormento não acabaria nunca. Por segundos que mais pareceram horas, os dementadores rondaram as nossas portas e então, finalmente, se afastaram. Me joguei no chão frio de pedra, tremendo e suando frio. A alguns metros de mim, meu comparsa nojento balbuciava coisas sem sentido. Eu fechei os olhos e deixei que a escuridão tomasse conta de mim.


(nota da autora: Então, aqui está o prólogo da minha fic nova! SiriusxNarcisa! Espero que curtam! Reviews, por favor! A fic também está no site Floreios e Borrões! )