Capítulo 1

Na tarde de 30 de julho de 1982 um ataque premeditado pelas forças do Lorde das Trevas, o bruxo mais perverso que se viu em séculos no mundo da magia, atingiu o Beco Diagonal como uma bomba. Um massacre sem igual foi desencadeado por seus seguidores – conhecidos como Comensais da Morte – com o objetivo de enviar um simples recado aos Longbottons: o próximo seria seu filho. O pequeno Neville tinha apenas dois anos de vida e estava, desde o momento em que nascera, escondido com seus pais sobre o Feitiço Fidelius, um encanto com a capacidade de esconder qualquer local da vista de todos (mágicos ou não), sendo que apenas quem conhece o segredo de sua localização pode vê-los. O segredo, por sua vez, possui um guardião e ele é o único capaz de revelar a localização daqueles sob o feitiço, nenhum outro que soubesse onde eles estavam por intermédio desse mesmo guardião poderia revela-lo por mais que tentasse.

Infelizmente, entre muitas das vítimas daquele ataque estava a jovem Liliam Evans Potter, grávida de oito meses. Ela era um bruxa poderosa, excelente em matéria de Feitiços, e suas habilidades garantiram que escapasse com vida, porém não intacta. Quando suas forças começaram a fraquejar, o Comensal com quem lutava lançou sobre ela uma das maldições imperdoáveis – a Maldição Cruciatus – cujo efeito era provocar a mais terrível das dores, algo pior que a morte diziam os que já por ela foram subjugados. Em meio a sua sina, entretanto, ela sentiu uma pequena contração em sua barriga e um calor que emanava de seu ventre, diminuindo a intensidade de seu sofrimento. Não tivesse sido por essa abençoada intervenção, sua sanidade – assim como a de muitos outros antes dela – teria sido irremediavelmente perdida.

Por dez minutos seu captor segurou-a sob a terrível maldição e somente quando, por fim, os aurores apareceram e o agressor foi nocauteado, é que pode respirar fundo e prontamente vomitar o sangue lhe subira a garganta. Sua bolsa rompeu-se ao mesmo tempo, o calor que a envolvera até então cessando de imediato. James Potter, seu marido extraordinário e capitão dos Aurores – exército ministerial de combate a foras da lei – tinha sido o seu salvador. Quando soubera do ataque, James não perdera tempo em convocar um time extenso de Aurores em plantão e correr para o local do incidente, rezando todo tempo por sua esposa que estivera fazendo compras lá naquela tarde. Assim que conseguiu socorrê-la, entrou em pânico. Não era pai de primeira viagem, afinal já tinha um menino saudável e travesso de quatro anos, mas a visão do sangue que escorria tanto da boca quanto por entre as pernas de Liliam, o deixou desnorteado. Tomando uma rápida decisão, pegou a mulher nos braços e acionou a Chave de Portal que levava consigo no pescoço (um medalhão que todos os membros da Ordem da Fênix possuíam e levava-os diretamente a ala médica de Hogwarts). Normalmente, não era indicado a uma pessoa grávida viajar por chave de portal, motivo pelo qual Lili não carregava uma. Contudo aquela era uma emergência e na cabeça de seu marido um risco não compensava o outro.

As próximas 30 horas, desde que haviam chegado a ala hospitalar, foram de puro pânico para aqueles que conheciam e amavam a bela e jovem Lili Potter. O tratamento foi lento e complicado, a mãe perdia suas forças enquanto o filho perdia a vida. E então, quando finalmente nasceu, todos acreditaram que o bebê não sobrevivera, pois estava pálido e imóvel nos braços da enfermeira. Não respirava.

Poppy Pomfrey, a plácida enfermeira da escola, que cuidara dos pais daquela criança desde pequenos, estava em pranto quando passou o recém nascido ao pai. James exigira ver o filho, por mais que a enfermeira tentasse impedi-lo. Lili, por sua vez, parecia estar em choque. Quando por fim o teve nos braços seu coração se apertara, com o olhos envolto em lágrimas ele correra para porta da enfermaria chamando por Albus Dumbledore, o maior bruxo de todos os tempos e diretor daquela escola, e implorara a ele que salvasse seu menino. O velho bruxo sentiu lágrimas arderam em seus próprios olhos ao ver o desespero de seu ex-aluno e amigo querido. Contra seu próprio bom senso, que o avisara que estava longe de ser um Deus capaz de ressuscitar os mortos, ele erguera a varinha. E não tivera tempo de fazer mais nada, pois um milagre acorrera diante de todos os membros da ordem ali reunidos.

Olhos verdes, como as mais brilhantes esmeraldas, abriram-se e olharam com curiosidade ao redor. Notando a pai, que o segurava com firmeza apesar de extremamente pálido, ele dera um pequeno sorriso e caíra novamente no sono, aninhando-se em seu peito. Todos o encararam abismados, mas o infante permaneceu plácido e sereno. Dormindo como um anjo em meio ao caos. Aos poucos os presentes se deram conta do que ocorria e chorando, rindo ou sorrindo, festejaram o nascimento daquela criança abençoada.

Mais tarde, quando Lili explicara a sensação que tivera durante o tempo que esteve sob os efeitos da Cruciatus – o que chocara muitos quando souberam do tempo que ela suportara pois conseguira reter sua consciência – a enfermeira pode desenvolver uma explicação mais ou menos provável para aquele incidente. Alguns exames mais tarde sua teoria fora efetivamente comprovada. Sua conclusão, explicou ela calmamente aos pais e tios (postiços), era a seguinte: o recém nascido sofrera de exaustão mágica e suas reservas estavam tão baixas que seu corpo simplesmente fora parando de funcionar para preservar energia e recuperar-se do desgaste. Infelizmente isso provocara a parada respiratória. Entretanto, ele já estava se recuperando e nenhum dano físico permanente fora causado. Vendo que todos respiravam aliviados, ela prosseguiu com expressão grave: "Porém, um uso tão extremo de magia para alguém tão pequeno fez com que sua mágica rompesse os bloqueios naturais do corpo de cada infante e seu centro mágico no momento iguala-se ao tamanho esperado de um adolescente em pleno desenvolvimento mágico. Se crescerá ou não até que ele atinja a idade adequada eu não sei dizer, mas um poder dessa magnitude em um corpo despreparado pode causar graves danos."

"Que danos exatamente Poppy" perguntou Albus, que estiveram em silêncio ao lado dos demais. Os outros mantinham-se em um silêncio chocado.

"Bem, surtos de magia por exemplo, como os acidentes que ocorrem quando as crianças ainda são pequenas e não tem controle de sua magica, podem provocar tal estresse no corpinho dele que pode ou não resultar em paradas respiratória ou cardíaca. Seu filho poderá ter dias em que estará muito agitado pela adrenalina ou em outros letárgico ao ponto de não conseguir se mexer direito. É importante mantê-lo num ritmo sempre calmo, sem muito esforço físico ou incomodações. Nunca se sabe como sua magia poderá reagir.Mas eu não acredito que este estado durara por toda a sua vida, provavelmente quando o seu corpo estiver em par com seu 'centro' ele poderá levar uma vida tão normal quanto qualquer um. Até que isso acontece, será preciso poupá-lo o máximo possível! Fui clara?" perguntou olhando diretamente para James e seu amigos dos tempos de escola, Sirius e Remus. O três rapidamente acenaram que sim, todos igualmente sérios.

"Meu pobre menininho..." lamentou Lili. Ela sentiu muita culpa por seu bebê ter inconscientemente tentado protegê-la e precisar sofre por isso. 'Ela é quem deveria protege-lo, não o contrário!' recriminou-se em silencio, enquanto deixava escapar algumas lágrimas.

Três meses haviam se passado, desde o dia em que Harry James Potter viera a esse mundo. Naquela noite, de 31 de outubro de 1982, uma reunião extraordinária da Ordem da Fênix tinha sido convocada e todos os membros deveriam comparecer. Peter Pettigrew, no entanto, elegera-se para ficar na casa dos Potter e tomar conta do mais novo membro da família. Como amigo íntimo de James desde o primeiro ano de Hogwarts, o homem contava com a confiança de todos. Por ser baixo, acima do peso e apenas 'um', eles aceitaram sua explicação de que poderia perfeitamente cuidar de Harry e não faria falta a ninguém na reunião. Porém não conseguiria dar a devida atenção ao pequeno infante se tivesse de vigiar também o primogênito dos Potters.

Sem suspeitar de nada que pudesse preocupá-los naquele momento, os três Marotos restantes – James, Sirius, Remus – e Lili, partiram com Cris para a cede da Fênix, o pequeno protestando o tempo inteiro que queria ficar com o irmão mais novo.

A milhas de distancia do atual refúgio dos Potters, um monstro – mais demônio que homem – preparava-se para sua noite de triunfo. Por fim, ele daria ao lado da Luz o xeque-mate que tanto esperara: naquela mesma noite mataria as duas crianças que encaixavam-se na profecia. Sim, por que apesar de muito jovem, o novo Potter também poderia crescer para se tornar uma ameaça aos seus planos. Ele e Neville Longbottom teriam de ser eliminados e, por fim, tinha a localização de ambos.

Poucos poderiam prever o que faria aquela noite, pois atacaria nas duas frentes ao mesmo tempo. Através de um feitiço obscuro, dividiria sua essência (alma e corpo) em duas partes por um certo espaço de tempo e iria ao encontro de seus inimigos profetizados. Dentro de cinco horas, o feitiço perderia seu efeito, mas até lá planejava já ter realizado seu intento. Com um sorriso perverso começou o encanto. A vitória seria extremamente doce, pensou.

Mansão Longbottom, 23:15h

O velho bruxo bem que tentara salvar a vida de seu neto, mas sua agilidade já não era mais o que um dia fora e, sem poder fazer outra coisa, encontrara seu fim ao tentar proteger o menino com o corpo. Avada Kedravra, morte certa em um raio de luz verde.

O garotinho rechonchudo berrava no chão de sua sala, ao lado do corpo do avô, o rosto vermelho coberto por lágrimas. O monstro parecia divertir-se com a cena macabra. Levantando a varinha para dar um último golpe fatal, estacou de repente, a maldição saindo de sua varinha em um ângulo diferente, inofensivo . Seu corpo começou a tremer, uma dor intensa assaltando-o do nada para prolongar-se indeterminadamente, e por fim sentiu o corpo que parte de sua essência habitava ser dolorosamente destruído . Sua alma, ou o que restava dela, correndo para encontrar a parte que faltava, a mesma que partira para o lar dos Potters. A última coisa que registrara em sua mente fora a luz verde que sairia de sua varinha e uma dor intensa.

A explosão ressoara pelos quatro cantos do recinto, destruindo-o em poucos segundos. Entre os escombros um menino, com um corte em S na face direita, permanecia inconsciente. Ele carregaria para sempre aquela cicatriz.

Chalé dos Potters, 23:13

Quando Peter o recebera na porta, Voldemort não esperava encontrar a casa vazia e em silêncio absoluto. Pareceu-lhe que tudo ocorreria com muita facilidade, afinal a pequena criatura que viera aniquilar não tinha mais que três míseros meses de idade. "Talvez nem pudesse ser considerado um crime matá-lo, não perderia nada!" Pensou com perversidade, um sorriso de escárnio nos lábios ao olhar ao redor do ambiente, ricamente decorado com as cores da Grifinória.

Peter realizou um reverência profunda antes de dar passagem ao seu mestre. Todos o julgavam um leão covarde e sem talento, mas ele sabia o que o poder representava. Podia não tê-lo, mas o reconheceria a milhas de distância. E essa era a única razão de se arrastar aos pés daquele demônio. Ele queria sobreviver e em sua mente estava claro quem seria o vencedor. Contraiu-se ao receber um olhar de irritação do Lorde das Trevas, que esperava para ele guiá-lo ao pequeno contra senso. Mesmo assim sua sobrevivência era incerta. Hoje era a sua chance de ser útil ao temível lorde, tornando-se assim um aliado valioso o suficiente para não sofrer um destino pior . E, por não acreditar em outra coisa, jamais conseguiria entender o que aconteceu a seguir.

Voldemort subiu as escadas e entrou no pequeno berçário, feito todo em tons de verde e madeira clara, seu sorriso estendendo-se a medida que olhava em direção ao seu pequeno alvo. Acordado e deitado de lado, o menino olhava diretamente para ele, um brilho inocente e curioso permeava sua face angelical. Ao erguer a varinha viu que o pequeno tremia, a boca num beicinho, tentando conter o choro. Uma risada estridente escapou-lhe do peito, fazendo tremer também o servo atrás de si. Parece que o garoto entendia que algo ruim estava acontecendo ou talvez fosse só um rosto estranho que o assustasse, jamais saberia concluiu divertido. E sem mais delongas, pronunciou claramente as palavras que tirariam a vida do pequeno infante.

Um jato de luz verde, que partira se sua varinha, foi a última coisa que vira antes de uma dor lancinante acometê-lo no peito, o corpo sucumbindo a magia negra que refletira-se sobre ele. Sentiu sua alma ser violentamente expelida de seu corpo em frangalhos e com o pouco de força que lhe reatava arrastou-se pela janela e se perdeu na escuridão. O servo que deixara para trás, fechara os olhos no momento da explosão e portanto não vira a suave luz dourada que emanou por mais alguns instantes antes de desaparecer dentro do pequeno ser que permanecia desacordado no berço. O coração lentamente diminuindo seu ritmo, em choque.

Quando abriu os olhos, Peter viu apenas o bebê em seu berço e um vulto negro e deformado a seus pês. Incrédulo, conclui desnecessariamente que algo dera muito errado, sem saber como proceder – uma vez que não havia ninguém para lhe dar ordens – fez a única coisa que pode, cobriu as evidências. Fazendo desaparecer o corpo de seu antigo amo e limpando qualquer sinal de que algo fora do normal acontecera ali, ele deixou o berçário e foi em direção a sala, mas especificamente do pequeno armário de bebidas de que James mantinha num canto da sala. Precisava urgentemente de um drinque.

Cede da Ordem da Fênix, 23:15

A reunião daquela noite fora completamente inesperada e totalmente devastadora para quatro amigos em especial. Os Marotos e Lili não conseguiam acreditar no que fora revelado. Aparentemente havia um espião na ordem da Fênix, do mesmo modo que eles tinham um espião no círculo central de Comensais da Morte. Snape, mestre em poções e espião residente, assim informara ao líder da Ordem – Albus Dumbledore – naquela mesma manhã. Ele, que fora chamado ao encontro de seu suposto mestre durante a noite, e Peter eram os únicos que não estavam presentes a reunião. Todos que haviam comparecido a reunião foram obrigados a tomar três gostas de veritasserum e jurar sua lealdade a organização. Todos o haviam feito. Só restara duas opções, uma delas tendo sido o informante. Portanto, a verdade traiçoeira que dançava a frente deles não podia deixar de gelar todos que chegavam a mesma conclusão. Peter era o espião. Peter tinha Harry.

Poucos instantes depois da bomba ter explodido, Snape entrara voando no aposento e gritara aos quatro ventos que o Lorde das Trevas planejara atacar a criança da profecia aquela noite. Imediatamente todos se levantaram, a maioria correndo em direção ao floo para ir até a Mansão Longbottom, proteger Neville. Apenas cinco pessoas partiram na direção oposta: os Marotos, Lili e Héstia Jones, madrinha de Harry junto a Remus, todos correndo para o ponto de aparatação e dali para o Chalé da família. James e Sirius, na dianteira devido ao seus treinamentos como aurores, puxaram as varinhas à sua frente e entraram rapidamente na casa. A porta destrancada foi o primeiro sinal de encrenca. Entretanto, o medo saltando em seu peito impediu-os de prosseguir com cautela, ambos galgando os degraus de dois em dois, Remus logo atrás. Quando alcançaram o corredor no segundo andar, pararam estupefatos: Peter saía do berçário agitado, os rosto pálido expressando medo e confusão.

Sirius foi para cima dele como um leão enraivecido, pegando-o completamente de surpresa. Os dois foram ao chão, rolando um sobre o outro até Sirius desarmar o covarde e amarrá-lo com um forte feitiço (devidamente protegido contra animagos). Enquanto isso James e Remus, com Lili e Héstia logo atrás, correram em busca de Harry e o encontraram desacordado no berço. James rapidamente tomou o filho nos braços e percebendo que algo estava errado, lançou um olhar significativo à esposa e voltou-se aos amigos

"Remus, ajude Sirius a prender aquele desgraçado. Héstia, por favor, volte à cede e pegue Cris; leve-o para Hogwarts. Nos veremos lá!" e com isso os dois tocaram ao mesmo tempo os medalhões da Ordem que traziam consigo, desaparecendo um segundo depois.

Naquela noite, enquanto Harry lutava entre a vida e a morte, contra o efeito de alguma maldição negra indiscernível que Peter lançara sobre ele, Neville Longbottom era aclamado por todo mundo mágico como O Menino que Sobreviveu.

Peter, levado para Azcaban após recusar-se a prestar testemunho sob a influência do Veritasserum, fora sentenciado à passar o resto de sua vida naquele inferno. Seu único consolo é que naquela confusão, ninguém se lembrara de proteger sua cela contra transformações animagi. Muitos anos se passariam antes que dele ouvissem falar novamente.

Nenhum dos que vivenciaram aquela noite trágica se quer repararam no leve corte em forma de raio que adornava a testa do pequeno filho dos Potters. Com um simples movimento de sua varinha, Madame Pomfrey selara o machucado, deixando apenas uma pequena cicatriz, somente visível àqueles que soubessem onde e o que procurar. Seus familiares dispensaram aquela marca como o lugar onde a maldição "estranha" de Peter o atingira e recusaram-se a pensar mais no assunto. Uma ferida havia sido aberta em seus corações aquela noite e eles não tinham a menor vontade de cutuca-la tão cedo. No futuro talvez...