Capítulo 1
Prólogo - 5 anos atrás.
Eu havia saído dali por apenas duas semanas a trabalho. Nada muito complicado; escoltar alguns nobres por estradinhas de terra que serpenteavam por entre as montanhas. Acabado o trabalho e recebida a recompensa, estava finalmente voltando para a Guilda.
O Mestre iria ficar feliz; já havia um tempo que os trabalhos não rendiam muito. Mas agora eu tinha vinte mil peças de ouro novinhas tilintando na minha bolsa; o peso a mais era um alívio. Poderia comprar umas roupas novas, sair para jantar, e poderia pagar o aluguel. Talvez devesse parar numa lojinha de roupas para bebês e comprar alguma coisa a Dayane. Aposto que ela e Christian ficariam felizes com o presente ao futuro rebento.
Agora, olhando para os escombros que costumavam ser minha cidade, não sinto mais o peso nem o cansaço. Uma nuvem de pensamentos invade minha mente, e, ao mesmo tempo, não consigo pensar em nada. Meus olhos vêem o cinza que se espalha pelas ruas enquanto vago em direção à minha Guilda, ou ao menos onde ela costumava ficar.
O prédio tombado tem rachaduras por toda a extensão da fachada. Talvez não devesse entrar; pode desmoronar a qualquer momento. Ainda assim, meu corpo não faz o que meu bom senso alega para fazer, e quando percebo, estou retirando um pedaço de parede caído para entrar pela porta. O cheiro chega às minhas narinas antes que a minha visão se adapte, e é quase que imediato; o cheiro de morte. Consigo diferenciar umas poucas formas, e uma cor que tomava o local. Um marrom estranho, que eu sei que poucos dias atrás costumava ser vermelho vivo.
Aparentemente todos estavam ali quando o ataque começou. Minha vontade é de gritar, chorar, vingar meus amigos – não, minha família -, mas não consigo fazer nenhum dos três. Somente me sento, enquanto minha mente corre a mil, tão rápido que não consigo diferenciar um pensamento dos demais. Tento configurar na minha cabeça algum motivo lógico para qualquer um ter atacado não somente a Guilda, mas também a cidade. Talvez para evitar testemunhas, ou eram apenas um bando de sádicos buscando destruir e matar tudo o que viam pela frente. Eu não tinha por onde começar nem pistas para seguir.
A Guilda era nova, não tinha magos Classe-S ainda, estávamos nos acostumando a todo esse ambiente de união e calma que as Guildas de Magos devem ter. Consegui vários amigos, e alguns se tornaram mais do que amigos. Éramos uma família próspera. Fazia muito tempo que eu não me sentia tão segura, feliz... amada.
Agora, no auge dos meus 15 anos, enquanto olhava para os corpos inertes dos meus antigos companheiros, eu me sentia total, e absolutamente, só.
