Kai estava encostado na parede, observando a brincadeira de Tyson, Max e Kenny. Jogavam as almofadas pela sala da suite do hotel. "Idiotas" pensou soltando a respiração devagar. Uma batida seca na porta atraiu a atenção dos quatro na sala. Tyson saltou as almofadas no chão e abriu a porta.

- Tala? – Perguntou surpreso.

Kai reagiu ao nome, empurrou as costas da parede e andou devagar até a porta.

- Não, a chapéuzinho vermelho e o lobo mal. – Tala respondeu sarcástico, Bryan ao seu lado rolou os olhos para o teto. – Cadê o Kai?

- O que você quer? – Tyson se posicionou na porta impedindo que o ruivo e o falcão entrassem na suíte.

- Sai. – A voz de Kai fez Tyson se sobressaltar.

- Que inferno, Kai. – Tyson resmungou.

- Some. – Mandou. – O que foi, Ivanov?

- Hn… - Tala olhou para Bryan. – Melhor entrarmos.

Kai puxou Tyson pela gola e o jogou no sofá.

- HEY. – Falou indignado.

- O que foi? – Ray apareceu, saiu de um dos quartos. – Tala e Bryan?

- Gatinho. – O falcão zombou.

- Kuznetsov. – Kai o olhou, deixou bem claro com os olhos que não queria brincadeiras.

Bryan fez um barulho com a garganta como se zombase de algo. Tala lhe deu uma cotovelada nas costelas.

- Você precisa vir com a gente. – O ruivo foi direto.

- Pra que? – Tyson se levantou de um pulo.

- Não é da sua conta. – Bryan rosnou.

- Ele não vai. – O moreno enfrentou o falcão, tentando esconder o medo que estava sentindo.

- Tala. – A fala era baixa, quase uma ameaça.

- Sabe que eu não viria aqui se não fosse necessário. – O ruivo disse quase acima de um murmurio.

- Tala, que merda aconteceu? – Já estava começando a se irritar.

- Hospital. – Buscou o olhar do falcão.

Kai fechou os olhos e respirou com força.

- Não me esperem voltar. – Falou indo até a porta. – Kenny, na luta de amanhã usa a estratégia que tinhamos discutido.

Estava olhando pela janela, os braços cruzados sobre a camisa preta. O cachecol e a jaqueta estavam jogadas sobre a poltrona ao lado da cama.

- Quando você chegou? – A voz cansada veio da cama.

- Ontem a noite. – Respondeu sem se virar. – Você já estava dormindo.

- Irritado? – Comentou.

Kai se virou para encarar o outro. Os cabelos de duas cores como os seus, tendo a parte azulada um pouco maior, a parte prateada dos cabelos raramente visíveis, por conta do hábito de usar uma touca, estavam em uma confusão. O rosto não tinha nada de muito marcante, era similar ao de Kai, mas sua característica mais forte eram os olhos que eram quase impossíveis de não se destacarem. Totalmente brancos, como se não houvesse iris nem pupila.

- Não. – Respondeu seco.

- Hn… - Fechou os olhos, puxou o ar com um pouco mais de dificuldade. – Quando posso sair?

- O médico disse que te daria alta quando acordasse. – Olhou para a porta.

- Tala não deveria ter te chamado. – Continuou com a voz cansada.

- Ele achou que me interessaria.

- Idiotice da parte dele. – Sorriu de canto.

- Concordo.

Permaneceram em silencio o resto do tempo, Kai hora ou outra deixava o olhar vagar até o outro.

- Senhores. – O médico entrou, dirigiu um sorriso para Kai. – Então, pronto para ir?

- Não queria nem ter vindo. – Respondeu se sentando na cama.

- Bem, Sr. Hiwatari, a sua crise foi controlada. – Olhou para Kai e acrescentou. – Ele pode ter outra crise como a de ontem, então evita deixar ele andar por muito tempo, ficar perto de cheiro forte ou ter emoções muito fortes. E vai ficar tudo bem, se ele tiver dificuldade de respirar novamente, é só traze-lo pro hospital ou fazer a nebulização se tiver o aparelho.

Kai acenou com a cabeça.

- Não vou ficar com o meu irmão. – Respondeu o que estava na cama. – Mas vou avisar aos meus amigos.

- Quem disse que você não vai ficar comigo? – Kai perguntou no seu habitual tom frio.

- Você não está no meio de uma competição? – Perguntou pouco interessado.

- Você vai ficar comigo e com a minha equipe. – Se virou para o médico. – Ele já esta liberado?

- Já, eu só queria manter ele em observação. – Terminou de prescrever a receita. – Aqui, se vocês tiverem o aparelho, usa isso aqui pra inalação e ele vai ficar ok. É isso rapazes, espero não ver vocês por aqui.

A porta bateu, Kai dobrou a receita e a guardou no bolso trazeiro da calça. Pegou as roupas numa comoda que tinha no quarto e as colocou na cama perto do irmão.

- Quer ajuda? – Perguntou um pouco sem jeito.

- Posso fazer sozinho. – Resmungou, tateou até chegar aonde sentiu a textura do moleton.

Kai deu de ombros e se afastou, pegou a jaqueta a colocando e logo estendendo a mão para o cachecol.

- Você pegou tudo de dentro do armario? – Veio a voz desconfiada.

- Peguei.

Mais alguns segundos, Kai se virou olhando o irmão tatear pela cama.

- Kai… - Rosnou fraco. – Me dá.

- O que? – Inclinou a cabeça para o lado.

- Eu sei que você pegou, me dá. – Estava ficando nervoso.

Kai parou por um instante antes de começar a rodar a touca com um dedo.

- Não sei do que você esta falando. – Olhava para a toca enquanto o cinismo pingava de cada palavra.

O garoto se pôs de pé com um pouco de dificuldade, manteve os dedos em contato com o colchão para se guiar.

- Kai. – Tornou a falar.

Kai soltou uma risadinha baixa. O garoto puxou o ar com um pouco mais de força, o batimento acelerou e ele balançou a cabeça. Passou a língua pelos lábios secos, sentiu a garganta começar a secar. Kai notou as mudanças no irmão, e em passadas largas se pôs ao lado dele.

- Khan? – Sussurrou.

- Odeio isso. – Se apoiou no outro. – Você não deveria ter me irritado.

- Foi mal. – Retrucou em tom seco, pegou a toca e a colocou na cabeça do irmão. – Melhor assim?

- Idiota. – Resmungou. – Me tira daqui.

Reprimiu a vontade de rolar os olhos.

- Vem. – O segurou pela mão. – Cadê tua bengala?

- Esqueci em casa. – Respondeu a contra gosto.

- Ótimo, Tala é um incompetente. – Bufou, enquanto se encaminhavam para a porta.

O corredor movimentado fez com que Kai parasse de repente, Khan trombou com ele:

- Da próxima vez avisa. – Reclamou.

- Esqueci, falta de custume. – O pegou pelo braço prendendo este ao seu. – Anda.

- Não precisa me tratar que nem cavalo. – Estava cada vez mais irritado.

- Os cavalos eu trato melhor. – Respondeu em meio tom.

- Meu irmão é um piadista. – Ironizou.

- E o meu um asno. – Sorriu satisfeito.

- Sou eu que vive dando coice nas pessoas? – Rebateu.

Kai se limitou a lhe olhar irritado.

- Saimos daqui hoje ou você resolveu morar aqui? – Khan continuou ironizando.

Kai respirou fundo e reprimiu a vontade louca que teve de dar um puxão no braço.

Tyson estava deitado no sofá, Max estava cochilando na poltrona. Kenny tinha ido computar alguns dados das outras equipes e Ray preparava algo para eles comerem. Kai abriu a porta e permaneceu com ela aberta.

- Kai, onde você se enfiou? – Tyson se levantou com um pulo.

Max se sobresaltou, acordando com a voz do amigo. Khan entrou pela porta, com Tala e Bryan o seguindo de perto. Ele segurava a bengala e Bryan uma bolça.

- QUEM É ESSE? – Tyson o apontou.

- Quem é o animal? – Khan virou o rosto para a direção do som.

- Tyson. – Kai resmungou fechando a porta.

- Isso vai ser engraçado. – Bryan jogou a bolsa ao lado de Tyson.

- Falcão. – Khan o chamou. – É esse o ser que possui o dom de irritar o meu adorado irmão?

- Não só o seu irmão. – Tala acrescentou despreocupado.

- Irmão? – Tyson olhou para Kai. – Ele é o teu irmão?

Kai abriu a boca para responder, mas Khan foi mais rápido:

- Segundos os médicos, sim. – Estava impaciente. – E o que eles disseram para a sua retardação mental?

- O homem. – Tyson caiu sentado. – Dois?

- Papai também falou isso. – Khan suspirou. – Da pra alguém me levar até algum lugar que eu possa sentar?

Kai se adiantou, o segurou pela mão e o levou até o sofá.

- Pronto. – Murmurou.

Tyson continuou encarando o garoto. Max estava um pouco curioso, se levantou indo ficar perto do dragão. Ray saiu da cozinha depois de ouvir a confusão.

- Ah, você voltou. – Parou olhando para Bryan.

- Gatinho. – Bryan sorriu desdenhoso.

- Gatinho? – Khan repetiu, um pequeno sorriso nos lábios. – É ele, Tala?

- É.

- Então, Bryan é por causa dele que você tem pavor de felinos? – Perguntou maldosamente e com o sorriso alargando.

O falcão engasgou, Tala teve um ataque de riso silencioso, Kai olhou para Ray e balançou a cabeça negativamente. Tyson e Max se entreolharam surpresos.

- Devo te parabenizar, Kon. – Khan prosseguiu. – Bateu o falcão, e eu posso te garantir que eu não deixo isso morrer.

Bryan bufou, Tala engoliu as risadas e tentou se manter sério.

- Ah, vai falcão. – Khan ainda sorria.

- Desculpa, mas quem é você? – Ray se adiantou.

Khan ainda sorrindo se virou na direção da voz.

- Khan Hiwatari. – Respondeu.

Ray suspendeu a respiração quando seus olhos encontraram o do garoto. O sorriso de Khan esmoreceu diante da respiração do outro, se tornou algo mais com um pequeno sorriso de lábios:

- Não precisa se assustar. – A voz era calma quase aveludada. – Sei que sou mais bonito que o Kai.

- Convencido. – Kai suspirou, ouvindo os risos de Max e Tyson.

Khan deu de ombros, fechou os olhos.

- Cansado? – Tala se inclinou ajeitando a touca.

- Claro, duas noites mal dormidas. – Resmungou. – Porque raios vocês dois tem que ser tão barulhentos?

- Barulhentos? – Tyson olhou para o ruivo sem entender.

- Liga não bebé. – Khan deu um sorriso irônico. – Quando você deixar de ser criança, vai saber o que duas pessoas fazem trancadas dentro de um quarto em plena madrugada.

- Como é que é?

- Te garando que eles não estavam jogando batalha naval. – Virou o rosto na direção da voz de Tyson. – Embora eles brinquem de afundar o destroier do Bryan.

Tala não aguentou e explodiu na gargalhada, Bryan olhou para um Kai que respirava fundo se controlando.

- Ele é todo seu. – O Kuznetsov rosnou.

Tyson olhou para Max, sem entender exatamente o que estava se passando ali, Ray mantinha o rosto sereno.

- Bem, destroier não seria bem o nome. – Khan prosseguiu. – Ta mais prum micro submarino, mas ta tranquilo.

Kai notou os sinais de perigo vindo do falcão, assim que Tala engasgou.

- Ta sabendo muito. – Se dirigiu ao irmão.

- Bem, você me deixou morando com esses dois e não queria que eu soubesse?

- O que diabos, vocês andaram fazendo? – Kai olhou para Tala.

- Nada. – O ruivo respondeu inocente. – Te juro que com ele, nada.

Kai arqueou a sobrancelha, Tala se virou para Bryan que fitava o teto.

- Vamos?

Os dois começaram a se retirar.

- Espera. – Khan fechou o rosto. – Repete, Tala.

- O que? – O ruivo se virou para ele.

- O que você falou, abre um leque de outras possibilidades. – Girando a bengala na mão. – Como a que vocês num fizeram nada comigo, mas eu fiz com vocês.

- Eu não quero nem saber. – Kai se sentou, encostou a cabeça no encosto da poltrona e fechou os olhos.

- Do que eles estão falando. – Tyson se virou para Ray.

- Sério? – Khan suspirou. – Já ta perdendo a graça, ele é tapado assim mesmo?

- O tempo todo. – Os três russos responderam.

- Ah não, podem parando. – Khan começou a se levantar. – Eu não vou ficar aqui com ele, andem me levem de volta.

- Ficar aqui? – Max, Tyson e Ray repetiram juntos.

- Ah que lindo eles falam juntos. – Debochou.

- Chega. – Kai se pôs de pé. – Esse é o Khan ele é meu irmão gêmeo.

- Gêmeo? – Tyson olhou para Kai.

- Ele é surdo? – Khan voltou a cabeça para a direção onde tinha vindo a voz de Kai. – Sério, Tala me leva.

- Você fica. – Kai rosnou. – Ele vai ficar um tempo com a gente.

- Mas num tem lugar. – Tyson se levantou. – Ele num tem onde ficar.

- Sem problemas, Tala me leva de volta pra casa. – Khan respondeu grosseiramente, ouviu a porta batendo. – Tala?

- Ele foi embora. – Kai o informou.

- Filho da…

- Khan. – Kai o interrompeu. – Ele fica no meu quarto, eu durmo na sala.

- Com o Ray? – Tyson se virou para o moreno.

- Se importa? – Kai olhou para o chinês.

- Não.

- Me ajuda a levar ele? – Kai resmungou, pegou Khan pelo braço.

Ray Se curvou pegando a bolsa.

- Mas… - Tyson começou, Max saltou para o lado dele e tapou sua boca.

- Esquece. – Max sussurrou.

Kai abriu a porta do quarto e empurrou Khan para dentro, ainda segurando seu braço.

- Sutileza mandou lembrança. – Rosnou mal humorado. – Tala me paga.

- Ótimo. – O levou até a cama. – Senta.

Khan tateou pela cama, até poder se sentir confortavel em se desprender de Kai.

- O médico mandou você descansar, então você fica aqui. – Se dirigiu até a porta, olhou para Ray e acrescentou. – Ele tem que ficar na cama, não vai andar pelo quarto porque ainda não ta ambientado. Ontem ele teve uma crise de bronquite, ta de mal humor e bem, ele num vai andar mesmo, mas mesmo assim ele quebra os ossos com facilidade.

Estava saindo quando Ray o pegou pelo braço.

- Onde você vai? – Olhou para Khan.

- Tenho que resolver umas coisas. – Falou antes de sair.

Ray ficou em silencio, Khan virou o rosto na direção da respiração.

- Bem Kai.

- Hn… é. – Ray se aproximou, colocou a bolsa nos pés da cama. – Quer alguma coisa?

- Meu livro, ta na bolsa. – Ele dobrou a bengala e começou a tatear, esticou o braço sentindo a madeira da cabeceira, puxou as pernas para cima do colchão, podendo se ajeitar.

- Quer que suba o travesseiro? – Ray colocou a mão de Khan sobre o livro. – Esse, certo?

- É. esse. – Khan ainda estava sentado. – Põe o travesseiro em pé, por favor?

Ray fez o que lhe foi pedido, tocou no ombro do outro e esse recostou as costas.

- Brigado. – Murmurou.

Tyson abriu a porta de supetão, olhou para Ray ao lado do garoto que abria o livro.

- Eles são diferentes. – Comentou ainda olhando para os olhos do garoto. – É raro ver o Kai machucado ou até mesmo ofegante. E esse…

- Nem completa. – Ray o cortou, notou que Khan havia parado de mexer os dedos. – Some e nem pense em deixar o Kai te pegar falando isso.

- Não precisa. – Khan ainda parecia tenso. – Ele não vai se importar, o Tyson está certo.

- Isso é novo. – Ray soltou um murmurio quase inaudivel.

- É. – Um sorriso quase imperceptivel. – Sou eu que faz o Kai parecer tão forte.

- Bem, ele é um idiota e você também. – Tyson deu de ombros.

- Sai. – Ray mandou irritado.

Tyson deu de ombros mais uma vez e saiu, batendo a porta.

- Ele fala sem pensar. – Se voltou para o outro.

- Bem, ele não mentiu. – Voltou a mexer os dedos sobre o livro.

- Hn?

- Kai é um idiota. – Sorriu.

- Fome?

- Um pouco.

- Quer um sanduiche? – Ray foi até a porta.

- Sim, pode ser de queijo?

- Igual ao seu irmão. – Riu saindo.

Ray estava pegando os pães dentro do armário, os colocou sobre a bancada, foi até a geladeira pegando o queijo.

- Viro baba do novo Hiwatari? – A voz de Tyson veio da porta.

- Custa você ser menos idiota? – Ray respondeu indo até a bancada.

- Ah, o Kai aparece com um irmão tirado num sei da onde e eu sou o idiota? – Continuou descansado.

- Para de ser cabeça dura, você sabe perfeitamente que se o Hiro precisa-se ficar aqui, não seria problema. – Ray respondeu concentrado no sanduiche.

- Mas todo mundo sabe que eu tenho um irmão.

- É essa a questão?

- Kai nunca nos contou sobre isso, nem que o irmão era cego.

- Esse drama todo é por que o Kai nunca nos disse sobre o irmão? – Se virou para ele.

- Não, é porque ele nunca confia na gente.

- Menos, se ele não confiasse não teria deixado ele aqui. – Balançou a cabeça. – E além do mais, Kai já deixou claro que não gosta de falar da vida pessoal.

- Somos amigos. – Afirmou irritado. – Amigos sabem esse tipo de coisa.

Ray pegou uma jarra de suco e um copo.

- Tyson, ele tem que decidir. – Suspirou, colocou o lanche em uma bandeja.

A porta se abriu, Ray entrou com a bandeija.

- Khan. – O chamou parando perto do garoto.

Khan moveu o rosto para ele, deslocou o livro o deixando sobre a mesa ao lado.

- Hn… bem… - Kon guaguejou.

- É só colocar no meu colo. – A fala monótona e até cansada.

Ray se curvou colocando a bandeja sobre as pernas do garoto, observou ele sentir a borda da bandeja, passar os dedos pela superficie sentindo o prato e o copo de suco.

- Suco?

- Abacaxi, achei que você poderia ter sede. – Se apressou em explicar.

- Hn… - Continuou sentindo o prato até achar o sanduiche.

O pegou com as duas mãos, ia leva-lo a boca quando parou.

- Irritado? – Parecia curioso.

- Não. – Respondeu assustado. – Por que?

- Sua respiração, ta diferente. – Encolheu os ombros devagar.

- Tyson. – Se sentou na própria cama. – Ele consegue tirar qualquer um do sério.

- Tala chama ele de cabeção. – Riu baixo, deu uma dentada.

- Você mora com ele e o Bryan?

- É, pelo menos desde que o Sr. D consegiu as nossas guardas.

- Mas o Kai é emancipado, não é?

- Ele é, eu não. – Tomou um gole de suco. – Algo haver com ele poder se sustentar sozinho.

- Então o Sr. D pegou a sua guarda?

- Um pouco depois do Voltaire ser preso. – Disse indiferente. – A minha guarda e a do Tala, Bryan também, mas ele já fez 18.

- Hn…

- Curioso? – Sorriu.

- Como você consegue?

- Agora eu chutei. – Riu baixo, soltou um bocejo logo em seguida.

Ray se levantou e pegou a bandeja.

- Você disse que estava com sono, tenta dormir.

- É vou tentar.

Kai abriu a porta, segurava duas sacolas. Ray estava deitado lendo e Khan na outra cama dormia calmamente.

- Hey. – Fechou o livro, olhando pro rapaz que olhava o irmão.

- Hn… - Colocou as duas bolsas ao lado da mesa de cabeceira. – Como ele passou o dia?

- Calmo, lanchou um pouco depois que você saiu e depois dormiu. – Ray retirou as pernas da cama e se sentou.

- Hn…

- O que é isso?

- Um aparelho de nebulização e os remédios que o médico receitou. – Retirou o cachecol. – E os outros?

- Não entraram aqui. – Mentiu, não queria mencionar o momentaneo encontro com Tyson de mais cedo.

- Hn… da pra parar de fingir?

Ray franziu a fronte, mas que inferno ele estava falando. Khan se mexeu lentamente, abriu os olhos.

- Queria falar comigo? – Perguntou descansadamente.

- Não, só odeio quando você da uma de semi-morto. – Se sentou ao lado de Ray, retirando os tênis.

- Babaca. – Murmurou.

- Ta nos genes. – Respondeu em voz alta. – Por que não pediu?

- O que? – Ray olhou para o Hiwatari ao seu lado.

- Nada. – Khan respondeu rápido.

Kai deu um sorriso maldoso, se levantou indo até a bolsa que ainda estava aos pés da cama.

- Não creio que o Kon se incomodaria de pegar. – Continuou mexendo na bolsa.

- Kai… - Assobiou.

Kai pegou uma pelúcia, era vermelha e felpuda. O fucinho na cor creme com o nariz preto, os olhos castanhos. Kai andou até ele, jogou a pelúcia no colo do outro.

- Ele não dorme sem essa rapoza. – Explicou para Ray e acrescentou desdenhoso. – Deve ter ficado com vergonha de pedir, né bebé?

- Vai a merda. – Rosnou. – Imbecil.

- Você poderia ter pedido. – Ray comentou suavemente. – Eu teria pegado pra você.

Khan virou o rosto para o lado contrario da voz de Ray. O moreno olhou para Kai procurando um auxilio, este deu de ombros.

- Você ficou com vergonha? – Continuou calmo.

Khan não respondeu, Kai rolou os olhos para o teto.

- Ele não consegue dormir sem essa maldita raposa. – Se sentou de novo. – Não deveria ter te dado isso.

- Você que deu? – Ray se vira pra ele.

- Antes de ir pra Abadia, eu dei um jeito de conseguir algo pra ele. – Continuou olhando para as mãos.

Se esqueirava pelos corredores, sempre se mantendo a sombra. Não podia nem sonhar em ser pego, seu avô iria lhe castigar ainda mais. Empurrou a porta de carvalho, era pesada e ele não podia abrir muito se não o rangido poderia despertar o velho.

O quarto era escuro, parrou alguns segundos para se acostumar, segurava firmemente o pano que envolvia o presente. Andou tentando fazer o minimo de barulho, se sentou na beirada da cama e cutucou a forma inerte.

- Khan.

Khan se mexeu, virou o rosto confuso.

- To aqui. – Kai segurou a mão do irmão.

- Já ta na hora? – A nota de medo era audivel na voz.

- Não, eu dei uma fugida. – Sorriu.

Khan deu um sorriso timido, Kai sempre foi mais corajoso que ele, sempre o protegia do maldito Voltaire. Que vivia reclamando que filho fora inutil até na hora de produzir herdeiros.

- Trouxe uma coisa pra você. – Pegou a trouxa e o colocou sobre as pernas do irmão.

Khan tateou curioso, sentiu a textura do pano, era macio lhe lembrou a seda do pijama que usava.

- É seda? – Perguntou intrigado.

- Um pijama velho meu. – Deu de ombros. – Acha o nó.

- Vovô vai te matar. – Arqueou as sobrancelhas de susto.

- Vai nada. – Estava impaciente. – Anda acha o nó.

Khan continuou, achou o nó e com um pouco de dificuldade o desfez. Apalpou era fofo, a textura do que ele achou ser pêlos, achou algo comprido que desprendia do que ele achou ser o corpo.

- O que é? – Pediu curioso.

- Algo que vai te fazer compania enquanto eu estiver fora. – Segurou a mão do outro. – É uma raposa.

- Raposa?

- É, ele é uma espécie de cachorro e ao mesmo tempo não é.

- Entendi tudo. – Riu.

- É um animal inteligente, que parece fraco, mas é forte, entendeu?

Khan acenou com a cabeça, puxou a pelúcia para o peito, sorrindo.

- E o pano tem o meu cheiro, assim se a saudade apertar. – Bagunçou os cabelos do irmão. – Sente o meu cheiro no pano.

Os dois estavam mergulhados nessas lembranças, Kai olhou para o irmão que estava abraçado a pelúcia.

- É a ultima lembrança descente que eu tenho de você. – Khan tinha a fala dura.

- Descente? – Kai tencionou os dedos da mão direita pousada sobre o joelho.

- É, a ultima em que você ainda era gente. – Respondeu, virou o rosto na direção dos dois, o maxilar estava trancado e uma veia saltou de leve no pescoço.

- Posso fazer nada por isso. – Se tornou mais frio. – Dorme.

- É, quem sabe assim eu sonho em como você era. – Resmungou virou para a parede.

Kai se levantou e bateu a porta com força, Khan se encolheu um pouco. Ray se levantou e caminhou até ele esticando o braço, mas se reteve, Kai odiava ser tocado talvez Khan também não gostasse. Khan se virou para ele, os olhos bem abertos.

- O que quer saber? – Perguntou enquanto se sentava, a voz estava um pouco triste.

- Achei que talvez quisesse conversar. – Encolheu os ombros.

- Senta. – Mandou.

- Vocês dois tem a mesma voz de comando. – Sorriu se sentando de frente para ele.

- É. – Brincou com o rabo da raposa. – É uma das poucas coisas que ainda temos em comum.

- Por que diz isso?

- Hn… nada.

- Pode confiar em mim, não vou falar nada pra ninguém.

- Eu acabei de te conhecer. – Resmungou indiferente.

- Essa pode ser a questão. – Sorriu. – Você acabou de me conhecer, o que tem a perder?

O ouviu resmungar em russo, se agarrou ainda mais a pelúcia.

- Olha, você não precisa sair da sua zona de conforto. – Se apressou a dizer, resolveu testar, esticou o braço e pegou uma das mãos de Khan. – Eu só acho que posso te ajudar.

- Com o que? – Puxou a mão de leve.

- Aproximar vocês dois.

- Você realmente não conhece ele. – Desdenhou. – Kai Hiwatari, não precisa de ninguém.

- Sempre precisamos de alguém, por mais forte que sejamos. – O segurou de novo. – Eu acho que no fundo o Kai precisa de alguém e pra inicio de conversa esse alguém é você.

Khan passou a língua pelos lábios, como se estivesse inseguro. Ray fez uma leve pressão.

- Antes de ir pra Abadia, ele era o meu melhor amigo. – Começou em voz baixa. – Meu protetor, ele aguentou coisas de mais por nós dois.

- Kai é durão desde pequeno.

- Ele tinha que ser. – Fechou os olhos. – Voltaire exigia o dobro dele.

- Voltaire é um animal. – Rosnou.

- Sempre foi. – Sorriu, logo ficou mais sério. – Quando ele voltou eu não o reconhecia.

- Tinha mudado?

- Muito, estava distante, frio e indiferente.

- E você não soube como agir?

- Você saberia? Ter um irmão é como ter um amigo pela vida toda, mas eu não o conhecia mais.

- É por isso que você age dessa maneira? É a sua forma de agredir?

- É.

- Antes você disse que o Kai era o forte. – Inclinou a cabeça curioso, o tom se manteve calmo todo o tempo. – É essa a sua maneira de parecer forte.

- Você é esperto, Kon. – Um sorriso triste.

- E você esta cansado. – Se curvou segurando as mãos dele. – Dorme.

Ray se levantou e deu os passos que o separavam da porta.

- Você não precisa ter vergonha. – Era mais caloroso enquanto acrescentava. – Nem todos os russos precisam ser frios.

- Diz isso pro Bryan. – Sorriu.

Kai estava sentado a mesa da cozinha, olhando para a caneca de café na sua frente. Ray parou na porta.

- Cadê o pessoal? – Perguntou encostado no batente.

- Pizzaria. – Deu de ombros, tomou um pouco do líquido. – Ele dormiu?

- Dormiu. – Se sentou na frente dele, se serviu de um pouco de leite que tinha na mesa. – Já sabe onde você vai dormir?

- Eu me ajeito no chão do quarto. – Estalou o pescoço.

- Certo. – Tomou um gole de café. – Hn… Kai, você já tentou conversar com ele?

- O que você acha que eu estava fazendo? – Ironizou irritado.

- Estou falando de conversar sem agredir um ao outro. – Revirou os olhos.

Kai lhe lançou um olhar mal humorado e se levantou.

- Sabe, não precisa agredir ele por ter medo dele não gostar do que você se tornou. – Continuou calmo.

- E o que eu me tornei? – Parou de costas para ele.

- Não sei, você nunca deixa ninguém se aproximar. – Continuou falando olhando para a mesa. – As vezes eu acho que você é apenas um idiota frio, mas as vezes você parece um garoto assustado com medo de ser pego fazendo algo errado.

- Fique com primeira opção. – Rosnou.

- Você realmente acha que é mais fácil ser um desgraçado de coração frio do que uma criança apenas assustada? – Arqueou as sobrancelhas.

- Isso não seria da sua conta.

- Seu irmão se machuca por causa disso.

- Você o conheceu faz umas três horas. – Se virou para o outro. - E acha que o conhece a ponto de fazer uma suposição dessas?

- Acho que o conheço melhor que você. – Se levantou irritado. – Para com essa posse, você se importa com ele deixa de ser animal.

- Quem disse que eu me importo? – Soltou um riso fraco. – Apanhei dobrado por causa dele, treinei dobrado, eu tinha o dobro de cobrança. Porque eu me importaria?

- Se você não se importasse ou não confia-se em nós, não teria trazido ele.

- E?

- Me leva de volta. – A voz de Khan veio de perto da porta.

Kai se virou assustado e Ray arregalou os olhos.

- Porque você levantou? – Kai ralhou andando até ele.

- Ray, me leva de volta pro Tala? – Ignorou o irmão, seu peito descia e subia com força.

- Khan calma. – Kai ergueu a mão, Khan deu um tapa quando a sentiu.

- Tira a mão. – Rosnou.

- Você ta entrando em crise. – Kai tornou a segura-lo pelos ombros. – E nem pense em me bater.

- Me solta merda. – Tentou empurra-lo pelo peito, Kai o puxou para perto.

- Ray pega água. – Mandou enquanto o pegava no colo.

- Me solta. – Começou a se debater.

- Para, você ta entrando em crise. – Balbuciou indo para o quarto.

Puxou o ar e não vinha quase nada, sentiu as pernas tremerem mesmo não tocando o chão, puxou o ar mais uma vez. Os tremores tomaram todo o seu corpo, se sentia tonto puxou mais uma vez e não veio nada dessa vez. A pressão no peito aumentou e ele não conseguia fazer o oxigênio entrar em seu corpo, sentiu o pânico lhe invadir, o cérebro entrou em um estupor e ele não soube em que hora perdeu a consciência.

XxXxXx

Sim, sim eu apaguei a Ying Yang. Sem reclamações, vou ver se reescrevo, mas a preguiça ta grande. Essa fic é curta apenas de 4 caps e ela tera uma sequela. Bjs

Khan não me pertence, ele pertence a uma amiga e eu peguei emprestado.