Paternidade

I

Saga estava acordando de manhã. Um raio tímido porém belo e quente de luz invadiu o quarto e incidiu em seu rosto, fazendo-o ficar mais desperto.

- Hun...

Abriu os olhos devagar e sentiu um peso em seu peito. Era a cabeça de Kanon.

"Sempre gosta de fazer meu peito de travesseiro", pensou ele, sorrindo e acariciando de leve os cabelos do gêmeo, o qual começava a acordar também.

- Un... Saguinha...

- Bom dia, querido.

- Bom dia, meu bem...

E, de fato, ultimamente eles não estavam podendo reclamar da vida. Embora seu passado fosse nefasto, agora eles ostentavam uma posição invejável como Mestres do Santuário e ainda treinavam seus aprendizes. Kanon nunca, jamais, poderia imaginar, quando criança ou adolescente, que um dia tudo isso fosse realizar-se - e de forma lícita ainda por cima.

Saga acariciou mais uma vez os cabelos de Kanon e olhou o belo dia que se iniciava lá fora. Devia ser cedo, umas 6 da manhã.

- Kanon... acho que conquistamos tudo que queríamos, não é mesmo?

- Hun... sim...

- Você e eu finalmente somos Mestres do Santuário, Atena nos aprova... nos casamos... e desenvolvemos um bom trabalho. O que acha?

- É realmente muita sorte... muita sorte. Poucas pessoas podem ser felizes como sou hoje. Só tem uma coisa que ainda não realizei...

- Hã?

Quando Kanon vinha com aquelas, significava algo que ele ia encher o saco do Saga até realizar. Era sempre assim. Bem, dependendo do que fosse, ele até poderia fazer...

- O que é, Kanon?

- Ah... você sabe, já comentei com você uma vez.

- Você comenta tantas coisas que não sei direito do que se trata. Vamos, diga o que é.

O gêmeo mais novo hesitou, pois sabia que Saga talvez ainda não quisesse. Então, com voz um pouco baixa e tímida (o que de forma alguma era sua voz no dia a dia), disse enfim:

- Saguinha, meu bem amado, tudo que eu quero e preciso pra minha felicidade ser completa... é um filho!

- Oh, Kanon...!

O primogênito abanou a cabeça. A maioria dos Santos de Atena não tinham filhos, uma vez que poderiam ser usados de chantagem ou outra forma de coerção por inimigos, e pelo duro serviço de Atena ser usualmente incompatível com trabalho de semelhante importância.

- Não acha que é responsabilidade demais...?

- Ahn, Saga...! Eu queria ter alguém pra ensinar as coisas que eu sei, alguém que me chamasse de "papai"... e acho que estamos numa fase bem estável de nossas vidas pra isso, han?

- Hun... Kanon, eu vou pedir a orientação de Atena.

- É? Então considera a idéia?

- Se ela aprovar...

O mais novo deu um sorriso enorme e beijou Saga em selinho nos lábios, tamanho contentamento que sentia. Depois, de um salto, saiu da cama e foi para o banheiro tomar uma boa chuveirada.

- É isso! Ele sempre acata o que Atena diz, então... mas... e se ela disser que não?!

Antigamente, Kanon sentia muita raiva de Atena pelo isolamento que ele tinha da sociedade, porém essa raiva se transformara em devoção após ele saber que ela o salvara do Cabo Sounion. No entanto... se ela lhe negasse o direito de ter um filho...

- Se ela negar... ah, vou dar um jeito de ter mesmo assim!

Acabou rapidamente o banho, vestiu-se e foi comer algo. Saga ia entrar no banho e disse a ele, antes que o mais moço saísse pra treinar os aprendizes:

- Kanon, na hora do intervalo de almoço vamos juntos até ela, OK?

- OK, vou esperar ansiosamente!

E Kanon realmente ficaria bastante ansioso durante os treinos, roendo o pouco de unhas que tinha e mal pensando nos aprendizes, apenas direcionando seu pensamento àquela questão.

OoOoOoOoOoOoO

No intervalo, após a refeição, que Kanon fez quase correndo, ambos foram até a Sala de Atena. Obtendo a permissão para adentrar a sala, uma vez que eram os Mestres do Santuário, a reverenciaram e cumprimentaram. Ela disse a eles:

- O que os traz à minha presença, meus prezados guerreiros?

- Senhora - Saga como o mais velho costumava tomar a palavra primeiro - Viemos pedir sua opinião sobre um assunto muito importante. Meu irmão e eu sentimo-nos muito realizados ao ter tudo que temos hoje. Porém... Kanon me apresentou um desejo seu que já não é novo, e eu vim me aconselhar com a senhora sobre ele.

- Diga, Saga. Qual é o desejo dele?

O coração de Kanon estava na boca. Aquela era a hora decisiva...

Saga não demorou em replicar:

- Ele quer que eu e ele tenhamos um filho.

Atena sorriu.

- E qual o mal em ter um filho? Se você concorda, tudo bem!

Os olhos de Kanon se arregalaram, e ele sorriu.

- Sério mesmo que não tem problema?!

- Por que haveria?

- Senhora - interpelou Saga - Não é recomendado a santos de Atena terem filhos...

Kanon olhou ao gêmeo com a maior indignação possível. Como ele podia querer destruir tudo após a confirmação da deusa?!

- Ora, Saga - ela disse - isso é para quando os Cavaleiros estão em fase de treinamento, são muito jovens... e quando estão em batalha iminente. Você e Kanon já pagaram seu quinhão nesse quesito. Vocês já sofreram muito, e agora estão apenas treinando aprendizes. E de mais a mais, se houver alguma batalha, o filho de vocês poderá ficar com alguma ama seca enquanto vocês lutam. Não haverá problema algum.

- Ééééé, então eu vou ser pai! Muito obrigado, senhora! - Kanon exultou sem hesitar

Kanon estava tão contente dentro de si, que mal podia acreditar. Saiu por aí falando até pros guardas "Eu vou ser pai, está ouvindo?! Vou ser pai!", esquecendo até mesmo do protocolo em ter de se despedir da deusa com reverência.

Saga, ainda atônito, disse enfim:

- Senhora... desculpe a afobação de meu irmão...

- Ah, tudo bem! Eu imagino como ele deve estar feliz. Mas Saga... eu apenas lhes peço uma coisa.

- O que...?

- Que eu possa ser a madrinha de batismo da criança!

- Ahn... mas é claro...! É claro que eu aceito... será uma imensa honra, senhora.

Atena sorriu. Saga a reverenciou e saiu de sua presença, indo atrás do Kanon, o qual já tinha ímpetos de descer as 12 casas contando pra todo mundo que ia ser pai.

- Venha, Kanon! Vamos para casa, ainda temos de comer!

- Ahn...? É mesmo! Mas depois vou contar pra todo mundo!

Saga tomou Kanon pelo braço e o levou até os aposentos de ambos, os quais ficavam depois das Doze Casas porém antes da moradia de Atena. Kanon não parava quieto, rindo à toa, com cara de bobo mesmo.

O mais velho era quem estava realmente surpreso e um pouco incomodado com aquela história...

- Então eu vou ser pai...?

- Éééééé Saguinha, e eu também! Não é lega-...ei, Saga! Por que essa cara?

- Não sei... nunca me imaginei pai, de verdade.

- Ah, Saga, todo mundo é! Até o Ikarus já é pai e está desempenhando muito bem a função! Fica com essa cara de bunda não, Saguinha, você vai adorar que eu sei!

Saga ainda estava processando a informação em sua mente. Era muito rápido para si. A maioria dos homens era pai quando suas parceiras engravidavam, mas Saga... ele e Kanon ainda nem tinham uma gravidez, homens que eram ambos.

- Kanon...

- Diga, meu bem.

- Esse filho... como ele nascerá?

-... ah é... pois é... a gente é homem, não dá pra engravidar. Como vamos fazer?

- Ou adotamos, ou fazemos aquele procedimento da "barriga de aluguel".

- ...é? Pois seria uma boa idéia! Um filho com a nossa cara, imagine que fofo e...

- Calma, Kanon! Você só pensa na "fofura", eu tenho que pensar na parte racional dessas coisas! A parte prática, entende?

- Eh, Saguinha, estraga prazeres não! Quero ficar feliz, vou ficar feliz e depois vou pensar em como trazer a criança ao mundo! É isso, eu vou ser pai!

E, rodopiando pela casa, Kanon foi até a cozinha ver o que Lidiya havia preparado de comida, enquanto Saga ainda ficava com aquele pensamento na cabeça... ainda cedo demais para ele ter digerido a idéia de que seria pai.

OoOoOoOoOoOoO

É isso! Eles vão ser pais!

Desde a fic "Necessidade", que é quando Ikarus, o discípulo de Kanon, engravida Dânae, que o Kanon quer ser. E o Saga nem aí, rssss! Mas agora que até Atena aprovou... sai de baixo!

Gente, vou pedir a vocês opiniões: vocês acham melhor inseminação (barriga de aluguel) ou adoção? Porque ainda não tenho a idéia bem definida em mente...

Beijos a todos e todas!