Disclaimer: Harry Potter e todos os personagens pertencem a J.K. Rowling e várias editoras. Eu não ganho nenhum lucro a não ser o prazer de escrever e dar vida aos meus sonhos loucos. Eu não tenho beta, portanto todos os erros são minha responsabilidade. Desde já, obrigada por sua presença.

É a minha primeira slash, então peguem leve ;). Espero que gostem.

OLHE PARA MIM

Por Debby Bacellar

Dori me... Interimo adapare... Dori me.
Ameno, ameno
Lantire Lantiremo
Dori me

Minha dor... Renova-me... Minha dor
Ameniza, ameniza...

Liberta, Liberta-me
Minha dor

— Olhe para... Mim. — a voz de Severus Snape ecoou rouca, engrolada com sangue que descia pela sua garganta dilacerada pela mordida de Nagini.

Trêmulo das cabeças aos pés, Harry encostou a mão direita na garganta pálida, agora coberta de sangue vermelho e viscoso. O líquido era quente em sua mão, a viscosidade escorrendo por entre seus dedos. O seu aperto era insuficiente para parar o sangramento.

— Olhe para mim. — a ordem foi repetida, agora mais clara e Harry não podia ignorar. Ele olhou para Severus Snape... E se perdeu nos túneis escuros. Os olhos de obsidiana tremulavam em suas órbitas. Harry estava paralisado.

Snape viu os olhos verdes. Tão verdes. Como uma floresta em um dia ensolarado. Como uma esmeralda. Como a maldição da morte. Como os olhos de Lily.

Ele não poderia morrer sem cumprir sua missão.

Severus levantou a mão esquerda, a palma encostando-se à mão de Potter que estava em seu pescoço.

Harry se aproximou mais do homem pálido, manchado de sangue por toda parte. Não foi um feitiço, mas de repente, gavinhas de linhas prateadas saíam dos olhos, nariz e boca de Severus Snape. Harry sabia, eram as suas memórias.

Ele sentiu algo que parecia ser a magia de Snape, pedindo permissão. Era uma sensação forte e ele imediatamente aceitou. Logo, os fios prateados entraram pelos olhos, narinas e boca de Harry e tudo foi instantâneo.

Harry viu com uma solidez assustadora todas as imagens que as memórias que Severus lhe passava.

Ele viu Dumbledore sendo tratado por Snape por causa da maldição do anel de Marvolo Gaunt, uma das Horcruxes de Voldemort, antes do começo do sexto ano de Harry em Hogwarts. Ele viu o quanto Severus lutou para manter Dumbledore vivo com um mix de feitiços poderosos de cura e poções, mas nada era suficiente. Ele só conseguira retardar o efeito e Dumbledore viveria no máximo por mais um ano.

Ver aquilo não era nada comparado com a sensação que assolou Harry naquele instante, e uma parte primordial de Harry sabia que aqueles não eram os seus sentimentos, eram os de Snape. Havia tanta dor, tanta tristeza, depressão, desalento, solidão. Harry sentiu amor por Dumbledore. Amor que não era dele. Era o amor que Severus sentia por Dumbledore. Amor de filho para pai. Amor que não media consequências. Ele faria qualquer coisa que Dumbledore quisesse ou pedisse.

Harry viu Severus em pé no meio de uma sala empoeirada, cheia de livros por todos os lados. Suas mãos estavam entrelaçadas com as de Narcisa Malfoy enquanto Belatrix cacarejava ao redor dos dois bruxos. Com a ondulação da varinha de Belatrix, fios dourados de magia em forma de 8 rodopiou, apertou em seus braços entrelaçados e logo em seguida desvaneceu. Snape estava sendo obrigado a cumprir a tarefa de Draco, acaso o loiro não conseguisse cumprir.

Harry sentiu então a incerteza de Snape. O terror. E então o inesperado aconteceu. Alvo Dumbledore pediu a Severo para matá-lo de modo a poupar a alma do garoto jovem e impedir que sua própria morte fosse lenta e dolorosa.

Severus sabia que, por causa da maldição, Alvo sofreria muito antes de morrer. Ele perderia o controle de sua magia, de seu corpo e de sua sanidade antes que a morte o acolhesse no seu manto.

Ele negou, céus como ele negou. Harry ouviu o diálogo acalorado.

"E a minha alma, Alvo? E quanto a mim?"

"É um favor, meu menino. É uma misericórdia. Não é assassinato. É uma graça".

"Como você pede isso de mim? Você sabe o que você significa para mim... Como você pode?"

"A sua alma Severus, estará livre desse encargo..." Alvo se aproximou do homem desesperado colocando suas mãos enrugadas no ombro do moreno.

"Eu nunca conheci alguém como você. Você define a palavra redenção. Você foi aos maiores extremos para redimir um erro que cometeu em sua juventude, quando ainda era tolo e ingênuo, acreditando em grandeza e glória. Você pode repetir quantas vezes quiser, dizendo que se redimiu por culpa. Mas não é somente culpa Severus. É amor, meu menino. Porque a sua capacidade de amar e de se prender a esse amor é maior do que qualquer coisa que eu já tenha visto. Uma alma como a sua, que já matou pelos motivos certos, não pode ser danificada. Não por ter misericórdia de um velho homem".

"Não, Alvo... Não peça isso para mim, por favor..." – Harry sentiu lágrimas quentes e amargas caindo dos olhos do Snape da memória e de repente percebeu que ele também estava chorando.

Alvo enxugou as lágrimas com as mãos encarquilhadas.

"Eu te imploro, meu menino. Você me chama de senil e tolo todos os dias, mas eu não quero chegar a essa condição de forma real. Faça isso por mim. Faça isso porque você me ama."

Severus chorou mais ainda, um som estrangulado saindo de sua garganta enquanto ele acenava positivamente aceitando o pedido do homem velho.

Alvo o abraçou.

"Obrigado Severus. Você é e sempre será o filho que não pude ter..." Alvo sussurrou. "Eu só posso te pedir perdão por todas as coisas que permiti que você sofresse por causa do bem maior. Por aumentar mais ainda seu encargo, eu vou morrer cheio de arrependimentos, mas nada é pior do que saber que hoje você só está nessa posição porque não fiz nada por você quando você era mais jovem."

"Não é sua culpa..." Severus falou, a voz estrangulada pelas lágrimas.

Alvo abraçou Severus mais forte.

Depois disso, Harry viu uma briga intensa entre Alvo e Severus.

"Para que Voldemort morra, Harry tem que se sacrificar."

"Você o criou como um porco para o abate!". Severus gritou no rosto de Dumbledore. Harry podia sentir sua revolta, o sentimento de repugnância.

"Você me usou. Espionei por você, menti por você, corri risco mortal por você. Supostamente tudo para manter o filho de Lily Potter vivo. Agora você me diz que ele TEM QUE MORRER!... ".

Dumbledore não se abalou pela fúria do homem moreno. "Ora, isso é comovente, Severo. Você acabou se afeiçoando ao menino, afinal?".

Sem uma palavra dita, Severus levantou sua varinha e invocou seu patrono. A corça rodopiou o escritório de Alvo. Harry sentiu a nostalgia, o pesar, a tristeza e o vazio de Snape.

"Todo esse tempo?" Alvo sussurrou. Um olhar de compaixão estampado em seu rosto.

"Sempre." Severus respondeu.

Com um rodopio de suas vestes, Severus saiu do escritório de Dumbledore. A magia descontrolada dele balançou os quadros pendurados por todos os corredores até que ele chegou às masmorras.

Logo Harry foi bombardeado com outras memórias de Snape. Elas tinham uma sensação mais antiga, como se viesse de eras de distância.

Harry viu um menino pálido, magro de cabelos lisos, pretos como carvão deitado na grama com uma menina ruiva, os cabelos vermelhos como chamas, seus olhos verdes fazendo contraste com a pele cor de creme.

O coração de Harry acelerou. Com essa parte dele que ele ainda não sabia descrever, ele percebeu imediatamente quem era a pequena menina. Era a sua mãe, Lily.

"Seus pais ainda estão brigando?". Ela perguntou ao menino Snape. A voz suave como sino de ventos,

"Sim, eles continuam brigando. Mas não vai demorar muito e logo terei ido embora para Hogwarts e não terei mais que ver tanto meu pai". Snape respondeu, o pequeno rosto franzindo numa careta que era uma reminiscência do seu eu adulto.

"O seu pai não gosta de magia?"

"Ele não gosta de nada, Lils."

A memória desvaneceu.

"Eu não preciso de sua ajuda, sua Sangue Ruim!" Harry ouviu Snape gritar na direção de uma Lily adolescente.

Harry viu toda a luz desaparecer dos olhos verdes de sua mãe. Harry ouviu enquanto Snape repetia em sua cabeça... 'É para o seu próprio bem... É para o seu próprio bem, Lils.'

Harry viu o Snape adolescente em um canto escuro da masmorra aparentemente depois do incidente. Ele estava sentado, os braços enlaçando os joelhos. Ele estava chorando. Ele sabia que havia perdido a única amiga que já teve na vida para sempre.

Abruptamente, Harry voltou ao presente. A sensação era como estar dentro de um carro em alta velocidade que tem que frear bruscamente.

Rapidamente, o corpo de Snape entrou em foco. Havia muito mais sangue agora.

Snape arquejava, como se o ar não fosse mais suficiente.

Harry sentiu uma pontada em sua mente e de repente ele ouviu a voz de Snape dentro de sua cabeça.

"Não há mais esperança para mim... Você sabe o que tem que fazer. Vá. E é melhor você vencê-lo seu moleque insolente."

Então Snape estava fechando os olhos lentamente. Harry sentiu mais lágrimas caindo de seu rosto e uma constrição em sua garganta.

Hermione e Ronald entraram na sala decrépita da Casa dos Gritos.

— Temos que ir agora Harry. — Hermione disse frenética.

E Harry foi. Ele foi determinado a vencer. Pelo mundo bruxo. Pela sua família perdida. E agora também, por Severus Snape.