Título da Fic: A Teia da Aranha
Livro: Harry Potter
Casal: Harry x Draco
Classificação: Slash/ Lemon/ Angust/ Romance/ Suspense.
Status: Em andamento.
Autora: Lady Anúbis.
Beta: Samantha Tiger Blackthorn
A TEIA DA ARANHA
Capítulo 1 – Teia da Maldade
Um diário... Nem sei por que estou escrevendo esse troço. Para mim estas coisas são inúteis, mas... Nesse momento foi a única forma que encontrei de contar a verdade sobre tudo que está acontecendo. Minha versão, que nunca foi ouvida e nunca será. Ninguém se interessa, pois na visão de ambos os lados sou o idiota pomposo filho de Lucius Malfoy, mais nada. Pode até ser a verdade... Admito hoje que fiz jus a essa fama. Mas nesta altura dos acontecimentos, quando pareço apenas um peão (descartável como todos os peões), sou um... Ah, sei lá... Não entendo desse jogo e não lembro do nome das peças. Mas eu fui uma peça importante que abriu caminho para que tudo isso se precipitasse.
Geralmente o jantar na mansão Malfoy é cercado de formalidade, mas nunca como nessa noite. A luxuosa sala de jantar, adornada como havia sido projetada há 400 anos, parece ainda mais opressiva do que Draco sempre a imaginou. Estão, ele e a mãe, sentados em uma das pontas da enorme mesa, de frente um para o outro, nenhuma palavra sequer sendo trocada. Isso não é o normal de suas refeições. A mãe sempre o trata com carinho e atenção, e as refeições são os momentos em que mais se sente em família.
Os olhos cinza se levantam algumas vezes, a cabeça se erguendo ligeiramente na direção da mulher tensa a sua frente. Não gosta de vê-la assim. Aquele rosto bonito, altivo, emoldurado pelos belos e longos cabelos loiros presos em um coque, tão parecido com o dele mesmo, não fica bem com essa expressão endurecida. Apesar de ser tão aristocrática, para ele sempre existe um sorriso, um mimo ou uma palavra de afeto. Pelo menos da parte dela...
Sabe que a presença dos comensais em sua casa é o que a perturba dessa forma. Apesar do marido também ser um deles... Ela teme por sua família... E esta sempre é sua prioridade. Os olhos azuis da mulher se dirigem ocasionalmente na direção da porta da biblioteca, esperando que eles finalmente vão embora.
O filho percebe que algo mais a preocupa, algo que a faz lançar olhares em sua direção, que disfarça, fingindo estar concentrado no pedaço de assado em seu prato. E isso lhe revela muito mais do que se ela falasse sobre sua aflição. A mãe teme por ele, pois de alguma forma tudo o que está acontecendo naquela sala pode o atingir. Mas ela é cega ou prefere não ver... Não há nada que possa acontecer que o atinja mais do que... Balança a cabeça para afastar esses pensamentos.
Os dois claramente enrolam com a comida, meio sem fome, sempre lançando olhares silenciosos para aquela porta, esperando o resultado do que já se prolongava por quatro horas. Foi então que o ruído esperado aconteceu. Os rostos loiros se levantaram, observando a saída de alguns dos mais influentes comensais a serviço do Lorde das Trevas, seu pai nitidamente liderando-os. Narcissa não gosta de nenhum deles, mas jamais diria isso a seu marido, apesar de saber muito bem que ele os considera inferiores.
Lucius fecha a porta depois que todos saíram e vem até a porta da sala de jantar. O homem alto, de longos cabelos platinados, todo vestido de preto, caminha resoluto até eles.
- Filho... Venha! – Olha para a esposa que não fica nada satisfeita com sua expressão. – Temos algo importante para conversar.
- Mas eu ainda não terminei de... – Os olhos cinza passam dele para o prato, tentando protelar o inevitável.
- Venha! – Seus olhos se estreitam na direção do filho. – É uma ordem!
Draco levanta meio sem vontade, saindo da sala seguido do pai, que aponta para que ele entre na biblioteca, a porta sendo fechada atrás deles, Narcissa ficando do lado de fora. O ambiente está carregado, uma mistura de cheiros de bebida e tabaco, tudo dando à sala uma sensação que enjoa o estômago fraco do garoto. Ele se senta em uma das poltronas, o pai andando de um lado para o outro de excitação.
- Espero que a reunião tenha sido produtiva. – O rapaz fala tentando parecer tranqüilo, apesar de seu coração estar apertado no peito.
- E muito! – Os olhos do pai brilham, olhar perdido nas glórias vindouras. – Decidimos algo que vai me colocar definitivamente ao lado do Lorde das Trevas quando voltar ao seu lugar de direito.
- Ah é! O que... – O pai o interrompe colocando a bengala sobre seu ombro de forma brusca.
- Eu falo e você escuta. – Retira a bengala, sem sequer se importar com o olhar contrariado do garoto. – E finalmente você pode fazer algo do que posso me orgulhar.
- Mas eu... – Um levantar da bengala o faz calar novamente.
- Ora... Admita que você tem sido uma decepção até agora. – O olhar de desprezo de Lucius se coloca diretamente sobre o rosto de pele de alabastro.
As palavras do patriarca ecoam por todo o seu ser. Apesar de saber que o pai esperava mais dele, que ele fosse melhor que Harry Potter, nunca havia dito isso de forma tão clara. Abaixa a cabeça, evitando o olhar poderoso sobre seu rosto.
- Mas criamos esse plano especialmente para que você o execute. – Isso faz com que ele levante o rosto, sabendo que o que temia realmente é uma realidade. – E você poderá ser o maior herói do novo domínio de Lorde Voldemort.
Fica em silêncio, sem saber se deve falar ou se o pai fez uma de suas pausas dramáticas. Seu estômago já está ficando embrulhado, pois não deseja em hipótese alguma participar do plano idiota deles, mas sabe que não lhe será dada qualquer opção.
Lucius está extasiado com a própria inteligência. O plano, criação de sua mente, é genial. Seus cúmplices custaram a entender a beleza dos detalhes, a perfeição do planejamento e a delícia de ter Draco como protagonista. Somente o seu belo filho seria capaz de levar esse plano adiante. Contanto que ele não estrague tudo... Como sempre faz.
- Com tudo o que aconteceu no final do Torneio... – Ainda se lembra do dia em que seu mestre voltou. – O Potter vai estar sob um forte esquema de segurança. Fica ainda mais difícil se livrar dele. E sua função será nos proporcionar essa...
- E por acaso... De que forma genial vocês imaginam que farei isso? – Não consegue deixar seu sarcasmo fora dessa conversa, logo se arrependendo ao ver o olhar fulminante do homem a sua frente.
- Você vai seduzi-lo! – Um sorriso sádico toma conta de sua expressão, enquanto olha para o rosto perplexo do filho.
Draco se levanta, um sorriso nervoso em seu rosto, assim mesmo tentando manter a pose e principalmente... Certa distância do pai. Dá alguns passos em direção a janela, olhando para o lado de fora, mas logo volta sua atenção para o comensal, reunindo forças para falar o que deveria ser dito, afinal... Aquele plano é ridículo!
- O senhor está brincando comigo, não é? – A risadinha que se segue é altamente forçada, pois sabe muito bem que o pai não é de brincadeiras.
Lucius não diz nada, apenas continua observando o filho, lhe dando a certeza que o plano é esse mesmo e que fala muito sério. Isso perturba o jovem loiro, não conseguindo entender de onde o pai e os amigos idiotas tiraram tal idéia.
- Mas... Por acaso o senhor sabe que eu gosto de garotas... Certo? - Olha para o pai, achando que o mesmo não deve ter a mínima idéia sobre seus gostos pessoais, não que ele achasse que o pai reparasse em algo relacionado a ele...
- Isso não me interessa! - O pai se aproxima dele, sabendo o quanto isso o deixa nervoso. - Não estou pedindo para apaixonar-se por ele, mas apenas para seduzi-lo.
Suas mãos se aproximam ainda mais do filho, passando uma delas sobre seu cabelo loiro e macio. Adora perturbá-lo dessa forma, tornando-o suscetível e facilmente manipulável.
Aquelas palavras parecem uma facada... Não interessa? Oh! Deveria ter imaginado que não, afinal... Tudo o que importa é vencer Potter, certo? Suspira e então percebe a aproximação do pai e imediatamente seu estômago revira. Draco se sente paralisar, principalmente ao sentir o toque em seus fios loiros... Seu coração bate descompassadamente... Tão forte que faz sua caixa torácica doer e seus punhos se fecharem em nervosismo
- E... Durante a elaboração de seu brilhante plano... Passou pela sua cabeça que Potter pode não gostar de garotos? - Pergunta em tom baixo, sério, parte de seu nervosismo transparecendo em sua voz.
- Você o conhece melhor que eu... - Usa um de seus mais satânicos sorrisos e se afasta, sentando sobre a escrivaninha. - Deve saber a melhor forma de se aproximar dele. E não é ele que não dá certo com garotas... Como você?
O pai deixa claro o quanto considera o filho um fracasso em tudo que faz, sendo uma eterna decepção para suas altas ambições.
Aquele sorriso satânico o incomoda mais do que tudo e se sente aliviado quando o vê se afastando de si. Trinca os dentes ao ser comparado a Potter e principalmente... Pelo pai, como sempre, rebaixá-lo a um estado pior do que verme, pois era exatamente isso que aqueles olhos e o tom de voz de Lucius lhe transmite.
- E quando ele tiver caído na minha... Sedução... - As palavras saem a contragosto de seus lábios e Draco lança um olhar de aversão em direção a uma estante, sem encarar o pai. - Como seguirei seu plano?
Draco quer gritar! Ele, um Malfoy, ter que se rebaixar e seduzir Potter? Aquilo é o cúmulo, mas sabe que o pai nunca desistirá de seu maravilhoso plano e ele tenta se concentrar e não deixar que uma enxaqueca comece.
- Você deve envolvê-lo, fazê-lo confiar completamente em você... A ponto de confiar a própria segurança em suas mãos. - Sabe que suas palavras guardam uma verdade incômoda, pois uma sedução leva a um caminho que pode não ter volta. Mas está decidido a sacrificar seu filho... Seu brinquedo particular... Pelo poder que alcançará.
- Algo desse tipo leva tempo... – Draco comenta, não gostando nada do que está ouvindo. Aquele plano o incomoda demais... Ter que seduzir Potter... Aquilo não entra em sua cabeça, mas não tem mais volta, seu pai nunca permitirá que ele desista, que se recuse a participar do 'formidável' plano. Passa os dedos pelos fios loiros pensativo. Fazer aquele maldito confiar nele será algo complicado... Não impossível, mas complicado e levará tempo... Semanas, meses... Talvez anos! Não se conquista um coração tão rápido assim, ainda mais de um inimigo e ele nem quer pensar em como será beijar outro rapaz... Isso quase lhe causa náuseas.
- Você não terá muito tempo. O Lorde das Trevas tem seus próprios planos e quero o Potter fora do caminho antes disso. - Olha para o filho sabendo que ele é um fraco e tudo isso sempre vai parecer um obstáculo intransponível.
- E quando tempo eu terei, então? - Pergunta, não gostando do olhar do pai sobre ele.
Procura assumir uma postura forte, tranqüila, tentando mostrar para o pai que não está tão nervoso quanto realmente está.
- E quando ele estiver confiando plenamente em mim? - Olha para o pai. Se ele tem que participar desse plano e é uma parte fundamental, deve ter o máximo de informações possíveis.
- Você vai levar essa sedução até as últimas conseqüências se for preciso... – Novamente o sorriso satânico. - Depois vai afastá-lo da segurança dos amigos e entregá-lo para mim.
Aproxima-se novamente do filho, fazendo-o recuar até encostar-se na parede. Fica tão próximo dele que pode sentir sua respiração descompassada.
- Como? - Sua face agora está intrigada... Como assim 'últimas conseqüências'? Do que aquele homem está falando? Vê seu pai aproximando-se e começa a recuar, sentindo o coração bater mais forte, até não ter mais para onde fugir, pois a parede o impede e sua respiração descompassa-se para seu desagrado.
- Entendeu o que eu quis dizer com 'últimas conseqüências'? - Coloca a mão pesada sobre seu peito.
Sua mente registra a pergunta e começa a processá-la, enquanto sente a mão pesada sobre seu peito, como se fosse uma ameaça a sua existência e aquilo lhe traz um quase desespero. Raciocina sobre o que Lucius disse e sua mente vai ligando os pontos... Sedução... Amizade... Confiança... Beijos... Sexo. Draco tem que se segurar para não arregalar os olhos ante tal 'descoberta', sua mente finalmente se dando conta do que o pai quer dizer.
- Sim... Se precisar... Faço sexo com ele. - Responde por reflexo, de forma automática, ainda tentando fazer seu cérebro acreditar naquela nova realidade, por mais humilhante que ela seja.
- Bom menino... - Lucius toca em seu rosto com delicadeza. - É assim que o papai gosta.
Ele ri, muito alto, da forma que sempre faz quando o filho se mostra assim tão submisso. Sente-se poderoso, superior... Digno de figurar entre os mais destacados servidores de Lorde Voldemort.
Lucius lhe causa um medo fora do comum e Draco fecha os olhos um instante ao sentir o toque delicado em sua face, mas depois os abre, ouvindo a risada alta, sarcástica e desdenhosa daquele homem. Seus olhos acinzentados não encaram o pai e se fixam em algum ponto no chão, mantendo-os ali enquanto ele gargalha.
- E depois que você entregá-lo... Vai ter o prazer de vê-lo morrer nas minhas mãos. - Olha para o filho, sabendo como estas palavras vão chocar seu estômago fraco. - E deixo você me ajudar a matá-lo... Para compensar a humilhação de entregar-se para um mestiço.
"Ver Potter morrer? Nas suas mãos?" - Pensa, já imaginando o quão cruel ele seria e apenas esse pensamento o deixa enjoado.
Dá de ombros, não deixando transparecer em absoluto como este pensamento lhe traz sentimentos contraditórios. Despreza Potter, por tudo que representa, por sua eterna atitude de herói, pela forma como as pessoas o idolatram. Além disso, percebe como o pai sempre o compara a ele. Mas ao mesmo tempo, matá-lo estranhamente o incomoda, sentindo certa raiva.
- Pouco me importa como vai matar Potter, contanto que ele morra... - Diz ainda sem mirar o pai, fechando os punhos com mais força. - E o que mais eu ganharei ao finalizar esse plano? Como peça principal, acho que devo ter algum lucro.
O pai se surpreende com sua ousadia, sente uma ponta de orgulho. Nestes momentos ele até parece com ele mesmo, mas... Sabe que o garoto diz isso para agradá-lo. Aproxima-se ainda mais dele, sua boca quase se encostando a sua orelha, percebendo a reação que essa sua proximidade provoca.
- Nunca mais... - Diz em um sussurro, afastando-se um pouco, levantando-lhe o rosto, forçando-o a encarar seus olhos, sorrindo maliciosamente para o filho. - Isso é o bastante pra você?
- ...! - Seu corpo treme de leve com aquela aproximação que sempre o deixa tão inseguro como se estivesse com uma navalha no pescoço.
Seus olhos cinza se encontram com os orbes azuis de Lucius, estremecendo novamente, seu corpo inteiro tenso. Odeia... Odeia essa aproximação! Sente os dedos dele em sua face e não desvia o olhar do dele.
- Que garantia eu tenho que manterá o acordo? - Não sabe como, mas faz a pergunta.
O homem se afasta, ainda mais surpreso pela coragem necessária para o filho lhe dizer isso. Percebe que o tempo o torna perigosamente insolente, sabendo que o que oferece pode torná-lo mais independente. Mas tudo vale a pena se puder destruir Potter e garantir ao seu Lorde a supremacia, o poder, pois ele estaria em lugar de destaque entre os seus servidores.
Pensa em dar sua palavra de honra, mas sabe que isso não o convenceria, pois nunca teve muito disso. Olha para os orbes inquisidores e pela primeira vez vê desafio neles. Todavia, apesar de inicialmente ficar aturdido, sorri maliciosamente em sua direção.
- Por que matar Potter é... - Sabe como estas palavras vão atingi-lo, sentindo que este é o clímax de seu domínio sobre ele. - Mais importante do que você.
Aquelas palavras atingem Draco em cheio e suas mãos se fecham com tanta força que as unhas quase ferem as palmas, enquanto ainda olha para o pai num misto de decepção, ódio, alarme... Mas então fecha os olhos e suspira profundamente, tentando acalmar-se... Tentando focar sua mente em apenas uma coisa... O fim daquilo...
- Ótimo! A morte de Potter resolve tudo. - Diz em tom sério, erguendo os olhos e fitando o pai. - Agora posso ir ou tem mais alguma recomendação sobre seu maravilhoso plano? - Há certo sarcasmo em sua voz.
- Não... Acredito que você entendeu tudo direitinho. - Abre a porta, deparando-se com a esposa a espera do lado de fora. Irrita-se, pois não gosta quando ela faz isso. - Narcissa, querida... Estou querendo um bom banho. Peça que preparem um bem relaxante. Estou me sentindo ótimo hoje!
Olha para trás, vendo como a menção do banho abala toda a arrogância que se formara no rosto do jovem loiro.
- Nunca mais... - Sorri para ele novamente, de forma vitoriosa. - Faça-o comer na sua mão.
ooOoo
Não sei dizer muito bem por que aceitei aquele plano. Meus motivos egoístas estavam claramente na frente de tudo... Na verdade foi o fato de não saber dizer NÃO ao meu pai, mas... Havia algo mais. Era a primeira vez que colocavam algo importante para ser realizado por mim, meu pai confiava na minha capacidade. Ou ao menos parecia na época! Era mais do que isso... Um desafio onde eu poderia finalmente vencer o Potter, em um jogo em que usaria as fraquezas dele... Aquilo que mais o diferenciava de Voldemort... Seus sentimentos!
E vê-lo no trem foi estranho. Pela primeira vez eu olhava pra ele, tentando reparar nele, procurando em minha mente a melhor forma de atraí-lo para a minha armadilha. Preparava minha teia e pensava na melhor isca para trazê-lo até ela.
O jantar inicial no Grande Salão já começara, como sempre logo depois das escolhas feitas pelo Chapéu Seletor. Harry e seus fiéis amigos se servem, mas o clima entre eles é tenso. Desde o que acontecera no Torneio, Potter está estranho. Ele esperava mais do Ministério, mas não acreditam quando diz que Voldemort está de volta. O fizeram parecer um mentiroso ou coisa pior e isso o deixa constantemente irritado ultimamente.
E agora se vê altamente vigiado por todos, sabendo que temem por sua segurança, mas... Afinal, nunca gostou de toda essa atenção voltada para ele. Tenta se acalmar, sabendo o quanto pode ser irritante quando fica assim. Hermione já o repreendera sobre isso, mas não consegue evitar. Sabe o que presenciou e o que isso significa.
Tenta desviar do olhar dela e volta-se para trás, sem querer, na direção da mesa Slytherin. Seus olhos se cruzam com um par inusitado. Draco parece observá-lo atentamente, timidamente desviando quando percebe ter sido descoberto. Mas há algo estranho... Não sabe dizer exatamente o que, mas... Sua expressão não é a mesma de sempre, parecendo interessada, não enojada. Afinal, Malfoy sempre parece ter uma cara de nojo quando o olha. Isso o deixa intrigado, mas afasta esse pensamento, ainda irritado.
- Pára com isso! – Hermione bate em sua mão para chamar sua atenção, estando diretamente à frente dele. – Melhora essa cara!
- Ela tem razão, Harry. – Rony o cutuca no braço, sentado que está a seu lado. – Já cansamos dessa sua cara de bravo.
- Não são vocês que... – Diz um tanto amuado com a incompreensão dos dois.
- Não! Lá vem o mesmo 'blá-blá-blá' de estar sendo injustiçado e coisas do gênero. – O ruivo se volta para ele. – Adianta você ficar assim? Não vai convencê-los de que fala a verdade.
Percebe que o amigo tem razão. A única coisa que pode ganhar é uma úlcera, mas... Não consegue evitar!
- Por acaso vocês notaram como o Malfoy está estranho hoje? – Ele diz baixinho, principalmente para a amiga, que está de frente para o loiro.
- O Malfoy é estranho! – Rony diz categoricamente, lançando um olhar de desprezo para o slytherin.
- Ele te olha, mas... Isso é normal! – Ela pega um chocolate que morde com todo gosto. – O sujeito fez de te atormentar a razão da vida dele. Deixa pra lá.
Não era isso que vira, mas... Deixa pra lá! Não sabe dizer o quanto sua irritação já se tornara uma paranóia. Decide deixar de lado suas desconfianças e sai do Salão para subir para a Sala Comunal junto com os demais. Logo estaria dormindo e se acalmaria um pouco. Não antes de lançar um último olhar para trás, novamente cruzando com os olhos cinza que o encaram.
ooOoo
Fôra muito difícil conciliar o sono, pesadelos assolando sua mente, sensações estranhas de que algo medonho vem sendo feito e nada pode fazer quanto a isso. Sabe que o que quer que seja está relacionado a seu principal inimigo... Voldemort. E foi assim por vários dias, sempre deixando sua cama e se refugiando à beira do lago, onde pode ficar sozinho e pensar, enquanto observa o sol nascer, lançando sua enorme gama de cores sobre a água.
Mas um dia, quando seguia novamente a sua rotina dos últimos tempos, se depara com uma surpresa. Chega próximo de seu lugar de meditação e vê que Draco Malfoy está por ali, sentado na sua pedra favorita.
"Será que nem aqui esse sujeito me deixa em paz?" – Pensa exasperado, já se virando para voltar para a escola.
Mas percebe então, quando o garoto levanta o rosto, que parece haver uma profunda tristeza em sua expressão. Isso o intriga, pois nunca imaginou qualquer sentimento na mente dele. E isso o faz se sentir envergonhado. Como pode pressupor que o outro é incapaz de sentir? Sequer o conhece direito, de verdade, para saber. Fica interessado em se aproximar, mas teme sua reação. Só que sua curiosidade é maior e decide chegar mais perto.
- Draco... – Diz em tom baixo, para não assustá-lo.
- Ahn...?! – O loiro volta o rosto para ele, emprestando a sua expressão a nítida noção de que se surpreendeu, apesar de ter visto o inimigo se aproximando. – O que você quer Potter? Agora deu pra me seguir?
- Não! – Harry quase se arrepende de ter se aproximado. – Eu só... Venho aqui todos os dias nessa hora... Eu... Não te devo explicações!... Só queria saber se estava bem. Sou um idiota mesmo.
- Tem razão... É mesmo. – Sua expressão sarcástica é absolutamente genuína. – Não preciso que ninguém se preocupe comigo... Muito menos você!
O moreno nada diz em resposta, apenas se volta para sair desse lugar e da companhia dessa pessoa desagradável. Não acredita que se sentiu envergonhado por menosprezá-lo. Mas sente um toque em seu braço quando já saía, percebendo que a mão de dedos finos e delicados o segura. Levanta os olhos sem entender, deparando-se com aquele olhar que flagrara no Salão.
- Descul... Bem... Ahm... Se você vem aqui todo dia... – Afasta-se para o lado, dando lugar para que Harry sente a seu lado, mas evitando o olhar deste, pois neste instante está realmente nervoso. É o primeiro passo para o seu plano. – Pode sentar. Prometo não te empurrar ou coisa do gênero. Não estou com vontade de brincadeiras.
Realmente surpreso e ainda desconfiado Harry decide aceitar o convite e ver onde isso vai dar. Acomoda-se ao lado do loiro, seus corpos mais próximos do que já estiveram durante esses cincos anos, não sentindo a eterna eletricidade que os repelia.
- Eu não estava conseguindo dormir... – A voz do loiro soa vacilante, como se ele estivesse um tanto perdido, como se encarasse o moreno como uma pessoa qualquer e neste momento parecesse querer alguém com quem falar.
- Eu também não. – Harry diz, ainda meio sem graça por estar conversando com a última pessoa com quem imaginou dividir isso.
- Já se sentiu encurralado, sem idéia de como fugir de algo que o magoa? – Diz sem olhar o garoto que despreza, esperando que suas palavras surtam o efeito que deseja.
- Muitas vezes... – Os olhos verdes se fixam sobre ele e seus olhos perdidos na imensidão do lago. – Nunca imaginei que você pudesse se sentir assim.
- Por quê? – Volta-se para ele, raiva nos olhos. – Pensa que eu não sinto nada? É assim que você e seus amiguinhos me encaram?
- Desculpa se te ofendi... – Ele vai se levantando, temendo que isso possa levar a mais uma briga, e não está a fim disso. – Melhor eu te deixar sozinho.
A mão novamente segura a sua, mostrando-se fria e trêmula.
- Não! Fica... – Draco disfarça o medo que sente.
- Tem certeza? – A cabeça loira assente e seu olhar se perde novamente nas águas do lago. Harry então se senta novamente a seu lado. – Se eu disse isso é... Na verdade... Eu não o conheço direito.
- Eu sei... Também não te conheço. – Diz isso com sinceridade, sentindo-se fraquejar, mas sempre mantendo em mente as vantagens que terá. – É que hoje estou com raiva do mundo... Da minha vida... De tudo.
- Por quê? – Harry não sabe se deve fazer essa pergunta, mas ela sai quase que automaticamente. – Você parece ter tudo que deseja.
- Meu pai... – A menção dele já o faz estremecer e isso não faz parte do teatro que montara. – Ele... Eu... Não! Não posso falar disso. Muito menos com você.
Ele se levanta depressa, mas deixando entrever uma lágrima que escorre por seu rosto, deixando Harry mais do que chocado. Nunca vira qualquer expressão de sentimento neste rosto e agora parece tão frágil diante dele. Dessa vez sua mão que segura a dele, tentando impedi-lo de partir. Os olhares se cruzam, se estabelecendo algo inédito entre eles, um entendimento, uma compreensão...
Draco puxa sua mão e um meio sorriso surge em seus lábios, mas logo se afastando depressa, lançando um olhar para Harry, que sorri também para ele. O loiro se distancia e pára. Sente o estômago apertado e acaba vomitando, tal o seu nervosismo. Sente-se pior do que pensou que ficaria. Acreditava que seria prazeroso enganar o 'testa rachada', mas isso não está nem perto do que sente realmente.
Potter, por sua vez, fica ali fitando o outro garoto até que desapareça, depois se voltando para o lago. Não pode comentar isso com os amigos, sente que isso é algo que tem que ficar entre ele e Malfoy. E...
"Eles nunca acreditariam em mim mesmo!"
ooOoo
O primeiro contato fora proveitoso, foi o que pensou Draco ao voltar para o seu quarto, tentando racionalizar tudo. Está pouco se importando com a guerra que já parece uma realidade, com a volta de Voldemort, mesmo que o Ministério queira tapar o sol com a peneira. Sabe que o lado das trevas se arma para este confronto e fará de tudo para sumir quando começar. Isso mesmo, ele não pretende lutar de lado nenhum, e este acordo com o pai lhe dá a desculpa para afastar-se. Livre dele poderá partir para algum lugar onde possa apenas observar. Já se cansara de tentar impressioná-lo e não nasceu para lutar.
Senta junto a sua escrivaninha e tenta pensar em seu próximo passo. Não que já não tenha feito um roteiro de sua ação. Pode não ser o heróico Potter, nem a nerd Hermione, mas também é inteligente e decidido. Principalmente quando tem algo a ganhar com isso. Mas seu plano não pode ser rígido, pois está lidando com um ser humano e suas reações são variáveis. Tudo isso o enoja... Mas fará tudo que for preciso...
"Tudo mesmo?" – Morde os lábios ao mentalmente fazer-se essa pergunta.
Prefere não pensar no que sentiu. Afinal, tem de encarar tudo isso como um negócio e deixar qualquer escrúpulo que possa ter muito bem escondido em seu lugar. Sua liberdade está em jogo e pretende conquistá-la. E vencer o maldito Santo Potter pode ser apenas um bônus. Dane-se se ele vai morrer! Nunca se preocupou com ele mesmo! E quanto às 'últimas conseqüências'... Sabe muito bem que gosta de garotas... Tem certeza que não terá que chegar a esse ponto... Isso! Pode muito bem seduzi-lo sem isso.
Decide parar de pensar e sair para as aulas. Ninguém deve notar nada, pois qualquer desconfiança daqueles intrometidos dos amigos do Harry e todo seu plano estaria destruído.
"E preciso ser habilidoso para que o linguarudo do 'cara de cicatriz' não conte nada. Droga! Preferia não ter essa responsabilidade!"
ooOoo
Por dias seguidos a cena do lago se repete, ficando os dois sentados, quase sem falar, apenas olhando o lago. O loiro acha que é melhor assim, seria suspeito confiar em um inimigo muito facilmente, mas precisa sair da concha em algum momento, só não sabe precisar quando. Potter pode ser sentimental até demais, mas não é nem um pouco burro.
Em uma dessas manhãs em que dividem a calma e a beleza do lago, Harry chega cabisbaixo. Ele insiste em contar sua versão dos fatos do final do Torneio, o que faz a professora Umbridge, indicada pelo Ministério para ensinar Defesa contra as Artes das Trevas, puni-lo com numerosas detenções. E parece que ela não se limita a dar-lhe tarefas extras... Apesar da dor que sente, esses encontros silenciosos se tornaram o seu desafio de todos os dias, uma forma de fugir da dura realidade. Senta-se ao lado do loiro, quase que instintivamente, e encolhe as pernas, abraçando-as com força e escondendo a cabeça nos joelhos. Dessa vez ele não quer conversar e isso fica bem claro. Certo que sempre falam pouco mesmo!
Mas este silêncio está diferente, pois há um forte sentimento de dor e humilhação preso no peito do moreno. E isto começa a incomodar o loiro a seu lado. Mas por quê? Isso não é importante... Precisa pensar em transformar tudo isso em algo a seu favor. Pensa no que dizer, mas... O que poderia ser dito? Olha então para a mão ferida que Harry tenta inutilmente esconder.
- Ela que fez isso? – Draco tenta tocar na mão marcada, mas o moreno a puxa para si. – Não pensei que a detenção dela chegasse a esse ponto.
- Tudo por que eu estou dizendo a verdade. – A raiva faz seus olhos brilharem, o que não passa despercebido, pois o loiro nunca o vira assim. – Ela não pode dizer que Voldemort não voltou... Eu sei o que presenciei.
- Eu acredito em você. – Diz olhando fixo para ele.
- Você sabe que ele voltou, não é? – Volta-se para o outro, malícia carregando suas palavras.
- Você sempre acha que sou um comensal da morte? – Malfoy se levanta e apóia o ombro numa árvore logo à frente, ficando de costas para o moreno.
- Não! Espera... Eu... – Como sempre fica sem jeito ao chegarem a esse ponto em suas conversas. – Estou errado em julgá-lo. Desculpa.
Volta a esconder a cabeça nos joelhos. Sua voz fica embargada, escondendo algo que sente muito profundamente. Draco se volta para ele, sabendo nitidamente que esconde algo.
- Me conta... Sei que algo te aflige mais do que a dor. – O loiro imprime um tom incisivo à própria voz, tornando impossível ao outro lhe negar a verdade.
- Eu sou o culpado! – Levanta o rosto e encara os olhos cinza. – A morte do Cedric... Eu fui o culpado.
- Como assim?! – Ele se aproxima, ficando parado diante dele.
A proximidade dessa vez incomoda Harry, que se afasta sobre a pedra, se encostando ao tronco caído atrás dele.
- Ele tentou me defender... – Tira os óculos já um pouco embaçados pelas lágrimas que tenta esconder. – Foi morto por minha causa.
- Pára com essa sua mania de se achar o centro do universo... – Deixa todo o seu sarcasmo transparecer e se arrepende imediatamente.
- Eu não penso assim! – A reação de Harry é imediata, levantando-se de um pulo. – Você não pode entender mesmo.
- Espera... Não vai embora! – Precisa corrigir depressa aquilo que deixou escapar. – Só estou dizendo que você não é culpado por tudo que acontece a sua volta. Simplesmente você não podia fazer nada, não tinha como evitar. E assim é a vida... Também já pensei assim, mas... Hoje sei que há coisas que vão além de nossas forças.
- O que... Você... – Senta-se novamente, olhando-o intrigado.
- Como você se abriu comigo... Vou fazer o mesmo. – Abaixa a cabeça e se afasta, ainda ficando de frente para ele. Encara o pé, que se move nervosamente. Levanta então o rosto, desconfiança em seus olhos acinzentados. – Mas você tem que me dar sua palavra que isso não sai daqui.
- E você confia na minha palavra? – Isso lhe parece estranho, pois o loiro jamais revelaria um segredo a ele.
Malfoy senta novamente a seu lado, cansara de ficar de pé. Mantém a cabeça abaixada, olhos fixos em um montinho de capim crescendo no meio da grama.
- Você pode ser sentimental demais... E prepotente... – Sorri ao perceber a reação física de Potter à crítica que lhe faz, fechando as mãos como se quisesse socá-lo. – Mas você tem honra e... Se disser que não dirá nada... Acredito em seu silêncio.
Coloca as mãos sobre o colo, encarando as unhas, vendo um pedacinho de pele solto e o roendo. Seu nervosismo é evidente e isso faz com que tudo o que Harry sentia ficasse em segundo plano. Volta-se completamente para o loiro que evita a todo custo encarar os olhos verdes.
- Aquilo que eu não consegui dizer aqui naquele primeiro dia era que... – Suas mãos se fecham, enterrando as unhas na palma. – No primeiro ano... Quando entramos aqui... Começou a acontecer algo... Algo... Entre eu e meu pai... Algo...
- A-Algo?! – Potter pisca os olhos tentando compreender a dimensão de suas palavras.
- É... Você sabe... Ele me... – É difícil dizer isso e o 'testa rachada' não colabora. – Ah, Potter! Por favor... Deixa de ser tão inocente!
- Ele abusa de... Você? – O olha fixamente, vendo como Draco abaixa o rosto, talvez para esconder a vergonha.
- O que você acha? – A resposta é uma pergunta raivosa.
Os olhos de Harry se arregalam em completa descrença que Lucius Malfoy fosse capaz de fazer algo assim com o próprio filho. Sente o estômago revirar, náuseas fazendo-o se recostar novamente ao tronco. De certa forma começa a entender melhor o garoto a seu lado.
- No começo me sentia culpado... Principalmente por não resistir... E quanto mais velho, mais isso me parecia uma falha minha. – É então que olha para Harry, tornando essa pausa dramática essencial para o efeito que deseja. – Hoje eu sei que a culpa é dele... Está além de minhas forças.
- Então... Ainda... – Nem sabe como falar qualquer coisa.
- Sim... Mas... Já não me afeta como antes. – Volta a encarar o monte de capim, dando a nítida impressão que não está dizendo toda a verdade. – Por isso adoro estar na escola, pois... Estou longe dele.
Todas essas revelações deixam Harry confuso, sem saber o que pensar. Nunca se sentiu tão próximo de seu antigo inimigo como nesse momento. Só que isso ainda lhe é muito estranho. Ainda não pode acreditar que estão tendo esse tipo de conversa, apesar de terem se aproximado nos últimos dias.
- Mas por que você está me contando tudo isso? – Olha fixamente para ele, o puxando pela camisa, forçando-o a encará-lo.
Deseja ver em seus olhos se há sinceridade em suas ações e em suas palavras. Teme ser enganado pelo seu rival e isso é algo que aprendeu com o tempo: sempre espere o pior de seus inimigos.
- Não sei bem... Acho que vejo você como... Um amigo. – Seus olhos parecem realmente confusos. – Não sei dizer, pois nunca tive nenhum.
- Mas e... – A resposta o surpreende de verdade.
- Tenho gente que me adula pelo poder do meu pai e... Por causa do dinheiro da minha família. – Essa é uma verdade incômoda, mas ainda uma verdade.
Os olhos verdes se estreitam tentando imaginar como é viver sem amigos. Na verdade... Durante muitos anos essa fôra sua própria realidade. Depois que começou em Hogwarts, nada mais foi o mesmo. E sendo 'famoso', muitas pessoas tentaram aproximar-se dele, mas tem sorte de ter amigos de verdade. Para Draco isto é uma realidade permanente, pois sempre será um Malfoy. E percebe que o loiro pode tentar demonstrar que não liga para isso, mas o incomoda. Não ter ninguém em quem confiar, sempre envolvido por toda essa hipocrisia. O entende ainda melhor e sente algo estranho, como se... Quisesse abraçá-lo.
– Mas não vai se achando, só por que eu lhe disse isso. – O seu tom sarcástico novamente presente.
Os dois riem de suas palavras, sentindo-se relaxar depois de tudo que revelaram um para o outro. Mas logo o loiro assume uma expressão séria.
- Mas ninguém deve saber disso... Jamais. – Segura o moreno pela gravata, forçando que o encare diretamente. – Se meu pai souber... Estarei perdido.
- Será o nosso segredo. – Entende muito bem as razões dele e as respeita.
- Estou falando sério de verdade. – Puxa-o ainda mais para perto de si. – Na escola vou tratá-lo como sempre tratei, mesmo que isso o magoe. Mas... Preciso... Que nunca se esqueça... Somos amigos, apesar de tudo.
Ele não espera qualquer resposta, apenas sai correndo, os olhos verdes o acompanhando, ainda confusos com tudo que aconteceu. Sente algo estranho, que não sabe explicar. Só sabe que anseia pela manhã seguinte, a beira do lago.
ooOoo
A aula de poções, apesar de importante, é a única coisa que Harry odeia no curriculum escolar... Apesar de ultimamente outra aula estar lhe causando muito mais dor. Apesar de se empenhar ao máximo, parece que sempre faz ou diz a coisa errada, simplesmente por saber que o professor Snape o odeia. A palavra 'odiar' pode parecer forte, mas para o garoto é a impressão que lhe causa.
Ele e Rony chegam à sala em cima da hora, sobrando apenas os lugares ao lado do caldeirão de Malfoy, o que antigamente o faria torcer o nariz, mas agora não. Na realidade, o loiro colocara sua mochila na cadeira logo a seu lado, tirando-a ao ver Harry entrar, parecendo ter guardado o lugar para ele. Esse pensamento faz os olhos verdes brilharem, mas não percebe em Draco a mesma expressão. O rapaz realmente vai cumprir o que lhe dissera... Em público continuam inimigos.
Como de costume, o professor inicia a aula com suas hostilidades para Harry ou Neville, fazendo Longbottom errar completamente as medidas de sua poção, produzindo um legítimo fogg típico de Londres. Mal se consegue enxergar um palmo na frente do nariz e Potter sente um leve toque em sua mão. Surpreso, olha em volta, mas... Desiste, pois não consegue enxergar nada.
Snape, irritado, dissipa o nevoeiro com um movimento da varinha, lançando um olhar reprovador para Neville, assim que consegue ver o seu rosto. Isso causa risos nos alunos slytherins, para lamentação do jovem gryffindor, que sempre se sente humilhado nestas ocasiões.
Então parece que agora se espera o erro de Harry e Rony, pois o jovem Potter sempre fica mais do que nervoso cada vez que tem que adicionar os ingredientes. Sente que sempre pega as coisas erradas ou erra na medida e nunca é intencional. Começa a fazer a poção, enquanto Weasley observa o livro com os ingredientes. Um pouco disso, um bocado daquilo, uma pitada daquilo outro. Tudo muito metódico e sensível, qualquer erro podendo resultar em algo perigoso.
Separa um ingrediente para ser colocado dentro do caldeirão, tendo certeza que está com o certo nas mãos, mas sente novamente o leve toque em sua mão esquerda. Volta discretamente os olhos e percebe que Malfoy é o autor do toque, fazendo um sinal com a cabeça que Harry não entende. Snape se volta para ele, que disfarça observando atentamente os rótulos dos vidros a sua frente. O professor acha que algo está errado, mas não nota nada de anormal. Harry volta a olhar para Draco, pedindo na expressão do rosto que o loiro se explique.
Novamente um meneio de cabeça indica que o ingrediente em sua mão está errado e deve pegar outro. Harry pega outro vidro, mostrando para o loiro que balança negativamente a cabeça, já mostrando sinais de que sua paciência está acabando. O moreno se concentra, este é seu problema nesta aula. Olha para Rony, que ainda está de cabeça baixa, ora olhando para o livro, ora para o conteúdo do caldeirão.
- O que vai agora, Ron? – Pergunta quase em um sussurro.
- Arsênico... Deixe me ver... 50 mg. – O ruivo diz sem tirar os olhos do livro, pois precisa dessa nota e não podem errar.
Potter respira fundo, tentando manter a concentração, apesar do professor lançar-lhe olhares de soslaio a espera de que erre, como sempre. Mas fica inteiro, às vezes procurando apoio nos olhos acinzentados, sentindo-se mais seguro e procurando o vidro onde está o arsênico. Encontra o produto mais fácil do que imaginava, percebendo como a confiança em si mesmo torna a coisa muito mais fácil. Mostra o vidro para Malfoy, que dá um meio sorriso, demonstrando que agora está certo.
O moreno pega a pequena balança e começa a medir a quantia, tirando uma medida equivalente a uma colher de sopa, achando que será o suficiente, mas recebe mais um toque de leve na perna esquerda. Draco faz sinal para que ele coloque mais, aquilo não é suficiente. Olha para o medidor da balança e percebe que ele está certo. Adiciona um pouco mais e tem a medida exata. Coloca o conteúdo no caldeirão e finalmente a poção chega à cor que deve ter.
Snape se aproxima surpreso, descrente que Harry tivesse conseguido acertar. Olha para a poção, observando o matiz de amarelo que deve ter, tentando ver nela algum defeito, mas em vão. Suspira de raiva e volta as costas para os dois alunos com cara de vitoriosos.
Harry lança um olhar para o loiro e os dois trocam um sorriso de leve, discretamente, para que os demais não percebam. Mas isso não escapa aos olhos de Rony, que não diz nada, mas bate no braço de Hermione a seu lado. Os dois estranham a rápida demonstração de camaradagem, mas preferem nada dizer, deixando para mais tarde, apesar de ser o suficiente para fechar completamente a expressão do ruivo.
ooOoo
Talvez o mais difícil nessa fase do meu plano tenha sido conseguir manter os meus dois papéis e assim mesmo não o afastar novamente. Potter não é o tipo de pessoa que consegue separar as coisas assim... Se você é amigo de alguém, não o esculacha diante dos outros. E para manter meu papel social de inimigo dele, fazia isso com freqüência. E isso o deixava confuso, custando a confiar realmente em mim. Certa vez tivemos um desentendimento público, provocado por mim... É claro!... E ele simplesmente não apareceu em nosso encontro matutino no dia seguinte. Tremi, pois vi que tinha falhado em meus esforços. Também... Por que o 'testa rachada' tinha de ser tão sensível! Mas no dia seguinte ele estava lá novamente.
E isso se arrastou assim por mais alguns dias. Ele sofrendo nas mãos da Umbridge e uns sonhos que o atormentavam, mas que nunca me contou, fazendo-o ficar cada vez mais frágil e necessitado de alguém com quem desabafar toda sua dor, raiva e frustração. Era diferente vê-lo reclamar ou praguejar por causa de algo. Sempre pensei que ele nascera com vocação pra ser um mártir ou coisa do gênero. Mas estava enganado. Ele tinha tanta contrariedade dentro do coração quanto eu. Teria sido um bom slytherin se não tivesse a terrível mania de sempre querer ser um herói.
Mas eu precisava agilizar a coisa, pois o momento do meu primeiro relatório estava chegando e precisava mostrar resultados para o meu pai. Tinha vontade de matá-lo, mas ao mesmo tempo precisava desesperadamente de sua aprovação.
Harry já está há alguns minutos sentado na sua pedra favorita, estranhando a ausência do seu novo amigo. "Ainda é difícil pensar nele assim." Mas não pode negar que estes momentos do dia são muito bons e o fazem começar bem o dia. Certo que muitas vezes chega a esses 'encontros' com vontade de esmurrá-lo, mas... Já haviam conversado sobre isso antes. Tem de ser realista, não pode esperar que os dois passem a se comportar como amigos diante de todos, como ele e Ron o fazem. Seus pensamentos não são tão utópicos assim!
Inesperadamente Draco aparece esbaforido, pegando a mão de Harry e puxando-o com força, fazendo-o sair da pedra de um pulo.
- Mas o que...?! – Potter tenta dizer, ainda um tanto atônito.
Malfoy nem se preocupa em explicar sua ação, apenas o puxa, correndo por uma porção da floresta, parando próximo do carvalho lutador, mas não próximo demais. Os dois sentam-se de frente um para o outro, quase sem fôlego, demorando uns minutos para qualquer um deles conseguir articular uma palavra. Ficam durante esse tempo se olhando, Harry percebendo como a expressão do loiro está carregada e taciturna.
- Por que... O que houve? – Finalmente Potter consegue dizer, ainda meio ofegante.
- Um garoto... Sei lá quem era... Pra mim todos os gryffindors tem a mesma cara. – Fica satisfeito por notar a raiva expressa em seu inimigo por causa de suas palavras, mas como ele compreensivamente se contém tentando entendê-lo. Pelo menos nisso já tem uma vitória. – Ele estava andando por lá... Por isso demorei.
Potter respira fundo, procurando esquecer todas as coisas que se colocam entre eles e a aversão natural que sempre os afasta. Seu instinto diz que deve repelir o garoto a sua frente, por tudo que ele sempre foi e representa, mas seu coração procura nele a humanidade que sempre esperou encontrar e o adolescente assustado que o próprio Harry vê em si mesmo. E com esse pensamento percebe algo estranho em seus olhos, um toque triste, como se quisesse dizer-lhe alguma coisa importante, mas não tivesse a coragem de tocar no assunto.
- O que foi? – Diz com uma voz compreensiva, mantendo os olhos firmes sobre ele, tentando decifrar sua linguagem corporal.
- ...! – Tenta imprimir uma atitude arrasada ao seu corpo, percebendo muito bem o que o outro observa nele. – O que você está querendo saber?
- Se abre comigo... Sei que está com algum problema. – Harry recosta-se na árvore logo atrás de si, mostrando que está ali, disposto a ouvi-lo, sem pressa.
- Droga! – Ele inclina o corpo para a frente, torcendo as mãos, cabeça baixa, voz desanimada. – Você fareja quando estou mal?
Ele diz isso, mas não parece esperar resposta e Harry sente rapidamente esta sua disposição. Agora é o momento de ouvir, coisa que poucas pessoas sabem fazer da forma correta. Não é colocar-se como ouvinte e depois ficar comparando seus problemas com o do outro. É dispor-se a ouvir e nada dizer, só se for pedida alguma interferência. Fará corretamente o que se colocou a fazer e deixa claro em seu rosto.
- Vou ter de ir pra casa no final de semana... – Levanta a cabeça, seus olhos se encontrando, um grande medo nos dele. – E você sabe o que isso significa.
- Mas... Talvez... – Tenta dizer algo que o console, mas não há o que possa minimizar uma situação dessas.
- Talvez o quê? – Há muita raiva e ironia em suas palavras. – Ele vai ser bonzinho e seremos uma grande família feliz?!
Uma sensação desagradável toma conta do ambiente, os dois sem palavras, os olhos se evitando, temendo dizer algo que piore ainda mais o clima tenso entre eles.
- Se você não quer... Por que vai pra casa? – O moreno pensa em como sempre evitou voltar para a rua dos Alfeneiros, mesmo nos feriados, o que se tornaria permanente se Dumbledore não colocasse isso como algo impensável.
- Para você é fácil falar... – Draco levanta irritado, querendo despejar todo seu ressentimento guardado por todos esses anos, nem todo ele dirigido ao 'salvador do mundo' a sua frente. Mas ele está ali e recebe tudo que gostaria de dizer para todos que o menosprezam. – Você e sua vidinha perfeita cheia de amigos!
Toda a raiva do seu mundo e da sua vida está ali, no brilho incomum de seus olhos, nas mãos que se agitam nervosas, no leve tremor em sua voz. Tudo isso é genuíno, oriundo do mesmo ponto de onde vem as emoções que fazem dele o Draco Malfoy que todos aprenderam a desprezar.
- Pra mim... Você e seus amigos da ralé podem ir pro inferno! – O tremor em sua voz se torna ainda mais pronunciado. – Odeio você!
- É isso mesmo que você sente? – Olha para ele enquanto também se levanta.
Tenta evitar um confronto, sabendo como ele está com medo. Por isso se cala logo em seguida, sabendo que qualquer palavra sua pode piorar ainda mais seu estado de espírito.
Nos olhos cinza começa a brilhar certa satisfação, esquecendo-se da raiva que precisa aprender a controlar melhor. Na verdade, suas emoções andam confusas demais ultimamente. Quer ser frio e calculista na execução desse plano, mas toda a grande gama de emoções que tem escondida no mais profundo do seu ser teima em surgir nos momentos em que deixa sua máscara dar uma escorregada.
- Harry... Eu sei que ele vai fazer de novo... Sei disso. – Coloca a sua mais eficiente expressão de garoto magoado. – Mas você nunca vai entender o que é isso.
Fecha os olhos, tentando conter-se, pois isso realmente... Chega! Não pode pensar! Deve se concentrar naquilo que deve fazer e na sua vítima que deve estar olhando fixamente para ele neste momento. Mas então sente braços que o envolvem devagar, abrindo as pálpebras o suficiente para seus orbes vislumbrarem Potter junto de si.
"Por que ele está fazendo isso?... O que quer?... Sente pena!... É isso?" – Esse pensamento o sufoca. – "Mas por que a indignação? Não era esse tipo de reação que desejava em seu plano?"
O moreno não sabe ainda como chegou a esse ponto, mas quando percebeu já envolvera o corpo magro, ligeiramente mais alto que ele, desejando transmitir-lhe segurança, calma e consolo. Percebe que este movimento causa muita surpresa, mas ainda assim permanece ali, envolvendo-o nesse abraço quente, acreditando que assim pode aliviar a sua dor.
A reação de Malfoy é instintiva, não está acostumado com esse tipo de demonstração, empurra Potter com toda a força e se afasta. Seus olhos estão assustados. Sem nada dizer, ele corre, tentando pensar que tem algo significativo a relatar ao pai, mas olha para trás e os olhos verdes o fazem estremecer de uma forma que não esperava.
ooOoo
Depois do final de semana em casa tudo parece ter mudado entre eles. Draco voltara a ser o desagradável pomposo de sempre, mas evita a todo custo aproximar-se de Harry. Os seus encontros matutinos se tornam um monólogo de Potter com a natureza, como antes fazia, a ausência do loiro o preocupando demais. Há sim uma forte ligação entre eles, não pode negar. Tem um desejo que não consegue definir. Seria o desejo de... Salvá-lo? Mas do quê?
Tendo tudo isso em mente Harry sai da escola com Rony para o treino de quadribol, a estréia do ruivo, que está extremamente nervoso. Mas ao chegarem ao campo, os olhos verdes logo vislumbram a presença loira na arquibancada. Isto o incomoda. Sabe qual o objetivo dele e dos outros slytherins de seu séqüito, que riem sonoramente. E a cada gracinha, vaia ou verso daquela horrível música que criaram para deixar Ron ainda mais inseguro, mais tem vontade de pegar Malfoy pela garganta e lhe dar uns tapas.
E esse sentimento vai piorando, pois toda essa campanha deixa seu amigo ainda mais inseguro do que já é, os olhos de Harry fuzilando a irônica presença nas arquibancadas, cercada pelos amigos hipócritas que tanto despreza, mas de quem sempre se cerca. Os sentimentos de Potter com relação a ele são sempre contraditórios, mas neste momento seu único desejo é ver a vida se esvaindo daqueles olhos cinza.
Mas um pensamento lhe passa pela cabeça enquanto os companheiros de time continuam a criticar o jovem Weasley. Observa tudo do alto, sua posição freqüente em dias de jogo, podendo ver como os odiosos olhos se lançam de vez em quando na sua direção, rapidamente desviando ao ser notado. Pensa na proximidade de todos os acontecimentos, o final de semana, suas atitudes estranhas, essa raiva expressa nessa campanha anti-Ron que lidera nas arquibancadas e provavelmente por toda a escola até o jogo entre as duas casas. Parece tudo uma reação programada, uma forma de fazer os outros se sentirem mal... Como ele também se sente?
Ao terminar o treino, Rony sai arrasado, não querendo muita conversa com ninguém. Harry protela sua volta, percebendo que a platéia hostil permanece rindo e se deliciando com o péssimo treino que o time fez. Deixa que seus companheiros se dirijam ao vestiário, mas ele mesmo permanece fora de visão, mas próximo da saída. O uniforme de jogo vermelho ainda o destaca, mas procura fazer o possível para se manter nas sombras.
Draco desce satisfeito, dirigindo-se à saída acompanhado de sua fiel companheira Pansy. Nunca riu tanto na vida, feliz por ver que Weasley vai cair como um patinho na tática de nervosismo que planejou para ele. Sabe muito bem como o ruivo pobretão se compara sempre a Harry, sentindo-se inferiorizado pela imensa habilidade dele em tudo que faz. Sabe muito bem como se sente. Mas é diferente, pois é duro ser amigo de alguém 'perfeito', onde você se torna invisível para os demais. Dessa percepção virá a futura vitória do time slytherin, o que não tem acontecido desde que o 'santinho' entrou no concorrente.
- Espera! Esqueci minha blusa. – Pansy olha para ele com um olhar malicioso. – Você não quer buscar pra mim?
- O que?! – Olha para ela com surpresa. – De jeito nenhum. Quem mandou esquecer. Estou indo.
Malfoy nem olha para trás, deixando-a atônita diante da incapacidade de obter o que sua família tanto gostaria que ela conseguisse. Ele segue resoluto para fora do campo, quando seu braço é puxado para dentro do vestiário gryffindor. Tenta resistir, mas seus esforços são inúteis, a mão que o arrasta por aquele ponto escuro do campo o segurando forte, deixando marcas em sua pele branca. Ao entrarem, os armários já ficam logo adiante, a luz do local revelando a identidade do seu seqüestrador.
Os olhos verdes o encaram com decisão, pois pretendem ter uma resposta. Harry o empurra contra a parede e segura-o assim, demonstrando claramente todo o ressentimento que tem com relação àquilo que o jovem aristocrata acabara de fazer.
- Satisfeito? – A pergunta carregada de ironia.
- O que é isso?! – Olha para ele com os olhos carregados de mágoa. – Agora você também vai me bater?
"Também?" - Essa pergunta pega o gryffindor de surpresa, fazendo-o recuar imediatamente. A imagem de Lucius vem rapidamente a sua mente. – "Aquele maldito fez de novo?!"
Não consegue desviar o olhar do rosto empalidecido que não tem medo dele, mas decepção, como se esperasse mais dele.
- De-desculpa... – Gagueja ainda tentando se recompor, sentindo uma grande vergonha.
O loiro nada diz, apenas se voltando e correndo. Toma a mesma atitude de antes, quando tivera medo daquele abraço, deixando para trás um Harry ainda mais confuso.
ooOoo
Fielmente Harry está a beira do lago, como todos os dias, mas já descrente que Draco fosse aparecer. Fica por alguns minutos jogando pedrinhas na água, observando as ondas que se formam. Sente certa raiva de si mesmo... Na verdade, ultimamente tem se consumido em muita raiva e ressentimento. Isso não é bom. É claro que Malfoy provocara sua reação, mas não podia ter se deixado levar e o atacar daquela forma.
- Há muito tempo não via alguém fazer isso! – O loiro senta-se a seu lado, meio sem jeito. – Minha mãe me ensinou a fazer no lago perto de casa.
Potter se volta para ele, pensando no que dizer para demonstrar como está arrependido, mas fica ali timidamente sem palavras.
- Não precisa dizer nada. – Ele fica com o olhar distante observando o horizonte. – Entendo muito bem o que você sentia. Eu também estava com muita raiva e descarreguei tudo em cima do Weasley.
- O que aconteceu na sua casa? – Harry tenta tocá-lo, mas o loiro se levanta assustado, evitando o seu toque como se isso o queimasse.
- Não! – Ele sai andando na direção da escola. – Por que você sempre tem que me tocar?!
Vai andando, sendo seguido pelo moreno, passando a mão pelo cabelo nervosamente. Mas Harry se cansa desse jogo e se coloca diante dele, impedindo que continue.
- Me diz o que aconteceu... Você... – Não está disposto a desistir sem saber a verdade sobre o final de semana.
- Ah... Não me enche, Potter! – Malfoy o empurra para o lado, tirando-o de sua frente. – Preocupe-se com a sua vida.
Potter quer uma resposta e não pretende deixá-lo sair assim, então o segura pela camisa, fazendo-a abrir ligeiramente, deixando seu pescoço descoberto, revelando uma grande marca roxa. A surpresa fica estampada em seu rosto, soltando a camisa do outro, sentindo-se completamente sem jeito.
- Está satisfeito? – A raiva fazendo seus olhos cinza ficarem opacos. – Não era isso que você queria tanto saber?
Percebendo a dimensão do que aquela marca revela, Harry fica sem saber o que fazer. Deseja reconfortá-lo, mostrar que gostaria de ter o poder de protegê-lo de todo esse mal insano. Decide então fazer aquilo que seu coração manda e o abraça novamente, torcendo para que desta vez Draco entenda sua intenção, sem qualquer maldade ou tentativa de humilhá-lo.
O loiro sorri em seus braços, percebendo que seu plano está funcionando melhor do que esperava, mas o abraço se estreita e isso começa a mexer com ele de verdade. Nunca se sentiu assim antes, neste ato de Potter sente um calor e um conforto que nunca poderia imaginar existir.
"Isso é só um plano... E eu só estou seguindo ele bem... Mas... Por que me sinto bem dentro desse abraço tão... Reconfortante? Delicioso? Agradável?..." - Não consegue definir com palavras o que aquele gesto transmite, mas...
Harry aperta ainda mais os braços em torno dele, que acaba retribuindo sem nem mesmo perceber o que faz.
"Então isso é um abraço de verdade?" – Os olhos prateados se fecham, se entregando a essas sensações, como se um grande peso deixasse seus ombros por alguns instantes.
Enquanto os dois ficam ali perdidos naquele abraço, das sombras olhos curiosos os observam, pagos que foram para vigiar se Draco realmente segue o plano do pai. O estudante fica surpreso como o loiro está sendo altamente eficiente em seus métodos de conquista. Abre um sorriso maldoso pensando na satisfação de Lucius ao saber que, finalmente, vão ter sucesso e o sangue de Potter em suas mãos.
Naquele momento pensava sinceramente que seguia cegamente os planos de meu pai, finalmente próximo de conseguir seu reconhecimento e... Liberdade. Mas como eu podia estar tão enganado?! Naquele instante estava me enredando em minha própria teia.
Continua...
ooOoo
Esta é minha primeira fic solo de Harry Potter e a idéia veio com tal força que precisei escrevê-la, mesmo estando com a minha agenda lotada de fics em andamento. Como seria a versão dos fatos ocorridos nos livros 5 e 6 sob a ótica de Draco Malfoy? O que poderia haver por trás da obsessão de Harry pelo antigo inimigo por todo o sexto ano em Hogwarts? E se tudo isso tivesse um motivo obscuro, que somente ele e Draco conhecem? Por isso, entremeando os fatos relatados pela imaginação vívida de JK Rowling com a visão desse personagem que se dirige para um caminho trágico que ele nunca desejou percorrer, vai se abrindo o LADO B da história que já conhecemos.
Dedico essa fic para o meu afilhado e amigo do coração Felton Blackthorn, este é um presente pra vc, por ter me inspirado tanto com suas histórias maravilhosas, me mostrando que nossos olhos sempre tem de estar abertos a novas possibilidades. Os opostos realmente se atraem. Espero que esta fic te agrade e faça justiça a seu personagem favorito.
Agradeço a minha beta, afilhada e super amiga, que me incentivou tanto sempre e me inspira tanto a escrever mais e mais, acreditando em mim, mesmo qdo eu não acredito. Se existe alguém de coração de ouro e puro, esta é vc Samantha Tiger Blackthorn.
À minha amiga Yume Vy um agradecimento especial por sua ajuda nesta fic, pois apesar de conhecer pouco do fandom, o diálogo entre Draco e Lucius não seria possível sem vc. Trocamos idéias como nunca e este diálogo ficou especial.
Por fim... Espero que gostem, pois adorei escrever! COMENTEM!!!!!!
28/05/2007
04:10 PM
Lady Anúbis
