Já imaginou se você fosse descendente de uma família antiga de dobradores de terra? Então, essa sou eu. Manuela, 13 anos, dobradora de terra. Prazer em conhecer.

Passemos das apresentações à história. Eu estudo em uma escola de São Paulo, onde levo uma vida o mais normal possível, tentando esconder a dobra de terra. Resumindo? Um terror. Viver em segredo é horrível, porém algumas coisas diferentes andam acontecendo na minha escola.

-Manu, Manu!

-Ah, o que? –resmunguei.

-Acorda. –falou Aline, minha amiga.

-Que horas são? –perguntei.

-A gente ainda está no intervalo, relaxa.

Suspirei e coloquei a mão esquerda na cabeça, arrumei meu cabelo e olhei em volta. Tudo normal.

-Onde estão os meninos? –questionei.

-Na cantina. Todos. Voltam daqui a pouco. –respondeu ela, sentando no banco.

Aline era minha amiga desde o ano passado, quando caímos na mesma sala e acabamos nos aproximando, e enfim, nos tornando grandes amigas.

Bernardo foi o primeiro a voltar, já contando:

-Vocês não acreditam no que a gente acabou de ver!

-Vai falar ou tá difícil? –resmunguei, rindo.

-O banheiro perto da sala de Artes. Alagaram, estava cheio de água, até o teto! –falou o garoto, gargalhando alto.

Senti o sangue gelar. Alagaram mais um banheiro. As coisas ficavam mais estranhas a cada minuto.

-Tinha alguém lá? –perguntou Aline, meio séria.

-Ninguém.

Notei que Bernardo havia percebido a minha preocupação:

-Ei, relaxa, não tinha ninguém lá!

Assenti com a cabeça e desviei o olhar. Nenhuma pessoa normal conseguiria fazer uma coisa dessas.

Resolvi dizer alguma coisa, para disfarçar:

-Vou comprar um pão de queijo, já volto.

Caminhei em direção à cantina, mas mudei de rumo e continuei até o banheiro alagado. Havia faixas de precaução por todo o lugar, mas eu as ignorei completamente. Entrei nos cubículos e procurei alguma fonte de água estourada. A torneira.

-Mas isso é impossível... –sussurrei, pousando a mão direita em minha boca.

-Tem avisos para não entrar aqui.

Parecia que eu ia cair dura com o susto.

E isso me levou a fazer uma coisa estúpida.

Dobra de terra.