Disclaimer: personagens e lugares pertencem a JK Rowling e à Warner Brothers, excepto aqueles criados por mim. Fanfiction escrita sem fins lucrativos.
Baseada no filme de 1999 Notting Hill, com Hugh Grant e Julia Roberts. Quaisquer semelhanças com o argumento são muito mais que meras coincidências.
Produção: Primavera 2004/Verão 2009
Avisos: fanfiction não apropriada a menores de 13 anos.
Spoilers: PF, CdS, PdA, CdF, OdF
Sumário: Katie Bell está a atravessar uma série de problemas no trabalho e na vida pessoal quando reencontra um antigo amigo de Hogwarts. O problema é que Oliver Wood é hoje um famosíssimo jogador de Quidditch e o mundo inteiro conhece o seu nome. Conseguirá uma pobre e simples rapariga aquecer o coração de quem pode ter tudo o que quer?
N/A: quem haveria de pensar, 'né? Pois é, meus amigos, estou de volta com uma fic que conta já cinco (sim, cinco!) impressionantes anos, tempo esse que passou escondida num caderno a cair de velho que atirei para o fundo do meu baú de recordações. Como devem imaginar, em cinco anos aconteceu muita coisa no universo de HP – por isso não contem com acontecimentos de HBP ou DH. ^^'
Um agradecimento especial, como sempre, à minha beta-reader, Jane Potter Skywalker.
Espero que gostem! ;) Vemo-nos em breve… espero eu!
SURREAL BUT NICE
Capítulo I: Um dia de cão
- Olhe lá, Bell, você não tem cuidado com aquilo que faz?
Katie desculpou-se pela falta de atenção e voltou a retirar os livros que ainda há minutos arrumara na prateleira. Aquela era já a segunda vez que se enganava a dar-lhes um lugar, mas antes tivera a sorte de a patroa não reparar no seu deslize. Agora fora um pouco mais infeliz e acabara com os olhos de Miss Kai cravados em si.
E isso, claro, não dera bom resultado!
- Eu não a entendo! Sinceramente, sempre achei que fosse uma daquelas raparigas que, parecendo trabalhadora e competente de início, se mantém assim até ao fim! – resmungou a chefe, fazendo uma leitura muito em diagonal a uns papéis que possuía bem debaixo do seu nariz. – Passa-se alguma coisa consigo? Problemas a nível pessoal? Veja lá o que é que me arranja…
- Não, não se preocupe, Miss Kai. Foi só um pequeno descuido… uma falta de atenção da minha parte! – desculpou-se Katie uma vez mais.
- Eh Bell! – chamou Walter, o irmão mais novo da "chefona", que andava por ali mais para atrapalhar do que para ajudar. – Se precisares de alguma coisa, só tens de vir ter aqui com o Walddie! Eu ajudo-te em tudo o que precisares!
- Ah, obrigado… Walter!
O rapaz aproximou-se dela e, vendo-a guardar a varinha no manto, fez uma careta e inclinou a cabeça, baixando o tom de voz como quem conta um segredo:
- Ambos sabemos bem como a minha irmã é: uma chata, resmungona e insensível! Mas eu não… eu sou muito sensível aos problemas dos outros! – e colocou-lhe uma mão no ombro. – Se precisares de desabafar, conta comigo!
- Sim, OK… vou pensar no caso.
Pobre Walter! Comentava-se por toda a biblioteca que estava apaixonado por ela; perdidamente apaixonado pela mais recente contratação da Biblioteca Cliona, a jovem loirinha e de olhos azuis, com cara de boneca. Mas Katie não gostava dele. Quem gostava? Walter era simplesmente demasiado interesseiro e abelhudo. Sabia que a oferta que acabara de fazer não fora por amizade mas sim com o intuito de meter o nariz nas vidas alheias.
Por isso, Katie sabia que nunca iria desabafar com ele nem que Walter Kai fosse a última pessoa no Mundo!
Mas a verdade é que Katie sabia também que necessitava urgentemente de trocar uma palavra amiga com alguém. Há cerca de nove anos que pisara Hogwarts pela última vez e muito mudara desde essa altura: de pouco lhe haviam valido as notas razoáveis que tirara, a sua chefe era pior do que certos professores que tivera, estava farta do irmão dela sempre atrás de si e ao longo de todo aquele tempo tivera apenas um namorado, estando a precisar urgentemente de um pouco de romance para lhe adoçar o dia-a-dia. Aprendera da pior maneira que a vida de adulta não era fácil e, para complicar, os amigos tinham agora as suas próprias vidas e custava-lhe estar a meter-se nelas devido aos seus problemas.
Para além disso, o pai falecera pouco depois de ela completar dezanove anos e a mãe, que lá no fundo não suportava a ideia de estar sozinha, voltara a casar alguns meses mais tarde. O padrasto nunca fora uma jóia de pessoa e achava que Katie e o irmão mais velho já eram crescidinhos o suficiente para ainda precisarem da sua ajuda, daí que os deixasse viver na cave de um velho prédio afastado do mundo e de tudo o que os rodeava. E Nick não era propriamente o tipo de irmão protector – não só era distraído e cabeça de vento como também muito preguiçoso e incapaz de manter um emprego durante muito tempo.
No final, Katie não era capaz de tomar conta de tudo e os sinais de cansaço e desgaste começavam a notar-se.
Por vezes, ela apenas queria voltar atrás; voltar àqueles tempos inocentes de infância em que ainda havia quem olhasse por si. Ainda tinha quem lhe desse a mão quando acordava com um pesadelo durante a noite, quem estivesse a seu lado para a mimar quando caía doente à cama, quem lhe apontasse os erros para lhe mostrar depois a melhor maneira de os corrigir. Porque hoje… não, hoje já não havia ninguém!
O pai fazia-lhe falta. Tinha saudades da sua voz amigável, da sua face amável e doce. O seu imenso carinho, sempre tão especial para os dois filhos, desaparecera para sempre e não mais regressaria. Tinha também saudades da mãe, que os trocara por um novo amor, esquecendo tudo aquilo que haviam partilhado ao longo de tantos anos.
Será que ela também sentia o mesmo? Será que ainda se lembrava que havia deixado dois filhos para trás na sua busca pela felicidade?
Absorta nos seus pensamentos, Katie deixou de pertencer ao mundo do real e, como não podia deixar de ser, tal não se revelou exactamente positivo. Desta vez, ao virar uma esquina por entre as estantes da biblioteca, tropeçou num carrinho cheio de livros que esperavam arrumação e deitou-o abaixo, caindo também ela ao chão. O barulho das meias-calças a rasgarem-se fez-se ouvir e espreitaram cabeças em todas as direcções.
- BELL!! – gritou Miss Kai que nem uma possessa, com o rosto a arder em fúria. – Que foi isso?
- Ora, a rapariga caiu! – exclamou Walter, como quem explica algo básico, correndo para a ajudar. – Estás bem, Katie?
Ela tentou levantar-se, corada de embaraço. Porque é que tinham todos de olhar para ela? Um miúdo dos seus seis ou sete anos que lia umas bandas desenhadas na secção infantil apontou-lhe o dedo e riu-se da sua figura. Bonito! Que mais lhe faltava agora?
- Bell, quero-a no meu gabinete para uma conversa particular – a voz dura e fria da chefe nem a deixou pensar numa resposta. – Imediatamente!
Katie achou melhor nem abrir a boca. Com um nó na garganta, receosa do que estava prestes a enfrentar, acompanhou Miss Kai em direcção ao seu gabinete, situado atrás de um grande quadro da feiticeira Cliona. Atrás de si, ainda ouviu Walter:
- Deixa que eu trato desta confusão aqui, boneca!
Era a primeira vez que Katie entrava no "santuário" da sua responsável e não sabia ao certo até que ponto isso poderia jogar a seu favor. Talvez ainda houvesse uma mínima hipótese de conseguir obter o seu perdão. Caramba, nunca antes dera problemas!
- Por favor, sente-se! – pediu Miss Kai, retirando um pergaminho da sua gaveta com o rótulo "Pessoal". – Ora então deixe-me lá ver… Kate Elizabeth Bell, vinte e sete anos, formou-se em Hogwarts em 1997 e vive actualmente em Londres com o seu irmão mais velho. O seu pai já faleceu e a sua mãe possui uma loja de roupas na Diagon-Al… não estou a dizer nenhuma asneira, pois não?
- Não, Miss Kai.
- Bell, você era uma trabalhadora decente quando aqui chegou e, vou ser muito sincera, essa foi a principal razão que me levou a admiti-la. Eu levo o meu trabalho nesta biblioteca muito a sério e é do meu superior interesse que o meu pessoal também o faça.
- Claro…
- Mas você tem andado a desiludir-me bastante nestes últimos meses – interrompeu a outra, procurando atingir os seus objectivos. – Chega atrasada todos os dias, só faz idiotice atrás de idiotice, vira-me a biblioteca de pernas para o ar, começo a pensar que até o meu irmão é capaz de um trabalho melhor…
- Bom, desculpe, mas…
- Não me interrompa, Bell! – Miss Kai cortou-lhe de novo as palavras com um gesto. – O que se passa é que me está a prejudicar e eu não posso arriscar. Existe por aí muito boa gente à procura de emprego e com capacidades…
- Isso significa que me vai despedir? – perguntou Katie, sentindo o desespero tomar conta de si. – Miss Kai, por favor, não pode fazer isso! Eu só preciso de um pouco de descanso quando chego a casa para melhorar o meu trabalho! Por favor, eu sou a única que ganha dinheiro para manter aquela casa, ter comida para comer e roupa para vestir! Que ia fazer se perdesse o emprego?
Katie sentiu os olhos encherem-se de lágrimas, mas lutou forte para não as deixar cair naquele preciso momento. A chefe pareceu simultaneamente surpreendida e ofendida pela sua reacção e temeu o pior quando ouviu a sua voz de novo:
- Mas afinal quem é que manda aqui? Se fosse isso que quisesse, porque não poderia eu despedi-la? – esta direcção inesperada fê-la esperar pelo melhor. – Bell, eu não a vou meter na rua porque uma pessoa não é de ferro e também espero que isto seja apenas uma fase, uma má fase. Mas por agora… Se não melhorar, não tenho outro remédio senão despedi-la!
A jovem limpou os olhos e suspirou. O nó na garganta parecia ter desaparecido e o seu ritmo cardíaco regressava agora ao normal.
- Conheço muito boa gente a necessitar de emprego e com um currículo aceitável. Por isso veja lá o que arranja! – Kai encavalitou os óculos redondos no nariz e retirou uma pasta cheia de papéis de uma outra gaveta. – E agora pode ir. A nossa conversa fica por aqui!
Sabia bem aquela fresca brisa que lhe batia no rosto. O pôr-do-sol proporcionava-lhe um belo cenário enquanto se dirigia para casa após aquele horroroso dia de trabalho, o qual tinha, finalmente, terminado.
Tinha ainda bem presente na sua mente a conversa com Miss Kai nessa tarde: ou melhorava o seu trabalho ou ia para o olho da rua. Por outras palavras, ou mudava radicalmente a sua vida ou iria ficar em muito maus lençóis. Definitivamente, era o alarme que necessitava – Nick teria de arranjar um emprego decente em breve ou então iriam ter problemas. E ambos sabiam que Katie não era propriamente simpática quando se enraivecia!
Batiam as sete da tarde quando chegou à porta do prédio onde morava. Situava-se num beco totalmente mágico da capital inglesa, sendo simultaneamente um dos mais pobres. O lote 64 estava já velho e a precisar de uma pintura nova, os apartamentos tinham ratos e baratas, os jardins eram como um festim para os gnomos. No entanto, fora o único que conseguira arranjar com o pouco dinheiro que ganhava na biblioteca.
E se agora ficasse sem ele? Apesar de tudo, ela preferia os ratos à rua…
Katie entrou no hall de entrada do prédio e imediatamente Nick saltou à sua frente. O irmão não era propriamente um borracho mas tinha a mania que era uma dádiva do Céu às mulheres! A sua face era ligeiramente parecida com a da irmã, apesar de ter olhos grandes e amendoados, e gostava de usar o cabelo loiro arrepiado, o que levava a que tivesse sempre um ar assustado. Alto e escanzelado, para além de preguiçoso era também bastante lento, daí que a irmã já não tivesse muita paciência para ele.
- Nick! – exclamou ela, apanhada de surpresa. – Que estás aqui a fazer?
- Eu? Bom, eu… – o rapaz começou a torcer as mãos, sem saber como começar. – Eu achei que devia contar-te antes de chegares lá abaixo…
- Ai rapaz, contar o quê? Fala, estás a deixar-me preocupada…
- É que é difícil… oh, Katie, tu vais ficar tão zangada! – Nick arrepiou ainda mais o cabelo enquanto a irmã se preparava para um ataque de nervos. – Mas eu não pude fazer nada, maninha… quando cheguei a casa… já tinham levado tudo…
Ela não quis ouvir mais frases soltas e desceu as escadas em direcção ao seu apartamento. Sentia um nó no estômago e uma dificuldade enorme em respirar. Nick não poderia estar a falar a sério! Não… não, agora não…
Parou à porta de casa. Estava entreaberta e ligeiramente torta. Katie sentiu o chão fugir-lhe dos pés e as lágrimas toldaram-lhe a visão. O irmão, que descera atrás dela sem ela se aperceber, pousou-lhe uma mão no ombro e tentou explicar-se:
- Eu cheguei há minutos e estava assim… está tudo revoltado lá dentro…
- Nick – sussurrou ela, sem o conseguir encarar. – Cala a boca!
Ele avançou uns passos, abriu a porta e Katie pode ver o quadro do hall de entrada caído no chão. Arranjando forças para enfrentar o que se seguia, a rapariga entrou em casa, antes arrumada e limpa, agora virada de pernas para o ar. Mais do que ladrões, aquele cenário era obra de autênticos vândalos! Não satisfeitos com o pouco que haviam encontrado, tinham desarrumado livros, rasgado mantos e partido diversos objectos.
Mas quem é que no seu perfeito juízo iria pensar que assaltar uma habitação naquela zona poderia dar lucro?
- Quanto é que temos em Gringotts? – questionou Nick, entrando no quarto da irmã, que olhava desolada para os seus desenhos, fruto da sua inspiração em tempo livre, rasgados e espalhados pelo chão.
Ela não respondeu. O espelho já velho da secretária havia sido partido e o guarda-jóias, como era de prever, outrora tão pobre, encontrava-se agora completamente vazio.
- Os brincos que a avó me tinha dado quando fiz dezassete anos! – gemeu Katie, ao ver aquilo que faltava. – E a minha pulseira de nascimento… era do pai…
- O meu mealheiro também está vazio…
- É claro que está vazio, Nick, nós fomos assaltados, por Merlin! – sentia uma fúria nascer no seu peito, uma fúria tão forte como nunca antes sentira. – Quanto é que temos em Gringotts? Muito pouco… dinheiro MEU, entendes? MEU! Porque fui EU quem se matou a TRABALHAR para garantir que o nosso cofre não ficava vazio, ao passo que TU não meteste lá um GALEÃO sequer!!
Nick esbugalhou os olhos perante o desabafo da irmã, mas nem teve tempo de pensar numa resposta: dando-lhe um safanão, Katie correu para fora do quarto, do apartamento e do prédio. Os seus olhos cor do céu estavam já vermelhos das lágrimas que corriam agora pelas suas faces sem cor. Porque é que tudo tinha de lhe acontecer?
Já na rua, deixou-se cair junto da parede desgastada do seu prédio e limpou os olhos com as palmas das mãos. De que lhe servia chorar? As lágrimas não lhe traziam os bons tempos de volta. Só podia erguer o queixo e seguir em frente… sozinha. O irmão era um idiota, era escusado pedir ajuda à mãe e não tinha coragem de gritar por socorro às amigas.
Tentando controlar a respiração, levantou-se, procurando pelas forças certas para o fazer. Inspirou profundamente e puxou o cabelo alourado para trás. Não era capaz de regressar a casa, não agora! Deu um passo em frente, decidida. Iria encontrar um novo caminho de vida! Seria aquele?
Desceu a rua e virou a esquina. Mas, totalmente descontrolada, não reparou no homem que vinha na direcção contrária e o resultado não poderia ser outro: chocou contra ele e caiu pesadamente no chão. Os óculos escuros do homem voaram-lhe do rosto e quebraram com um som agudo.
- Oh, por Merlin! – murmurou ela, corando de embaraço. – Peço imensa desculpa!
Pigarreou de nervoso. Mas quando é que aquele dia iria terminar?
- Não, eu é que peço desculpa, vinha distraído!
- Parti-lhe os óculos… não acredito nisto!
Katie pegou nos óculos partidos e passou-lhos para a mão. Foi então que olhou bem para o rosto do homem. Ela conhecia-o! Só podia ser ele! Mas que estaria ele a fazer ali, precisamente naquela zona?
Continua...
Nota: o título desta fic, Surreal But Nice, significa, numa tradução tosca e apressada, algo como Surreal Mas Agradável (dá para perceber porque é que o título ficou em inglês? XD). Só como curiosidade para quem não sabe ou não se lembra, foi a mesma expressão que a personagem do Hugh Grant utilizou no filme para descrever o seu encontro com a famosa actriz a cargo de Julia Roberts. ;)
