The Crow Chasing the Butterfly, a harry potter fanfic

The Crown chasing the butterfly

I painted your room at midnight,

Eu pintei o seu quarto à meia-noite

So I'd know yesterday was over.

Assim eu saberia que ontem acabou

I put all your books on the top shelf,

Eu coloquei todos os seus livros no topo da prateleira,

Even the one with the four leaf clover.

Até aquele com o trevo de quatro folhas

Man I'm getting older.

Cara, tô ficando velho

Snape se sentou, finalmente, em sua poltrona depois de horas de trabalho árduo. A guerra acabara, Hogwarts estava sendo reconstruída, e o sisudo professor de poções havia finalmente acabado de colocar todas as suas coisas no lugar. Livros, ingredientes de poções, caldeirões e outros pertences diversos que apenas saíram de seus lugares originais, indo ao chão. Graças a Merlin tudo estava seguramente guardado nas masmorras e não houveram mais danos além de objetos bagunçados e soltos.

No meio de toda a faxina que Severus fazia, ele tirou o trevo de quatro folhas, seguramente escondido em seu bolso. Antes mesmo de se dar conta, Severus sentiu a garganta se fechar perante a lembraça que aquela planta inocente lhe trouxera.

I took all your pictures off the wall,

Eu tirei todas as suas fotos da parede

And wrapped them in a newspaper blanket.

E com elas fiz um cobertor de jornal

I haven't slept in what seems like a century.

Parece que eu não tenho dormido

And now I can barely breathe.

Há quase um século, e agora mal posso respirar

FLASHBACK:

A guerra acabara a uma semana. Hogwarts estava uma bagunça. Muitos feridos, incontáveis mortos e muitas pessoas perdidas, sem sequer um motivo para seguir em frente.

Severus começou a achar que sobrevivera à mordida da Nagini graças à alguma piada de mal gosto dos deuses. E o mais surpreendente foi que o professor de poções recuperara-se surpreendentemente rápido após o ataque da horcrux de Voldemort.

Ele, por sua vez, não achava de tudo uma terrível sorte ter sobrevivido ileso àquela guerra. Morrer seria como uma benção, ele acreditava.

E em meio a todo caos, a toda a bagunça, a sujeira, aos corpos e à todo o resto, Harry Potter olhava fixamente em sua direção, sem piscar.

Quando deu por si, o garoto havia vindo até ele, olhos brilhando como nunca, um sorriso maroto no canto dos lábios. De sua mão, saíra o pequeno trevo de quatro folhas, que lhe foi oferecido. Snape olhou para o garoto, confusão estampada em seus olhos, enquanto um Harry Potter sorridente olhava para ele, como se guardasse um grande segredo.

- Achamos do lado do seu corpo. – o garoto disse, como se estivesse contando algo extremamente delicado. – Você realmente tem muita sorte professor.

Ainda olhando confuso para o garoto, Snape pegou o pequeno presente que lhe era oferecido. Tomou um susto ainda maior quando percebeu que Harry Potter segurava a sua mão, o polegar lhe acariciando a palma.

- Obrigado por tudo Severus.

E por mais que o Mestre de Poções tivesse 20 anos de espionagem, uma máscara de ferro perfeitamente moldada em seu rosto e uma imagem a manter, ele não conseguiu evitar a surpresa, a admiração e o carinho que ficaram estampados no brilho de seus olhos. Um sorriso, que ele nem mesmo sabia que poderia dar, se formou em seus lábios.

- Não tem de quê.

Just like a crow chasing the butterfly,

Assim como um corvo perseguindo uma borboleta

Dandelions lost in the summer sky.

Dentes-de-leão perdidos num céu de verão

When you and I were gettin' high as outer space,

Quando eu e você estávamos ficando altos como o espaço sideral,

I never thought you would slip away.

Eu nunca pensei que você pudesse escapulir

I guess I was just a little too late.

Acho que eu cheguei tarde demais

E por mais que ele tivesse mil respostas ácidas para dar, por mais que ele quisesse expulsar o garoto dali, por mais que quisesse chingá-lo e humilhá-lo, ele simplesmente não conseguiu. E por mais que ele odiasse James Potter, uma terrível realidade o atingiu naquele momento: Harry Potter NÃO era James Potter. James Potter era arrogante e nunca havia feito nada de grande. Harry Potter era justo e havia derrotado o maior bruxo de todos os tempos.

De repente, tudo pareceu tão certo, que ele não pôde deixar de gostar do calorzinho que sentiu no fundo de sua alma.

Ao longe, o único som que se ouvia era a máscara de ferro do ex-braço direito do Dark Lord e professor de Poções em Hogwarts se despedaçando no chão de mármore do grande salão.

FIM DO FLASHBACK.

Agora, sozinho em seu santuário particular, Severus se pegou refletindo sobre toda a sua vida.

E percebeu que por mais que tivesse odiado a guerra e todo o papel que desempenhara nela, ele estava vivo. E estava bem. E teria uma vida inteira pela frente, sem Mestres a seguir, sem tarefas tórridas a serem executadas, sem lados para escolher.

E pela primeira vez em toda a sua vida, Severus Snape sentiu medo.

Medo de não saber viver. Medo de não conseguir sair de sua escuridão interior. Medo de não conseguir esquecer os fantasmas do passado.

E junto com o medo, veio a terrível realidade que lhe atingiu como um tapa: Ele era humano, e não sabia viver. Como um pássaro que não sabe voar.

Your words still serenade me,

Suas palavras ainda são serenata para mim,

Your lullabies won't let me sleep.

Seus álibis não vão me deixar dormir

I've never heard such a haunting melody,

Eu nunca tinha ouvido uma melodia tão assombrante

oh it's killing me.

Ah, isso está me matando

You know I can barely breathe.

Você sabe que eu mal posso respirar

Ele havia tido a vida toda para fazer as pazes com a memória de Lily. Ele havia tido a vida toda para dizer a Harry Potter que sentia muito pelo tratamento desprezível que ele lhe dirigia, e mesmo assim ele não o fez. E aquele gesto tão simples do menino que um dia ele acreditou odiar entrou tão fundo em seu ser que o fez perceber que talvez ele não pertencesse mais a esse mundo. Porque seu corpo estava aqui, intacto, mas sua alma já havia morrido há muito tempo.

E pela primeira vez ele chorou de medo e desespero de se ver em um quarto escuro, de mãos atadas, sem ter o que fazer. Medo de que ele talvez houvesse se tornado tudo o que as pessoas falassem dele, medo de que talvez ele pudesse não se ajustar à tanta felicidade.

Porque sua existência era dor. Ele nasceu na dor, viveu na dor e quase morreu na dor.

Severus Snape não sabia ser outra coisa a não ser a dor.

E se sentia ridículo por isso. Por sonhar tanto com uma coisa e não ter coragem de desfrutá-la quando a obteve.

Ele mal percebeu quando uma mão quente apertou seu ombro, em sinal de conforto.

- Está bem, vamos enfrentar isso juntos.

Severus se sobressaltou ao ver Harry Potter ali, parado em frente a ele, os olhos tão brilhantes, devotos de um carinho que ele não sabia existir.

E se surpreendeu mais ainda ao perceber que suas barreiras mentais já não estavam mais lá.

Fungou e limpou uma lágrima teimosa da bochecha com a ponta da manga.

- Moleque impossível. Ninguém lhe deu permissão pra ler a mente do seu professor.

- Como se eu precisasse. – E sorriu.

E Severus sorriu também. Porque tudo de repente parecia tão certo, tão bom a ponto de não ser verdade.

Ele mal percebeu o selinho que ganhou de um garoto de olhos verdes que acariciava seus cabelos.

"Quem sabe" ele pensou, enquanto olhava para o garoto parado do seu lado, sorrindo para ele. "eu já saiba o que fazer com a benção que me foi dada".