Prazer em Porto Real
Prólogo
Verão do ano 298 D.D., Baixada das Pulgas - Porto Real.
Não tenho a ousadia de pensar que algum dia esses escritos serão lidos, muito menos que alguém se lembre de mim; faço essas anotações para que a minha memória seja preservada e para que eu me lembre de quem sou.
Meu nome é Sansa, da Casa Stark, filha de Lorde Eddard Stark e de Lady Catelyn Stark, outrora uma Tully. Já fui filha da Mão do Rei e noiva do Príncipe Joffrey Baratheon, atualmente Rei Joffrey I de seu nome, fui também Princesa do Norte devido a proclamação de meu irmão, Robb Stark, como Rei do Norte e por esse motivo me tornei traidora. Atualmente sou mais um passarinho no bordel de Petyr Baelish e atendo pelo nome de Cardeal, meu amo me deu esse nome por dizer que os meus cabelos são vermelhos como a plumagem dessa ave. Eu detesto esse nome assim como detesto meu senhor.
Uma grande quantidade de sangue foi jorrado aos degraus de mármore do Grande Septo de Baelor, muitas pessoas gritavam porvivas e abençoavam o Rei Joffrey I. Sansa Stark, a noiva do rei, viu tudo ficar negro e sem ter controle sobre o seu corpo foi em direção ao chão."Pai! Papai!" Gritava em seu coma "Você prometeu que seria misericordioso! Você prometeu perante toda a Corte que seria misericordioso!" As palavras transmitiam uma emoção visceral. Aqueles lábios finos que ela tanto desejara possuir rompia em um sorriso de escárnio. "Baelor, eles o chamam de O Abençoado, e mesmo assim nada fez para salvar o meu pai!" Ela se lembrava da estátua do nono Rei Targaryen do Septo de Baelor e a forma pacífica que ele olhava a confissão que a Mão do Rei fazia, a confissão que Joffrey queria não na qual seu pai acreditava. A lâmina de Sor Ilyn Payne, que era a espada de Eddard, cortou o ar ao ser erguida o pescoço do antigo dono, bem embaixo da terceira vértebra cervical. O barulho do osso sendo cortado pela lâmina de aço valiriano fez com que Sansa despertasse e ao fazê-lo deparou-se com o seu quarto na Torre da Mão.
- Me Lady? - Uma serva qualquer a chamou a modo de se certificar de que a garota estava mesmo consciente.
Sansa virou-se para ela, queria tentar reconhecer aquele rosto, mas não foi possível, era uma serva nova.
- Onde está Septã Mordane? - Exigiu saber. Desde antes da captura do pai não via sinal da boa senhora que cuidava de sua educação.
- Com licença, me Lady - A serva fez uma reverência formal ignorando a pergunta de sua senhoria. Sansa sentiu algo estranho a respeito disso. Era a confirmação de o que acabara de visualizar na escuridão de sua mente não era apenas um sonho, infelizmente era um pedaço da memória que possuía dos acontecimentos anteriores.
A garota Stark pode sentir os olhos encherem-se de lágrimas, já havia até abraçado o joelho e entrado na pose fetal em busca de conforto, estava prestes a chorar quando a porta foi aberta e a mesma serva que saíra minutos antes, retornara.
- Vossa Majestade pede para que se torne apresentável, ele a levará até sua Septã.
Mais do que depressa se vestiu e fez o cabelo. A roupa que estava trajando anteriormente era a mesma roupa que usara no Septo de Baelor e seu cabelo devido ao desmaio desfez o penteado. Seu vestido foi substituído por um de tonalidade clara, rosa velho, no caso. Não devo expressar luto. Compreendeu, afinal de contas, Lorde Stark foi dado como traidor da Coroa. Seu cabelo voltou a apresentar o penteado típico do sul, que ela tanto apreciava. Deu uma olhada breve no espelho, apenas os olhos estavam miúdos e a pele mais pálida do que o normal, atribuindo-lhe a aparência de doença. Não quero vê-lo. Pensou para com o seu reflexo. A última pessoa que ela queria ver nesse momento era o Rei e mesmo assim, era para ele que ela estaria se encaminhando ao cruzar aquelas portas.
- Vossa Majestade a espera, me Lady - A serva a apressou.
Sem escolha, a jovem saiu do quarto de cabeça erguida e foi ter com o Rei em um local na Fortaleza Vermelha onde nunca antes havia posto os pés, era na escadaria que a levaria até o pátio superior do castelo, onde as muralhas se localizavam.
- Tem certeza de que é aqui que Septã Mordane está? - Sansa questionou a criada que a estava servindo. A mulher fez menção de abrir a boca para responder, mas foi a voz de Joffrey que ressoou em suas costas.
- Sansa! - Foi chamada pelo homenzinho de lábios detestáveis.
- Vossa Majestade - Cumprimentou-o sem direcionar-lhe o olhar. Percebeu que ele trazia consigo dois membros de sua guarda real, um era Sandor Clegane, o Cão de Caça e o outro Sor Meryn Trant.
- Minha mãe diz que ainda tenho de me casar com você - O Rei foi direto ao assunto, sobressaltando Sansa que tinha outras preocupações que não o casamento real. Ela mesma não sabia mais se o desejava. Está certo que ser rainha era o que sonhara desde criança, só que ela não queria ser a rainha daquele homem, nem ter relação com a família dele ou qualquer coisa do tipo. Se os Deuses pelo menos permitirem que isso não aconteça. - Ela quer que logo que você tiver seu primeiro sangue eu bote um filho em você - Anunciou em alto e bom tom - Isso não deve demorar - Ele parecia tão feliz com a ideia quanto ela, mas tinha um quê de sadismo nas palavras. Joffrey esticou-lhe o braço para que Sansa o segurasse. Faltavam poucos degraus até o topo, Sansa fez o que ele lhe pediu.
- Você quer encontrar sua Septã, não é mesmo? - Um sorriso amarelo brotou nas fendas dos lábios do Rei. Quando atingiram o último degrau Sansa encontrou o que procurava.
As lágrimas que carregava nos olhos embaçados despencaram e novas surgiram no lugar, todas escorrendo pelas maçãs do rosto. O sol estava alto no céu azul de poucas nuvens e no meio desse cenário Sansa encontrou diversas cabeças conhecidas em estacas. A cabeça de seu pai e de sua septã foram as primeiras que encontrou.
- Por favor! NÃO! - Gritou domada pelo desespero e imediatamente desviou o olhar, tentando recuar e teria obtido sucesso se Sor Meryn não a tivesse contido pelos ombros.
- Esse aqui é o seu pai - Disse Joffrey caminhando por uma ponte estreita de madeira sem nenhuma barreira de proteção em uma altura significativa do chão - Olhe para ele e veja o que acontece com traidores!
- Você prometeu ser misericordioso - Sansa lembrou-o, com o olhar depositado nos próprios pés.
- Eu fui - Respondeu com tranquilidade - Lhe dei uma morte rápida. Olhe para ele.
- Por favor, me deixe ir para casa, - Implorou. Sabia que aquelas pessoas estavam mortas, quando chegara ali deu uma breve olhada nas cabeças expostas nas estacas, não precisava olhar de novo para ter certeza. Não era uma atitude nobre de forma alguma de seu noivo - eu não farei nenhuma traição, eu prome...
- Olhe para ele! - Joffrey berrara e Sansa finalmente cedeu, erguendo a cabeça bem devagar - Então? - Joffrey perguntou com entusiasmo.
- Quanto tempo tenho de olhar? - Perguntou com corajosa inocência.
- O quanto me agradar - O humor do Rei mais uma vez fora alterado - Quer ver o resto?
- Se isso o agradar, Vossa Majestade - Disse sem emoção.
- Você perguntou sobre sua Septã, ali está ela - Ele indicou uma cabeça em uma estaca. A pobre Septã ainda trajava seus lenços na cabeça que agora estava deformada - Digo-lhe o seguinte, irei lhe dar um presente! - Decidiu o rei - Quando erguer os meus exércitos e matar o seu irmão traidor eu irei dar-lhe a cabeça dele também!
- Ou talvez ele me dê a sua - Respondeu de antemão. Sentindo-se corajosa fez com que os seus olhos encontrassem com os do Rei e esse instintivamente os desviou. Quando estava com os olhos abaixados, ela pode reparar na altura que estavam do chão. Seguindo os seus instintos começou a caminhar na direção do Rei. Se eu o derrubar isso poderá ser considerado acidente. Maquinou. Estava à menos de um passo de distância quando uma mão pousou-lhe no ombro. Era a mão de Sandor Clegane. Quando Sansa se virou para ele, ele depositou o lenço que carregava em seu rosto, secando-lhe as lágrimas. Ele viu o que faria. Sentiu-se envergonhada por isso, mas não menos arrependida de não ter feito o que almejava.
- Mamãe disse que eu não deveria ter matado o seu pai - Joffrey se pronunciou e as palavras chamaram a atenção da jovem - Ela diz a mesma coisa sobre nós - O rosto dele estava repleto de ira. As últimas palavras de Sansa despertaram no Rei uma grande adrenalina - Sor Meryn, Cão, conduza a jovem para ele.
Não foi necessária uma segunda ordem. Imediatamente a mão de Meryn prendeu o braço da garota.
- Vossa Majestade tem certeza? - Foi o Cão de Caça quem perguntou. Joffrey respondeu com um menear positivo de cabeça e um gesto de mão que pedia que saíssem. Sandor não pareceu satisfeito com o que lhe ordenaram, mas mesmo assim o fez, segurando no outro braço de Sansa e pondo a arrastar-lhe para longe da presença do Rei.
Por escadas e corredores eles passaram, Sansa sentia as articulação de seu braço direito dolorida devido a força que Sor Meryn usava. Não compreendia o que estava acontecendo. "Quem é ele?" Questionou-se. Um frio subiu-lhe pelo corpo. As últimas palavras de Joffrey ela não havia compreendido e agora fazendo uma análise percebeu que sua vida corria risco.
- Me soltem! ME SOLTEM! - Berrou fazendo escândalo e se debatendo, lutando pela própria vida. "Ele deve ser Ilyn Payne! Joffrey está me mandando para a morte!" Lágrimas rolavam de seu rosto e soluços as acompanhavam. Amava o pai, mas não queria se juntar a ele tão cedo.
- Acalme-se - Disse Clegane por entre os dentes.
- Não devemos falar com ela, Cão - Sor Meryn o lembrou.
- Vai contar ao Rei que eu o desobedeci? - Rosnou e isso foi o suficiente para silenciar o outro cavaleiro da Guarda Real.
- Eu não quero morrer... - Choramingou.
- Ninguém aqui irá lhe matar - Respondeu Clegane.
Sansa já havia saído da Fortaleza Vermelha com os seus dois captores e conseguia enxergar a estátua de Baelor se materializando em sua frente, o mesmo lugar onde o seu pai fora morto algumas horas atrás. Conforme iam se aproximando, a garota pode perceber que a praça de mármore branco que rodeava o Septo de Baelor continuava tão branca e pura como a vira da primeira vez e já não havia nenhum sinal se quer do sangue que Eddard Stark derramara. De fato as Irmãs Silenciosas fizeram um bom trabalho ali.
- Vocês estão atrasados - A voz levemente irritante de Lorde Petyr Baelish rasgou o silencio do Septo; O homem de rosto bonito com uma barba pontuda os observavam, estando ele parado na porta do Ferreiro com os braços cruzados.
Sor Meryn e o Cão de Caça cessaram o caminhar obrigando Sansa a acompanhá-los. "Então ele era Lorde Petyr?" Sentiu-se confusa e um pouco mais aliviada, mas não menos apreensiva pela reputação que o Mestre das Moedas possuía.
- Ora vamos, já podem soltá-la - Ordenou. Sor Meryn não tardou em acatar a ordem, todavia Sandor não o fez de imediato.
- Algum problema, Clegane? - Perguntou o homem de barba esquisita se aproximando deles.
- Nenhum - Sandor por fim largou o braço da garota.
- Venha, criança - Petyr a chamou, abrindo os braços para recebê-la. Sansa não se moveu - Não se preocupe, vai ficar tudo bem - O Mestre das Moedas abriu um sorriso amarelo.
Com passos tímidos ela se aproximou e teve os ombros envolvidos pelos braços de Petyr.
- Vocês já podem ir - Dirigiu-se aos cavaleiros da Guarda Real e então virou-se em direção ao Septo - Temos muito o que conversar, mas antes eu preciso saber: você conhece a história de Baelor Targaryen?
Não era uma história de nobreza que ela queria ouvir agora, ela queria entender porque estava ali e porque ele estava ali, qual seria o destino dela, coisas desse tipo. "Não é certo para uma Lady fazer muitas perguntas, elas podem esperar um pouco mais".
- Não, senhor, não conheço - Disse por fim.
- Pois bem, irei lhe contar a história do novo rei Targaryen - Lorde Baelish retirou seu braço dos ombros de Sansa e indicou-lhe um dos diversos bancos de carvalho do local - Por favor, queira se sentar - Sansa fez conforme lhe foi dito e Petyr a acompanhou, sentando-se em seu lado e então começou: - Há muitos e muitos anos atrás Baelor Targaryen nasceu, ele era o segundo filho na linha de sucessão do trono. Seus cabelos e sua barba eram brancos platinados e sem perspectiva de herdar o trono para si dedicou sua vida aos estudos, tendo como ambição pessoal se tornar um Septão; ocorre que seu pai, Rei Aegon III, não ficou satisfeito com a decisão do filho e o proibiu de seguir o caminho que gostaria, forçando-o a se casar com a irmã, Daena, possuidora de uma beleza sem comparações.
- Apenas os Targaryen se casavam entre irmãos - Interrompeu Sansa, pensando em como seria se ela tivesse de se casar com seu irmão Robb. O pensamento lhe soou muito desagradável. Amava o irmã, mas não como os Targaryen amavam os seus.
- Isso mesmo, querida. Casar entre irmãos é algo asqueroso - Havia divertimento da voz do homem. "Ele sabe de alguma coisa." Pensou Sansa - Continuando, mesmo casado Baelor se recusou a consumar o casamento com sua bela esposa. Após a morte de seu irmão, o Rei Daeron I, Baelor iniciou seu reinado com uma caminhada descalço pelo Caminho do Espinhaço para fazer a paz com Dorne. Ele também salvou seu primo, Aemon, o Cavaleiro Dragão de um poço de víboras, e tomou diversas picadas, mas o veneno não pôde matá-lo pois sua fé o protegeu.
- Alguns dizem que isso foi uma metáfora referente a ida de Baelor à Dorne, pois dorneses são associados à víboras - Sansa pronunciou-se.
- Pensei que tinha me dito que não conhecia a história de Baelor.
- C-conheço pouca coisa, senhor... - Sansa estava corada.
- Então você sabe que Baelor confinou suas três irmãs, Daena com quem fora casado, Rhaena e Elaena...
- ... Na Arcada das Donzelas - Sansa completou a frase fazendo com que Petyr abrisse um sorriso amarelo.
- Você sabe por que, querida?
- Para que elas não... - O rosto de Sansa se tornara extremamente rubros e era difícil separar as maçãs do rosto de seu cabelo cobre.
- ... Não...? - Insistiu Lorde Baelish.
"Uma Lady não usaria essas palavras na frente de um homem... Nem o deixaria esperando por uma resposta, é deselegante" Pensou.
- ...Não despertasse desejos carnais - Completou, com a cabeça abaixada em vergonha. Petyr fungou uma gargalhada.
- Você sabe o que mais ele fez para evitar entregar-se aos próprios desejos carnais? - Havia um quê de sensualidade na voz de Petyr. Sansa negou com um menear de cabeça ainda sem direcionar o olhar para o homem - Ele expulsou todas as prostitutas de Porto Real e orou por elas. Você sabe por que pedi que a trouxessem aqui, criança?
Sansa ergueu os olhos e fitou o Mestre das Moedas, procurando respostas em seus olhos verde-acinzentados, mas nada lhe veio.
- Não, senhor - Respondeu com doçura.
- Para orarmos para as prostitutas, minha querida - Petyr deslizou os dedos de sua mão esquerda nos cabelos de Sansa, que se sentiu ofendida com o motivo de estar ali.
- Por que tenho de fazer isso, senhor? Que isso tem a ver comigo? - Exigiu saber, deslizando-se no banco para se afastar dos dedos viciosos do homem.
- Porque minha cara, os bordeis não são mais proibidos em Porto Real há muitos anos e você irá abraçar esse destino, pois é o desejo do Rei - Petyr sorria com naturalidade - Agora ore, passarinho, ore para que o seu destino como prostituta seja abençoado.
N/A: Não acredito que quebrei a minha palavra e o meu shipper favorito! Eu disse que não ia postar outra fanfiction até terminar com O Voo do Passarinho e que não ia admitir criar um shipper que não fosse Sansa/Sandor! Está certo que eu tenho uma queda por Sansa/Willas, mas por favor, por que eu tinha que escrever Sansa/Petyr!? E o pior de tudo, estou altamente apaixonada pela trama dessa estória... ai ai, culpa de uma leitora (aka Morteblu) que vive mencionando esse shipper... e também da série da BBC Crimson Petal and the White, assim como de Mulin Rouge. De qualquer forma, eu espero incentivos para que eu continue escrevendo, então vamos lá, mãos à obra!
