Martini & Sedução
"Even then I had a bad feeling. I felt like a gray mouse going right to the mouth of the cat."
(Mesmo naquele tempo eu já tinha um mau pressentimento. Eu me sentia como um ratinho cinza indo diretamente para a boca do gato.)
Não havia nada mais estranho para Gina do que entrar naquele ambiente cheio de luzes coloridas que não iluminavam a penumbra, fumaça de cigarro e de máquinas, música alta e gente jovem como ela, balançando o corpo no ritmo contagiante da batida. Parecia absolutamente inacreditável que eles não se importassem com o fato de que havia uma guerra acontecendo. Mas talvez, a falta de percepção da comunidade trouxa fosse algo a ser comemorado, ao menos significava que nada de muito grave ou estranho tinha acontecido. Bruxos morriam em ambos os lados, mas para eles, nada mudava.
Tirou o casaco e o deixou na recepção junto com sua bolsa, deixando a varinha no bolso da frente de suas calças pretas. Ao menos não estaria deslocada ali: todos pareciam achar que preto era a única cor de roupa possível para se usar à noite, logo lhes pareceria natural a calça quase masculina que ela usava com a blusinha apertada e também preta que tinham lhe recomendado para manter um visual mais trouxa. Sacudiu os cabelos curtos antes de entrar na pista de dança, os olhos atentos, procurando o menor sinal de magia. Eles deveriam estar por ali, em algum lugar.
Podia ver muitos outros bruxos que estavam com ela espalhados pela multidão: Tonks estava irreconhecível com o cabelo cortado quase como de um homem e azul royal, e em um outro canto, conversando com um rapaz loiro estava Neville, parecendo muito pouco à vontade com as vestes de trouxa. Lembrava vagamente o rapazinho que ela conhecera anos atrás, embora agora pudesse ver um homem formado: seus vinte e três anos lhe pesavam nas costas, e seu olhar tinha ao menos dez anos a mais que o resto do corpo.
Ainda conseguia se lembrar perfeitamente do dia, muitos anos antes, em que tinha entrado no escritório de McGonnagall para sua orientação vocacional. A professora parecia extremamente séria e cansada quando as duas se sentaram à mesa.
- Então, Srta Weasley... – Falou a diretora da Grifinória começando a puxar os papéis de dentro de sua pasta. – Você já tem alguma idéia do que gostaria de fazer quando deixasse a escola ou...
- Eu quero me tornar uma auror – Falou firme, interrompendo a professora.
Ainda conseguia ver com os olhos abertos a expressão de espanto da mulher diante da afirmação.
- Naturalmente a senhorita vem melhorando cada vez mais suas aptidões com o passar dos anos – falou suspirando. – Mas ainda sim eu devo lhe avisar que é uma carreira difícil... Você vai precisar de NOM'S muito altos em quase todas as matérias, e continuar fazendo poções, transfiguração, feitiços...
- Eu estou decidida, professora.
E nada tinha conseguido demovê-la da idéia. Nem as preocupações de sua mãe, nem as proibições de Rony, nem as conversas com Harry. Nada. Ela era uma Weasley, afinal! Quando botava alguma coisa na cabeça, ninguém conseguiria desviá-la do caminho. Tinha sido muito difícil toda a preparação, a academia ainda relutou em aceitá-la por conta do incidente com o diário em seu primeiro ano, mas quando ficou claro que ela tinha todas as habilidades necessárias e seu teste psicológico não acusava nada, eles acabaram cedendo.
- Nessas horas que eu penso se aquele velho chapéu não está ficando maluco! – falou Phineas Nigellus de seu quadro em Grimmauld Place – Essa obstinação toda é coisa de Sonserino!
- E a coragem de se arriscar pelos outros é a maior característica da Grifinória, Phineas... – respondera Lupin sorrindo. – Meus parabéns, Virginia.
"Day after day
(Dia após dia)
I will walk and I will play
(Eu vou andar e vou brincar)
But the day after today
(Mas no dia depois de hoje)
I will stop
(Eu vou parar)
And I will start my way
(E eu vou começar meu caminho)"
Faziam horas que ela estava andando por entre a multidão que dançava animadamente quando Tonks a puxou para o lado e falou em seu ouvido.
- Alarme falso, Gina! Não tem ninguém aqui... Eu e Neville estamos indo embora... Pode ficar se quiser... Eu vi que algumas garotas que estudaram com você estão aqui!
Tonks apontou para duas meninas que estavam no bar conversando com um rapaz, uma que era da turma de Luna, Julie Moon e outra que tinha sido da Lufa-lufa, Lizzie Jones. As duas viram a colega e acenaram animadamente para ela.
- Ah não, eu vou para casa, eu vou com vocês, talvez precisem de mim para alguma coisa em Grimmauld Place...
- Quer um conselho? – perguntou a metarmorfomaga parecendo séria. – Fique e divirta-se. Você só trabalha o dia inteiro e nunca saí pra se distrair...
- Eu acho que no momento em que estamos vivendo..
- Você fica. Estou falando como sua chefe. É uma ordem: divirta-se. Tome cuidado e qualquer coisa, use o espelho – E logo depois Tonks tinha sumido entre as pessoas, apenas seus cabelos azuis visíveis logo acima dos ombros da maioria.
- Ei, Gina! – Falou Lizzie, excessivamente animada – Quanto tempo, hein?! Ainda no Ministério?
- Sim... – ela respondeu evasiva – Nosso trabalho nunca acaba.
- Ao menos você ainda se diverte! – comemorou Julie, com uma cerveja na mão.
Aos poucos ela foi se distraindo, cada vez menos tensa enquanto conversava com as antigas companheiras de escola, rindo alto e despreocupada, até que Lizzie sumiu com o rapaz que estava conversando com as duas quando ela as encontrou e Julie ficou aos beijos com o amigo dele. Gina se encostou no bar, prestando atenção na massa de pessoas dançando e decidiu se juntar a elas.
- Vou dançar! – gritou para a menina enquanto se infiltrava, mexendo o corpo no ritmo da música.
Parecia natural que estivesse levantando os braços e sacudindo os quadris enquanto andava, até que achou um ponto que lhe pareceu ideal para ficar e deixou-se seguir os sons, em movimentos que ela sequer tinha consciência de estar fazendo enquanto todos os problemas desapareciam e tudo que existia era ela e a batida. Era como se seu coração batesse no ritmo do som, o sangue pulsando em suas veias de acordo com a música.
Não sabia há quanto tempo estava lá quando um rosto parou a sua frente, os olhos quase no mesmo nível dos seus, e um sorriso debochado que ela conhecia embora não visse há muitos anos.
- Weasley! – ele falou, gritando para se sobrepor a música. – Quem é vivo sempre aparece!
- Malfoy? – ela questionou erguendo a sobrancelha esquerda. – O que você está fazendo em uma boate trouxa?
- O que parece que eu estou fazendo, Weasley? – Ele falou, com o sorriso ainda mais debochado que antes. – Estou tentando te pagar um drinque!
- Muito obrigado, Malfoy, mas eu tenho meu próprio dinheiro – Ela respondeu, fechando a cara.
- Sim, eu sei, o ministério paga bem seus guerrilheiros – o tom de deboche era inconfundível – Eu me ofereci para pagar simplesmente porque queria ser gentil, Weasley.
Fazia anos que Draco Malfoy tinha se afastado da comunidade bruxa; antes mesmo dela se formar ele tinha sumido, sem deixar notícias sequer para seu próprio pai. Alguns diziam que ele sumira porque não tinha coragem de lutar nem com Voldemort nem contra ele, mas ela tinha a impressão de que mais do que covardia, havia um certo toque de astúcia na atitude dele de afastamento: acontecesse o que acontecesse ele não poderia ser mal visto pelo lado vencedor.
- Você não é gentil, Malfoy... – ela respondeu, atravessada. – Portanto, nada mais natural que eu desconfie da sua atitude.
- Vamos lá, Weasley, é apenas um drinque! Em memória dos bons tempos...
A sobrancelha da menina se ergueu mais ainda, olhando o rapaz com uma cara de desconfiança.
- Não houveram bons tempos entre nós, Malfoy...
- É apenas maneira de falar, Weasley...
Os dois se encararam, ele com um sorriso particularmente atraente e ela ainda com sua postura desconfiada.
- Tudo bem, Malfoy... – ela cedeu e os dois saíram de volta para o bar.
"why can't I get just one kiss
(Porque eu não consigo ganhar nem um beijo?)
why can't I get just one kiss
(Porque eu não consigo ganhar nem um beijo?)
Believe me there'd be some things that I wouldn't miss
(Acredite em mim tem algumas coisas que eu não perderia)
But I look at your pants and I need I need a kiss
(Mas eu olhos para suas calças e eu preciso, eu preciso de um beijo)"
Parecia um grande clichê a Gina que ele aparecesse do nada, aonde não era esperado, cheio de gentilezas, especialmente porque os dois não deveriam ter trocado mais do que uma dúzia de ofensas enquanto estavam em Hogwarts. Ainda mais clichê: ele parecia ainda mais bonito do que o que ela se lembrava. Justiça fosse feita: apesar de mau caráter, ele tinha uma aparência bem cuidada, traços bonitos, que lembravam levemente os Black, especialmente nos olhos que pareciam duas fendas felinas... Da mesma forma que ela lembrava ser os olhos de Sirius... Mas o próprio brilho do olhar de Malfoy enquanto sorria friamente tinha uma malícia que a mantinha alerta, tensa...
- Dois Martínis – falou o loiro encostando no balcão, enquanto Gina reparava que Julie tinha sumido. – Você gosta de Martíni, não?
Ela se limitou a acenar com a cabeça, ainda observando o ambiente por alguns instante antes de tornar a sua postura de constante alerta e virar-se para ver o garçom preparando a bebida. Podia sentir os olhos de Draco sobre si, mas não se virou para ele.
- Então... Me responda a pergunta que não quer calar, - um tom divertido transparecia em suas palavras – como foi que a menininha desobediente dos Weasley se tornou uma Auror?
- Eu não era desobediente, Malfoy, eu falava o que eu realmente pensava – retrucou na defensiva.
- Eu não me lembro de ter te mandando para apenas uma detenção... Eu me recordo de pelo menos umas dez.
- Não seja exagerado... – ela mantinha os olhos nos copos que vinham em sua direção, sem se virar para o rapaz. – Você me mandou para três detenções, todas injustas.
- Porque não olha pra mim, Weasley? – ele seguiu o olhar dela. – Está olhando a bebida desesperadamente por quê?
- Não se deve se dar chance ao azar – respondeu, ainda um pouco agressiva.
- Andou lendo da cartilha daquele velho paranóico, o Moody? Vigilância constante???
Gina pegou o copo ao mesmo tempo que Malfoy e olhou para ele com a expressão séria.
- O que você quer, Malfoy?
O olhar dele sobre ela não poderia ser confundido em lugar nenhum do mundo. Aquilo era cobiça, desejo, era como ele estivesse a despindo apenas com o olhar e ela desviou o olhar.
- Não me olhe desta forma.
- E porquê não?
Ela se virou com vontade de ser ainda mais fria, e seus olhos se encontraram com os dele. Mais uma vez ela se sentiu nua e desprotegida na frente de um estranho.
- Eu não me sinto confortável.
Ela levou o copo aos lábios, a bebida cristalina tocando sua boca, ainda sob o mesmo olhar atento e libidinoso da parte dele. Algumas partes de seu consciente estavam envaidecidas com toda aquela atenção da parte dele, enquanto a outra continuava a gritar para se manter distante. Afastado ou não da comunidade bruxa, ele ainda era um Malfoy e tinha sido criado como tal. E de todos os bruxos das trevas do mundo os que ela mais odiava eram os Malfoy. Lúcio Malfoy tinha se encarregado de destruir sua inocência, assim como de fazê-la deixar de acreditar na humanidade. Ela daria tudo para ter alguns anos de pureza, entre os onze e os quinze, quando a guerra realmente começou. Odiava Narcissa e todas as suas tentativas de prejudicar todos, pela maneira como tripudiava em cima de Lupin, como agredia Tonks, como compactuava com toda aquela sujeira.
Gina considerava Draco Malfoy um rapaz especialmente atraente, quando eram novos ele era um pirralho mimado e bonito. Os anos fora de casa tinham realmente lhe transformado: ainda podia se notar a arrogância e o egocentrismo, mas havia uma elegância que ela não conseguia se recordar no jovem Draco. Enquanto bebiam em silêncio, ela se perguntava mentalmente se tudo que ele queria dela era realmente meia dúzia de beijos ou se pretendia fingir se envolver para depois a magoar.
Decidida a fazer um teste ela pousou o copo vazio no balcão e sorriu para ele pela primeira vez na vida.
- Se me dá licença, eu vou ao banheiro.
Virou de costas e saiu, antes que ele pudesse replicar. Se ele realmente queria apenas meia dúzia de beijos, ela não o veria novamente. Se ele queria era magoá-la, certamente encontraria uma maneira de cruzar com ela pela pista. Era evidente que quando alguém vai ao banheiro em uma situação como essa era porque estava tentando despistar o companheiro.
Mas ao entrar e se ver no espelho, ela se arrependeu. Era jovem afinal! Nunca tinha gostado de envolvimentos levianos, mas fazia tanto tempo... Que mal aquilo poderia fazer? Ao menos seu ego seria amaciado pelos beijos de Draco. Parou por um instante para realmente se admirar no espelho. Era uma mulher adulta, embora fosse pequenina como sua mãe. Seus cabelos lisos estavam repicados, emoldurando seu rosto e terminando logo acima de seus ombros, tão flamejantes como sempre foram, contrastando com sua pele pálida como leite. Observou seu corpo avaliando se era desejável: seus seios nem grandes e nem pequenos, o quadril estreito, as pernas roliças... Sacudiu a cabeça afastando as dúvidas. Estava agindo como uma adolescente insegura. E Virginia Weasley não era uma adolescente insegura.
Ela saiu do banheiro decidida a encontrá-lo.
"Why can't I get just one screw
(Porque eu não consigo ganhar um amasso?)
why can't I get just one screw
(Porque eu não consigo ganhar um amasso?)
Believe me I know what to do(Acredite em mim, eu sei o que fazer)
But something won't let me make love to you
(Mas alguma coisa não de me deixa fazer amor com você)"
Ao sair do banheiro ela tentou voltar ao bar, mas não havia nada ali que lhe lembrasse a figura maciça de Malfoy. Ainda deu uma volta na pista de dança, já sem um pingo de vontade de dançar. Viu um pouco mais à frente o loiro com outro copo de Martíni na mão e tentou chegar até ele, mas foi justamente naquela hora que o DJ resolveu trocar a música para um hit dos anos 60 fazendo com que todos começassem a procurar pares e se sacudir loucamente ao som da música. A multidão se agitava e se fechava a afastando cada vez mais do rapaz que sequer a tinha visto. Ela tentou encontrar um caminho para fora da pista de dança desesperadamente mas quando finalmente conseguiu chegar ao corredor onde ficavam as mesas não havia mais nem sinal do rapaz.
- Droga! – exclamou pra si mesmo. – Você sempre consegue estragar as coisas, Virginia Weasley!
Se pegou por um momento devaneando como seria a sensação de beijar Malfoy, como seria o toque dos lábios dele, em que parte da sua cintura ele seguraria... Mais uma vez se repreendeu por estar agindo de maneira tão adolescente.
O que era isso, afinal?! Virginia Weasley era uma profissional e estava em serviço! Aquilo ali não era diversão: era coisa séria. Podiam ter comensais da morte ali, prontos para provocar um atentado e matar um monte de gente para depois pôr a culpa em organizações terroristas trouxas. Aquela boate era constantemente freqüentada por bruxos e bruxas que moravam no bairro e o perfil mostrava que eram em sua maioria nascidos trouxas e mestiços. Prato cheio para os comensais da morte. Tinham ido ao local com base em uma informação de um dos muitos espiões que a Ordem da Fênix infiltrara desde o início da guerra.
E agora ela estava ali, parada ao lado da pista de dança se preocupando em se o Malfoy beijaria bem ou não. Era o suficiente de dispersão. Se já estava tão alterada a ponto de esquecer o que realmente viera fazer e ficar pensando em ter envolvimentos levianos com alguém tão antipático e irritante como Malfoy, estava mais do que na hora de ir para casa. Só para começar ela jamais deveria ter aceitado tomar um drinque com ele. Na verdade, ela deveria tê-lo levado imediatamente ao Ministério para um interrogatório.
"Mas não tem nenhum caso contra ele!" se lembrou logo após esse pensamento cruzar sua cabeça. Devia estar realmente fora de si para querer levá-lo até o Ministério sem justificativa. Aquilo poderia lhe causar muitos e muitos problemas com toda a disciplina do departamento de aurores e tudo mais. Por outro lado, ficar até mais tarde na boate e tomar um drinque com um antigo colega de escola não era nada de errado. Nem pensar em beijar um cara especialmente atraente.
"Controle-se, Gina!" pensou consigo mesma. "Pare de agir como uma pessoa desesperada!" Mas uma vozinha vinda do fundo de sua cabeça perguntava insistentemente, como alguém que não se cansa de alfinetar o oponente "Há quanto tempo você não se envolve com um cara?". Sacudiu a cabeça bastante perdida e irritada com a situação e voltou-se para o ponto aonde tinha encontrado suas colegas de escola.
- Quem era aquele cara gato com você no bar? – perguntou Lizzie, que parecia levemente alterada pelo álcool. – Ele me parecia tão familiar...
- Não era ninguém – respondeu Gina, ainda emburrada. – Escute, eu estou indo embora...
- Vai sair com o cara gato? – perguntou Julie rindo.
- Não vou sair com ninguém, vou pra casa. Um longo dia de trabalho me espera amanhã.
As duas fizeram caretas de desgosto à menção do trabalho, depois beijaram Gina nas duas faces, ainda rindo e a ruiva saiu dali, mais irritada do que nunca. Catou o resto de suas notas de dinheiro trouxa e pegou sua bolsa e seu sobretudo na recepção antes de caminhar para dentro da noite gelada, ainda amaldiçoando sua falta de sorte.
"why can't I get just one fuck
(Porque eu não consigo nem uma transa?)
why can't I get just one fuck
(Porque eu não consigo nem uma transa?)
I guess it's something to do with luck
(Eu acho que tem alguma coisa a ver com sorte)
But I waited my whole life for just one
(Mas eu esperei minha vida inteira por apenas um)"
Do lado de fora da casa noturna Gina respirou fundo, procurando um bom lugar para aparatar nas redondezas, enquanto se encolhia dentro de seu sobretudo que não era o suficiente para impedir a entrada no vento gelado do outono.
- Quer um cigarro?
A despeito de todo seu treinamento de auror, a mulher deu um pequeno salto assustada e soltou uma pequena exclamação ao ouvir a voz arrastada atrás de si. Malfoy estava parado, atrás dela, com um cigarro aceso na mão e rindo. Gina poderia jurar que ele tinha acabado de aparatar ali apenas para assustá-la, mas não houvera nenhum som estalado para comprovar sua teoria.
- Se quiser me matar, Malfoy, eu imagino que conheça métodos melhores do que tentar me fazer ter um ataque do coração! – reclamou fechando a cara.
- Bobagem... – falou ele acendendo um cigarro na boca e entregando na mão dela. – Você é que estava distraída, Weasley. Distraída demais para alguém em serviço, devo dizer. – acrescentou com um sorrisinho parando para tragar mais uma vez.
- Como você sabia que eu estava a serviço, Malfoy? – perguntou, subitamente alerta, a mão indo diretamente para o bolso da varinha.
- Você acha mesmo que eu não te vi entrar com Longbottom? A menos que estejam saindo juntos, o que eu duvido muito. Ele jamais teria a capacidade de sair com uma garota como você. De qualquer forma, eu ouvi que ele está casado, e vi também aquela... – ele revirou os olhos, parecendo profundamente desagradado pelo que iria dizer – mulher que dizem ser minha prima.
- Como você... – começou a falar, intrigada.
- Reconheci? Oras, faça-me o favor! Eu reconheceria aquele jeito desastrado que ela deve ter herdado do pai trouxa dela e aquela pose de "quem manda nessa porra sou eu", que é a única coisa que ela tem da família, em qualquer lugar do mundo.
Os dois se encararam por um instante, em silêncio, apenas tragando-o o cigarro e soltando a fumaça sem desviar o olhar.
- Você estava me espionando, Malfoy? – ela perguntou com uma ligeira irritação transparecendo na voz.
- Eu não usaria essa palavra, Weasley. Eu diria que eu estive te observando atentamente.
E mais uma vez ele lançou para ela aquele olhar de cobiça, o desejo transparecendo no brilho do olhar. Gina deu um passo a frente, ficando cara a cara com ele enquanto segurava o cigarro na lateral do corpo.
- E porque estava me observando com tanta atenção, eu devo perguntar?
Ele espremeu os olhos de forma curiosa enquanto ela jogou no chão o que restava de cigarro e pisou em cima, ainda olhar atento sobre ele. Mantinha no rosto um sorriso enigmático que fazia Gina se sentir ainda mais atraída pela sua figura.
Antes que ela pudesse realmente perceber como ele tinha feito isso, Malfoy tinha passado a mão pela parte de trás de sua cabeça e a prendido em um beijo. Seus lábios encostavam nos dela lentamente, embora com desejo. Ela retribuía apaixonadamente, abrindo seus lábios cada vez mais de forma a permitir a passagem da língua dele, que encostou na sua apenas por alguns segundos antes que suas cabeças se separassem.
- Provavelmente porque você era a garota mais interessante do local – ele respondeu, calmo e controlado enquanto jogava longe o filtro do cigarro.
A intensidade provocante do beijo dele deixara Gina tonta, mas ela ainda estava alerta o bastante para entrar no jogo de sedução que ele parecia lhe propor.
- Era, é?.. Engraçado, eu tinha a impressão que eu não fazia o seu tipo... – ela riu, olhando para ele com ar debochado. – Sabe como é, sardas e vestes de segunda mão...
- Não está na hora de deixarmos de lado as velhas ofensas, Weasley? – ele perguntou, sorrindo para ela. – Muitos anos se passaram, não é...?
- Certos traços da personalidade de uma pessoa nunca mudam, Malfoy.
- Não mesmo – ele sorriu – Você continua obstinada. Igualzinha aquela garotinha ruiva que quase me espancou no quinto ano.
- Eu apenas fiz o que era preciso.
Os dois tornaram a se encarar por apenas alguns segundos antes que os lábios se encontrassem e entrassem em uma dança sensual, se encostando, se esfregando, as línguas tornando a se encontrar enquanto os braços de ambos eram responsáveis por pressionar um corpo contra o outro. As mãos de Gina agarraram a gola do sobretudo de Malfoy enquanto ela o puxava para si e virava para se encostar na parede, quando ele aproveitou para apertá-la contra a mesma sem tirar a boca da dela.
Ela podia sentir as mãos dele correndo entre seu quadril e seu tórax febrilmente, podia sentir a vontade dele de perder o juízo e de começar a ousar nas carícias e nos beijos, e podia sentir também que o próprio corpo dele começava a reagir, sua respiração se tornando mais densa, suas mãos se tornando mais insistentes. Sorriu internamente vendo o quanto ele a desejava naquele momento, sem deixar de retribuir o beijo desesperado dele.
"Day after day
(Dia após dia)
I get angry
(Eu fico com raiva)
And I will say
(E eu falarei)
That the day
(Que aquele dia)
Is in my sight
(está à vista)
When I'll take a bow
(Quando eu agradecerei)
And say goodnight
(E der boa-noite)"
- Eu realmente preciso ir, Malfoy – ela falou, desviando do beijo.
Por um instante pode ver a cara dele, a expressão perdida de quem não consegue entender o que acabou de ouvir, os lábios vermelhos e inchados pela pressão dos beijos, mas imediatamente ele se endireitou e olhou para ela, sério.
- Tudo bem – Ele limpou a garganta. – Foi um prazer revê-la.
Gina ofereceu o rosto para ele beijar, o que ele fez prontamente e começou a se afastar.
- Obrigada pelo cigarro e pelo drinque, de qualquer forma! – ela falou, alto o suficiente para que ele ouvisse.
- Disponha! – ele respondeu, dando seu conhecido meio sorriso.
Gina piscou para o rapaz antes de desaparecer com um *ploft* que não foi reparado por mais ninguém na rua.
- Você não me escapa, Weasley. – ele murmurou antes de desaparatar.
(continua)
N/a: Ahhhh!!! Eu nem acredito que consegui escrever isso! Bem, ae está, a song da forma como eu queria fazer há tempos, aguardem e confiem: isso é apenas o começo de mais uma história entre uma Weasley e um Malfoy.
E aproveitando: A música, Add it up, não é minha e sim do Violent femmes, por sinal tirada da trilha sonora do filme "Assunto de meninas"(Lost & Delirous - warner, 2001) que por sinal dá título à série, que não tem a menor inspiração no filme... A frase de abertura da song pertence ao mesmo filme :)
Ah, e como não poderia faltar uma dedicatória (todas as minhas fics tem, né?!) essa song é totalmente da Pichi! Porque ela ficou falando que queria mais e com isso me incentivou a acabá-la! ^^
Oh, sim, mandem reviews!
