I want a girl with lips like morphine,
Knock me out every time they touch me.
I wanna feel a kiss just crush me,
And break me down.
Lips Like Morphine
por Mylla Evans
Aninhou cuidadosamente o rosto dela entre as mãos e beijou-lhe os lábios. Eles tinham nove anos e a boca dela tinha gosto de chocolate meio-amargo. Crianças comumente detestavam chocolate meio-amargo, foi o pensamento que ocorreu a Blaise naquele infinitésimo de segundo antes de se separarem. Mas Pansy nunca havia sido uma criança comum.
E a amizade deles, definitivamente, também estava longe do comum.
Tinham o costume de se beijarem na boca desde muito pequenos. Não era um hábito que exprimia qualquer sentimento profundo; era apenas um simples hábito. Ninguém se importava realmente com isso. Nem eles.
Draco era provavelmente quem se importava menos. Nas noites em que Blaise se juntava ao casal de amigos, era sempre recebido com o beijo de Pansy e o sorriso inexpressivo de Draco. E se Draco resolvesse expressar qualquer coisa através de seu sorriso, Blaise tampouco tomaria conhecimento – o gosto dos lábios de Pansy sempre conseguia prender totalmente sua atenção.
Às vezes, tinha gosto de menta, às vezes de café. Gosto do velho chocolate meio-amargo ou de álcool.
Álcool.
Blaise conseguia se lembrar distintamente da ocasião em que sentira o gosto de álcool nos lábios de Pansy pela primeira vez. Eles tinham por volta dos dezesseis anos, era inverno e ele conseguira uma garrafa de firewhisky sob o pretexto de se esquentarem. Ela sorriu um sorriso de lábios descoloridos ao aceitar a bebida das mãos dele. Bebeu um longo gole. E, como de hábito, beijou-lhe a boca em forma de agradecimento.
Quase que instantaneamente se afastaram. Pansy, porém, manteve seus olhos fechados. Blaise foi capaz de estudar cada detalhe da fisionomia dela antes que eles voltassem a se abrir, com um questionamento aprisionado no par de íris que se destacavam na paisagem congelada.
Em resposta, ele tomou o rosto dela nas mãos, como costumava fazer quando criança, e tornou a beijá-la, dessa vez buscando pelo sabor do firewhisky que havia se impregnado na língua de Pansy. Soube então que não tinha mais volta.
Já estava viciado.
