Incógnitos

N/A – Originalmente, eu tinha planejado "Intenções Secretas" como uma história única. Isso significou que eu não tive que me preocupar com a passagem de tempo e com o modo como o advento do Livro 5 afetaria meus personagens.

Mas assim que terminei "IS", eu tive uma ânsia de escrever a história de Draco, e logo depois a de Harry. Isto significa que eu tive de ser, hum, "criativa" em minhas soluções para certos problemas.

Portanto, pelos propósitos desta história vamos assumir que os eventos do Livro 5 ocorreram na segunda metade do ano. Em outras palavras, Umbridge, a AD e a morte de Sirius aconteceram DEPOIS do Natal e dos eventos de "Intenções Secretas". Vamos também fingir que Draco NÃO serviu na pequena gangue de Umbridge. Desculpem-me se isso causa alguma confusão, mas forcem um pouco seus cérebros... sorriso

E agora, sem mais alvoroço: a história de Draco!

Disclaimer: Eu não possuo nada que você reconheça. Se não está nos livros, é meu.

Capítulo Um – Começo

Sonora cantarolava enquanto revisava seus planos de aulas daquele dia. Mas e se ela tivesse mesmo negociado com Severus há uma hora atrás, apenas para perguntar a ele se ele realmente achava que os terceiranistas deviam fazer a Poção para Despertar, e se eles teriam suficiente pus de bubotúberas até a primeira visita a Hogsmeade?

Severus lançara um olhar para ela e sibilara alguma coisa a ver com linhas de "que se ela perguntasse aquilo mais uma vez, ele demonstraria um novo uso do pus de bubotúberas previamente mencionado", ao ponto de que ela fora incapaz de evitar rir. Sonora fez uma pausa e sorriu, lembrando-se. Ele era simplesmente tão bonitinho quando parecia malvado. Além do mais, isso sempre lhe dava a oportunidade perfeita para beijá-lo. Afinal de contas, ela tinha que deixá-lo com um sorriso, não tinha?

Ela embaralhou suas notas mais uma vez, então amontoou-as asseadamente logo em cima das gavetas de sua mesa. Suspirando, lançou um olhar pela sala de aula vazia. Os alunos deviam chegar a qualquer minuto, e ela deveria mesmo estar subindo as escadas para o banquete de boas-vindas.

Mas por um momento, ela saboreou a quietude das paredes estáveis e firmes e suave ruído do fogo queimando na lareira. Ah, poções, ela pensou. Havia alguma coisa mais aconchegante do que o som de algo borbulhando no caldeirão? Mais satisfatório do que uma preparação correta?

Logo em seguida a porta da sala de aula irrompeu aberta e Severus apareceu, franzindo a testa. "Sonora", ele disse, naqueles tons sedosos que diziam que sua paciência estava ficando cada vez menor. "Poderia por favor se apressar e terminar isso? Os primeiranistas estão quase chegando, e o diretor prefere ter todos os seus professores no banquete de boas vindas." Seu cabelo, ainda mais longo do que o comum, tocava seus ombros. Seu nariz era ainda proeminente, e sua pele ainda pálida. Mas um pouco da preocupação desaparecera de seu rosto desde os acontecimentos do ano passado, e seus olhos, profundos e nítidos, eram ainda intensos e brilhantes. Sem mencionar o corpo adorável que continuava tão adorável quanto antes.

Sonora sorriu e estendeu o braço para pegar sua bengala. Bem, talvez houvesse uma coisa melhor que Poções.

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Draco encarou inexpressivamente seu prato. Os elfos domésticos haviam preparado uma bela festa para o banquete de boas vindas, mas ele na verdade não tinha muito apetite. Não ainda, de qualquer forma.

Lançou um olhar para a mesa dos professores. O diretor estava sentado, comendo e conversando com a Prof.ª McGonagall. Próximos dele, Flitwick e Sprout estavam torrando um ao outro, pelo que parecia.

Seu olhar moveu-se para duas pessoas nas quais ele estava mais interessado. A Professora Stone sentava-se ao lado de Sprout, Hagrid tendo desaparecido após trazer a última leva de primeiranistas ranhentos. Ela parecia bem, ele decidiu. Relaxada e feliz e bem satisfeita com o mundo à sua volta. De fato, naquele momento em particular ela parecia estar se controlando para não rir.

Ele estendeu os olhos para o motivo de seu riso. Próximo a ela, o Professor Snape olhava ferozmente para a mesa da Grifinória, seu prato recentemente preenchido com... cobrinhas vivas? Draco resistiu ao impulso de rir em escárnio. Nem aqueles desprezíveis gêmeos Weasley podiam pensar em coisa mais original. Vagamente ele se perguntou quem teria feito a proeza. Os gêmeos, Fred e Jorge, saíram da escola de uma força admiravelmente espetacular na primavera passada, então aquilo deixava apenas Rony e Gina.

Draco lançou um olhar rapidamente para onde estava sentado o Trio Dourado, juntamente da pequena Weasley. Não pode reprimir uma careta. E daí que ele e Potter haviam conseguido trabalhar juntos no ano passado? Ele não gostava do maldito garoto, e nunca gostaria. E Weasley! Hah. O ruivo alto estava naquele momento aproveitando sua refeição. Draco se perguntou o que ele acharia se a sua comida fosse transformada em um monte de coisas vivas.

Logo em seguida, Dumbledore se ergueu de seu assento, atraindo os olhos de volta para a mesa dos professores. "Eu gostaria da atenção de vocês aqui um momento, por favor", o velho disse, os olhos cintilando mesmo à distância que Draco estava. Ele tinha que admitir a velha magia do bruxo. Ele fazia um belo feitiço Sonorus.

O salão ficou em silêncio enquanto o resto dos alunos se voltava para o diretor. Dumbledore sorriu para eles. "Eu tenho apenas alguns anúncios.", ele disse. "Um, a Floresta Proibida ainda é apenas isso, proibida. Não entrem nela a não ser que desejem uma morte muito dolorosa. Em segundo lugar, eu gostaria de dar mais uma vez as boas vindas à Professora Stone." Houve expressões alegres espalhadas por todas as mesas. Draco bufou em tom superior. Idiotas. Eles nem mesmo tinham cérebro o suficiente para perceber que Snape era tudo que podiam pedir de um professor de Poções. Não que a Prof.ª Stone também não fosse memorável, mas alguém ali deveria saber reconhecer a grandeza.

"Estou certo que ficarão satisfeitos em saber que ela agora tem uma posição permanente aqui, conforme ela e o Professor Snape pretendem trabalhar em uma pesquisa ao longo do ano." Draco teve uma sensação indefinida a estas palavras. Os melhores momentos do ano passado haviam sido quando ajudara a Professora Stone com sua pesquisa. Será que ela deixaria que ele ajudasse novamente? Depois que Umbridge trancara todos os seus materiais no último semestre...

"Finalmente", Dumbledore ainda continuou, "Eu gostaria de dar as boas vindas ao novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o Professor Weasley."

Draco engoliu um gemido, conforme a mesa da Grifinória enchia de mais alegria. Droga. Outro Weasley. Ele olhou para o homem alto e ruivo que estava sorrindo e se curvando aos aplausos dos outros alunos. Mais um deles, era só o que parecia. Ele não conseguia lembrar-se do nome daquele, eram tantos naquela família ordinária. Bem, parecia que mais um semestre ele poderia mandar para o inferno, pensou.

Ele baixou os olhos para a mesa da Sonserina onde todos os seus velhos colegas estavam sentados, murmurando entre eles mesmos com expressões semelhantes em seus rostos. Hah. Nada como a prole dos Comensais da Morte. Nenhum deles se incomodara de falar com ele, e Draco seriamente duvidava que algum deles chegasse a fazê-lo. Os eventos do ano passado ainda eram lembrados com muita clareza. A morte de seu pai, o rumor de que ele ajudara a contrariar alguns planos do Lord das Trevas e a recusa de Draco a se juntar à pequena milícia de Umbridge mesmo com o entusiasmo que ela desmonstrara para que ele fizesse isso. De fato, ele andara sobre uma linha muito fina no último ano, aprendendo a se misturar ao pano de fundo de onde quer que estivesse. Umbridge finalmente desistira dele e o deixara em paz, mas seus colegas de Casa tinham feito a mesma coisa.

Draco ergueu seu cálice de suco de abóbora e tomou um gole. Ao menos eles todos ainda tinham medo dele. Com aquele seu período de testes terminado naquele ano, ele estava livre para obliviar qualquer um que tentasse mexer com ele. No ano passado, ele tivera que lançar mão de feitiços sérios em sua cama e em seus objetos pessoais, e ele passara tempo demais na biblioteca pesquisando os contra-feitiços de vários encantamentos desagradáveis. Ele estremeceu silenciosamente, lembrando-se da temível combinação da Azaração da Flatulência com o Feitiço Laxante. Ele tivera que jogar aquelas vestes fora.

O monitor e a monitora chefe, dois sem-nome da Grifinória e da Corvinal, estavam começando a afastar as pessoas das mesas, auxiliados pelos monitores. Draco tocou a varinha em seu bolso e lançou um olhar amedrontador para uma das monitoras da Sonserina, que começava a ir em sua direção. Ele sorriu maliciosamente para a garota babaca, e Martha, ele desconfiava ser seu nome, deu um passo para trás e então virou-se, ignorando-o. Ele se levantou da mesa tão discretamente quanto pode.

Este ano, ele pensou, ele não seria o cara invisível na sala. Não, este ano ele faria todos terem certeza de que ele estava ali. Eles todos saberiam que era ele, e recuariam um passo. O olhar em seu rosto aprofundou-se conforme ele desceu até a sala comunal da Sonserina. Ninguém chegaria perto o suficiente dele aquele ano para que pudesse causar incômodos.

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Cara McDouglas deixou um suspiro escapar enquanto seguia os monitores da Grifinória até a Torre e a sala comunal. Graças a Deus ela já estava de volta a Hogwarts, ela pensou, sentindo-se mais alegre a cada passo que dava. À sua frente, sua colega de quarto Gina Weasley estava rindo com Harry Potter. Cara sorriu largamente. Gina tinha uma coisa por Harry havia anos, e mesmo que ela tivesse saído com outros garotos no ano passado, Cara sabia que sua amiga ainda era caída pelo garoto.

Bem, ela não podia ser culpada por isso, pensou divertida. Afinal de contas, Harry era mesmo legal, e esperto, e fofo, e não se podia simplesmente esquecer toda a conversa sobre ele ser o Menino-Que-Sobreviveu. E um grande jogador de quadribol, também. Cara suspirou. Ali estava ela, com quinze anos, e nunca havia sido beijada. Graças àquele desgraçado, Michael, Gina não fazia companhia a ela nisso.

Cara rapidamente afastou o pensamento depressivo. Haveria muito tempo para depressão quando as aulas recomeçassem. Ela esperava que o Professor Weasley fosse melhor do que aquela mulher assustadora do ano passado. Umbridge fora um pesadelo, e Defesa Contra as Artes das Trevas tinha sido sempre sua melhor matéria. E então havia Poções... Cara estremeceu e rebateu os pensamentos. Haveria muito tempo para sofrer mais tarde.

A mulher Gorda estava cumprimentando todos eles conforme entravam. "Oh, é sempre tão bom ver todas as crianças de volta novamente", o retrato estava dizendo numa voz ligeiramente abafada, conforme era pressionada contra a parede. "Fica realmente solitário aqui, durante o verão, vocês sabem, nada de interessante acontece, ninguém querendo sair para uns amassos à noite..."

Cara piscou ao ouvir estas últimas linhas, passando pela abertura. Será que a Mulher Gorda engasgara com o seu chá de novo?

E então ela estava na sala comunal, as pessoas estavam rindo e cumprimentando umas as outras, enquanto faziam lentamente seu caminho em direção aos dormitórios. "Cara!", Gina estava chamando, e Cara parou com um pé já sobre a escadaria.

"Sim, queridinha?", ela respondeu por cima do ombro, sorrindo afetada.

A ruiva jogou um braço sobre seus ombros. "O que você acha se pegássemos nossas vassouras, pulássemos pela janela e nos juntássemos a um circo trouxa?", ela disse.

Cara riu à velha piada. "Mas você não poderia vir, eles já preencheram o lugar dos macacos", ela provocou de volta.

Gina enrugou o nariz. "Certo. Eu seria uma daquelas pessoas que ficam balançando por aí naquelas coisas finas com fitas penduradas, é sexy."

Cara riu de novo quando chegaram ao seu dormitório. "Você vai precisar aumentar um pouco mais o volume do seu top, você sabe", sibilou de volta.

"Ooh", Gina grunhiu. "Essa foi baixa."

"Sem brincadeiras", Cara retorquiu, olhando para o chão.

"Como quiser", Gina disse, em parte ofendida, em parte rindo, e retribuindo aos olhares das três outras garotas com quem dividiam dormitório. "Você está mal, McDouglas."

Cara mal teve tempo de pegar o travesseiro de sua cama, antes que fosse atingida em cheio na boca por um saco cheio de penas. Ela tossiu e lançou o seu próprio travesseiro cegamente, conseguindo fazer contato com alguma coisa. Piscando para tentar fazer cair uma pequena pena que restava sobre seu cílio, ela viu Diana, uma de suas colegas de quarto, olhando-a com uma expressão nada satisfeita.

Cara olhou para Gina. Gina olhou para Cara. Elas começaram a sorrir, devagar e cruelmente.

"Guerra de travesseiros!", elas gritaram, e então as penas começaram a voar em desalinho.

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Draco estava deitado em sua cama, com feitiços silenciantes lançados à toda a volta. Ele fizera sua cama, com as cortinas puxadas, claro, e estava fechado em sua própria caverna. Inatingível por seus companheiros estudantes. Ele não tinha dúvida de que as pequenas serpentes com que dividia quarto estavam com seu costumeiro hábito de gabar-se de suas atividades ricas e divertidas no verão. Engraçado pensar que, no ano passado, ele fora um deles. Sorrindo desdenhosamente ao pensamento de seus antigos interesses e afeições por Artes das Trevas, mas ainda assim, um deles.