FELIZ ANIVERSÁRIO
Para Lany e Annamel, que sentiram tanto quanto eu a morte de Remus Lupin e Nymphadora Tonks.
O Outono chegara mais cedo naquele ano. Estava bastante frio para o final de Agosto, e Teddy Lupin caminhava resoluto mesmo com o vento cortando seu rosto. Equilibrando os artigos que carregava em apenas uma mão, ele apertou o casaco contra o corpo, tentando bloquear o vento. Não obteve sucesso: o frio que ele sentia tinha pouco a ver com o clima estranho de Cornwall.
Após poucos minutos, chegou até o local desejado. Olhou para os lados certificando-se de que não havia ninguém, e então abriu o portão silenciosamente. Não precisava de luz para guiá-lo; Teddy conhecia bem o caminho. Estivera ali dezenas de vezes desde que aprendera a ler. Essa seria a última.
Abafou um grito ao tropeçar em um galho jogado no chão, e uma das coisas que segurava caiu de suas mãos. Estava demorando para ele exibir seu jeito espalhafatoso. Abaixou-se e pegou a pequena abóbora que esculpira, colocando-a cuidadosamente em cima de um dos vários túmulos do cemitério de Tinworth.
- Desculpa, mãe.
Teddy tirou sua capa e a jogou no chão, sentando-se.
- Eu fiz sem mágica. – ele disse, olhando para a pequena abóbora – Acho que todo mundo deveria comemorar o Halloween e... bom, vocês devem se sentir sozinhos, não?
Era estranho como Teddy sempre se sentia um idiota quando pensava ou se preparava para ir ao cemitério visitar o túmulo dos pais. Tentava convencer-se de que por mais que ele falasse, não havia como Remus e Nymphadora ouvirem o que ele dizia. Ainda assim ele os visitava em todas as datas especiais e uma vez que se encontrava ali era difícil se convencer de que eles não podiam vê-lo ou ouvi-lo. Era difícil se convencer de que eles não estavam ali com ele.
Teddy desviou o olhar para o céu; não tinha muito tempo. Logo seria dia e ele precisava voltar pra casa antes que sua avó percebesse que ele estivera fora. Olhou de relance para o nome Remus J. Lupin no túmulo, e mais uma vez para o céu. Era uma noite de lua cheia.
- Você deve estar feliz de não estar aqui hoje né? – ele falou. -Eu não sei onde você está, mas espero que não tenha uma lua, pra você estar feliz...
Antes que sua voz o traísse, Teddy pegou o restante das coisas que trouxera consigo, e as colocou do lado onde estava sua mãe, sentando-se novamente em sua capa. Eram balões.
- Eu trouxe isso pra você, mãe. Eu sei que não é até mês que vem... mas não quero que você ache que eu me esqueci. E ali – ele apontou para a pequena abóbora que trouxera – é seu presente. Vovó sempre diz que sua época preferida era o Halloween... – Teddy sorriu. – a minha também – adicionou num sussurro – eu sempre me transformo em algum monstro pra assustar a Victorie, e ela sempre se assusta. Ano passado eu virei um vampiro e acho que ela chegou a se molhar de tão assustada que ficou. Todo mundo ficou bravo, até o tio Harry veio conversar comigo. Ele pediu pra eu me controlar, mas que meu pai provavelmente teria sorrido, então ele apenas sorriria e deixaria o resto para a minha consciência. – ele sorriu novamente - Quero que vocês saibam que não vou mais assustar ela. Bom... não dessa maneira.
Teddy desviou o olhar dos túmulos, fixando-o em seus sapatos. Brincou com os cadarços de seus tênis por alguns minutos, antes de olhar para cima novamente, a voz fraca. Havia chegado a hora de dizer o que o incomodava, o motivo de estar ali num dia comum.
- Eu vou pra Hogwarts esse ano. Amanhã. Vovó me levou ao Beco Diagonal e comprou todo meu material escolar e uma varinha... Eu disse pra ela que não queria uma varinha nova, pai, que ficaria feliz em usar a sua, mas ela insistiu, e vocês sabem como é a Vovó. – ele engoliu seco – Mas acho que não tem problema se eu levar a sua também, não é? Eles vão se importar em Hogwarts se eu levar duas varinhas? Não pretendo usar as duas – ele adicionou depressa – mas é que...
Não conseguiu terminar. Desde quando podia se lembrar, Andrômeda Tonks deixava Teddy brincar – sob sua supervisão – com a varinha de seu pai.
- Eu não sei pra qual Casa vou ser escolhido em Hogwarts. Não quero pensar nisso, mas é difícil. Vovó disse que vocês se orgulhariam de mim independente da Casa que eu for, mas eu queria ser selecionado pra... – engoliu seco novamente – Eu queria ser como vocês.
Ficou mais alguns minutos olhando para o chão, sem falar. Quando ergueu a cabeça novamente seus olhos estavam molhados e os primeiros raios de sol iluminavam o cemitério a seu redor.
- Eu preciso ir. E vocês sabem que não vou poder mais vir aqui sempre, não sabem? – ele disse, apologeticamente.
E as palavras lhe faltaram. Levantou-se e pegou sua capa do chão, limpando-a e vestindo-a novamente. Olhou pela última vez para o túmulo dos pais, lendo as inscrições que sabia de cor em voz baixa:
REMUS LUPIN NYMPHADORA LUPIN
10.03.1960 – 29.05.1998 27.09.1973 – 29.05.1998
Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada
- Feliz aniversário, mãe. Adeus, pai.
Com um último olhar para os balões que trouxera e que balançavam com o vento, Teddy virou-se e saiu em direção à sua casa, pelo caminho que conhecia tão bem.
N/A1: Não há informações sobre a localização da casa dos Tonks, então tomei a liberdade de os colocar em Tinworth - Cornwall, mesma vila onde fica Shell Cottage.
N/A2: Também não há informações sobre a data de nascimento de Tonks (com exceção do ano), por isso coloquei uma data que se encaixa melhor com a época que essa história se passa.
N/A3: O Epitáfio é de autoria de Fernando Pessoa.
