Prólogo

Eu ofereci a ela sete viagens. Não sei bem porquê. Mas depois de rebocar planetas, devolver sete companheiros e perder sete vezes mais que isso, me pareceu uma boa idéia.
Ela não era particularmente especial, mas me parecia fantástica. Talvez fosse por ser ruiva, talvez porque vivia gritando, nervosa, com as mãos na cintura, talvez porque ainda não tivesse perdido a esperança de poder ser melhor do que apenas mais uma secretária. Parte de mim talvez tenha visto nela todos os potenciais da anterior, tudo que eu não tinha conseguido fazer por minha melhor amiga. Mas, o que sou eu, afinal, se não alguém que tudo faz pela culpa.

Existia, também, algo mágico nela. Não deu um único pio quando viu o interior da TARDIS, não pareceu sequer reparar que a parte de dentro era maior. Meramente sentou-se lá, olhando para mim como se não soubesse bem o que deveria fazer. Naquele dia eu a ensinei a definir datas, e pedi que escolhesse uma estrela qualquer para visitarmos, no céu estrelado de Londres.

Acho que foi nesse momento que ele apareceu. Era pouco mais que um garoto, na beira da hombridade, falando em seus tons arrogantes. Ele questionou a ela quem eu era, sugeriu que a garota tinha arranjado finalmente um homem rico para si – logo eu, que nunca tenho dinheiro. Eles discutiram, e eu observei, porque depois de perder algo para si mesmo, o doméstico se torna muito mais interessante.

Eles discutiam como se odiassem um ao outro. Eu achei engraçado, de certa forma, a faísca tão presente – e ao mesmo tempo, tão distante. Entre muitas palavras rudes trocadas, eu fui descobrindo pequenas coisas. Ele era filho único, ela era a sétima filha. Ele tinha uma quantidade indecente de dinheiro, ela vinha de origem humilde. Nunca descobri, no entanto, como se conheceram – nem quis perguntar. Saber tudo não tem graça.

Mas gostei dele, ainda que a provocasse tanto. Havia algo ali que poderia ser melhorado, havia potencial. Então, aproveitei que ela tinha se refugiado dentro da TARDIS, e ele a seguido, para levar a máquina a outro lugar com os dois do lado de dentro.

E destas sete viagens, eu nunca me arrependi. A canção estava perto demais de acabar para arrependimentos.