Os personagens não me pertencem, são todos da JK.
Um, dois, três…
Isso deveria significar algo, certo? Talvez, quem sabe, a resposta estivesse ali, em alguma esquina de sua mente, fugindo pelos becos escuros para não ser encontrada. Ela corria, corria, suas pernas doíam, perdia-se em segundos, minutos, horas, e o tempo era um mero detalhe enquanto ouvia um compasso descompassar-se progressivamente. Rápido, então devagar, até que vinham muitos e perdia as contas.
Um, dois, três... Silêncio.
Ela deveria se lembrar. Sim, era uma obrigação, um dever que a colocava contra a parede. Ela deveria se lembrar. Um castelo, estava escuro, sua visão embaçada a tirava qualquer senso de direção. Que lugar era aquele? Estava escuro... Não sabia para onde ir; seguiu para o som grave do pêndulo de um relógio qualquer.
Um, dois, três... Doze.
Meia noite. E o tempo voltou. Mas, não, não tinha certeza de nada, não podia ter. Era tudo muito estranho, as peças não se encaixavam, não sabia por onde começar a arrumar aquela bagunça. E corria contra o tempo, mesmo tendo todo o tempo do mundo. Precisava ser mais rápida, fotografar os flashes e prendê-los em seu peito. Mas as fotos viravam água e escorriam por seus dedos, assim como o líquido escorria por sua garganta e bloqueava sua busca.
Um, dois, três... Quatro.
Por que mesmo estava contando? Quatro relâmpagos seguidos... Isso significava algo, é claro, e tinha uma importância desconhecida, mas real. Quatro relâmpagos seguidos... Precisava lembrar, pensar, e sua cabeça doía. Uma martelada constante, ritmada, mesclada com uma voz grave. Masculina. Parecia regada de preocupação, contava-lhe algo sobre números e relâmpagos. Era isso! Sua visão ainda estava embaçada, precisava enxergar...
Um, dois, três...
Continuava a chover quando acordou, e conseguiu segurar a barra de um sonho antes que ele escapasse. E ele estava ali, claro, bem à sua frente. Porque enquanto chovia lá fora, ela lavava seu rosto e sua alma. O gosto salgado que alcançava seus lábios a trazia paz — de repente, afinal, ele estava ali, ao seu lado, com os olhos fechados refletindo o céu cinzento.
Um.
Dois.
E o coração não mais batia...
Reverie: 1. a state of dreamy meditation or fanciful musing: lost in reverie / 2. a daydream / 3. a fantastic, visionary, or impractical idea.
