- Diário de bordo 1-7-6-0, aparentemente fiquei maravilhada com a capacidade dos humanos de criar histórias. Estou no anonimato há dias apenas lendo isso que eles chamam de "quadrinhos". Os seres desse planeta, perceptivelmente, consomem isso aos montes, eles dizem que faz parte da "indústria do entretenimento". Steven curiosamente me alertou que, sem esse mercado, as mentes humanas pereceriam de tédio... Heh, tão frágeis. É até que uma boa informação caso eu precise no futuro...
"Peridot! Steven e Connie estão aqui!"
- Parece que agora a senhorita Lazúli veio finalmente falar comigo (e gritando ainda)... Até estranhei, faz tempo que não temos uma conversa decente. Foi desde que me meti neste hobby... Mas é culpa dela! Ela não entende a grandiosidade desses meep morps! - senti uma inconsciente vontade da abraçar minha revistinha. - Ora, Capitão escudo! Eu te amo!
- Err... Ninguém precisava ouvir isso...
Peridot desligando.
Se eu pudesse, ficaria até mais tempo no andar de cima do celeiro, mas eu não tinha escolha. Deveria falar com o Steven e a Connie. Eles eram as melhores visitas. Às vezes, nos traziam algo novo.
Desci da parte de cima e fiquei escondida vendo sobre o que eles estavam falando. Só por curiosidade, e para saber se aquela conversa era pra mim.
- Steven, eu agradeço pelos últimos presentes que você trouxe, mas você tem que fazer algo! A Peridot está viciada naquelas revistinhas lá. - Clamava a Srtª. Lazuli. - Ela não dá as caras há dias.
- O quê?! Steven, você andou dando outras coisas pra Peridot? Eu disse que era só pra dar livros pra elas. - Connie repreendeu seu amigo.
- Mas revistas em quadrinhos são leitura de qualquer jeito, não é? - ponderou o garoto.
- É... Não querendo ser chata, mas eu também não estou entendendo nada desse livro aqui. - Falou lápis, levantando a mão com um livro.
- Steven, como é que você dá um livro desse pra elas?
- Mas foi você que disse que eu tinha que dar justamente esse livro. Até achei estranho inclusive...
- Eu disse pra você dar cidade das cinzas, não cinquenta tons de cinza...
Apesar da Lápis estar reclamando dos meus tesouros, a conversa parecia bastante descontraída. Então, aproveitei o embalo e fui me comunicar novamente.
- Steven, Connie! Muito bom ver vocês! - mantido a compostura e fui sorridente.
- Olha só quem resolveu sair da Batcaverna... - Steven não resistiu em soltar essa piada. As outras consequentemente riram, já eu, corei. - Tô só brincando, Peridot, muito bom te ver també-. - O interrompi pondo a ponta do meu dedo na boca do Steven.
*Coff, Coff* - Tossi duas vezes preparando minha fala. - Olha só, Steven, queria dizer que gostei muito de recebê-lo hoje, porém queria te pedir mesmo mais exemplares destes. - levantei minha comic - Sabe, para expandir meu conhecimento sobre sua cultura...
Não tinha colado. Confesso que quase cheguei a ficar trêmula, um silêncio tomou conta do ambiente. Parecia que eu tinha feito algo de errado... Só fui direto ao ponto, mas todos ficaram olhando pra mim com carinha de tontos. De repente, Connie inclinou-se para o Steven falando algo no ouvido dele. Não sabia o que esperar. Só sei que o fato dele ter concordado no final me enche de receio.
- Peridot, acho que você já tem revistas de mais... - se tivesse um coração pulsante, com certeza, teria uma taquicardia. - Irei comprar mais pra você, mas só depois de um bom tempo.
Essas palavras apunhalaram minha forma física. Minhas estrelas! O que eu poderia fazer se não pudesse ler outros capítulos de meus heróis favoritos? Isso estava errado... O que serei eu sem o hobby que tinha cultivado?
- Hã?! Não pode fazer isso comigo! Você me transformou numa dependente de revistinhas, agora, tem que sustentar meu vício! Não consigo acreditar em tamanha trairagem.
- Deixa de drama, Peri'. Se eu te transformei nisso aí, então estou te destransformando agora. Larga disso um pouco. - Steven tirou a Comic da minha mão.
- E o que é que eu vou fazer o dia todo?
- Se divertir conosco. - ele respondeu sorridente.
A ideia parecia abrupta para Peridot, porém o que ela tinha a perder? Acabou que o grupo cedeu às diversões durante boa parte do dia. Assistiram filmes e séries, jogaram, esbanjaram suas criatividades nos diversos objetos presentes no celeiro. Por mais que, como um todo, o grupo sentiu suficiência nas atividades, Peridot ainda resgatava sua nostalgia pelas HQs. Ela enxergava um lado otimista, pois suas relações com Lápis se normalizaram, mas era agoniante o abandono de seu hobby.
E assim se sucedeu durante uma semana. Nada de Comics ou qualquer coisa do tipo. Parecia um purgatório para a pequena gem. Sua fuga para esse acontecimento? A internet. Ela navegava o dia todo passando de pesquisa em pesquisa, muitas vezes buscava por fotos de seus heróis favoritos.
- Ah, Capitão Escudo... Que saudade de você. - A gem ficava manhosa.
- Ai, minhas estrelas. Você não consegue ver outra coisa? - Lápis queixava-se, irritada. Ela, então, retirou o que Peridot estava olhando e redirecionou, sem querer, para um site estranho de notícias.
- Ei você não pode fazer isso! Eu tenho liberdade de pesquisar o que eu quiser. - as duas entraram numa briga de tapinhas. - Não! Sai pra lá. - Disse Peridot, afastando sua amiga.
- Hur... Tanto faz então.
Olhando para a tela do seu tablet, Peridot viu notícias de Empire City. Um grupo de desconhecidos, pontuados pelo vandalismo estavam causando um furdúncio na cidade. Eles agiam à noite e quebravam coisas e chegavam a agredir pessoas. Se auto denominavam BackStreetScrap. A gem enojava-se de várias formas, primeiro com o nome cafona do grupo, e segundo pelas imagens que ilustravam o desrespeito à propriedade e à vida.
- Que horror! Esses humanos não veem isso? Alguém deveria fazer algo.
- Alguém? Tá certo... Quem sabe esse alguém não é você. - Ironicamente disse Lápis, rindo no final.
Não captando a real intenção da fala de sua amiga, Peridot pôs-se a pensar naquilo o dia todo. Incrivelmente uma simples piada tornou-se motivo para uma filosofia, a verdinha pensava nas possibilidades. "Se eu não fizer, quem fará?", "O que eu teria a perder, estaria ajudando, não é isso que importa?", "O mal não pode ser perpetuado". A pobrezinha sofria de graves delírios, fantasiava uma grandiosidade e singularidade só sua ante aquele situação. Pensamentos transitavam e, quando se dera conta, o sol já estava se pondo. Havia decidido. Àquela noite iria por seu rumo existencial para algo grandioso.
Durante a tarde, separou diversas coisas que iria usar. Sua amiga, a Lápis, perguntou do que aquilo se tratava. Peridot a respondeu:
- Cosplay, coisa de cosplay... - Disse a gem, meio nervosa.
Lazúli simplesmente aceitou, não tinha ideia do que era cosplay, mas achava que era alguma invenção nova de sua amiga.
Não tendo mais nenhuma interrupção, a ananzinha verde preparou algumas coisas previamente e aguardava a hora chegar.
- E o tempo não para! Chegou a minha hora. Já está de noite e a Lápis deve estar dormindo. - Meus pensamentos estavam altos, como consequência quase acordei minha companheira. Mas o que eu podia fazer? Estava tão ansiosa. Essa seria a noitada decisiva!
Primeiro parte do manual de um super-herói, tenha seu uniforme, certo?
Claro... Sim... Tanto é que foi a primeira coisa que fiz.
Primeiro adereço: Meu revestimento corporal.
Só assim terei uma camada mais densa que irá proteger meu corpo e absorver os impactos. Alguns humanos chamam isso daqui de pijama pro corpo inteiro, mas pra mim não é assim, isso representa minha adornacão e primeira espessura de proteção.
*Shin*
Segundo adereço: Luvas, botas e colete.
Todos esses objetos servem como segurança adjacente. São tão leves e úteis. Podem ser a última barreira que restará entre a vida e a morte.
*Shin*
Terceiro adereço:Máscara e o cinto de utensílios
Como herói estarei me expondo aos olhares mórbidos de cada criminoso, manter o sigilo de minha identidade é vital, mesmo que seja usando uma bandana para cobrir metade do meu rosto. E o meu cinto é de onde tirarei meus mais infalíveis truques, todas as minhas cartas na manga estão aqui.
*Shin*
Quarto adereço: Capa e a cueca(?)
Que herói fidedigno não leva na sua imagem uma capa? É símbolo cultural remanescente que atravessa a história expressando a grandeza de indivíduos. E a cueca então... Além dessa ser a minha favorita, com os alienzinhos verdes, own, é marca histórica presente naqueles grandiosos seres que impõem respeito apenas por seus trajes.
*Shiiiiiin*
Essa noite eu serei alguém diferente de tudo que já fui um dia. Essa noite sou conhecida como:
DєltαDσt
- Fazia tanto tempo que não ficava pasma com algo tão belo. - dizia enquanto me olhava no espelho. Estava tendo uma crise narcisistica.
Cada detalhe de meu uniforme me agrada. Desde o meu "pijama" verde com uma estrela no torso, minha luvas e colete brancos e minhas botas e bandana pretas.
- Espera... Deixa eu ver se está gravando, e... Tudo nos conformes! - Levava comigo meu novo gravador. Fiquei muito apegada a ele desde que me introverti para ler os quadrinhos.
- Agora eu estou preparada pra chutar uns traseiros. Iiiah! - Dei um chute pra cima, mas me empolguei e acabei caindo.
Mas nada disso importa, agora tenho que focar em chegar em Empire City. Mas como?
Bem se eu sou uma super heroína, devo chegar lá pelas alturas. Voar!
Pulo e balanço minhas pernas. Por um segundo, pude sentir que estava pairando no ar, mas, como a gravidade não falha, fui ao chão novamente.
Ora, devo, então, chegar lá reinventando um mecanismo de locomoção animal, como uma teia! Irei me mover como um aranha através de teias!
Revirei meu bumbum, mas nada. Não saia nada... Me pergunto:
"Mas não é assim que anatomia de uma aranha funciona?"
Eu acho que eu só não consigo usar mesmo... Tenho que me virar com o que tenho: poderes de metal.
Pensa, Peridot, pensa. Use sua criatividade... Olho aos arredores e procuro por algo.
E num acaso do destino encontrei uma tampa de lixo metálica. Era isso, abri um sorriso que se estendia a cada canto do rosto.
Surfava em cima da minha tampa de lixo. Minhas estrelas! Era emocionante. Apesar de a cada segundo perder o equilíbrio e quase cair, me sentia livre a voar. O passeio não é dos mais luxuosos, mas voar numa tampa de lixo tem lá suas vantagens.
Passou-se um tempo e finalmente cheguei aos arredores das periferias de Empire City. Tinha lido nas notícias que o grupo circulava na região a essa hora. Restava apenas encontrá-los. Felizmente, das alturas, logo vi um trio composto por dois homens e uma mulher. Eram uma das poucas pessoas que circulavam nas ruas, tinha umas vestes mixas, variação de maltrapilhos à extravagância. E ainda tinham algumas tatuagens. Fiquei decidida de que eram eles.
Fiz questão de os seguir. As únicas suspeitas que tinha eram embasadas em preconceitos meus, mas o que eu tinha a perder? Ou desvendaria que eles eram os vândalos ou simplesmente estaria invadindo a privacidade de inocentes.
Minhas dúvidas se acentuaram. Eles se dirigiram para um porto abandonado. Havia diversos barcos velhos inutilizados, tanto atracados quanto espalhados pelo porto como se fossem lixo.
Rapidamente, pousei ali perto. Fiquei bisbilhotando a distância para tirar o decreto final. Do trio, que havia antes, um se foi. Restando apenas dois, vi que meu trabalho seria bem mais fácil.
- Deveríamos logo acabar com qualquer tipo de repartição pública. - falava um rapaz magro, tatuado e de cabelo laranja.
- Você sabe que não dá. Nós não trabalhamos assim. Nós praticamente funcionamos como garotos de entrega. - respondeu a menina de cabelos ruivos.
Eles falavam em acabar com departamentos públicos, ou seja, perturbação da ordem pública. Não havia dúvida! Eram eles! Agora é minha vez!
Peridot não se aguentou, pôs-se a emergir numa montanha de entulhos que havia ali perto. De forma magistral, sua silhueta transpusera os raios lunares.
- É a voz que perdura o mal a que eu ouço? Esse é o timbre que os levará ao fundo do poço! - disse a gem rimando.
Os dois outros jovens olharam surpresos e não entenderam nada, achavam que algum louco escapou de um asilo e estava difamando-os naquele momento.
- Ei, seu bunda mole! Não sei o que faz aqui, mas este lugar não é seu asilo! Melhor sair da nossa área! - o rapaz bradou para Peridot.
A gem cada vez mais parecia confiante. Aqueles dois apenas ficavam mais suspeitos com o que diziam.
- Hã?! Por acaso eu ouvi "nossa área"? Este lugar não os pertence. Ainda mais se é usado para vigarices.
- Vigarice?! - sancionou a garota. Ela estranhava, achava que a DeltaDot sabia de tudo, mas na verdade sabia só da superfície do problema.
- Seu reino de malfeições acaba aqui! Eu serei a pedra que ficará em seu caminho! - respondeu a gem de forma perspicaz.
Essa fora a sentença decisiva. Os dois jovens calaram-se e ficaram surpresos com aqueles dizeres, eles suspeitavam que a gem sabia de algo. Era toda prova que Peridot precisava para enfrentá-los, parecia ter certeza que era eles. Segundos se passaram um silêncio perdurou. Os jovens falam inquietos:
- Pouco importa! O que você tem a ver?! Aliás, quem é você?
Era tudo que a gem precisava, já havia ensaiado diversos discursos só para responder àquela pergunta.
- Eu? Ora, sou apenas um indivíduo que é herói como hobby... Não espera! - disse ela atrapalhada, pois confundira a frase de efeito de sua apresentação. Os seus ouvintes ficaram em dúvida, mas DeltaDot continuou:
- Eu... Sou a luz que permeia o coração das pessoas... - Ela começou a discursar mostrando-se. Saia do brilho lunar, revelando assim seu corpo. - Uma muda plantada a partir dos intempéries e regada com os resguardos esperançosos da sociedade.
Eles me chamam de...
deltadot!
Os dois jovens não puderam segurar a gargalhada, riram aos montes. Um total estranho , anão, se revelou com uma fantasia e, para eles, dizia tantas besteiras. A gem apenas corou e gritou irritada:
- Quero ver se vão rir quando sentirem meus punhos da justiça! - ela disse intrepidamente.
- Ui! Cuidado! O bebê vai tirar o super chocalho do bolso. - disse a adolescente, ironicamente.
- Ou quem sabe a mamadeira boomerang! - o outro jovem completou.
Estava envergonhada, caçoavam de sua altura e vestes. Peridot podia sentir que iria explodir de raiva. Ela segurou o fôlego e preparou-se para gritar novamente.
- Se vocês acha que vã- *turgh*
A gem toma um soco e cai entulho à baixo. Ela ficou surpresa. O terceiro rapaz que estava presente antes chegou de surpresa. Era um homem bem mais crescido, robusto. Usava um boné e um casaco.
- Boa, Rick! Bem na cara! - disse a jovem do grupo após ver o ocorrido. - Totalmente merecido.
- Não devia estar aqui. É melhor dar o fora. - Disse aquele que chamam de Rick.
- Por que fez isso?! Nós nem tivemos nosso debate calorado pré-combate. Você já foi pras preliminares!
- Quem é essa fanfarrona? Quem a deixou entrar? - ninguém o respondeu, pois o restante de seu grupo não sabia.
- Você. Hurh...
- Ela ainda vai levantar?! - disse o jovem surpreso. - Que criança mais cabeça dura.
- He... Hehe... Nyehehehhe. - curiosamente, a gem começou a rir. - Já devia esperar isso de gente da sua laia. Sempre atacando na retaguarda desprotegida. Confesso que deslizei nesse detalhe.
No momento em que dizia essas palavras, os integrantes da guangue aproximaram-se dela. Pegando barras de ferro e pedaços de madeira como armas. Por um segundo, Peridot suou frio, mas criou coragem para dizer:
- Para trás! - exclamou a gem, tirando um adereço de seu cinto. Parecia um controle remoto.
- Hã? Vai fazer o que com isso? Bloquear o canal da minha TV? - disse a jovenzinha.
- Boa, Cassie! - respondeu seu parceiro.
- Nem tudo é o que parece! - Peridot aponta o controle para eles. - Esse dispositivo irá chamar minha arma mais mortal, que irá acabar com isso num piscar de olhos, o robocóptero! - Os membros da gangue riram apenas com o nome do engenho, aquilo já parecia um show de comédia. Um stand-up ao vivo. - Podem tirar quanto sarro quiserem, porém não peçam por misericórdia quando minha máquina estraçalhadora domar a alma de cada um de vocês!
A gem soltou suas palavras com tamanha eloquência que causou um desconforto nos outros.
- Ela está blefando! Vai lá, Rick. Pega ela! - disse Cassie, engajando seu parceiro.
- Vamos ver se você vai dizer isso quando eu apertar esse botão! - vociferou DeltaDot.
Rick deu um passo à frente; DeltaDot levantou com audácia o polegar ameaçando apertar e, logo, apertou o botão num resonar que ecoou por todo lugar. Apenas pôde-se ouvir uma coisa:
*CLICΚ*
Passou-se alguns segundos, o vento foi o único som atuante naquela instância. Todos olhavam com uma cara de decepção para a tal DeltaDot. Até eles já esperavam algo melhor. Não acreditavam que aquela pessoa podia pagar tanto mico.
*CLICΚ*CLICΚ*CLICΚ*CLICΚ/
*CLICΚ*CLICΚ*CLICΚ*
Apertava-se o botão desesperadamente na esperança de que algo ocorresse. Perdendo a paciência, a gangue soltou o ultimato:
- Vamos pegá-la!
- Eu acho que não! - disse a gem tirando mais uma carta de sua manga. Dessa vez, retirou uma bomba de fumaça do cinto e a estourou no chão.
Com isso, os humanos sucubiram às tosses e a cegueira, a fumaça que saira fazia mal aos olhos. Neste impulso, Peridot bateu em retirada, decidira que iria cuidar daquele grupo noutro dia. Todavia, na sua fuga, Peridot cai de costas no chão. Sua capa prendera em algo. Quando ela se virou pôde ver que seu manto estava preso numa afiada estaca metálica enferrujada de um barco.
Desesperada, a gem tentava se soltar, mas era tarde. O grupo impetuoso que iria lhe linchar voltou-se para ela ainda mais raivoso.
- Ora, ora. Parece que o rato forjou a própria ratoeira. - Rick acabou de criar uma nova expressão. - É o seu fim! - disse ele desferindo um ataque brutal na Peridot com uma barra de ferro.
Ofegante naquela situação, a gem acabou inconscientemente desviando do ataque, que ao invés de rasgar sua cara rasgara sua capa.
Não deixou-se paralisar. DeltaDot correu como nunca na sua vida. Mal tinha começado sua carreira e já estava sendo perseguida. A pequena heroína corria em zigue-zague desviando de diversos objetos. Chegou a subir num montante de lixo novamente só que dessa vez acabou caindo por si só.
Tentou fugir mais, só que já havia chegado no ápice do local. Na sua frente, havia apenas uma beira que levava à água. Atrás de si estavam seus algozes.
- Argh! Até que pra uma coisinha pequena você corre bastante. - falava Thomas, ofegante, enquanto se aproximava com seu grupo.
Era o fim da linha, a gem olhou pra trás e viu que não tinha escolha, pulou de vez para o mar. Contudo, antes que pudesse encostar na água, ela é pega pela gola do pijama.
- Ah, não vai não. - disse Rick segurando-a. - É melhor que você valha o esforço.
O homem a jogou para o outro lado e pôs-se a cercá-la. Segurou sua barra de metal e estava sedento por tornar realidade seus desejos mais violentos. Claramente era um rapaz descontrolado.
- Não, por favor! Podemos resolver isso de outra forma! - clamou a pequena. - Não pode fazer isso comigo, a grande e tão amada DeltaDot!
Mirando na cabeça, o tirano preparou seu braço e balançou-o para um golpe único que iria deixar sequelas inacreditáveis. Institivamente, Peridot pôs suas mãos na frente para proteger-se e...
*POW*
De resto, houve apenas gritos de dor. Peridot olhou e não entendeu nada. O golpe era pra si, mas foi seu inimigo apareceu com a cara vermelha. A gem raciocíniou:
- Meus poderes de metal!
Terceiros não entenderam sua fala, mas ficaram receosos. Peridot pôde finalmente perceber que não só estava na vantagem de habilidade, mas também tinha vantagem de terreno. Muitas coisas do local eram feitas de metal. E assim se sucedeu. Ela percebeu a oportunidade e transformou-se numa "gladiadora metálica". Usou seus poderes para levantar a barra de ferro e uma porta de carro. Usando-os como espada e escudo, respectivamente.
- Nyeheheheh! Podem vir pra cima! - exclamou a gem, decidida. Até parecia que agora pouco não estava fugindo da gangue.
Apesar de estar em menor número, ela não envolvia-se diretamente na batalha. Sua manipulação metálica a permitia que atacasse a distância. Era, praticamente, uma luta à moda medieval contra um fantasma.
Numa maestria de movimentos, ela derrubou Cassie e Thomas, já Rick foi jogado para longe, assim como ele fez com a gem há pouco tempo.
- Touché! - disse a gem, meio avarenta.
Apavorados, os dois jovens, que após verem seu superior sendo arremessado, saem correndo.
- Ei! Voltem aqui! Eu ainda não prendi vocês! - a anã verde queixou-se. - São uns covardes, não aguentam mexer com a autoridade aqui! - a gem bateu no próprio peito.
Peridot preparou-se para correr em direção a eles, mas, subitamente, Rick reaparece pulando em cima dela.
Num raciocínio esquemático, ela rapidamente põe o "escudo" em cima de si, protegendo-se do ataque. Rick ficou em cima do escudo olhando-a de forma penetrante, parecia estar morrendo de raiva, queria trucidá-la.
Intimidada com o olhar de outrora, DeltaDot levanta o vidro da porta que usava como proteção. Rick começou a desferir socos fortíssimos no escudo, chega até a quebrar o vidro com um e fala:
- Here's Rick!
Percebendo que seu escudo iria se precipitar, Peridot força seus poderes e levanta a porta do carro junto com Rick, arremessando os dois e ganhando distância.
- Você é realmente louco! - falou a gem, incrédula.
- Só quando me tiram do sério!
E lá estavam os dois face a face. Estava decidido aquele seria o confronto final. Era o herói contra seu recém-arqui-inimigo. Ambos apertam seus punhos para lançar o golpe decisivo. Seria tudo resolvido num soco. Aquele que perdesse a consciência, perderia também tudo. Num ímpeto incontrolável, Rick sai para sua vitória. Peridot também estava confiante e parte para cima. Ambos gritaram, ambos estavam eufóricos, já não parecia uma situação real. Era um conflito de motivos banais. Era irracional, mas não tinha volta. Em seu caminho, Peridot fecha os olhos pula para acerta-lhe a cabeça.
Ambos caíram. Porém apenas um estava desacordado, e curiosamente não era Peridot.
Ela caiu, mas não por causa de um soco, mas porque bateu no nada. Seu inimigo caira antes que ela pudesse acertá-lo. Não sabendo quem foi o autor desse milagre, ela olha para os lados e se maravilha com o que vê.
- Robocóptero! V-você veio! Nunca duvidei de ti! - ela fala e beija seu robozinho. Aparentemente, sua máquina havia topado na cabeça do seu inimigo enquanto chegava pelos ares.
- Escaneando o local*. - dizia o robocóptero, numa voz eletrônica. - zero inimigos detectados*.
- É, é isso mesmo... - sorridente, a gem falava. - Mas o que eu faço agora?
Peridot saca o celular do homem que estava caído a sua frente e começa a fazer uma ligação.
- Alô, é da polícia?...
E então... Voltei pra casa...
Já não havia mais nada que eu quisesse fazer em Empire City. Só queria estar no aconchego do meu lar. Demorou bastante pra retornar, e quando cheguei aos arredores do celeiro, o sol já tinha raiado. Lápis, Steven e Connie estavam lá no celeiro celeiro, todos pareciam preocupados. Até que minha amiga me viu e veio correndo até mim.
- Peridot! Onde você estava?! Fiquei preocupada, até chamei o Steven e a Connie.
Apenas a cumprimentei, não a respondi de imediato, só queria poder deitar-me em qualquer lugar e descansar, mas primeiro tinha que falar com meus outros amigos. Nem precisei ir a eles fazer isso. Steven e Connie me receberam na minha própria moradia e me deram sermões sobre meu sumiço.
- Olha, o importante é que você está bem. - Steven me disse com um tom de alívio. - A lápis me contou que você não estava aguentando mais, então comprei pra você mais algumas revistas do capitão escudo, sei que é seu favorito. Talvez te faça sentir melhor.
Por algum motivo, aquelas comics abalaram meu emocional, mas não de um jeito bom. Fiquei encarando as HQs, e minha visão se ofuscava. Do nada, apenas senti a vontade de chorar. Assim, me abracei a Lápis e o fiz.
Diário de bordo 1-7-6-2, estou, hoje, te resgatando para um último desabafo. Como toda história tem um começo, um clímax e um fim, estarei te ditando como acabou mais uma vírgula de minha passagem existencial.
Faz uma semana desde os meus atos heróicos, jamais imaginei que minha carreira duraria apenas uma noite. Contei para meus amigos sobre tudo que ocorreu. Como consequência, eles me impuseram regras de um mês afastado da internet, e de comics principalmente. Aceitei sem questionar, também queria distância dessas coisas. "Mas e o resto, e os criminosos?", deve estar se perguntando.
Bem, pude acompanhar algumas notícias e a coisa foi grande...
Não prendi ninguém da BackStreetScrap. Rick Martello, integrante pilastra de um cartel, foi único cara que de fato pus na cadeia. Todos os acontecimentos que vivi naquele dia estavam relacionados a um esconderijo de drogas. Mas é engraçado a justiça dos humanos. Eles fizeram um esquema de delação premiada em cima de Rick e muita gente acabou no xilindró, gente de máfia, gente perigosa. Pareceu até um efeito dominó. Um dos cartéis de Empire City caiu em ruínas mercadológicas por causa disso.
E agora? Bem, agora, a personagem DeltaDot é caçada pelos criminosos.
O que eu aprendi? Que ser esse tipo de herói não é tão bom quanto parece. O fardo é gigante e a jornada é traiçoeira. Steven me disse que se eu realmente quiser ajudar a humanidade poderia fazer isso indiretamente, contribuindo com algumas instituições. É uma coisa bem estranha... Mas deve funcionar.
Se eu vou voltar a ser a DeltaDot? Só tempo e os circuitos de justiça que vão dizer. Mas o mais provável é que não... Mas foi interessante enquanto durou...
Peʀɪdot desʟɪɢando...
