Naruto pertence a Masashi Kishimoto.
Fanfic em comemoração do meu bom humor ao comer balinhas gelatinosas e lámen super apimentado comprados em uma lojinha oriental - com uma dona ocidental, mas curiosa - em um mercado.
Préludio
Aos olhos do pai, a criança caminha.
A menina corria de si, risonha, suas perninhas faziam o melhor que podia ao tentar se afastar do pai, para que ele pudesse se esforçar mais em sua caçada. A mais emocionante de todas. Ele via os babados se balançando conforme ela também balançava ao correr, para lá e para cá, um pé após o outro, mexendo-se, esgueirando-se das garras paternas e quase felinas, de seus dedos brancos. Não por muito tempo, claro. Ela se cansaria, e ele continuaria a segui-la com seus passos medianamente rápidos, enquanto fingia estar se esforçando muito ao persegui-la. O campo gramado repleto de árvores frutíferas, acompanhado de um céu que ele gostava de pensar ter sido desenhado à mão parecia deixar o momento mais encantador, com uma trilha sonora lenta e singular, que dava há ele uma graciosidade maior do que já possuía. Um daqueles momentos que você não vê passar, mas que se lembra para sempre.
Ele não se lembrava se aquela era a primeira vez que corria assim com sua filha. Sua criança. Menininha. Os cabelinhos finos e escuros pareciam voar enquanto corria quase em sincronia com seus babados lilases e brancos.
Sentiu seu peito aquecer com aquela figura minúscula, em comparação a sua. Conseguia ouvi-la gritar por ele. "Otou-san! Otou-san!", ela arfava, não correria mais rápido que aquilo e ele a sentiu desistir da caçada, diminuindo o passo. Ele não precisa se preocupar, pois ia pegá-la. Coisa de segundos. Ela não precisava se preocupar, pois ele ia pegá-la. O coração de ambos se aqueceu no momento em que ele a pegou nos braços e a ergueu, sentindo-se pai e protetor, cria e protegida. Ele a abraçou com força, ainda sem olhar em seu rosto, que sabia estar expressando um sorriso gostoso, com cheiro de leite com chocolate em manhãs de sábado.
Beijou-a no topo da cabeleira escura, tal qual herdara dele. Os dedinhos da menina enlaçaram o braço do pai, apertando-o do modo mais firme que conseguia, tentando virar-se para dizer a ele que ela o amava. Ou para sorrir, o que dava no mesmo.
Não se lembrava de sentir sua filha tão feliz quanto estava agora. Ela parecia incandescente.
Seu rostinho estava cada vez mais luminoso, conforme se virava, em meio a beijos e cócegas.
Por um momento, Sasuke sentiu seu coração parar. Ela o olhava. Com seu sorriso límpido e leitoso no rostinho iluminado. Então ele lembrou-se. De sua filha. Da menina em seus braços. Os olhos perolados sorriam tal qual todo seu rosto e ser. Suas mãozinhas se ergueram e tocaram o rosto de Uchiha Sasuke com tamanha suavidade que Sasuke só se deu conta depois que elas já estavam lá.
- Aishiteru, otou-sama. – ela disse, ainda sorrindo.
Lembrou-se. Ou pelo menos se lembrou de que havia se esquecido como chegara ali, de como encontrara sua filha, de que os olhos dela eram perolados. De que ela era filha de Hinata. Hyuuga Hinata. Ele avistou-a ao longe, sentada em um banco de madeira, com um livro em mãos. "A elegância do ouriço¹." lia-se na capa. Hinata expressou um sorriso tão límpido e leitoso quanto o de sua filha e seu sorriso só ficava mais luminoso. Mais forte. Mais intenso.
Branco.
Elas haviam sumido. Tudo sumiu. A bela praça, que em momentos antes se assemelhava a um campo de esplendor e beleza. Os sorrisos que aqueceram o coração daquele homem solitário e vazio.
Ele era um homem e sabia disso. Não se lembrava de quando se tornou um, talvez pelas mudanças serem relativamente lentas, mas contínuas. Talvez por nunca ter se tornado realmente um.
Sentia seu coração apertar. Onde estava a criança? Onde Hinata estava? Onde estava aquela luz? Sentia necessidade que elas retornassem.
Lembranças de luz. Foi o que se tornaram. Até certo ponto.
Uchiha Sasuke percebeu que estava sonhando. E acordou.
¹ - Livro de Muriel Barbery, maravilhoso. Leiam, se tiverem oportunidade.
Estou feliz em realizar essa postagem, a muito eu me ausentei de nosso mundo de letras, sonhos e sakê. Permanecerei.
Muito obrigado por lerem.
