Capítulo 1 – Notícia Inesperada.
JUNTOS NO MESMO CAMINHO
Gritos alvoroçados podiam ser ouvidos por toda a rua, eram gritos animados em coro. E no meio de tantas casas, uma ao lado da outra, havia uma em especial. Especificamente numa garagem aberta, oito jovens adolescentes estavam sentados no chão formando uma roda. Estavam comemorando o segundo dia de férias da escola jogando desafio. E o desafiado da vez era a garota de cabelos estranhamente cor-de-rosa, que bebia num só gole um copo cheio de vodca.
— Vira! Vira! Vira! Vira! Vira!
Os gritos dos amigos a motivava a jogar o líquido goela adentro, sentindo-o descer queimando. Não era a primeira vez que bebia, e por isso não sentiu dificuldade de virar todo o copo, fazendo uma careta com o gosto amargo que havia ficado em sua boca.
— Aeeeeê...
Bateu o copo no chão, escutando os amigos comemorando o desafio comprido, e fitou o garoto ruivo a sua frente, que erguia as sobrancelhas.
— Faz melhor, babaca. - ela não podia evitar o sorriso irônico em seus lábios para o garoto que havia a desafiado.
— É Sasori, você poderia dormir sem essa. - Deidara, pôs a mão no ombro do amigo, rindo.
— Sakura, você é louca. - disse Ino, sua melhor amiga enquanto sorria e balançava a cabeça negativamente para os lados.
Sakura a fitou.
— Eu só cumpri o desafio, fofa.
— Vamos fazer outra coisa, isso ficou chato. - a voz entediada de Gaara soou no meio as outras vozes.
Konan que estava ao lado da Sakura se manifestou.
— O Gaara tem razão, gente.
— O que foi Konan, também vai amarelar? - questionou Sakura a fitando. - Agora é a minha vez de desafiar.
— Sakura, o dia ainda está claro para você desafiar alguém a andar pelado pela rua. - disse Yahiko, concordado com a namorada.
— Vocês são um bando de maricas. - ela se levantou do chão, ficando de pé e caminhando para fora da garagem.
— Sakura aonde você vai? - perguntou Ino se levantando também, assim como os outros.
— Vou para casa - respondeu sem parar de caminhar. -, estou de castigo por ontem.
— Parada meliante! - se manifestou Hidan já ao seu lado. Ela parou e o fitou. - Vamos ao bar aqui perto.
— Às três e meia da tarde? - questionou Gaara, fitando seu relógio de pulso.
Hidan arqueou as sobrancelhas e olhou para o amigo.
— O quê que têm? Beber agora tem que ter hora?
— Hidan tem razão. - disse Sakura. - Eu tô dentro.
— Mas você não disse que estava de castigo? - questionou Deidara.
Sakura apenas sorriu debochadamente.
— Foda-se o castigo.
— Eu também estou dentro. - disse Sasori, parando ao lado de Sakura enquanto tragava o seu cigarro e soltando a fumaça no ar. Sakura tomou o cigarro de sua mão de deu uma longa tragada. Sasori tomou de volta da mão da garota. - Você é muito abusada, sabia?
Sakura apenas deu de ombros.
— Já que todos concordam, então vamos por que a tarde e à noite é uma criança. - a voz de Yahiko soou, dando o assunto por encerrado.
Os amigos de dividiram e entram nos dois carros que estavam estacionados em frente à casa amarela de Hidan.
O hospital geral de Tóquio estava bem movimentado, fazendo o trabalho dos médicos e enfermeiros ficarem bem agitados. Para Mebuki não era diferente. Havia acabado de sair do quarto de seu paciente que estava em observação depois de uma parada cardíaca há dois dias. Entrou em sua sala e sentou sem sua cadeira. Seu corpo estava tenso, e sua cabeça doía devido às horas intensas de trabalho.
Olhou as horas em seu pequeno relógio que ficava em sua mesa, constando ser 19hrs. Faltava menos de uma hora para seu turno acabar. E apesar de sentir alívio por poder descansar um pouco em sua cama macia, ela não queria ir para casa. Não queria chegar cansada do jeito que estava e brigar com a sua filha adolescente.
Mebuki se sentia cansada psicologicamente e acima de tudo estressada. Brigar com Sakura todos os dias estava acabando com seus nervos. Ela não conseguia encontrar paciência para lhe dar com a menina. Não sabia o que havia acontecido para que Sakura ficasse tão impossível e rebelde. Ela queria a sua menininha doce e alegre de dez anos atrás, mas sabia que isso não iria acontecer.
Havia deixado à garota de castigo em casa, por ter chegado ontem à noite escoltada por policiais. Eles haviam declarado que a pegaram pichando patrimônio público. Não sabia o que fazer naquelas horas, apenas deu uma bronca - que foi ignorada pela menor - e a deixou de castigo. Havia ligado para a casa várias vezes para ver se ela estava cumprindo a ordem, mas descobriu que não. Ela havia saído.
Já era de se esperar.
Ergueu um pouco seu corpo, ajeitando-se na cadeira e nesse momento o seu celular começou a vibrar encima de sua mesa. O número era desconhecido, mas mesmo assim resolveu atender.
— Alô? - podia ouvir a música alta no fundo, apenas franziu o cenho.
— Senhora Mebuki, estou ligando para avisar que encontramos a sua filha jogada no beco. Ela está estuprada e morta.
As gargalhadas a seguir haviam denunciado ser Sakura. Pelo tom de voz enrolado e descontrolado, deveria estar bêbada.
Mebuki apenas fechou os olhos, tentando manter a calma. Não havia se impressionado com esse tipo de ligação, pois Sakura tinha esse costume de ligar de números desconhecidos e passar trote para deixá-la louca.
— Sakura, onde você está? Eu não falei para você ficar em casa? Você está de castigo.
— Relaxa Mebuki, eu estou com uns amigos me divertindo. - outra gargalhada. - Olha, só para você não dizer que eu sou uma péssima filha, eu estou te avisando que não vou dormir em casa hoje.
A mulher franziu mais as sobrancelhas, Sakura estava testando sua paciência.
— Sakura, quando eu chegar em casa eu quero ver você lá. Você me entendeu?
— Eu já disse que eu não vou dormir em casa! Quer que eu soletre, velha?
— Se você não estiver em casa daqui há uma hora, eu vou rodar essa cidade toda e te trago a força. Está entendendo Sakura? Sakura?
A linha havia ficado muda.
— Droga. - jogou o celular na mesa, sentindo suas mãos tremerem.
Sakura havia acabado com seus nervos, estava tomando calmantes para conseguir ficar de pé. Podia sentir as primeiras lágrimas caírem, por causa de seu sistema abalado. Ela não era mais aquela mulher forte como era antes, e muito menos tinha forças para enfrentar o gênio rebelde de sua filha.
E era tudo por culpa dela.
— Eu não aguento mais. - murmurou chorosa. - Não aguento...
Pegou seu telefone que havia jogado na mesa e discou o número que há meses não ligava mais. Sabia que o que estava fazendo era uma atitude covarde, mas ela tinha quefazer alguma coisa antes que acabasse louca.
Ouviu os toques chamando umas cinco vezes antes da voz conhecida de seu ex-marido soar do outro lado.
— Alô?
Fechou os olhos e suspirou, tentando impedir as lágrimas que caíam em seu rosto.
— Kizashi, eu preciso da sua ajuda.
— Mebuki? — a voz do homem pareceu surpresa. - Aconteceu alguma coisa? A Sakura está bem?
— Não exatamente... quer dizer, a Sakura está bem. - ela escutou o suspiro do outro e continuou, sendo direta: - Eu quero que a Sakura passe um tempo com você.
O silêncio se manifestou.
— Kizashi, você ainda está aí? — ela perguntou, pouco preocupada pela ausência do outro na linha.
— Estou. — pausa. - Por que isso agora, Mebuki? — ele quis saber.
— Você não quer passar um tempo com ela? - Mebuki respondeu à pergunta do ex com outra pergunta. Podia sentir o desespero tomando conta de si. Ela estava jogando o problema para Kizashi.
Sim. Sua filha havia se tornado um problema para sua vida, seu maior problema. Sentia-se envergonhada disso, não queria sentir esse sentimento de se livrar do sangue do seu sangue, mas ela havia chegado ao seu limite.
— Não é isso... Eu vou amar passar um tempo com minha filha, tenho saudades dela. - o outro se manifestou. - Eu só quero entender do porquê dessa sua atitude repentina. Você nunca permitiu a Sakura vir para fazenda passar um tempo comigo. Acho que eu mereço uma explicação.
Mebuki fitou o teto, sentindo a enxurrada de lágrimas invadirem seus olhos.
— Eu não aguento mais viver no mesmo teto que ela. - desmoronou, agora chorando descontrolada. – Kizashi, eu não suporto a minha própria filha. Ela é insuportável. Se eu ficar mais um dia com ela eu vou acabar louca.
O homem sentiu o desespero na voz da ex, e se questionou; o que estava havendo entre as duas. Nunca em sua vida havia visto Mebuki naquele estado, ela era uma mulher forte.
— Mebuki, se acalme. - pediu o homem, estava preocupado com ela. — O que está acontecendo entre você e a Sakura?
— Kizashi, por tudo quanto é sagrado me deixe levar a Sakura para aí. - ela o interrompeu. - Por favor, só por essas férias. Eu preciso de um tempo para mim. Eu preciso de um pouco de paz.
— Mebuki, fique calma. Você pode trazer a Sakura. Mas fique calma.
Só dela ouvir a confirmação do outro, o peso que havia em suas costas pareceu aliviar.
— Obrigada Kizashi. - ela fungou. - Posso levá-la amanhã?
— Amanhã? — a voz pareceu surpresa. - Pode... eu só vou preparar as coisas por aqui, para chegada dela.
— Obrigada mais uma vez. - ela fechou os olhos e deu mais outra fungada. - Amanhã cedo eu chego aí.
— Tudo bem.
— Kizashi.
— Hm.
— Me desculpe por levar esse problema para a sua vida.
— A Sakura não é nenhum problema para mim. — a voz de Kizashi soou fria.
— Você não entende, ela vai fazer a vida de você e de todos na sua casa num verdadeiro inferno. Ela vai tirar isso de letra.
— E eu vou fazer o possível para que ela fique bem. - a voz saiu seca e sem humor algum. — Até amanhã.
— Até. - e desligou.
Não pode evitar soltar um suspiro aliviado, ela iria se livrar de Sakura.
Sakura abriu a porta de sua casa tropeçando nos seus próprios pés. Sua visão estava desfocada e sua cabeça estava girando devido à bebedeira, mas seus amigos estavam piores do que ela, principalmente Konan e Deidara que haviam vomitado horrores no bar. Sua mãe havia enchido seu saco, falando que iria buscá-la e tal, por isso resolveu voltar para casa e evitar mais um problema a mais.
Mulher maldita.
Tateava cegamente os móveis pelo escuro para não cair no chão. Iria seguir assim até seu quarto, mas de repente a luz da sala acendeu, fazendo-a fechar os olhos automaticamente e voltar a abri-los em seguida.
Ergueu o olhar e viu Mebuki sentada na poltrona individual num canto da sala. Ela estava de camisola, seu rosto estava sério.
Iria vir bronca, revirou os olhos.
— O que eu disse sobre você não sair de casa hoje, Sakura? - começou a mais velha, com uma voz autoritária.
— Ah mãe, não enche. - ela murmurou com a voz enrolada e voltou a caminhar com passos trôpegos até o seu quarto.
Mebuki ficou de pé enquanto franzia o cenho.
— Olha só para você? Está bêbada e mal consegue se manter em pé. - deu alguns passos e parou de frente para a filha, que bufou irritada. - Onde você estava?
— Eu estava transando. - ela sorriu. - Dei muito até desmaiar, se você quer saber.
A resposta da filha havia a pegado desprevenida, deixando sua expressão indignada. Não duvidava se aquilo era verdade ou não, tudo era possível vindo de Sakura.
Soltou um suspiro, arrumando paciência.
— Eu falei que eu queria você em casa quando chegasse. E olha só a hora que você vem chegar, mais de uma hora da manhã.
— Era melhor não ter vindo para casa, e ficar escutando essa sua falação de merda. — Sakura gritou a última palavra na cara da mais velha.
A pouca paciência de Mebuki havia se esgotado.
— Olha como você fala comigo garota, eu sou a sua mãe! - igualou a sua voz com a da filha, estava gritando.
— Mãe? — Sakura gargalhou, descontrolada. - Agora você quer ser mãe? - a fitou com raiva no olhar. - Você não estava nem aí para mim quando eu era pequena, eu vivia jogada pelos cantos. Eu cuidei de mim mesma. - ela bateu em seu peito. – Sabe por que mamãe, você preferia ficar enfurnada naquela merda de hospital, cuidado da merda dos seus pacientes e se esquecendo de cuidar da sua própria filha.
Sakura sentia a angustia a consumindo por dentro, foram anos de solidão, anos querendo a atenção da mãe e não tinha. Ela precisava jogar aquilo para fora. Não iria admitir que sua Mebuki fosse tomar o seu papel de mãe depois de anos de ausência. Ela não estava ali quando ela menos precisou, quando ela sofria com o divórcio dos pais. Ela havia sofrido sozinha.
Queria que o tempo voltasse atrás, queria aquela época quando ela tinha seu pai e sua mãe juntos, perto de si.
Depois da separação, Mebuki voltou para Tóquio, e começou a seguir sua profissão que foi interrompida quando ela nasceu. E desde então a vida de sua mãe era sempre fora de casa, e dentro de um hospital, cuidado de seus pacientes e esquecendo que tinha uma filha pequena.
— Eu tinha que trabalhar para te sustentar e te dar do bom e do melhor. - a outra disse, se defendendo. - E olha como você me paga? Desgosto em cima de desgosto.
— Eu não queria nada disso, eu só queria a sua atenção. - Sakura disse furiosa. - Mas você Mebuki, é incapaz de dar isso, por que você é seca por dentro...
O som do tapa soou pela sala, fazendo o rosto de Sakura virar para o lado. Mebuki havia batido nela.
Levou sua mão no local do tapa e olhou surpresa para sua progenitora, que estava com a mesma expressão séria.
O ódio subiu por suas veias.
— Você me bateu. - sua voz saiu entredentes, reprimia a raiva que ela tinha daquela mulher.
— Você não me deu escolhas. - a outra respondeu, sentindo no fundo o arrependimento começar a dominar.
Nunca em toda a sua vida havia levantado a mão para bater na filha, mesmo Sakura a provocado. Ela preferia brigar com ela e a colocar de castigo do que isso. Mas dessa vez ela se descontrolou.
Sakura passou por ela e começou a ir para seu quarto, mas Mebuki segurou em seu braço, fazendo a outra a fitar.
— Amanhã você vai para a casa do seu pai, vai passar um tempo com ele.
A garota uniu as sobrancelhas e a olhou, incrédula.
— Você fumou? Eu não vou pra porra nenhuma! - gritou a última frase, puxando seu braço do aperto de sua mãe.
— Você não tem o que querer.
— Você é louca.
— Sairemos amanhã bem cedo. - Mebuki continuou, ignorando o insulto da filha.
— Eu já falei que eu não vou pra porra de lugar nenhum! - os gritos de Sakura ecoavam por toda a casa.
Em seguida saiu em disparada e entrou em seu quarto, batendo a porta em seguida. Podia ouvir sua mãe falando do outro lado, no corredor, mas estava ignorando. A raiva estava a consumindo por dentro, sua cabeça estava girando devido à bebida.
Tirou aquela roupa que só fedia a vodca, cerveja e outras bebidas alcoólicas que havia tomado no bar e pegou seu pijama que estava jogado no chão, do mesmo jeito que ela havia deixado de manhã. Não tomou banho e muito menos tirou a maquiagem que estava borrada em seu rosto, apenas se jogou na cama.
Não escutava mais a voz de sua mãe, e se ela pensava que iria sair de Tóquio, largando tudo para trás para morar no fim de mundo, ela estava totalmente enganada. Tentou traçar algum plano na cabeça, mas o sono e o cansaço eram maiores, que nem percebeu quando havia chegado.
