Disclamer: Saint Seiya e seus personagens pertencem ao Titio Kurumada, não a mim (infelizmente). Todos os direitos reservados a ele. A música incidental pertence ao grupo Plebe Rude.
Comentários da Autora: Esta fic está engavetada há muito tempo, tenho muito carinho por ela e tinha algum medo de postá-la. Algumas pessoas já leram e agradeço seus comentários e sugestões. Agradecimentos Especiais para Áries Sin e Keisuke Kurosaki que tiveram muita paciência com esta autora e por último e não menos importante agradecimento pra lá de especial para Shiryuforever pela betagem, sugestões e algumas alterações no texto. Amigas muitos beijos para vocês.
Inominável - Capítulo 1
Universidade Santuário – dias de hoje
Será verdade, será que não,
Nada do que eu posso falar
E tudo isso é pra sua proteção
Nada do que eu posso falar
- Droga Milo, eu venho falando com você desde que voltou, mas você é mais teimoso que uma mula!
- Não me venha com discursos agora! Quer entender mais da minha condição física que eu????
- Você só pode ser masoquista! Não tem outra explicação lógica! Entretanto, aqui dentro dessa porcaria, o reitor sou eu, e fora da cadeira de rodas você está terminantemente proibido de circular por estes corredores e de entrar neste estabelecimento.
- Ditador.
- Suicida!
- Eu te amo!
- Eu também, mas resisto a esse seu sorriso estonteante e mantenho minha ordem...
- Droga, eu já fui melhor nisso! Que seja feita a sua vontade...
Milo sentou-se na cadeira de rodas e dirigiu-se à sala de aula. Atualmente era um Major reformado do Exército e professor de Direito Militar no curso de Direito da Universidade Santuário, a única no pequeno país, que se encontrava em guerra com seu vizinho há mais de 20 anos.
Muitos tratados de paz foram tentados, saídas diplomáticas, batalhas cruéis e nada. Aqueles que deflagraram aquela guerra já estavam hoje nas páginas da história, mas mesmo assim parecia que o pesadelo não teria fim. Períodos de trégua terminavam com agressões por parte de um ou outro lado. Política, religião, ambição, poder e principalmente tecnologia temperavam uma luta sangrenta, cruel e indiscutivelmente vã.
A PM na rua a Guarda Nacional
Nosso medo sua arma a coisa não está mal
A instituição está aí, pra nossa proteção
Pra sua proteção
Milo estava prestes a começar a sua aula quando dá um grito:
- TODOS PARA O CHÃO AGORA!!!! ESTE PRÉDIO VAI SER ATACADO!!!!
Os alunos não discutem, apesar de não compreenderem de onde o professor tirara aquela idéia? Será que ele era algum psicótico de guerra? Entretanto ele já ministrava aulas há mais de um mês e não parecera algum tipo de maluco. Tinha lá as suas excentricidades, como nunca subir escadas – se bem que a cadeira de rodas poderia explicar o porquê desta recusa – ou estar sempre olhando para todos os lados. Mas em geral, ele era constantemente bem humorado, até mesmo brincalhão. Uma figura completamente diferente do estereotipo do militar que freqüenta o imaginário coletivo. Este era o Professor Milo que todos conheciam, mas Milo era muito mais que isso. Estava ali não só para ministrar aulas. Estava ali para proteger a todos, estava ali por amor.
Alguns segundos após o berro do professor, quando diversos alunos já pensavam até mesmo em se levantar, pôde ser ouvido o primeiro estrondo, depois rajadas de tiros... Como ele sabia que estavam para ser atacados?
- Antes que me perguntem, eu conheço o barulho quase imperceptível da aproximação de tropas e do engatilhar de armas.
O silêncio que tomara o recinto após o primeiro ataque fora tão grande que se podia ouvir a respiração de cada um daqueles que estavam ali. Era como se, ao falar, pudessem atrair mais tiros. Milo mentalmente avaliava a situação. Aparentemente fora um ataque de aviso. Mas seria só isso? Como estaria Camus? Como poderia defendê-lo? Como poderia defender a todos? As pessoas que ali estavam nunca haviam ido a uma batalha. Provavelmente não saberiam como agir. Principalmente ele, Camus, a pessoa mais importante do mundo, seu amor do passado, seu amor do presente, seu amor do futuro. Se ainda vivia hoje era pelo amor que sentia e pela esperança de poder, um dia, com a graça dos deuses, levar esse amor a cabo.
A Universidade estava vigiada e guarnecida dentro do possível para uma instituição laica e civil. Era um alvo imaginável. O próprio Milo, após sua "aposentadoria forçada", fora enviado para a Universidade com o intuito de auxiliar na defesa em caso de possível ataque. Obviamente, a única pessoa que sabia disso era o reitor, Camus. Para todos os outros era apenas um herói de guerra quase inválido que resolvera fazer algo de útil. Essa fora a maneira que encontraram para tentar evitar um pânico coletivo maior que a própria presença de armas no interior do prédio.
Sua vida sempre fora uma mentira, desde o dia que o pai o encontrara aos beijos com Camus há quinze anos passados. Lembrou de cada detalhe no crucial espaço de poucos segundos. Sacudiu a cabeça. Seus pensamentos estavam tomando rumos perigosos. Precisava voltar a se concentrar. Nesse momento, Camus entrou em sua sala, pálido.
- Milo, você está bem? Seus alunos estão bem?
- Estamos todos bem, Dr. Camus. Ninguém se feriu, o professor Milo previu o ataque e nos protegemos a tempo. – o aluno que falou apontou para as janelas quebradas e algumas marcas de balas na parede. Se Milo não tivesse "pressentido" o ataque, poderia haver alunos mortos nesse momento, inclusive ele próprio. A rajada de tiros atingira de maneira impiedosa a sala. Os alunos encontravam-se tão assustados que a voz morria na garganta antes mesmo dos gritos serem efetivamente proferidos.
Camus olhou horrorizado para a cena. Como aquilo poderia estar acontecendo? Era o fim do mundo. Que guerra insana poria em risco a vida de tantos civis? E mais ainda, de toda uma inteligência? Mas, bem no fundo, sabia a resposta. Tecnologia. Quem dominasse a tecnologia em uma terra de tão poucos recursos seria capaz de dominar toda uma nação. Muitas vezes se perguntava onde estaria o resto do mundo mas, que importância teria, para o resto do mundo, dois países praticamente desérticos, pobres, subdesenvolvidos, cuja única riqueza era a própria capacidade de sobrevivência com tão parcos recursos? Eles que se matassem e o ocidente cristão viria apenas recolher os restos e fincar bandeiras. A colonização moderna. Como desejaria poder realmente fazer alguma coisa.
Camus foi despertado de seus devaneios pela voz límpida e potente de Milo.
- Precisamos sair daqui. Esta sala é muito exposta. – Milo berrou, já se levantando com uma certa dificuldade.
A sala de Milo era a única sala no primeiro andar utilizada para aulas teóricas. As demais salas eram laboratórios dos mais diversos cursos, usadas esporadicamente. Milo ainda sofria com os ferimentos recentes do joelho, mas se recusara a um repouso maior, bem como recusava a cadeira de rodas. A única concessão fora a sala térrea. Quando finalmente cedera às pressões e passara a usar a cadeira, o ataque ocorrera.
- Eu sempre disse que não deveria usar essa geringonça, traz má sorte.
Camus nada respondeu, não estava com humor para gracejos apenas auxiliou Milo a acabar de levantar-se. Rapidamente, de pé, ele tomou as rédeas da situação, como era esperado. Ainda não estava pronto. Não queria lutar mais uma vez, mas alguém precisava fazer alguma coisa e esse alguém era ele – Milo, o Escorpião!
- Quero todos fora dessa sala agora! Devem sair agachados, um a um, uma vez no corredor, corram para o auditório! Andem!!!!
Tanques lá fora, exército de plantão
Apontados aqui pro interior
E tudo pra nossa proteção
Do Governo fornecedor
Os alunos foram saindo conforme a instrução recebida. Pareciam robôs, telecomandados pelo medo. Seguiram desordenadamente rumo ao auditório. Uma turba ainda mais confusa pelo barulho de vozes assustadas e pela poeira que tomou conta do ambiente.
- Milo, tem certeza que não se machucou? – Camus perguntou novamente, desta vez diretamente a Milo, após a saída de todos os alunos. A preocupação refletida claramente em seu semblante. Milo olhava desolado para a sala vazia. Seu corpo se recusando terminantemente a obedecer aos comandos da mente prática moldada por anos passados nos campos de batalha.
Milo não respondeu imediatamente, agia como se não tivesse ouvido a pergunta de Camus. Na realidade ouvira muito bem, sabia o que devia responder, sabia o que queria responder e sabia a verdade, três respostas para uma pergunta tão simples e ao mesmo tempo tão importante. Muito mais estava sendo perguntado naquela simples questão do que as reais condições físicas de Milo.
A PM na rua nosso medo de viver
O consolo é que eles vão nos proteger
A única pergunta é proteger do que
Sou a minoria mas pelo menos falo o que quero apesar da Repressão
Milo saíra do hospital militar pouco mais de um mês antes. Revira Camus quando fora à Universidade conversar com o Reitor, levando as instruções do alto comando militar e suas credenciais. Para surpresa de ambos, os dois namorados do passado se reencontraram em uma situação um tanto quanto imprevista e inusitada. Sempre desejara reencontrar Camus, mas quando saíra do hospital não fazia a menor idéia do rumo que o outro tomara. A vida dá voltas, mas o amor e o destino têm um senso de humor um tanto quanto deturpado. Desta vez as reviravoltas da vida foram benéficas. Finalmente a Roda da Fortuna girara a favor de Milo... ou não.
De início o relacionamento dos dois fora estritamente profissional, eles estiveram por muitos anos separados. Apesar de tudo, apesar de nada, o resgate não era trivial. As histórias de vida foram completamente diversas. Com o passar dos dias, conversas na hora do almoço e nos intervalos, o amor foi renascendo como uma flor murcha que recebe água e sol. Dois dias antes do ataque, finalmente ficaram juntos, apenas alguns beijos, palavras sussurradas como dois adolescentes, nem mesmo tempo de esclarecer 15 anos de separação e ausência eles puderam ter, e agora, mais uma vez, a guerra se fazia presente entre eles. E, mais uma vez, estavam envoltos em acontecimentos maiores que eles mesmos e suas próprias dificuldades.
Camus repetiu a pergunta. Milo precisava responder. Milo precisava agir. Não era mais tempo de hesitação. Não poderia fraquejar. Precisava continuar. Precisava ser forte. O mundo novamente exigia dele mais do que tinha a dar e mais uma vez daria ao mundo o que ele precisava. Por amor.
- Estou bem, Camus... Minha perna foi afetada na guerra, minha audição, não. Graças aos Deuses! Tivemos feridos? – um gracejo e uma pergunta. Leveza e seriedade. Fé e Ceticismo. Dor e Bálsamo. Contradição, seu nome é Milo, o Escorpião.
- Infelizmente sim. Nem todos aqui têm a sua experiência. Mandei que levassem todos para o auditório. É o lugar mais protegido desta Universidade. Temos medicamentos suficientes no laboratório de medicina para socorrer a todos. Os residentes cuidarão disso. – Camus podia não ter experiência de guerra, mas tinha inteligência e praticidade, além de conhecer de trás pra frente o plano de segurança.
- Vamos, Camus. Precisamos nos proteger também e temos ainda muita coisa a conversar.
- Você acha que sofreremos um ataque frontal? Que seremos mortos? – Camus perguntava de maneira fria, como se estivesse falando do tempo, mas em seus olhos podia-se ver todo o pavor que sentia.
- Não creio que seriam tão estúpidos a ponto de destruir nossa maior riqueza: a tecnologia. Toda tecnologia de nosso país foi desenvolvida aqui. Dentro destas paredes estão as mentes mais inteligentes de um povo inteiro e os registros de tudo que essas mentes produziram. Seria como dar um tiro no próprio pé destruir tudo isso, não acha?
- Concordo... mas?
- Simples, prezado Doutor... Se nos sitiam aqui dentro, nos vencem pelo cansaço e podem se apoderar de tudo de uma só vez com poucas perdas.
- E? Eles têm chance, não tem?
- No que depender de mim, não!
Tropas de choque
PMs armados
Mantém o povo no seu lugar
Mas logo é preso
Ideologia marcada
Se alguém quiser se rebelar
Oposição reprimida
Radicais Calados
Toda fuga do povo
É silenciada
Tudo para manter a boa imagem do Estado
Sou a minoria mas pelo menos falo o que quero apesar da Repressão
Armas bonitas
E canos esquentam
Esperando a sua função
Exército cala
E o governo lamenta
Que o povo aprendeu a dizer não
Até quando o Brasil vai poder suportar
Código Penal não deixa o povo revelar
A autarquia baseada em armas lutar
Tudo isso é pra sua segurança
Sua proteção
Música incidental: Proteção – Plebe Rude. É uma música datada, escrita em um momento importante da nossa história, mas, apesar de não termos mais ditaduras ou censuras será que estamos realmente livres? Será que não somos reféns de outras ditaduras?
"Sou a minoria, mas pelo menos falo o que quero apesar da Repressão!"
