AVISOS PADRÃO:
1 - Esta fanfic é a segunda temporada de "O último sorriso", caso não o tenha lido, convido você a ficar por dentro de algumas referências que serão utilizadas e que, portanto, serão importantes para que sua diversão seja completa, tio Steve Rogers, o Capitão América, aprova!
2- Fanfic sem Beta, ou seja, por infelicidade, alguma falha pode escapar, neste caso, mantenha a calma e siga em frente, a felicidade pode estar no parágrafo seguinte.
3 - Enredo com teor homossexual. Se você caiu aqui acidentalmente, saia de fininhinho exercitando a máxima da Srª Hudson: "Viva e deixe viver!".
4 – Fanfic publicada entre os meses de fevereiro e abril de 2016 nas plataformas dos sites Social Spirit e Nyah Fanfiction. Está sendo publicada hoje nesta página para possibilitar mais uma opção de plataforma de leitura para os apreciadores de Johnlock.
5 - Trailer desta fanfic pode ser visualizado no youtube, link: /srWdG7WiCVo
Por favor, compartilhem suas experiências de pós-leitura comigo, eu amo ter acesso às impressões de vocês. Não fiquem acanhados, um "oi" já está valendo para eu sentir se a coisa está sendo bem recepcionada ou não, ok? Não deixem a alma da Alma ficar magrinha, alimente-a com comentários.
Boa leitura!
Capítulo 1 – Experimento excêntrico
O quarto poder era algo que encantava e assustava o Dr. Watson tanto quanto o mar pode encantar o observador na praia e assustar um náufrago à deriva à milhas de distância da costa. A imprensa, não raro, é algo como um mago poderoso transformando sapos em príncipes, príncipes em sapos e porquinhos-da-índia em monstros assustadores. Mas seu hobby principal é revelar, puxar cobertas, revirar a terra e trazer a público, segredos e particularidades cujos donos preferiam manter na sutil redoma da vida privada.
John Watson estava tendo a terra da sua vida privada revirada nas últimas três semanas após seu infeliz descuido na porta do 221B. Uma carícia na mão de Sherlock durante uma coletiva de imprensa, só uma! E foi o suficiente para ser flagrado por uma câmera. Desse dia em diante, uma simples ida ao supermercado se tornou tarefa difícil.
Por vários dias seguidos seu relacionamento com Sherlock Holmes foi o assunto preferido de vários jornais impressos, televisivos e virtuais. John desistiu de assistir o noticiário no segundo dia, deixou de visitar as páginas virtuais no terceiro, mas os impressos continuavam a aparecer na mesa da sala e uma parte sádica da sua mente não o deixava ficar longe deles.
Com uma caneca de chá na mão e um olhar cansado por conta do último e longo dia de serviço no São Bartolomeu antes de pegar suas merecidas férias, John se aproximou da janela direita da sala e observou o céu noturno de Londres constatando que haveria chuva durante a madrugada. Afastou-se das cortinas e catou algumas publicações empilhadas sobre a mesa de centro perto do sofá e colocou debaixo do braço, pois pretendia ler no quarto sentado na cama com seu namorado.
Sherlock já estava no cômodo compartilhado pelos dois, sentado no lado esquerdo do colchão, trajando seu habitual pijama de malha de algodão cinza, digitando celeremente no teclado do notebook aberto sobre o colo. Devia estar resolvendo algum caso sem precisar sair da cama, pensou o médico com um riso silencioso enquanto ajeitava-se ao lado direito, ligando o seu notebook também.
Enquanto as configurações de inicialização se estabeleciam, ele pegou um dos impressos que levou para a cama, mas o que leu na capa quase o fez derramar chá no colo. THE SUM: O segredo veio à tona: Detetive gênio e o Médico solteirão são namorados. "Deus! Eles ainda batem nessa tecla!", pensou o médico com grande irritação estampada no rosto. Jogou o jornal no canto e pegou outro: THE TIMES: Amantes da Baker Street são revelados. John largou a caneca de chá na mesinha ao lado querendo evitar tomar um banho com o líquido quente. Puxou outra publicação e fez questão de não olhar do que se tratava a manchete principal dirigindo-se para o conteúdo interno – THE GUARDIAN: O solteirão da Baker Street é bissexual? : depois de se relacionar com várias mulheres, o médico companheiro de apartamento do detetive consultor Sherlock Holmes, assume relação amorosa com o amigo.
– Meu Deus! – John exclamou jogando para bem longe a publicação em mãos para em seguida começar a ler os comentários deixados em seu blog.
Depois que seu relacionamento amoroso recém estabelecido com Sherlock veio a público, sua página na internet lotou de mensagens, a maioria fazendo perguntas constrangedoras e isso o deixava irritado.
– Como se não bastasse os jornais faturando com a minha vida particular, meu blog está lotado de perguntas de cunho pessoal sobre nós dois. – John reclamou em tom derrotado encarando a tela do notebook.
– O meu também está. – Sherlock comentou sem parar de digitar em seu computador pessoal.
– É mesmo? E que tipo de coisa estão perguntando? – O médico lançou-lhe um olhar muito curioso.
– Perguntam se você gosta de chicotes. – Sherlock respondeu sem tirar atenção da tela do computador e sem cessar a digitação.
– ah, tá... querem saber se eu gosto de chicotes... – John repetiu meio aéreo. – Como é que é?! – o loiro quase engasga com a saliva quando processou o sentido da informação. – Qual foi sua resposta? – ele decididamente não estava acreditando naquilo, mas Sherlock não parecia ter inventado.
– Respondi que eu ainda não sei. – Sherlock continuava digitando sem olhar para o namorado.
– Ainda não sabe? Espera um pouco, isso quer dizer que vai tentar? – o médico encarou o detetive como se estivesse deitado ao lado de um dragão de Komodo – Ei, você está na sua página e respondendo os comentários enquanto conversa comigo? – perguntou observando a tela do notebook aberto no colo do detetive constatando que ele estava no blog "A ciência da dedução".
– Claro, por que não? Sou perfeitamente capaz de fazer as duas coisas ao mesmo tempo. – o moreno respondeu sem parar de digitar.
– Posso saber por que está se dando ao trabalho de responder esse tipo de comentário no seu blog? – John perguntou com visível desconforto e impaciência temperando o tom da voz.
– Porque estou tendo acesso a interessantes sugestões por parte de alguns leitores. – o detetive respondeu permitindo-se um sorriso torto enquanto continuava a digitar.
– Oh, meu Deus! – John levantou-se rápido do seu lado da cama como que eletrocutado e arrancou o notebook das mãos do detetive. – Chega! – disse desligando o aparelho e depositando-o num assento do outro lado do quarto.
Sherlock permaneceu na mesma posição por alguns segundos piscando repetidamente para logo em seguida juntar pensativo as mãos abaixo do queixo e perguntar:
– E quanto a você, John.
– Eu o quê, Sherlock? – o médico indagou confuso ajeitando-se no seu lado da cama.
– O que seus leitores estão perguntando a você em seu blog?
O médico foi encarado por um par de cristalinos olhos curiosos, o loiro pigarreou e depois de alguns segundos ponderando algumas das loucuras que leu na página de comentários do seu blog, respondeu:
– Melhor você não ficar sabendo. – dito isto, desligou seu notebook e colocou no criado mudo ao lado.
– Que pena. – disse o detetive fazendo leve beicinho para logo depois puxar um objeto metálico guardado debaixo do seu travesseiro exibindo-o para o namorado.
– O que é isso, Sherlock? – John encarou surpreso o objeto brilhar diante dos seus olhos incrédulos.
– Algemas, não parecem com algemas? – perguntou dando uma boa olhada nas pulseiras de metal.
– Sim, parecem com algemas. – John fez uma expressão cansada.
– Então por que perguntou? – o detetive brincava de travar e destravar as peças.
– Não queria saber sobre o objeto na sua mão, mas sobre o que pretende fazer com ele.
John observava Sherlock brincar com as algemas e alguma coisa no seu cérebro dava sinais de que talvez ele não fosse gostar muito de saber o que o namorado pretendia com aquele objeto.
– Ah, John, aprenda a fazer a pergunta certa primeiro, sempre perde tempo...
– ... fazendo a errada primeiro e a certa depois, eu sei! – John completou a frase do detetive - Mas me responda, o que pretende fazer com essas algemas?
– Testar uma teoria. – Sherlock lançou-lhe um riso torto e um olhar brilhante.
– Qual teoria? É para algum caso? – John perguntou apreensivo.
– Não para um caso, mas minha curiosidade surgiu depois de um caso. Lembra de quando você desmaiou no São Bartolomeu depois de dar de cara com um recado da assassina que investiguei no meu último grande caso?
– Claro, como eu iria me esquecer daquilo, foi desagradável... e você até ameaçou me acorrentar na cama caso eu teimasse em não repousar depois daquilo - o médico respondeu passando a mão pela nuca.
- Exato! Boa memória, John, é sobre isso que trata meu experimento. – Sherlock respondeu dando um leve tapa na coxa do médico.
- O quê, exatamente? – o médio perguntou franzindo as sobrancelhas.
- Você está muito lento hoje... – o detetive fez uma careta e completou – o experimento é sobre você e algemas, John!
– Como assim? – os cabelos da nuca do loiro se arrepiaram.
– Não se faça de desentendido, percebi suas pupilas dilatando e um rubor tomar conta do seu rosto na vez que ameacei algemá-lo na cama caso não descansasse. Quero testar se algemar você vai deixá-lo mais excitado.
– Não, Sherlock, definitivamente eu não preciso disso para me sentir excitado perto de você. – John respondeu entre nervoso e incrédulo remexendo-se no seu lado da cama.
– Fico lisonjeado, John, mas quero testar mesmo assim, permita, por favor... – pediu com um olhar que rivalizava com o olhar de um gato do lado de fora de uma janela de vidro, pedindo para entrar na sala.
John ficou imerso naqueles olhos cristalinos por alguns segundos até se dar conta de que havia um corpo se esgueirando por cima dele, deitando-o no colchão, procurando imobilizar suas mãos. Como um raio cortando a escuridão, o médico se deu conta de que Sherlock já estava pondo seu excêntrico experimento em ação, o susto da constatação fez uma onda feroz de excitação deslizar por seu corpo intoxicando-o, mas John Watson não deixaria Sherlock Holmes fazer o que desse na telha dessa vez.
O detetive foi surpreendido com um rápido movimento do corpo do namorado abaixo do seu, invertendo com impressionante habilidade e força as posições de ambos.
– John? – o moreno ofegou e parecia surpreso com a reação do companheiro sentindo seus pulsos serem pressionados na cama com eficiência.
– Lembre-se de que eu fui um soldado, Sherlock. Eu sei como derrubar um homem. – o médico advertiu em tom vigoroso de voz.
– É mesmo? – Sherlock o encarou passando a língua pelos lábios subitamente secos. - E o que mais você saber fazer com um homem? – Indagou analisando a face corada do médico acima dele.
– Não me provoque, Sherlock... – John rosnou movendo seu quadril sobre o detetive.
– Só estou curioso. – o moreno disse com a sua melhor máscara de inocência sentindo o contato de uma nada sutil ereção despontada nas calças do médico.
John respirou fundo inalando o cheiro do namorado, sentindo o aroma agir como poderoso afrodisíaco em seu corpo já bastante animado, deixando inúmeras ideias de como enlouquecer o detetive na cama, passarem na sua cabeça. Quando abriu a boca para responder qual a primeira coisa que iria fazer com Sherlock, foi interrompido pelo som de um celular chamando. Era o celular do moreno que prontamente libertou os pulsos do agarre do loiro e rolou para o lado e atendeu a ligação.
O médico suspirou alto, visivelmente frustrado.
– O que houve, Lestrade? – Sherlock indagou ouvindo o resumo de algo do outro lado da linha. – Onde? – seguiu-se o endereço. – Estou indo para o local. – o detetive sentenciou finalizando a ligação e pulando da cama como uma criança que fora convidada para um interessante espetáculo circense numa tarde morna de primavera, cercado de balões coloridos e algodão doce.
– Espera, para onde está indo? – John permanecia sentado no meio da cama vendo suas esperanças de uma memorável noite de sexo, escorrer pelo ralo.
– Lestrade tem um caso interessante para me mostrar esta noite. – Holmes disse trocando rapidamente o pijama por seus habituais trajes sociais. – O que está esperando aí no meio da cama? Troque de roupa e me acompanhe, preciso de você lá comigo.
– Precisa? – John indagou levantando-se meio a contragosto.
– Claro, temos um cadáver! – o detetive respondeu dando uma palma divertida no ar.
Watson balançou a cabeça de leve rindo da mórbida diversão do namorado.
Minutos depois a dupla desceu do táxi nos arredores de uma área urbana próxima a estação ferroviária Waterloo, cercada por prédios altos e escadarias de concreto bruto, onde despontava um prédio comercial de estrutura reta de três pavimentos, tons sóbrios e fachada estéril que ganhava cores com a presença dos cordões amarelos de isolamento colocados lá pela polícia metropolitana naquela noite.
Sherlock passou pela faixa de isolamento e foi seguido por John que olhava atentamente os arredores do lugar, tentando distinguir alguma movimentação ou presença suspeita. Com o tempo, aprendeu que boa parte dos assassinos, rodeiam a cena do crime por horas e até mesmo dias após a ocorrência, podendo ser descobertos pela fraqueza decorrente do sadismo de apreciar sua obra ou do medo de que algo os incrimine.
Sua análise panorâmica foi atraída pela postura rígida da Sargento Donovan na porta de acesso a uma loja térrea alugada para venda de livros e revistas. John olhou rapidamente para Sherlock e depois voltou a olhar para a mulher, rezou intimamente para que ela tivesse o bom senso de ficar calada perto do detetive. O moreno passou pela porta respirando fundo ao passar pela Sargento que o encarou sem dizer nada e John ficou grato por isso. Mas sua gratidão aos céus não durou muito.
– Não bagunce nada! Está me ouvindo? – Anderson disse cruzando os braços sobre o peito estufado enquanto olhava com ar de superioridade para Sherlock que se aproximava do centro da loja de livros.
O detetive parou a dois passos do perito e respirou profundamente fazendo uma expressão de avaliação enquanto o olhava rapidamente de cima a baixo para depois encará-lo e dizer:
– Sabia que dentro de um armário fechado há uma infinidade de microrganismos perigosos, podendo muitos deles ser letais ao corpo humano?
Sherlock apreciou muito a cara desorientada que o perito fez.
– Por que está me dizendo isso? – Anderson encolheu os ombros e ficou confuso e ligeiramente nervoso.
Os comentários de Sherlock Holmes nunca eram aleatórios, sempre tinham uma finalidade, muitas delas bem dolorosas.
– Porque se continuar se agarrando com a Donovan no armário da divisão de vocês, vão acabar doentes. – Sherlock respondeu arqueando uma sobrancelha como se dissesse algo muito óbvio.
– O q-quê? – o perito ficou pálido – Não me venha com essa, eu não vou cair nesse seu jogo para conseguir confissões!
– Não precisa, o detergente impregnado no seu corpo já me revelou tudo. – o detetive deu mais uma aspirada profunda no ar.
– Detergente? Como assim? – o perito indagou encolhendo-se mais ainda.
– Seu corpo está cheirando a detergente de erva-doce, não é muito comum nas residências, não é o detergente da sua casa e nem da casa da Sargento, é claro, mas é o detergente que utilizam na divisão onde você e Donovan trabalham e eu acabei de passar por ela ao entrar nesse lugar, ela está cheirando o mesmo detergente que eu senti em você agora ao contrário dos outros integrantes da equipe presentes aqui nessa noite. Pelo que eu sei os turnos de limpeza do setor de vocês na Scotland Yard ocorrem às oito da manhã e às duas da tarde, agora são precisamente sete e vinte da noite, portanto não podem ter se impregnado caminhando sobre o piso úmido com o produto. Isso nos leva ao fato de que obviamente os dois trocaram os encontros no seu apartamento por rapidinhas no armário de limpeza da divisão. Que decadência, Anderson. – o detetive finalizou sonorizando um muxoxo e balançando a cabeça com falso ar de decepção.
Anderson, com a face congelada numa expressão de espanto e constrangimento, moveu-se a passos rápidos e pesados para bem longe do detetive como se fugisse de um perigo inominável e aterrador.
– Por que você faz isso, hem? – John perguntou com um meio sorriso observando Sherlock se aproximar do corpo estendido de papo para o ar no chão.
– Isso o quê? – o moreno perguntou pondo luvas de látex nas mãos para tocar no cadáver.
– Faz as pessoas correrem de você como se fugissem do bicho-papão.
– Eu só estava precisando de privacidade para trabalhar e eu não tenho culpa das pessoas temerem a verdade.
- Oh, claro, ainda mais quando ela é dita de forma tão sutil. – o loiro comentou rindo, também pondo luvas enquanto observava o detetive inspetor Greg Lestrade sair de uma sala ao fundo da loja para observar o trabalho de Sherlock e evitar que mais alguém se aproximasse do corpo caído no chão.
Com as mãos protegidas, o médico permaneceu de pé próximo ao morto observando Sherlock realizar sua própria análise do cadáver, mas John podia afirmar que tratava-se de um homem robusto, de 37 anos, cabelos escuros, solteiro e que teve uma dolorosa morte provocada por instrumento perfurocortante na altura do peito. John tinha conhecimento de que mortes decorrentes de perfuração cardíaca estavam na lista das mais dolorosas e agônicas. Lamentou pela vítima. O que o loiro ainda não tinha entendido até ali era o que fazia daquele assassinato algo interessante. Parecia tudo muito simples, "talvez simples demais", ponderou ele em pensamento voltando a dar atenção aos movimentos do detetive em volta do corpo.
Sherlock analisou o ferimento e a camisa do morto, depois alongou sua análise pelas extremidades do cadáver, revirou seus bolsos encontrando a carteira com todos os pertences e um pedaço de papel liso e acetinado, contendo a inscrição " L&V 245" feita às pressas com caneta.
– Parece um assassinato simples. – comentou Sherlock se levantando.
– Imaginei isso. – John falou recebendo uma rápida olhada por parte do moreno.
– Eu disse "parece" e não que "é" simples. – o detetive enfatizou.
– Então o quê? O que faz dessa morte diferente de um crime simples? – o médico indagou.
– Ele não foi morto aqui. – o detetive respondeu sacando o celular passando a agitar os longos dedos pela tela sensível do aparelho.
– Como é? – Lestrade franziu as sobrancelhas.
Sua esperança de que o caso se resolvesse naquela noite começou a se dissolver como flocos de neve na língua.
– E o que faz você pensar isso, Sherlock? – John parecia surpreso com a constatação que acabara de ouvir.
– Notou o ferimento no peito da vítima? Foi feito com uma lâmina larga, eu diria que um facão. A lâmina foi empurrada com muita força e ocasionou a perda de um botão da camisa da vítima. A ferida é bem grande e o sangue brotou imediatamente – o moreno apontou guardando o celular no bolso.
– É claro, a incisão perfurou a aorta direita provocando o óbito por perda acelerada do sangue. – John confirmou.
– Exato! Disse bem, perda acelerada do sangue, isso quer dizer que esse corpo deveria estar boiando no próprio sangue e o que vemos aqui? – perguntou fazendo um gesto amplo em direção ao cadáver. – um corpo seco! Não há uma única gota de sangue perto da vítima e em nenhum outro canto da casa, apenas sobre o corpo, indicando que houve sim a hemorragia, mas onde está o sangue? Alguém bebeu?
– Mas por que alguém se daria ao trabalho de carregar um corpo esfaqueado de um lugar para o outro sem a intenção de ocultá-lo? – John indagou confuso.
– Está fazendo as perguntas certas, John. Uma das minhas hipóteses é que os assassinos não queriam que o corpo chamasse atenção para o lugar onde este homem foi morto. Eles não se importaram em esconder o corpo, esconder o lugar era mais importante por alguma razão.
– Assassinos? Você está supondo que o crime foi praticado por mais de uma pessoa? – o médico parecia não acreditar naquela hipótese.
– Claro! – o detetive afirmou com ênfase. – Olhem em volta, a cena do crime conversa com os vivos, cada detalhe tem uma informação para fornecer, basta que se tenha olhos para esses detalhes.
Lestrade pousou a mão no rosto com notório desgosto, o caso era um buraco mais fundo do que pensava.
John moveu o olhar pela sala notando que tudo parecia no lugar, tudo perfeitamente normal, realmente não parecia o palco de um assassinato, mas o simples receptor de um corpo, no entanto, não conseguiu ler sinais de que foram dois e não apenas um autor do crime.
– Tudo bem, Sherlock, ilumine nossa mente, explique de onde tirou a ideia de que são dois e não apenas um assassino. - Lestrade pediu.
Sherlock respirou fundo, revirando os olhos e balançando a cabeça de leve, depois encarou John e Lestrade e falou:
– Ok, vamos lá. – disse gesticulando com as mãos como se abrisse um painel invisível diante de si. – A vítima tem aproximados 92 quilos distribuídos em 1,80, é um homem relativamente grande, se tivesse que ser carregado por uma pessoa, teria que ser arrastado, mas este corpo aqui não foi arrastado. Por que eu afirmo isso? Olhem para os sapatos do morto, os sapatos dizem tudo! – Sherlock apontou. – Observem que não há tapetes no ambiente, se o corpo tivesse sido arrastado da rua até este ponto da loja, haveria marcas recentes de desgaste nas laterais do calçado que entraram em atrito direto com o chão no ato de arrastar, mas o que vemos aqui? – perguntou apontando para os solados do morto e sem dar tempo para John ou Lestrade abrir a boca, concluiu. – Nada! Os solados estão intactos com exceção das velhas marcas de uso. E tem mais, notaram que há barro preto no solado? A quantidade é bem grande, eu diria que grande até demais para pensar que os pés dele tocaram sequer mais uma vez o chão depois que obtiveram essa camada grossa, não há rastro do mesmo barro no trajeto da porta até aqui, então, logicamente, este homem pisou em barro preto, foi morto e carregado por duas pessoas que o depositaram bem aqui, no meio da livraria.
– Incrível. – John exclamou admirado.
– Ok, Sherlock, se ele não morreu aqui, onde esse homem foi morto? – Lestrade indagou.
– Boa pergunta. – o detetive respondeu voltando a se agachar perto do corpo. – percebo pelo estado do tecido da calça dele somados ao tipo de terra nos sapatos, que esteve recentemente em uma área verde.
– Floresta? – John arriscou um palpite.
– Bosque? – Lestrade lançou sua sugestão.
– Não... – Sherlock disse coletando algo grudado no tecido da calça do homem. – Eu diria jardim.
Ante os olhares curiosos do médico e do detetive inspetor, Sherlock exibiu um fino pó amarelado grudado à trama escura da roupa do homem.
– Olhem, isso é pólen, ele gruda em qualquer coisa que esbarre na planta. Esse tipo de situação é mais comum em jardins e a tirar pela umidade e grau de viscosidade, a camada de pólen alojada na trama já tem algumas horas, e como a morte não tem mais do que algumas poucas horas, o pólen certamente provém do local onde se deu o assassinato. – o detetive concluiu.
– Impressionante. – John observava o pó amarelo, boquiaberto.
– Também estou impressionado, mas como vamos saber de qual jardim saiu esse pólen? – Lestrade perguntou chamando atenção para outra questão que a nova descoberta abria.
– Com pesquisa, detetive inspetor. – Sherlock respondeu coletando um pouco do barro do sapato da vítima em um lenço de papel que retirou do próprio bolso, para em seguida rasgar um pedaço de decido da calça do morto, tomando cuidado para trazer com a trama uma boa quantidade do pó amarelado.
– Sherlock, nem pense em sair investigando na frente sem compartilhar informações com a polícia, está me ouvindo? – Greg o advertiu com olhar entre sério e cansado.
– Direi tudo que for útil dizer, inspetor. – Sherlock respondeu, movendo-se de perto do corpo, tomando o rumo da saída.
– Sherlock... eu falo sério... – Lestrade insistiu com a velha sensação de estar gastando saliva em vão.
– Eu também, inspetor. – Respondeu o moreno com um riso divertido dançando nos lábios. – Vamos, John! Temos pesquisa para fazer!
John limitou-se a mover-se do seu lugar para seguir o detetive que caminhava elegantemente para fora da casa sem conter um riso satisfeito que, para o mau entendedor, o faria passar por suspeito do crime. O médico aproveitou o caminho de volta a Baker Street para preparar seu espírito para uma nova maratona extenuante de ações que envolvia Sherlock inquieto pela sala disparando deduções por cima de deduções, fotografias, anotações e objetos pendurados na parede da sala, noites insones e falta de leite na dispensa.
Sherlock Holmes entusiasmado com um caso era o fim da tranquilidade no 221 B.
Continua...
NOTAS FINAIS:
Agora vem a pergunta tensa: Alguém gostou? Querem contratar assassinos profissionais para por fim à minha doce e meiga pessoa? Os ninjas do Alasca mandaram informar que no momento estão ocupados com o tio Moffat (parece que estão fazendo um ótimo serviço, pois o primeiro episódio da quarta temporada já foi escrito e começará a ser gravado em abril deste ano!), mas os Ninjas da Sibéria informam que estão com agenda livre e podem aceitar o serviço, enquanto isso, eu vou arrumando minhas malas para fugir! (#sai correndo#).
