Lágrimas de Vidro
por Louie B.
Ela era minha certeza. A maior e mais importante. A única. Minha razão para acreditar que tudo ficaria bem. Que ela ficaria bem. Melhor do que estava agora, pelo menos. Respirei fundo e cumprimentei algumas figuras conhecidas enquanto marchava até ela.
Astoria bloqueou minha passagem, abraçando-me efusivamente. Sua barriga de seis meses tão pouco saliente quanto uma de três, o resto de seu porte tão esguio e alto como sempre fora. Como Draco conseguiu uma mulher tão bonita após a guerra, eu jamais entendi. E jamais entenderei.
Ele não era bonito. Não era corajoso. Tampouco era interessante. Mas Draco sempre teve as mulheres que eu queria ter. Desde o dia, o odioso dia, em que eu o conheci. Pansy passou aquele dia seguindo-o e esqueceu a minha presença. Ela fez isso muitas outras vezes, com o passar dos anos. Aprendi a me conformar.
Mas agora eu podia ver minha chance ali, bem em frente, quase que fazendo questão de me zombar por tê-la desperdiçado tão incontáveis vezes. Livrei-me de Astoria o mais educadamente quanto pude, e com passos fortes segui até onde Pansy estava. No breve movimento de cabeça que ela fez, eu vi, e a abracei.
Meu dedo roçou por sua face delicada, carregando consigo a primeira das muitas lágrimas que ainda iriam manchar de vermelho aquele rosto. Eu a abracei, seus cabelos exalando o perfume que desde pequeno eu conhecia. Cheiro de amor-perfeito. Cheiro de Pansy. Um soluço lhe escapou os lábios e eu pude sentir seu abraço apertar. As lágrimas que eu houvera suposto ser de vidro, tal fora o tempo que demoraram a aflorar, agora escorriam livremente.
Ela o vira, e o que mais me doía era ver o quanto ela ainda se importava. Por que ela se importava? Ele não valia nada. Não era nada. Mal era um homem. Pronunciei-me, com essas exatas palavras, e ela apenas me encarou de volta, sem expressão alguma. Apenas lágrimas, não mais de vidro.
Não precisávamos de palavras. Não precisávamos de nada, somente de nós mesmos. Talvez precisássemos um do outro. Ou talvez não. É algo complicado de se julgar, a necessidade alheia. Mas é ainda mais complicado julgar a sua. Suas necessidades, a seu ver, são instáveis. Como medir algo que não continua sempre o mesmo?
Quando as lágrimas começaram a atingir minha pele, decidi que era hora de sairmos dali. Eu não queria que ninguém a visse assim e, no fundo, sabia que ela tampouco queria isso. Um slytherin será sempre um slytherin, mesmo depois de deixar a escola. E nós somos extremamente orgulhosos para permitir que alguém nos pegue demonstrando algum tipo de fraqueza. Em público, pelo menos.
Ela era minha certeza. A única. Eu sabia que, não importa pelo que ela passasse Pansy sempre seria a mesma Pansy que eu conhecera desde meu primeiro dia na maternidade. Afinal, você pode esculpir uma rocha de várias formas, mas ela nunca deixará de ser uma rocha. E era isso que Pansy representava pra mim. Uma rocha, sobre a qual eu poderia erguer as mais resistentes construções sem nunca precisar me preocupar que elas ruíssem.
