Sirius estava sentado na sua cama, trancado no quarto, enquanto todos estavam lá embaixo, na cozinha, jantando. Ele não estava mais aguentando aquela vida de prisioneiro. "É melhor do que estar em Azkaban" repetia sempre para si mesmo, mas ultimamente ele não sabia dizer o que era pior.

No meio de toda aquela bagunça havia uma caixa guardada num canto do quarto. Sirius nunca deixava ninguém entrar ali sem sua permissão ou acompanhamento. Ele prezava pela sua bagunça. Aquilo tudo era, de certa forma, organizado. Mas do jeito dele.

Sirius pegou aquela caixa e a colocou em cima da cama. Ao abri-la, parou para examinar algumas fotos da sua adolescência: seus melhores amigos James, Remus, e o traidor Peter... lhe veio uma náusea seguida por uma nostalgia. Sirius nunca se perdoou pelo que aconteceu aos seus amigos, por tê-los perdido. Ele agora só tinha Remus – além do Harry, que sempre lembrava o pai.

No meio de todas aquelas fotos, Sirius entrou uma que fez seu estômago revirar: era uma da sua prima Bellatrix. Seus cabelos negros e longos ao vento, trazendo um leve sorriso nos lábios. Ele se lembrava de como ela era antes, apesar de não ter convivido tanto tempo quanto gostaria com ela. Sirius nunca se conformara com o fato de que eles nunca ficariam juntos. Eles não podiam. Quando ele terminou seus estudos, ela já estava casada há um bom tempo.

- Bella, Bella, por que você fez isso comigo? – ele perguntou para a foto, como se esperasse por uma resposta. Ela continuou sorrindo, seus cabelos continuavam balançando.

Era como se tudo viesse à tona: Sirius começou a ter flashes de momentos que tivera com ela, quando, sem querer, se beijaram; quantas vezes ele a ouviu dizer que era errado, mas continuava fazendo.

- Sirius, eu sou casada – ela sempre dizia a mesma coisa. – Você é muito novo! – ela acrescentava. Mas era a verdade, ele tinha que aceitar. A idade dela era bem mais avançada, mas, para Sirius, aquilo não o impedia de querer estar com ela. Ele estava apaixonado. Estava cego de amor por sua prima. E este foi o seu erro.

- Mas eu te amo – ele sempre retrucava, mas ela nunca o ouvia. Ela sempre manteve escondido dele o fato de estar cada vez mais obsecada por Lord Voldemort, a quem chamava de Lorde das Trevas. Ele sim, tinha o amor de Bellatrix.

Em meio a todas essas confusões, eles sempre acabavam indo para a cama. Acabavam tendo o que realmente queriam: Sirius queria tê-la, Bellatrix queria sexo. Queria as mãos dele acariciando-a, apertando-a, puxando-a para si. Queria ouvi-lo sussurrar "eu te amo" e lhe beijar. Ela procurava o prazer carnal, mas Sirius fora tolo o suficiente para acreditar que pudesse ser amor. Ele acreditava que fosse. Ela sempre negou. Da mesma forma que também nunca negou seus beijos.

Essas lembranças faziam Sirius sentir-se mais forte, esperançoso de que um dia todo aquele pesadelo iria acabar e que o Ministério não iria mais correr atrás dele. Ele seria inocentado. Mas até lá, ele teria que se conformar com o fato de estar preso na própria casa, tendo que aceitar as "ordens" de Molly Weasley, aturar todos que podiam entrar e sair a qualquer hora. Pelo menos até seu afilhado chegar.

Um dia ele sairia dali. Um dia ele seria livre.

Um dia ele a veria novamente.