The look upon your shoulders.
Ela corria de braços abertos para longe de você, que assistia a tudo sentado no meio das flores altas, que quase cobriam seus olhos, impedindo-os de vê-la. Quase cobriam, pois você nunca a perderia de vista, sob hipótese alguma.
Estavam em um campo de lírios extremamente brancos e, mesmo com o sol a pino, a paisagem mantinha-se de um branco etéreo e frio. O silêncio era total, não fossem as gargalhadas altas e infantis que a ruiva soltava toda vez que se jogava em cima das flores, amassando-as com seu peso. Ela novamente se levantava e saia correndo, cada hora em uma direção, nunca na sua. Ela sentia prazer em ser observada daquela forma com que você a observava, tão sério e analítico, pausado no tempo e no espaço com as feições do antigo Tom, o de olhos e cabelos negros.
Você via os cabelos vermelhos correrem no meio do branco e achava que em algum momento eles se tornariam rosa, se tornariam menos determinados, ou menos tentadores, mas eles se mantinham vermelhos, e as flores se mantinham brancas. Você a observava correr de forma extremamente pura e infantil, mal tocando os pés no chão e dando saltitos, e achava aquilo de uma beleza tão grande que seu corpo ficava quente. Um quente diferente, que não era desejo, ou raiva. Era simplesmente diferente. Como se um pequeno globo de luz houvesse se acendido dentro de seu estômago e começado a irradiar seus raios para todas as partes do corpo. Quente de dentro para fora. Gostoso e confortável.
Você também imaginava se ela era realmente tão pura e inocente quanto aquelas flores que a cercavam, as quais abraçavam o pequeno corpo ainda em desenvolvimento de uma menina-moça de apenas 13 anos. Imaginava se, no período que havia perdido o contato com ela, desde o fatídico dia em que Harry Potter a salvara na câmera, ela havia se mantido intocada. Pedia que sim.
Ginevra corria livre, como uma pequena passarinha, e ela lhe levava paz. Você não sentia nada perto dela. Nem preocupação, nem ódio, nem desejo de vingança, nem desejo de morte. Simplesmente não sentia nada, e acreditava que aquilo era paz, ou alguma forma disso.
Ela também lhe causava falhas nas batidas cardíacas. Sempre que corria, antes de se jogar em cima das flores, ela olhava por cima de seus ombros, com o rosto meio encoberto pelos cabelos, meio refletindo a serenidade do campo florido e das próprias vestes brancas – um vestido rodado e de babados, que ia pouco abaixo das coxas -, você se sentia amolecer. E aquele olhar, por tudo que existia no universo, aquele olhar! Ele era de matar qualquer um. Eram olhos intensos e arregalados, olhos sorridentes e que lhe davam arrepios. Olhos que te miravam por cima de ombros claros e pálidos. Olhos que te relembravam que Ginevra jamais seria sua, e nem de ninguém. Que era pura, inocente, e livre. Livre acima de tudo.
Tom acordou com um pulo na cama grande e de dosséis negros, que refletiam seu olhar doentio. A chuva corria furiosa do lado de fora de seu quarto. Sua primeira noite com um corpo, depois de tanto tempo sem saber o que era aquilo, e seu primeiro sonho fora com a maldita. A maldita que não deixara seus pensamentos por um segundo sequer desde que a tinha conhecido. Trincou os dentes e gritou de fúria. Estava mais louco do que o planejado e isso não era bom. Nada bom.
N/A: Fic que se passa durante o 4º livro de Harry Potter, portanto, quando o Lord ressurge. Éah.
