Série Draicon: 01 - A EMPÁTICA
Bonnie Vanak
O LOBO DEVE TER UM COMPANHEIRO PARA SOBREVIVER...
Nicolas era o mais forte e feroz dos Draicon, até que foi banido por cometer um crime. Agora o licantropo só tem um caminho para a redenção: encontrar a longamente perdida companheira, a mulher que salvará, incluindo Nicolas, do terrível perigo.
Maggie Sinclair é uma veterinária dedicada a curar. Ela não tem nem idéia de sua verdadeira natureza, a magia que espera em sua alma...ou o homem que vem a reclamá-la. A sobrevivência de sua união depende de que eles se encontrem um ao outro, de que suas habilidades se convertam em uma. Mas os inimigos também encontraram Maggie, e a matarão para evitar que ela desperte uma paixão totalmente absorvente...
CAPÍTULO 1
A morte, com presas e largas garras o espreitou.
O inimigo o caçou. Nicolas, o guerreiro poderoso. O melhor lutador da manada. O condenado ao ostracismo. Nicolas Keenan levantou o focinho, cheirou o vento. Captou a essência de seu líder marcando um carvalho próximo. Sua forma de lobo ficou rígida com o desejo. Manada. Lar.
Família.
Mas ele já não tinha uma família. Inclusive embora seguisse patrulhando silenciosamente seu território, protegendo a sua gente e embora sua lealdade nunca morrera, tinha sido banido da manada.
Era um Draicon, licantropos que uma vez usaram sua magia para aprender da terra e suas maravilhas. Agora, caçado pelos mais poderosos Morphs, os quais, usavam seus poderes em um intento desesperado por sobreviver. Morphs. A simples palavra arrepiava o cabelo. Tinham sido Draicon igual a ele. Draicon que tinha abraçado o mal de boa vontade, entrando nas filas dos Morphs ao assassinar a um dos seus. Nicolas tinha passado quase toda sua vida destruindo Morphs. Quando alguém de sua manada se convertia, tinha sido obrigado a matá-los também.
Sempre seria Draicon, prometeu Nicolas silenciosamente, recordando o diminuto sinal sobre seu pescoço. Nunca se renderia ao poder de atração dos Morphs.
Sentiu uma gelada brisa que se movia, crepitando as folhas e esfriando o ar. Nesta parte do norte do novo México, as árvores estavam repletas de vivas cores. Trinta minutos antes, depois de que tivesse abandonado seu rancho para dar um passeio pelos bosques, havia sentido o perigo. O familiar instinto guerreiro emergiu. Tinha trocado para atrair o inimigo afastando-o das casas e lares da manada.
Novos aromas encheram as ventas de seu nariz. Este, decididamente, cheirava a demônio ainda.
Nicolas captou um débil fedor de algas podres mesclada com águas residuais. Inimigo.
Perigo.
Ah, Maggie, no que te estou arrastando? E se eles também lhe encontram? Alargou-se, escorregando silenciosamente em seus pensamentos. Mitose. Células cancerígenas. Ela estava estudando uma amostra ao microscópio. Ele se retirou não querendo distrair sua concentração. Margaret Sinclair, é a Empática há muito tempo perdida da manada. A Draicon destinada a destruir à líder dos Morphs, ela era a última esperança da manada e a companheira destinada de Nicolas. Estava a salvo. Por agora.
Nos ramos de um curvado carvalho, um cervo marrom permanecia camuflado à vista. Um raio de luz da lua salpicava o moribundo carvalho e cobria ao cervo de prata. O odor de natureza morta penetrava no rocio da tarde. Na distância, uma cerva pisou através dos arbustos. Suas orelhas se inclinaram para diante.
Eles estavam se aproximando. Uma vez solitário, o inimigo tinha combinado seus números.
Nicolas não se atrevia a trocar. Não agora. Sua mudança deixava rastros elementares de magia, deixando apagados rastros de patas a seus inimigos.
Ainda quieto, inalou o ar. O aroma se fez mais débil. Um novo aroma encheu seus sentidos.
Aroma de corpo. Falsa essência a cervo. Cerveja antiga. Humanos. Ruidosas e desagradáveis vozes rasgaram através dos bosques.
—Ali! Vêem aquele lobo? Vão por ele!
Quão humanos o tinham descoberto antes ainda o perseguiam. Saíram para caçar algo essa noite. Algo como o lobo de Nicolas.
Agora não tinha escolha. Tinha que se arriscar. Nicolas trocou, os músculos se encheram, se estiraram, os ossos se alargaram. A pele se derreteu. A pelagem de lobo desapareceu, substituído por bronzeada pele humana.
O homem nu se encontrou com impaciente caçadores carregados com rifles. Nada bom.
Convocar a roupa mediante magia revelaria sua presença ao inimigo como a luz de um farol. Não tinha que ter usado seus poderes esta vez. Em troca, agachou-se junto ao tronco podre da árvore e procurou a roupa armazenada sob as raízes estendidas da folhagem. Damian tinha posto esconderijos parecidos por toda parte do território da manada para casos de urgência como esta. Vestiu-se, agarrou a garrafa de uísque, e salpicou com ela seu brilhante traje alaranjado.
Nicolas se afundou contra a árvore e esperou. Riu em silêncio, extraviando os olhos ante a garrafa âmbar cheia pela metade.
—Nunca bebo nenhum uísque de menos de doze anos, Damian, miserável.
Gritando vitoriosos, os caçadores atravessaram o bosque como torpes bois. Ele cheirou a crueldade que subia e baixava com cada excitado fôlego. Entraram no claro. A pálida luz da lua cheia impactou em seus equipamentos de camuflagem. Nicolas soluçou de forma audível. Levantou a garrafa em uma saudação bêbada.
—Aqui está meu disparo do dia que vale por uma gargalhada de 12 pontas!
A incredulidade passou por seus rostos. Os homens trocaram os rifles e entrecerraram o olhar.
—Saia daqui, —afirmou o mais desço em plano fanfarrão. —Pagamos muito dinheiro para caçar nesta terra.
Ignorando-os, Nicolas fingiu tomar uns goles.
O gordo soprou, trocou seu rifle. A barriga lhe sobressaía por cima a calça cáqui igualmente às suas queixadas.
—Escute senhor, está em uma zona privada. Saia antes de que nós o tiremos.
Estamos na pista de um lobo solitário.
Sorrindo abertamente ante eles, deixou cair o uísque e fez que partia. E então o aroma o atravessou igual a uma locomotiva.
Eles vinham diretamente em sua direção.
Estava totalmente imóvel. Lhe arrepiou o pêlo da parte posterior do pescoço. Dobrou os músculos e ficou de pé.
—Permissão, —grunhiu ele—Já vêm.
Mas os caçadores simplesmente o olhavam embevecidos.
—O que acontece com sua voz? —Perguntou um deles.
—Corre, —advertiu Nicolas. Muito tarde. Entraram na diminuta garganta, sem incomodar-se em cobrir seu número.
Deslizando-se, avançaram, disfarçados como seres humanos. O inimigo se parecia com jovens mulheres, mal-humoradas adolescentes, anciões e homens de negócios em traje. Mas por seu aroma, pareciam absolutamente normais. O aroma de algas podres e águas residuais o sacudiu.
Maldição. Era uma horda. Muitos para lutar sozinho. Sua mente pensou em uma estratégia. A surpresa era sua melhor defesa. A magia o entregaria de todas maneiras. Amaldiçoou silenciosamente, desejando ter suas adagas.
Se permanecesse misturado com os caçadores, possivelmente o inimigo não o veria.
Os caçadores humanos se voltaram, viu-os. Alguém se apartou a boina, arranhando-a frente.
—Que diabos é isto, uma festa?
Assinalou a um curvado homem de cabelo grisalho que levava óculos redondos, inclinando-se em uma fortificação de madeira.
—Está perdido vovô? O asilo é nessa direção. Já passa de sua hora de te deitar.
O ancião levantou a cabeça. Sorriu. Brilhantes dentes brancos, agudos, bicudos.
—Jesus, —sussurrou ao caçador gordo—O que é isto?
—Uma prematura festa do Halloween, —brincou seu amigo, com voz rasgada—Ou dentadura trocada?
Nicolas cheirou o medo dos homens. Sabia que seu inimigo também o cheirava.
Cheirava como a suor ácido.
—Já chega —disse o mais velho com suavidade. Fez um sinal.
Avançaram como uma só unidade, igual a uma coluna de formigas soldado. Um por um todos mudaram trocando de forma, as roupas se desvaneceram de suas formas humanas, a pele brotou sobre seus corpos. Sua magia, escura e poderosa, transformou-os muito mais fácil que os poderes do Nicolas.
Silenciosos como a névoa, olhos que brilham como carvões ardentes, avançaram rodando sobre quatro patas. Uma lenta piscada. A visão noturna captava os olhos voltando-se negros como buracos vazios.
Os olhos, sempre os olhos, contavam sua verdadeira natureza, sem importar sua forma.
O lobo nele se elogiou, sedento de sangue, de ação. Apanhado entre revelar-se a forasteiros e a necessidade do lobo para atacar, vacilou. O instinto o urgia a correr, esperar melhores probabilidades. Os humanos tinham causado este mal. De todos os modos sentiu uma fugaz compaixão pelos caçadores. Escaneou a aproximação do inimigo do elo mais fraco.
O temor dos humanos virou terror.
—Santa mãe de Deus —gritou um dos altos—Lobos!
Dispararam. O acre aroma da urina reprimida alagou o ar.
Naquele instante, os Morphs atacaram.
Agora. As adagas se materializaram em suas mãos quando saltou adiantando-se para encontrá-los. Seis Morphs saltaram sobre ele. Afiados dentes como navalhas se afundaram em seu pescoço, as garras golpearam suas pernas e torso. A roupa se despedaçou igual a fino papel. Ele grunhiu e se equilibrou com as facas, apunhalando seus corações. Morreram gritando. Deslizou-se, apunhalando outra vez, estremecendo-se quando o sangue ácido o salpicou. Outra vez. Era inútil. Cada vez que abatia um, outro se materializava. Clonando a si mesmos.
Um maldito exército animal.
O calor gotejou descendo por sua garganta. Nicolas ignorou a ardente dor, lutou com suas roupas para mudar. Ao diabo os mortais. Já estavam mortos.
Quando arrancou a roupa, caíram sobre ele, mudando uma vez mais. A pele estalou sobre seus corpos, as garras cresceram, trocando inclusive outra vez. Amaldiçoou sua capacidade de mudar em qualquer forma de animal. Enormes ursos pardos rugiram. Quatro o cercaram de repente contra o tronco de árvore. Apanhado, seus braços e pernas inúteis, Nicolas não podia convocar sua magia.
—Bom Deus todo capitalista —gritou um caçador.
Lutando no abraço do Morphs, Nicolas sentiu o correr do sangue, dor nos ossos.
Os outros se voltaram para a presa humana. Nicolas lutou com mais força, esperando salvar os desprezíveis rabos dos caçadores. Sabendo que era muito tarde.
Com as mandíbulas totalmente abertas, a saliva gotejando de suas afiadas presas, a manada caiu sobre os desgraçados homens. Gritos mesclados com o som de carne rasgada. Sangue salpicando sobre os carvalhos, gotejando negra viscosidade. Os caçadores estavam todos mortos.
Os Morphs mudaram em suas verdadeiras formas. Agachados, a pele pega ao osso, mais animal que humano. Mechas de cabelo se aderiram a seus couros cabeludos. Bicudos e afiados dentes em um aberto sorriso. Seu fétido aroma encheu o ar. Choramingaram, deixando escapar profundos suspiros.
Absorvendo o terror de suas vítimas e seu fôlego ao morrer, os Morph se alimentavam de sua energia. O Morph que o retinha afrouxou a presa sobre seus braços. Aproveitando sua distração, se liberou e mudou. O lobo os saudou, impaciente por lutar, desesperado por cravar suas garras neles.
Surpreendidos, seus captores retrocederam. Repartiu golpes a torto e a direita com suas afiadas presas, grunhindo. Derrubou um enquanto os de trás vinham silenciosamente atrás dele.
Havia muitos. Tinha perdido muito sangue.
—Alto —ordenou uma autoritária voz— parem agora.
O sangue gotejou descendo por seus flancos, cálido no frio ar. Nicolas ignorou a picante dor e o ardor no flanco. Recordou constantemente a arma secreta dos Morphs. Confiada. Arrogante. Jamie era uma ameaça maior que os próprios Morphs.
Grunhiu. Instantaneamente os Morphs fecharam filas ao redor de Jamie. Eles morreriam protegendo a humana que os tinha convertido em um exército.
A mortal cujo sangue fabricou a enfermidade e a morte.
Não morreria como lobo. Nicolas mudou de novo a sua forma humana para dirigir-se à mortal.
Por culpa de Jamie, Damian estava morrendo.
Nu, vulnerável, negou-se a intimidar-se.
—Jamie —pronunciou ele — Chegará sua hora.
Um baixo e divertido sorriso atravessou o ar. Jamie empurrou aos carrancudos guarda-costas para adiantar-se.
—Mal pode te manter em pé. Destruiremos a sua líder, Nicolas. Já a temos, obrigado por sua ajuda.
Nicolas permaneceu calado. Desobedecendo as regras da manada, tinha ensinado magia a Jamie e ela a utilizou para unir-se aos Morphs e incrementar seus poderes. A partir de seu sangue, tinham fabricado uma enfermidade que estava matando a sua líder.
Outro Morph mudou de volta à forma humana. Gordurento cabelo castanho, olhos vazios e uma cruel boca torcida. Kane. O líder. A saliva gotejava dos lábios partidos de Kane. As garras cresceram de suas unhas.
Nicolas se esticou quando Kane se aproximou.
—Nicolas —falou o líder arrastando as palavras— una-se a nós. Sabe que quer fazê-lo.
—Morreria primeiro —grunhiu ele.
—Tenho poderes que você nunca terá como um Draicon, Nicolas. Una-se a nós e observe. —O Morph estendeu seus compridos e magros braços—Posso usar o ar como uma águia, sulcar os mares como um tubarão, correr pela selva como um jaguar. você pode fazer o mesmo?
Nicolas endireitou as costas.
—E você cheira igual a um monte de lixo. Não obrigado. Prefiro ser um cadáver. Não, um pouco menos agradável. — Merda. Acrescentou a verborréia vistosa que comparava Kane a uma função natural corporal.
Mas Kane só riu.
As palavras não podem me ferir. Mas você sim. Atreverá-te?
Nicolas permaneceu em silêncio, as mãos apertadas em punhos.
—Matemo-lo—sugeriu um Morph.
Não—respondeu Kane—Não o toquem. Necessitamos dele vivo para a Margaret, se ela for a verdadeira empática ele despertará de novo seus poderes quando a buscar para emparelhar-se.
O temor atendeu o peito do Nicolas. Não tinha medo deles, inclusive se tinha enfrentado com a morte. Temia agora pela Maggie.
—Nunca a encontrará. Morrerei brigando antes de que consiga pôr as garras sobre ela.
Kane lhe dirigiu um obsceno sorriso.
— Já a encontramos, Nicolas. Infectamos seu cão com nossa nova enfermidade. E você não pode permanecer afastado. O impulso do emparelhamento te reclama inclusive agora. Não pode lutar contra sua natureza.
Um zombador bufo saiu do líder dos Morphs. Nicolas se conteve antes de estirar-se para estrangular Kane. O líder dos Morph lhe dedicou um fino e zombador sorriso.
—Deixem os corpos. A lei culpará o Draicon. Outra vez. —riu Kane.
Uma aparência inteligente. Mais munição para caçar lobos, destruindo sua diminuída manada.
A dor o atormentou. Caindo contra o familiar carvalho com sua essência e a do Damian, observou como os Morphs se desvaneciam entrando no bosque. Seguiriam crescendo em poder e força, continuando seus assaltos. Não podia detê-los. Necessitava de Maggie. Margaret, a empática profetizada para converter-se na força capaz de eliminar à líder dos Morphs. Sua companheira predestinada, que não se dava conta que era uma Draicon.
Folhas mortas rangeram sob seus pés. Esperou até que seu fedor já não sujasse suas fossas nasais. Sobre o vento, a silenciosa risada seguiu seu lento avanço através da garganta.
Uma hora mais tarde, suas feridas sararam, Nicolas se ocultou sob os recessos de uma rocha que sobressaía-se. Descansou, olhando fixamente sua querida lua, escutando o rangido dos ramos com o vento e o movimento das folhas mortas. A fome raspou seus intestinos. O poder que havia perdido precisava recuperar ingerindo alimento ou compartilhando seu corpo com uma mulher e absorvendo a rica energia emitida durante o sexo.
Tinha que caçar. Muito fraco para mudar, ignorou os protestos de seu estômago vazio.
Devia pensar em outros assuntos. Concentração. Brandamente, começou a cantar com a desesperada esperança de aliviar a fome atormentadora. Tampouco funcionou. Mudou seus pensamentos para Maggie.
Doce, encantadora Maggie. Sua Draicara, sua companheira predestinada. Nua na ducha quando se tinha fundido ontem em sua mente.
Uma onda de desejo o percorreu enquanto recordava. Figura esbelta, cheios e arredondados peitos e essa boca…ah, feita para beijar. Nicolas sentiu seu corpo esticar-se, pensando nas deliciosas coisas que poderia fazer sua boca. Essas pernas ligeiramente torneadas com músculo, curvadas, suaves como a seda. Sentia o enérgico e impessoal acariciar de sua mão quando se tinha ensaboado uma coxa, borbolhas que se formavam e exploravam. Em seus indiferentes olhos tinha visto o ninho de cachos avermelhados que escondia seu sexo e se tornou selvagem.
Nicolas tinha rugido com luxúria, conduzido pela feroz necessidade de reclamá-la. Passando suas mãos sobre sua sedosa pele, cobrindo seus peitos, vendo os mamilos endurecer-se e erguer-se.
Apartando amavelmente sua pele feminina, provando sua disposição, sentindo essa umidade quando deslizava um dedo no interior de sua apertada vagem. Então separar essas sedosas coxas abrindo-as de par em par, montando-a, seu corpo rendido pressionado sob sua dureza, afundando-se profundamente em sua molhada e ofegante carne…
A fome diminuiu, substituída pela luxúria quando se concentrou em Margaret. Gotejava em sua mente como a água que se filtrava na terra. Uma nova agonia o assaltou. Elevou o nariz. O lobo em seu interior choramingou em silêncio. A luxúria se desvaneceu. A milhares de milhas sentia sua dor que o apunhalava como se este se houvesse fundindo em seu próprio peito.
Ela estava chorando outra vez pelo cão.
A última semana, depois de anos de investigação, tinha encontrado Maggie por puro acidente. Tinha estado embalando feno em seu rancho quando uma onda de dor se chocou de repente contra ele, fazendo-o chiar os dentes. Nicolas tinha caído de joelhos e gemendo.
Quando se recuperou de seu choque inicial, tinha conseguido ordenar os pensamentos em sua mente. E se deu conta que tinha encontrado a sua companheira. Sob uma extrema compulsão, uma fêmea draicara algumas vezes projetava inconscientemente emoções em seu companheiro destinado, como se o convocasse por fim a seu lado. Quando tinha explorado o rastro mental que lhe tinha enviado, deu-se conta de quem era.
Margaret, a empática desaparecida da manada.
Nicolas soltou o ar com força, lutando por manter sua identidade inclusive quando afundava-se completamente nela. Absorvendo-a, afundando-se em cada célula. Sua respiração era a dele. Seu coração pulsava rapidamente, incrementando o próprio ritmo do dele.
Suas emoções eram as dele.
O suor perolava a sua fronte. Seu lobo interior choramingou, ansioso por acalmar a extensa agonia, as emoções humanas se entrelaçavam com a crua dor animal. Assim somente, como se o mundo fosse inconsciente.
Não gostava de sentir-se dessa maneira, aberto, vulnerável e exposto. Nicolas lembrou-se que esta era Maggie, não ele. Ao contrário de sua companheira draicara, poderia guardar suas emoções.
Ela se encarapitou sobre a pia, agarrando-se a ela com nódulos esbranquiçados. A tensão de seu rosto em forma de coração se refletia no espelho. Seu boca fazia uma careta de dor.
Nicolas sentiu como se o veneno se filtrasse em seus próprios ossos.
As lágrimas corriam por suas bochechas. Tentava as reter, OH, tentava-o, para não incomodar ao animal que tão cuidadosamente atendia. Mas a pena a banhava como ondas continuas. Afundou a cabeça sobre a pia e soluçou.
Nicolas lutou para reter suas próprias lágrimas.
Finalmente jogou água fria na cara, e a secou. Forçou um cambaleante sorriso em seu rosto e foi atender a seu paciente. O pequeno cão marrom levantou a cabeça.
Cruzando o branco chão de ladrilhos da cozinha, corria uma pequena barata marrom, então se desvaneceu. Ele se esticou, já que a barata possivelmente fosse um Morph disfarçado para assassiná-la. Mas não mostrou nenhum símbolo de transformação. Depois de um minuto relaxou.
Só era um inseto comum.
Nicolas sentiu o natural asco de Maggie. Imaginou que teria gritado, lançando a vassoura.
Em vez disso sentiu sua pernada sobre o asqueroso inseto. Ela deixou cair um frasco como resposta, apanhando-a e girando o frasco. Com a mesma rapidez, liberou a barata fora. Através dos olhos do Maggie, Nicolas a viu arrastar-se sobre as brancas areias da praia.
Ficou boquiaberto.
Desde este esponjoso travesseiro, ouviu o cão ao que ela chamava Misha ladrar fracamente em protesto. Igual ao condenadamente fodido cão, Nicolas também esteve de acordo. Eu também a tinha matado.
—Conhece as regras, Misha. Todos vivem —disse Maggie brandamente—, inclusive as baratas. Juro que nunca machucarei a qualquer coisa viva. Jamais.
Diabos. Aquilo ia ser um pouco mais difícil do que ele se imaginou. Como poderia transformar essa mulher em uma máquina pronta para matar Morphs quando estava resgatando insetos?
Nicolas deixou escapar um profundo suspiro, cortou a conexão tão limpamente que quase pôde ouvir o fechamento. Deixou cair a cabeça na grossa almofada de folhas secas e musgo.
Não queria romper a conexão de nenhum modo. Parte dele queria ficar. Consolá-la. Envolvê-la em seu forte abraço e não deixá-la ir nunca. Essas emoções eram delas, pensou ele cruelmente. Perigosas emoções mas naturais. Cada macho Draicon nascia com o instinto de proteger a seu casal. Inclusive embora sua companheira em particular não tinha nem idéia de sua existência ou de sua gente. A gente de ambos.
Passaram minutos. Ou foram horas? Um aroma familiar se aproximou silenciosamente. A luz da lua dourou um par de brilhantes sombrancelhas marrons. Nu e vulnerável, incorporou-se para encarar seu líder.
—Vê-te como a merda. — Observou Damian. O suave acento de Nova Orleans que havia adquirido na infância acentuou suas palavras—Vieram outra vez por você por que nos estava protegendo. Por que insiste em ficar quando sabe que está banido?
Nicolas não replicou. Sabia que Damian tinha cheirado a morte, ouvido os gritos. Havia pressentido o que aconteceu.
—Nicolas…um dia alguém te matará. Se fica —disse Damian com amabilidade.
—Não te abandonarei, Dai. Precisa de mim. A manada também precisa —Cuspiu as palavras, apanhando seu olhar no do ancião.
Como beta de Damian, Nicolas era responsável por levar a cabo as ordens de seu líder. Era o melhor caçador da manada. Quando a manada tinha estado em perigo de ser eliminada pelos Morphs, Nicolas tinha se adiantado e lhes tinha ensinado a melhor maneira de acabar com o inimigo. Tinha estudado as debilidades dos Morphs e conseguiu destruir a centenas.
Nicolas, a máquina de matar. Não sabia fazer outra coisa.
Uns pálidos olhos verdes o observaram em silêncio. Damian moveu as mãos. Um prato coberto por uma tampa de alumínio se materializou no chão ante o Nicolas. Nicolas se precipitou para diante quando Damian fez uma careta de dor.
—Maldição, não deveria estar fazendo isto. Não em sua condição. Não esbanje sua energia.
Seu líder lhe ofereceu um compungido sorriso, lhe custando respirar. O suor brilhava em sua fronte. Com o dom de um chefe de cozinha, Damian apartou a coberta do prato.
—Voila. Sabia que necessitava comida. Ou sexo —O líder da manada sopesou Nicolas com um calculador olhar—Mas já conhece as regras.
Nada de sexo com as fêmeas da manada. Não para o Nicolas, o banido. Que ironia.
Damian freqüentemente brincava sobre o "haren" de Nicolas, o não emparelhado, as sexualmente experimentadas fêmeas da manada desejosas de copular com ele. Depois de uma luta Morph, tinha tido em conta aquelas que se teriam apresentado a si mesmas ante ele. Olhos obscurecidos, seu fibroso corpo tenso e agressivo, tinha selecionado uma para a noite. Logo a haveria reclamado, usando seu calor sexual para restaurar sua energia perdida.
Agora nenhuma fêmea da manada podia lhe tocar.
Fazendo-o encher a boca d'água, Nicolas olhou a sangrenta e crua carne. Dirigiu um preocupado olhar à pálida cara do Damian, ao relâmpago de dor em seus olhos verdes.
—Traga-lhe isso lobo, —advertiu-lhe Damian, um meio sorriso acariciava sua boca diante da velha brincadeira.
Morto de fome, retorcendo-se de necessidade, Nicolas vacilou. Tentando disfarçar sua debilidade diante de seu líder, não podia conter sua esmagante necessidade de energia. Damian lhe voltou delicadamente as costas. Agradecido, Nicolas abandonou toda farsa. Agarrando o filé de veado com as mãos, rasgou a carne. Enxaguando a boca com o dorso de sua mão, então substituiu a coberta. Esta soou contra o prato de metal.
—Obrigado —disse Nicolas.
Forte agora, usou sua magia para cobrir sua nudez com jeans, uma camiseta negra e botas.
Damian se voltou. Sentou-se sobre seu traseiro, em silêncio.
—Dai, está-te pondo pior —a prática declaração encobriu sua preocupação.
—Tenho tempo. —O coquete sorriso do Damian era forçado—Dois meses, possivelmente, de todos modos meu corpo se está deteriorando… —Se encolheu de ombros, apartando o olhar.
Dois meses e Damian estaria morto? Depois da agonia, a enfermidade parecida com o câncer atormentaria seu corpo abrindo-se caminho consumindo seus órgãos internos. Nicolas apertou os punhos. Maldição. Tinha que encontrar Maggie. Rápido.
—Dai… —Sua garganta se fechou com a emoção. Nicolas passou uma coberta em seus sentimentos e tentou pôr uma máscara inexpressiva em sua cara.
Damian parecia entendê-lo, por que ondeou uma mão, lhe subtraindo importância ao assunto. Nem uma só queixa e mais preocupação pela manada.
—Me fale da Margaret. — O nome saiu pronunciado brandamente. Mah-gah-rhett — De novo tem contato com ela. Posso dizê-lo por suas lágrimas. Suas emoções são as tuas, Nicolas. Ela estava chorando.
—Seus agudos olhos verdes se centraram no seco rastro de lágrimas nas bochechas do Nicolas.
Nicolas esfregou a cara com o punho.
—O cão dela está morrendo. —Sempre o cão, quando Maggie procurava uma solução lógica ao problema causado por algo que não era lógico no mundo humano. Então, em privado, as lágrimas tinham fluido, porque não era capaz de curar o animal que adorava.
—Ah, seu mascote. É difícil.
—Um amigo. Não um mascote. Está tentando encontrar a mutação nas células. Os Morphs infectaram ao cão.
Damian esfregou a parte de atrás do pescoço distraído.
—Uma prova para fazer sair os poderes da Margaret. Encontraram-na.
Nicolas tomou outra baforada de ar, sentindo seus pulmões expandir-se com ar limpo, puro. O cão tinha sido a constante companhia do Maggie durante cinco anos. Atuando como enfermeira canina, ela também ajudava acalmando os animais que tratava.
Agora Misha estava morrendo, sucumbindo a uma nova enfermidade que desconcertava Maggie.
A mesma enfermidade que estava devorando Damian por dentro.
Sentiu uma ressonante dor descendo por sua alma, seu espírito chorava por reunir-se com o dela.
Jogou a cabeça para trás, sentindo à besta emergir, o lobo uivava por ser liberado, e lhe permitir correr. Para evitar a dor. Encontrar um lugar escuro e procurar consolo.
Não podia, tanto como não podia evitar os laços entre ele mesmo e Maggie.
—Estava ignorando sua verdadeira identidade. —Nicolas mantinha isso como um fato— Descobri muito sobre isto enlaçando minha mente com a sua. Algo aconteceu quando morreram seus pais, e bloqueou todas as suas lembranças anteriores. Pensa que é mortal, Damian, não Draicon.
Convencê-la será difícil.
—Conhece seu dever, Nicolas. Deve te emparelhar logo com ela e trazê-la a casa, antes que os Morphs a destruam.
Damian se levantou, inclinando seu metro e oitenta e dois contra uma árvore. Sob a casual brisa ficava enrolado um tenso poder. Preparado para entrar em ação, se fosse necessário. Seu líder nunca baixava a guarda, ou confiava facilmente, fora de sua manada.
—Conheço os riscos. — Para ele e para o Maggie — Mas se isso significa te salvar…
—Me esqueça — Damian o cortou com um gesto — É muito tarde. Mas se pode curar a nossa gente quando os Morphs os infectarem, isso é tudo o que importa.
—Trarei-a a tempo, —disse Nicolas com ferocidade—Não duvide. Confie em mim.
As emoções flamejaram nos olhos de Damian.
—Não é bom que encare isto sozinho. Necessita de nossa gente.
Nicolas levantou a cabeça permanecendo calmo.
—Sabe que isso é impossível. Culparam-me pelo que aconteceu a Jamie. Como deviam.
Quando trouxer Maggie, então retornarei. Até então…
O casual encolhimento de ombros ocultou sua dor. Pelo bem da manada, Damian tinha que lhe desterrar. Maggie era seu caminho de volta à aceitação, retorno ao calor e consolo de sua família.
Maggie era muito mais que isso. Maggie era a arma destinada a desbancar Kane. Seu toque curador poderia curar a enfermidade de Damian.
— Faça — disse Damian brandamente — Faça-a tua. — Viu como Nicolas se levantava e foi abraça-lo na usual camaradagem, depois se apartou.
—Não posso te tocar — disse ele com voz espessa.
—Sei — assentiu Nicolas. Sua essência marcaria Damian, cuja palavra era lei, mas a manada o questionaria. Sussurros. Preocupação.
—Que o espírito da lua te guie e proteja em seu caminho —disse seu líder na formal bênção — Mantenha-te a salvo, mantenha-se forte.
Lhe fez um espesso nó na garganta.
—Conte com isso — disse Nicolas alegremente, ocultando suas emoções.
Damian lhe dedicou outro meio sorriso. Mais dor passou através do Nicolas como uma faca quando observou seu amigo deslizar-se dentro do bosque, dirigindo-se a casa.
Para ele já não era o lar.
Tomou outra baforada de ar, começando a cantar brandamente para si mesmo e trotou na direção oposta. Maggie, Maggie. Precisava ir para Florida.
Cada dia o perigo de que Maggie fosse exposta se intensificava. Visitar sua clínica veterinária se traduzia em animais acalmados. Maggie tinha uma habilidade especial, igual a um sussurrador de cavalos. Só que não era sua voz.
Eram suas mãos, seu toque calmante.
Maggie era uma empática, nasciam uma vez cada 100 anos. Era sua última esperança. Pertencia à manada. Emparelharia-se com ela, sua dura carne masculina se afundaria na suavidade feminina, sua forte determinação de caçador se afundaria em sua gentileza. Homem e mulher, trocando poderes, convertendo-se em um. Cumpriria seu dever, então a moldaria na caçadora que necessitavam para lutar com seu inimigo. E a traria para casa, inclusive se ela lutasse, esperneasse e gritasse durante todo o caminho. Ela não tinha escolha. Igual a ele.
Maggie Sinclair obrigou-se a se concentrar quando se deteve ante o microscópio, que parecia igual à última centena de vezes.
Ainda ali. A suja realidade se encontrou com seus fatigados olhos. Piscou, e as células não mudaram. Uma impossibilidade física, ainda assim, não podia negá-lo. As amostras das células eram negras, disformes, iguais a manchas de tinta. Não tinha idéia do que estava assassinando a sua querida Misha. Toda a investigação acadêmica demonstrava ser inútil.
Os raios X tinham revelado uma enorme massa no estômago de Misha. As amostras de sangue mostravam mutações de células parecidas com o câncer. Mas não era câncer.
Magie esfregou os avermelhados olhos, tentando conter as lágrimas.
Misha tinha sido sua verdadeira companhia durante cinco anos. Os largos ataques de solidão que havia sentido se desvaneceram quando tinha adotado à cadela em uma canil. Misha tinha sido uma cachorrinha machucada, e chegou a ela grunhindo e desconfiado. Maggie tinha ganho sua confiança e agora, o cadela lhe oferecia amor e confiança incondicional. Misha se apoiava sobre seu regaço depois de um duro dia no escritório e lhe lambia a cara. Era mais que um mascote. Era uma amiga.
Vinte e quatro horas sem dormir não ajudavam. Ontem à noite Misha tinha estado inquieta. Maggie não deitou-se, acariciando a sua choramingante mascote. Como com os outros animais que tinha tratado, seu toque a acalmava.
Cochilou, e depois despertou com a sensação de alguém golpeando fortemente um prego de trilho em seu corpo humano. A dor se acalmou até desvanecer-se. Sempre parecia acontecer depois de um caso difícil. Como dormir parecia realmente impossível, Maggie se resignou a beber uma taça de café Blue Mountain, e voltar para o trabalho.
Três semanas sem resposta. Três semanas de deixar suas lucrativas práticas em terra firme para seu companheiro, Mark Anderson, e esconder-se na casa da praia da Ilha Estuário igual a um ermitão de areia.
Três semanas de extrair sangue, comprovar as amostras, consultar periódicos, artigos, páginas de Internet. Nada. Nenhuma pista.
Não se atrevia a mostrar seus descobrimentos aos colegas. Isto era muito estranho.
Muito… Feiticeiro.
Eu não acredito em bruxas. Não acredito. Não acredito. Não acredito. Acreditava na ciência, pura e simples. Lógica. Nada mais.
A luz do entardecer penetrava no improvisado laboratório do segundo piso da casa. Papéis, gráficos e notas se pulverizavam sobre uma larga mesa branca, junto com provetas, seringas de injeção, tubos de ensaio e placas de cristal. No fresco chão de ladrilhos, Misha dormia de maneira irregular.
Maggie ficou olhando pela janela. Os turistas passeavam à borda do golfo. Os coqueiros se elevavam frente a sua casa da praia sussurrando no vento. O ardente céu azul prometia outra aprazível tarde no sul da Florida.
A inveja a encheu momentaneamente. Sem ar condicionado, abriu a janela para inalar a brisa. Desejava estar tão despreocupada como os turistas, não preocupar-se de nada mais que destroçar seus chinelos na água salgada.
Não podia inibir-se. O que estivesse matando Misha podia matar outros animais, possivelmente até humanos. Maggie suspeitava que tinha descoberto uma nova e espantosa enfermidade. Não podia arriscar-se a passar-lhe a outros, nem entregar a Misha para que se convertesse em um experimento de laboratório para outros. Assim tinha em quarentena a seu mascote na casa da praia, decidida a encontrar respostas por si mesma.
Já bastava de sonhos. Retornaria ao trabalho.
Tirou o porta-mostras do microscópio. Maggie pegou uma gota de sangue obtido de um saudável Shih tzu ( O Shih Tzu é um cão pequeno, muito atrativo por seu comprido corto) para praticar. Usando uma pipeta Beral, acrescentou o sangue a uma amostra fresca que continha as células infectadas da Misha. Maggie cobriu o porta-mostras, colocando-o sob o microscópio.
Maggie se aproximou de um gravador, apertando o botão de gravar enquanto se inclinava outra vez para ver no microscópio.
—O tumor está na submucosa, infiltrando-se na própria lâmina. A morfologia celular não concorda com nenhum dos tumores conhecidos. Os núcleos são indistinguíveis. Não há nenhuma aparência nem remotamente conhecida como no estroma fibrovascular.
O instrumental soou com estrépito quando Maggie o deixou cair sobre a mesa. A fita girava, continuando em silencio para gravar suas próximas palavras.
—OH meu deus!
Misha levantou a cabeça, choramingando ante o forte arrebatamento. Maggie deu um passo atrás. Se esfregou os olhos outra vez. OH Deus. Isto não podia ser… certamente estava cansada e via coisas.
O temor saiu à superfície quando se obrigou a examinar o grupo de células. Ancorando as mãos sobre a mesa, estudou a amostra.
As enegrecidas células que tinham sido separadas, igual a gotas individuais de tinta, enlaçaram-se como se fossem atraídos por ímãs invisíveis. Rodearam a solitária gota de sangue sã, encurralando-a. Então a absorveu, sugando-a em sua totalidade. E cresceu. Pulverizaram-se até formar uma única e gigante célula. Sob seu atônito olhar, a única célula se dividiu. E outra vez.
Clonando-se a si mesmo.
As células tiradas do tumor do estômago da Misha estavam crescendo exponencialmente e formando um novo organismo. Crescendo, expandindo-se para as bordas do porta-mostras.
Isto era impossível. Não estava acontecendo. Células somáticas, inclusive aquelas mudadas por o câncer, não podiam fazer isso. E ainda assim ali estavam, dividindo-se e multiplicando-se e crescendo para formar… tecido vivo.
Com um soluço de desgosto, pegou o porta-mostras, jogando-o dentro de uma cubeta de álcool. Maggie se deteve, observando a agora clara separação da massa negra afundando-se na pia.
Um agudo zumbido a fez gritar alarmada. Contente, Maggie soltou um tremente suspiro. Cobriu a cubeta com uma toalha e esboçou um tremente sorriso. Suas sapatilhas esportivas sacudiram a escada quando se dirigiu para a porta.
Seria melhor que não fosse Mark. Tinha estado de acordo em encarregar-se de todos os casos enquanto ela se beneficiava de seis horas semanais livres. Mas tinha telefonado, choramingando sobre o trabalho amontoado.
Mark nunca deveria saber quão doente estava Misha ou insistiria em levar seu mascote e pô-la em quarentena no escritório. Tinha que encontrar as respostas por si mesma. Misha não se converteria em um experimento vivo, ferroado e perfurado por fascinados colegas.
Maggie jogou uma olhada pela mira da porta. Uma pequena menina loira com uns calças curtas rosas sujeitava a asa de um pequeno vagão vermelho. O transporte continha uma jaula de aço em que havia um coelho.
Você é Tammy Whittaker, de sete anos, da porta contigua. A mãe dela era uma suscetível e arrumada mulher que insistia em chamar Maggie "Senhorita Sinclair" em lugar de "doutora". As veterinárias não eram doutoras de verdade, havia dito ela, dizendo que não poderia entender por que alguém com inclinação médica escolheria tratar a imundos animais.
Deixando cair a cortina, Maggie sentiu um batimento do coração de alarme. Só queria que a deixassem sozinha para refletir sobre seu último achado.
O trilhado zumbido soou outra vez. Com um suspiro, abriu a porta. Tammy Whittaker olhou Maggie. A esperança batia as asas em seus enormes olhos marrons.
—Olá, Dra. Sinclair. Este é Herman, meu coelho.
— Querida, estou terrivelmente ocupada…
O rosto de Tammy se contraiu. Sua boca tremeu precariamente.
— Herman está ferido. Por favor, Dra. Sinclair, Pode curá-lo? Tenho dez dólares que tirei de meu pagamento. Minha mãe diz que não gastará dinheiro em um estúpido coelho.
A triste expressão da menina estremeceu o coração do Maggie. Saiu fora e recolheu a caixa que continha o coelho de cor chocolate.
—Vamos, Tammy, vamos ver o que há com Herman.
Dentro do espaçoso salão, Maggie deixou a caixa no chão. Tirou a larga tampa francesa da caixa e o colocou no chão. Herman saltou fracamente. Sua pata traseira esquerda pendurava frouxamente.
Provavelmente, quebrada.
Uma terrível suspeita cresceu em Maggie.
—Tammy, como aconteceu isto?
Ela apartou o olhar.
— Algumas vezes esqueço de fechar a porta. Ele saiu. Mamãe disse a pata ficou presa.
Maggie mordeu o lábio. A parte de sua própria cadela, não tinha examinado um animal em uns dois meses. Causando assim estranhas imagens passassem como um raio através de sua mente, como se pudesse imaginar a fonte da ferida do animal. Sentir o que lhe aconteceu e a dor.
Só era uma imaginação hiperativa. Era só seu grande desejo de curá-lo que causava nela a imaginação da fonte da ferida.
Com toda a sensitiva habilidade, tornou-se mais forte nos passados seis meses. Maggie havia resolvido o problema deixando os exames iniciais para Mark, em troca de fazer a papelada da clínica.
—Acredito que a sua mãe não gosta dos animais.
Soprando, Tammy explicou que seu amigo Bobby lhe tinha dado Herman quando sua família mudou-se.
—Era eu ou Sally. Sally tem uma grande grama com uma perto, mas tem um hámster. Mamãe disse que não o queria, mas papai me disse que podia conservá-lo se Herman ficasse na jaula. Por favor, Pode fazer que melhore? Está ferido.
Maggie acariciou ao tremulo coelho. As imagens passaram através de sua mente igual a as capturas de um filme: Temor, dor. A porta da caixa aberta. Liberdade. Apetitosos aromas. Comida perto. Branca grama. Impulsiono de saltar. Humano alto. Gritos. Patada. Ferida.
Medo. Ocultar-se.
A mãe de Tammy o tinha chutado com ravia pelos excrementos sobre seu imaculado tapete de lã branca.
Mordendo um sobressaltado grito, apartou a mão de um puxão. Maggie se voltou, ocultando sua reação de Tammy.
—Herman vai ficar bem? —Perguntou Tammy.
—Ficará bem. Preciso pegar os medicamentos para curá-lo.
Maggie passou fatigada uma mão pelo cabelo enquanto subia as escadas para seu escritório. Dirigiu-se a um armário branco fechado e passou através dele tirando os utensílios necessários.
A estranha habilidade para adivinhar a fonte da dor do animal não tinha desaparecido. Havia se tornado mais forte. Não. Não havia sentido a dor do animal, nem tinha visto o que aconteceu. Além disso, Iona Whittater era tediosa, mas cruel?… Ridículo. Hermman provavelmente quebrou a pata sozinho. Caiu rodando pelas escadas, perguntou uma voz masculina.
Maggie ofegou, atirando quase uma caixa de ataduras. Primeiro alucinações, agora vozes?
Definitivamente, dormia muito pouco.
Ciência, não especulação. Mitose das células. Formou imagens de células, dividindo-se, uma nova vida que crescia. Sua mente processou a informação à mão. Coelho, pata quebrada causada provavelmente por uma mulher zangada com um tapete danificado. Sim, Iona Whittaker podia ser cruel. As pessoas o eram.
Eficiente, amontoou os fornecimentos médicos de urgência sobre uma bandeja. Tabuleta, ataduras, esparadrapo, medicamentos, seringa de injeção, agulha, medicação, bloco de papel de receitas. Escada abaixo, injetou em Herman um suave sedativo, fazendo a Tammy perguntas a respeito da escola para apartar as preocupações da menina. Muito brandamente, enfaixou a pata quebrada do coelho. Maggie pôs de volta Herman em sua caixa. Inalou a essência do frescor do barbeado e deu ao coelho um alentador tapinha.
—É de uma preciosa cor chocolate — murmurou Maggie.
Tammy se iluminou.
—Herman é igual a um coelho de páscoa.
Coelho de Páscoa. Delicioso, morder um delicioso coelho de chocolate. Coelho. Fresco. Saboroso. Carne crua e sangrenta. Jantar. Energia.
Atônita, analisou seus pensamentos. De onde tinha vindo aquilo? Em um minuto, sonhava com o delicioso açúcar, ao seguinte, salivava por carne.
—Darei-te algumas pílulas. —Escreveu as instruções no cartão. Herman. Coelho ferido.
Um doce coelhinho.
Presa. A emoção do assassinato, ranger de ossos, afundar as presas na carne, fresca e deliciosa carne…
Maggie apartou esses famintos pensamentos. Dando a Tammy instruções de como administrar a medicação, sorriu.
—Herman está muito bem cuidado. Tem um bom tono muscular, —anotou ela, tentando não pensar em carne. Boa carne, nada dura, apenas o justo. Enlaçada com suculenta gordura…
Maggie se levantou precipitadamente, agarrou a jaula. O suor perolava sua fronte. Estou ficando louca. Primeiro senti imagens e dor, depois ouvia vozes, e agora, penso em coelhos mascote como jantar? Ante a porta, Maggie empurrou gentilmente os dez dólares que lhe oferecia Tammy.
—Em vez de me pagar, necessito que me faça um favor. Herman parece um pouco impossibilitado em sua jaula. acredito que adoraria uma agradável e enorme grama. por que não o dá a Sally? Pode visitá-lo, e isso fará feliz a sua mama. —E evitaria que essa puta o machucasse outra vez.
Os lábios de Tammy se curvaram, então baixou o olhar ao Herman.
— De acordo, Dra. Sinclair. Suponho que é justo compartilhá-lo.
— Sim, é.
Colocando a jaula sobre seu pequeno vagão vermelho, Tammy se voltou. Sua fronte enrugada.
—Está você bem, Dra. Sinclair? Parece estranha.
Claro que sim. —Estou bem. Vá para casa, Sally.
Maggie se despediu com a mão, fechou a porta fugindo então escada acima para tentar dormir antes que imaginasse algo mais.
Caiu dormido em sua cama tamanho Queen escada acima, sonhando com um quente fôlego contra a nuca do pescoço, duros músculos tomando-a rapidamente.
Brancos dentes arranhando eroticamente sua pele, seguido de uma comprida e lenta lambida. A umidade se instalou entre suas pernas. Ela se agitou. Maggie gemeu quando duas enormes mãos, polvilhadas no dorso por pêlo escuro, deslizaram-se sobre suas trementes coxas. Olhos escuros observando a úmida carne feminina.
Você quer minha língua. Aí. Sua vagina se apertou, doendo-se. Vazia. Necessitada. Calor. Súplicas.
O que quer?
A ti. Dentro de mim. Por favor, me encha. Para sempre.
Darei-te tudo o que queira. E mais. Minha Maggie. Despertou de repente, aferrando o lençol. O suor umedecia suas calcinhas, manchando sua camiseta violeta de dormir. Tinha estado dentro dela, outra vez. Seu amante de sonho.
Sua estremecedora presença, igual à lenta carícia da mão de um homem sobre a pele nua de uma mulher. Tenro como a carícia de um amante, bordeada de desejo. Exigente.
Quente. Largos ombros, duros músculos, a barba abrasando a suave pele de sua garganta quando a beijava descendo por seu corpo.
Maggie se levantou sobre suas cambaleantes pernas. Passou-se uma mão através dos cachos.
Duas horas de sonho não lhe tinham dado descanso. Tinha estado atormentada com nervosos e eróticos sonhos, deixando-a inquieta e ofegante.
O sol do entardecer se filtrava através dos cristais das janelas quando desceu as escadas. Maggie se dirigiu à cozinha adjacente. Misha jazia sobre o fresco chão. Com um falso e alegre sorriso que não sentia, deteve-se agachando-se junto à cadela.
—Ei, aqui, Misha, pequena. Gosta de um pouco de jantar?
Uma cauda marrom golpeou loucamente contra o chão. A esperança se elevou, alimentada por desespero. Da geladeira, Maggie tirou os fígados de frango. Preparou-os na cozinha elétrica, tagarelando todo o tempo, enchendo o vazio espaço com palavras que a cadela não podia entender, mas que a apaziguavam.
Maggie depositou o prato no chão. Misha o cheirou, lambendo uma parte. A esperança cresceu.
Afundando-se quando Misha se apartou.
Não tinha fome. Maggie, associou-o com o processo agonizante, não podia negar o que seu coração e sua mente sabiam. Misha a olhou com uns doloridos olhos castanhos como desculpando-se.
Maggie levou o fígado à geladeira.
Deu-lhe um tapinha à cabeça de seu amiga.
—Está bem, pequena, tampouco eu nunca gostei do fígado. Fede.
A larga cauda marrom golpeou fracamente contra o chão ladrilhado. Misha se elevou, lhe lambendo a cara.
Lutando com as lágrimas, Maggie lavou os poucos pratos na pia. A rotina afogava a surda dor em seu peito, lhe permitindo fingir que tudo era normal.
O sol começou a descer no horizonte, voltando o brilhante céu azul em chamas vermelhas e laranjas. Maggie foi abrir o enorme cristal de trilho. Cálidas correntes de ar entraram no interior, com aroma de salitre. Ficou observando a extensão da branca areia açucarada diretamente frente a ela, o azulado golfo a suas costas.
As risadas se elevavam do Bar Tiki praia abaixo. Turistas e nativos reunidos ali para beber nas tradicionais postas de sol, e observando a espetacular vista do ocaso afundando-se na água. Maggie não gostava de multidões e socializar, preferindo ficar sozinha. Além disso, não podia esbanjar o tempo que faltava a Misha.
Estar sozinha não lhe tinha preocupado aquelas últimas semanas. Necessitava privacidade. Mas recentemente, quando a noite cobria o céu, e a lua se elevava no alto, inquietava-se com um desejo. Correr selvagem e em liberdade, ficou olhando as areias açucaradas em total desolação. Uma raivosa inquietação a atendeu. Este momento da noite parecia dela, a escuridão descendendo, o vento soprando.
As frondosas palmeiras sussurravam em uma secreta comunicação umas com as outras. As roucas risadas do Bar Tiki voavam sobre as areias. Isso soava divertido. Estou tão malditamente sozinha.
Você não está sozinha.
Maggie girou a cabeça a seu redor. O vento lhe aparou o cabelo enquanto procurava no grupo de pessoas no crepúsculo. Nada exceto vento e risadas distantes. Mas havia alguém aqui.
—Faça uma pausa, Maggie —sussurrou ela. Muito tempo sozinha, então os sonhos eróticos, agitavam sua imaginação.
Mas Podia lhe cheirar? Pinheiro, terra, uma agradável fragrância selvagem que tomava conta dela de uma forma nostálgica.
Estou aqui, assegurou a mesma e profunda voz em sua cabeça. Calma, nada ameaçador.
Maggie abraçou a si mesma. Possivelmente estou louca.
Só aqueles de nós que desejamos a volta do poder absoluto, nos voltando loucos, nos fazendo perder nossas almas.
Uma sutil nota de advertência atravessando-o. Ela se estremeceu.
Sente o cheiro? Tome cuidado.
Isso era muito estranho. Maggie ia cortar com seu amigo imaginário pensando na mitose das células. Ela se deteve. Os talões do vento trouxeram um tênue mas desagradável aroma.
Como algas podres mescladas com águas residuais. Exceto que não havia nada natural nesse fedor. Maggie acariciou o grosso bracelete turquesa em seu pulso.
Mantendo o controle, decidiu ser indulgente com essa voz, um fragmento esquecido de seu sonho. Uma forte presença masculina, querendo protegê-la.
Usa turquesa. Bom.
A turquesa protege do demônio das algas?
Não. Mas te protege de um diabólico licantropo. Por um tempo. Possivelmente deveria levar também prata. Protege dos demônios de algas e licantropos.
Prata? Isso não os detém. Já tentei.
Um calafrio de temor a atravessou igual a um cubo de água fria. Lhe arrepiou o pêlo da nuca saudando o ar.
Não tem nada que temer. Já estou aqui. Mas não tire o bracelete.
A tranqüila voz masculina acalmou seus alterados nervos. Maggie esfregou os braços, raciocinando que seu monólogo interno era um alivio para o estresse.
Superman salva o dia. E a turquesa é a kriptonita para me proteger do Grande e Mau… Lobo.
Ridículo. Lobos na Florida? Só em bares. Sua imaginação se transbordava, resultado de estar só tanto tempo.
Precisava de companhia. O barulho da risada do Bar Tiki atirou dela igual à canção de uma sereia. Maggie olhou à sonolenta cadela no chão.
— Vou sair um momento, Misha. Só uma bebida e pôr-do-sol. Fique aqui e guarde a casa. E se aparecer algum ladrão, tenta não lambê-los até morrer, certo?
A cadela levantou sua cabeça marrom, então voltou a deixá-la cair ao chão. Maggie ficou com um nó na garganta. Fechou os trilhos, foi ao banheiro e escovou os cabelos. Sombras púrpura delineavam as profundas olheras sob seus olhos. Pensou nos cosméticos, decidindo que não ia se casar hoje. Deu um rápido olhar ao bracelete turquesa, bufou.
Não mais vozes imaginárias. Desenganchando o fecho, deixou-o cair no mostrador com um ruído. Por um momento, um grave suspiro alagou sua mente.
Ridículo. Depois de trocar-se em umas calças curtas de linho, uma blusa sem mangas turquesa e chinelos, foi à praia.
A areia se afundava em seus dedos. Maggie tirou as sandálias, meneando os dedos com prazer. Com as sandálias balançando-se em uma mão, caminhou para a debulhada risada e o tinido de copos.
Minutos depois, estava diante do abrigo com teto de palha que era o bar. Mulheres bonitas em ajustadas calças curtas e camisetas se agrupavam em torno do balcão barra igual a abelhas ao redor de um pote de mel. Os homens mais jovens embelezados com camisas tropicais e calças curtas de cor cáqui perambulavam ao redor delas. Alguns tipos resmungavam baixando a cerveja e gritavam piadas acima de todo barulho. Só reconheceu uma pessoa. John, um cliente que estava ocupado em uma séria conversação com um homem mais alto.
As dúvidas a assaltaram. O que estava fazendo aqui? Ela não bebia. Mas alguma coisa a empurrava para diante. Raciocinando que muitos dias solitários e noites isoladas em sua dor causavam esse desejo, optou pela companhia. Maggie se propôs resolvê-lo, colocou as sandálias outra vez e se aproximou.
O bar estava cheio, as pessoas se sentavam em bancos de madeira, fumando, falando, rindo. Maggie se dirigiu sem pressas para o balcão com mais confiança do que sentia. Havia estado tão só todo este tempo que tinha esquecido como pedir uma bebida?
Quando lhe jogou o olho. O coração do Maggie pulsou com um golpe irregular. Ela se deteve.
Uma camiseta negra se esticava sobre seus largos e musculosos ombros. Descoloridas calças jeans abraçavam uns finos quadris, rodeando umas musculosas coxas do tamanho do tronco das árvores. A escura barba escurecia sua tensa mandíbula. Tinha chamativas feições, um nariz forte, uma boca sensual e sedosas sobrancelhas escuras. Uma mecha de cabelo lhe caía sobre a frente, caindo além de seu pescoço. Mas seus olhos, OH, chamaram-lhe a atenção. Expressivos e castanho escuro, expressivos e profundos. Observava a cena do bar um pouco triste e se mantinha à margem.
Como se ele, de igual forma, não pertencesse realmente ali.
Os bíceps se avultaram quando levantou sua cerveja e bebeu. Fascinada, observou como trabalhavam os músculos de sua garganta. Ele limpou a boca com o dorso da mão.
Seu olhar vagou ao redor, capturando o dela. Por um momento Maggie se esqueceu de respirar. A mão voou a sua garganta. Um despertar, agudo e profundo, alagou-a. Empreendendo um profundo batimento do coração entre suas pernas.
Maggie apartou o olhar, retomando seu caminho para o balcão. Tentando deslizar-se entre os corpos que abarrotavam o bar, para passar entre eles. Por que diabos estava ali de todos os modos? Pronta para voar à segurança de sua casa e lar, começou a voltar-se quando a interrompeu uma profunda voz masculina.
— Aqui tem lugar.
Alto, escuro e magnífico, gesticulou para o assento vazio a seu lado. Ela vacilou.
—Toma-o, ou o pôr-do-sol, irá-se.
Sua boca, cinzelada e cheia, abriu-se em um encantador meio sorriso. Maggie compôs um sorriso e se uniu a ele. Que diabos. Precisava disso.
—Toma algo? —Perguntou ele. Sua voz era profunda, suave, a queimadura do uísque descendo por uma seca garganta.
Não queria que estranhos lhe pagassem bebidas. O homem arqueou uma sedosa sobrancelha escura.
—Você paga. Eu chamarei o garçom. Feito?
Bastante justo.
—Pinot noir.
—Boa escolha — murmurou ele. O estranho fez um sinal. Um garçom flutuou como se fosse atraído por cordas invisíveis e um minuto depois, um copo redondo de líquido ambarino se posou diante de Maggie.
O estranho elevou seu copo.
—Aqui está a beleza da natureza — murmurou ele.
Eles chocaram as taças e beberam. Maggie saboreou o rico sabor em sua língua. Um desconforto a envolveu. Fazia muito tempo que tinha conversado com um completo estranho que não fosse outra coisa de clientes. E nenhum tão magnífico. Lutou por fazer uma conversação convencional. A mitose das células não serviria.
—Por norma geral eu não gosto das multidões de estranhos, mas a situação em minha casa era muito aborrecida. Quantas vezes pode ver as histórias de furacões no Canal do Tempo sem querer se afogar na banheira? — disse o homem.
Maggie lhe dedicou um vago sorriso.
—Eu tentei me afogar na banheira uma vez depois de ver uma, mas acabava de voltar do salão e tinha o cabelo feito.
Ele riu.
— Há bom dia para o cabelo.
Maggie chocou os copos. Tomou outro breve trago. Aqui vamos de novo, a que te dedica, vem aqui freqüentemente…
— Os banhos estão valorizados. Muita água, a menos que a compartilhe.
Maggie se permitiu outro olhar a seu firme queixo e à deliciosa barba que o polvilhava. Sua boca era cheia e sensual. O mais surpreendente eram os olhos, marrom escuro com espirais de caramelo. Excitantes. Hipnóticos.
Inclinou seu copo para ela.
— Nicolas Keenan, de passagem para o Novo o México.
— Maggie Sinclair, de passagem para a praia.
Estendeu-lhe a mão para apertá-la adiantando-se, Como tomaria? Mas ele pegou sua mão em vez disso. Sua palma era cálida, um pouco calosa e tragou as dela.
Um disparo de eletricidade a atravessou, pura corrente que crepitava. Nunca havia sentido tal profunda e primitiva emoção. Os olhos escuros se encontraram com os dela quando Nicolas levou sua mão à boca.
Ele deslizou os lábios contra seus nódulos. Um breve mas intoxicante beijo. Maggie lutou contra uma onda de repentina luxúria. Seu corpo formigava agradavelmente. Deixou sua mão descansando na sua, então a soltou. Em silêncio, ela sorveu mais vinho. Veio extremamente suave, fresco e frutado, de um muito bom buquê, com uma acidez que o faz bastante vivo e persistente ao paladar. Por um completo minuto, sentiu como se estivessem sozinhos, dois estranhos compartilhando espaço e mais.
— Está passando as férias aqui?
Nicolas esboçou um lento sorriso.
— Vim para ver uma amiga. Não sabia que eu vinha — os dentes brancos reluziram — É uma surpresa.
Garota com sorte, pensou Maggie com uma estranha pontada de ciúmes.
— Só uma amiga?
Seu firme olhar acendeu o seu.
— E seremos mais que amigos antes de que termine a noite. Sou um homem muito decidido.
— Sempre obtém o que quer?
— Sempre — insinuou brandamente.
Maggie desejou que alguém a quisesse. Apartou-se os revoltosos cachos.
— Sou geralmente persistente no que eu quero, mas algumas coisas estão além de meu controle. — Levantou os ombros em um descuidado encolhimento — Mas assim é a vida.
— Algumas vezes o que pensamos que está além de nosso controle não está. Só necessitamos um pouco de ajuda — observou ele.
Tinha o estranho pressentimento de que se conheceram antes. Destino. Maggie sorveu mais vinho.
— Precioso pôr-do-sol.
Nicolas assentiu.
— Há muito poder e energia sobre esta terra. Só agora é que a maioria das pessoas começa a entender seu mundo e a viver em harmonia com os elementos.
— Parece igual a um desses estirados condutores de híbridos que têm painéis revestidos e cozinham com suas próprias emissões de metano.
Horrorizada, Maggie se mordeu o lábio. Mas Nicolas riu.
— Conduzo um caminhão — respondeu ele, piscando seus quentes olhos marrons — Tenho um rancho no norte de Novo México e os híbridos não podem levar carregamentos de feno.
Tenho painéis revestidos no telhado, só porque odeio pagar por eletricidade. E nunca fico embriagado. Jamais.
Deu uma piscada. Maggie riu de verdade pela primeira vez em semanas.
—Mas janto a agradável luz das velas…quando encontro uma mulher especial.
A tensão se aliviou substituída por um pouco mais intenso e muito mais sexual. O vinho lhe ajudou.
— Aposto que seduz inclusive à luz das velas. Para economizar energia e ser romântico ao mesmo tempo.
— Não a todas as mulheres. Mas há uma especial que definitivamente a seduziria à luz de velas — disse brandamente.
Atrevidamente, ela baixou sua taça de vinho, encontrando seu ardente olhar.
—E como o faria? Seduzi-la? E o que acontece se ela não quer ser seduzida? — desafiou-o.
— Isso não importaria. Porque quando ponho os olhos sobre algo que quero, posso ser bastante implacável. Perseguiria-a interminavelmente, até que se rendesse para mim.
Ela viu formarem-se redemoinhos nas profundidade de seus olhos escuros sua determinação, a implacável energia do caçador perseguindo o que quer. Um pequeno tremor serpenteou descendo por sua coluna.
— E uma vez que a tenha? Por que deveria ela render-se?
— Diria-lhe que é a única mulher no mundo para mim, alguém especial enviada só para mim.
Que morreria a menos que lhe fizesse o amor, e quão perfeita é, quão absolutamente adorável.
Faria sair um sorriso em sua cara triste, beijaria-a apartando seus temores e lhe sussurraria para que não houvesse nada que temer. Tomaria e cuidaria muito bem dela — murmurou ele.
Este homem soava tão familiar. Devia ser o álcool lhe empanando o cérebro. Maggie umedeceu os lábios, aparando o cabelo. Flertar não fazia mal. Quando foi a última vez que tinha flertado?
— Como de bom? — Desafiou Maggie — Por que teria que ser bom. Muito, muito bom.
Ele se inclinou aproximando-se, até que ela pôde contar os cabelos negros que escureciam seu queixo. Sua voz de fumaça e uísque diminuiu até um forte murmúrio.
—Acredite. Seria bom. Muito, muito bom.
O calor a atravessou. Maggie se afundou em seu olhar líquido, o escuro vórtice atraindo-a. Ele olhava-a como se fosse essa mulher, e queria amá-la por completo até que soluçasse por misericórdia.
Terminou seu vinho, centrando-se no dourado sol carmesim tragado pelo horizonte.
— É tão formoso. Tão correto. Adoro este momento da noite. O crepúsculo.
— O fio da noite cheio com promessas — seus olhos se entrecerraram ao contemplá-lo — Há uma visão na natureza que encontro mais comovedor que um espetacular pôr-do-sol.
— Qual é?
— Uma lua cheia.
Ela assentiu.
— Sim, uma lua cheia pode ser bastante inspiradora, não é assim?
Um suave sorriso retumbou do profundo de seu peito.
— Sim — disse ele, observando-a intensamente — Verdadeiramente pode ser bastante…inspiradora.
Seu delicado aroma impulsionou Nicolas sem motivo.
A primitiva luxúria se abriu através dele. Sua essência flutuou sobre sua língua. Fêmea, almíscar, despertar. Excitante. Nicolas levantou a garrafa marrom de cerveja e tomou um comprido trago.
O líquido gelado deslizou descendo por sua garganta, mas não lhe agradava.
O licor não apagava sua sede. Só Maggie o faria. Doce, deliciosa Maggie, seu sabor flutuava em seus sentidos.
Tinha ouvido da implacável urgência do emparelhamento quando os licantropos encontravam a sua Draica.
— Quando a encontrar, tome cuidado. Captar sua essência te voltará completamente animal.
Esquecerá tudo. Só quererá lhe arrancar as roupas e montá-la —havia dito um dos machos recém emparelhados da manada.
Nicolas sempre se mofou ante tal perda de controle. Como o feroz guerreiro da manada, provou a si mesmo sua resistência. Todo esse tempo tinha levado a conta de as mulheres com as que se deitava depois da caça, recuperando a selvagem energia que havia perdido com os Morphs, nunca tinha perdido o controle.
Agora sabia que os outros machos não tinham exagerado. Tinha esperado que sua Draica fosse atrativa. A química forte, mas não assim tão explosiva. Não como se todo mundo se houvesse apagado e os raios do sol brilhassem exclusivamente para ela.
Um halo de sedosos cachos avermelhados emolduravam sua cara em forma de coração, um atrevido nariz e rosadas bochechas. Seus grandes e expressivos olhos eram do azul de um lago em calma. Sua boca.
Ah, sua boca! cheia, suave e convidativa.
Maggie prodigalizou um olhar sobre ele. Sorrindo. Inclinou a cabeça e se molhou os lábios. O desejo obscurecia seus olhos.
OH, sim. Ela também o estava sentindo.
O corpo do Nicolas se apertou agradavelmente quando imaginou as coisas que poderia lhe ensinar a fazer com essa adorável boca. Antes de que o tivesse imaginado, Maggie levantou o queixo. Sua figura era um pouco magra, suas bochechas ligeiramente afundadas. A teria engordado, apanhando-a pessoalmente em seu jogo. Seu olhar voou a seus cheios peitos. Imaginou cobrindo-os com suas ansiosas mãos, comprovando seu grande peso. Desfrutando de seus pequenos gemidos de excitação quando acariciasse brandamente seus perolados mamilos com o polegar. Então baixaria a cabeça para prová-la, giraria a língua sobre um. OH, sim.
Maggie franziu o cenho. Duas linhas, emolduravam suas feições, formando-se entre suas sedosas sobrancelhas marrons. Nicolas estava completamente enfeitiçado.
— Está bem voltar — murmurou sua fantasia sexual.
Ela abandonou a praia, quase derramando seu vinho. Bebendo com luxúria, ele olhou as brancas calças curtas de linho abraçando as tentadoras duas metades de seu arredondado traseiro. Suas mãos formigavam por apertá-lo. Imaginou sentindo a suave pele de sua cheia bunda enquanto montava-a por trás e entrava nela na tradicional posição de emparelhamento.
Não a primeira vez. O sexo licantropo podia ser bastante rude, muito intenso e passional para sua primeira vez. Enroscar-se através do feminino despertar de Maggie era a distintiva impressão de inocência. Sexy. Sim. Excitante. OH, sim. Mas experimentada. De maneira nenhuma.
Apostaria um filé cru que ela era virgem. Imaginava iniciando-a brandamente a fazer o amor. Lentas, sensuais carícias. Possivelmente um azeite de massagem quente, seus dedos deleitando-se sobre sua sedosa pele, tenra e acariciante, aprofundando em seus secretos buracos e fazendo-a retorcer-se e suplicar. Lento para ela a primeira vez, com muitos orgasmos para compensar a tomada de sua virgindade. Então finalmente, iniciaria-a na paixão e se enredariam juntos no quente e raivoso sexo animal. Se pôs duro como o granito, pensando nisso.
O sangue borbulhava quente em suas veias. Nicolas faminto observava Maggie caminhar por volta de dois homens.
Que demônios?
Com os punhos fechados, mediam-se o um ao outro. Um, totalmente encrespado como as pontas de seu cabelo rapado, presumia de uns músculos dignos de um lutador veterano da WWE. O outro era magro, mas alto e fibroso. Pareciam preparados para brigar. Iriam brigar! Girou-se para dar-se conta que a multidão se sossegou. Ficaram observando os homens, esperando ação. Centrou-se nos homens que franziam o cenho. E Maggie, sua Maggie, apressava-se quando um deles jogou o punho atrás.
Nicolas saltou do banco. Voltou-se para eles, esticando os músculos enquanto se preparava para defender a sua Draica.
Maggie passou entre o par que grunhia igual a furiosos cães. Posou uma mão sobre cada braço dos homens. Sua melosa voz se modulou em calmantes tons.
— Parem com isto. John, não quer ferir este homem. Seja o que for pode solucioná-lo sem golpes. Não querem se ferir. Me escute. Esteve aqui bastante tempo, acalme-se. Tudo está bem.
A serenidade irradiava dela. O aura pacífica de Maggie extinguia a tensão entre os temperamentais homens igual a um cubo de água sobre um fogo. Os dois se olharam o um ao outro, a tensão se esfumou de seus corpos. Era absurdo, dizia sua expressão. Por que estamos fazendo isto?
Nicolas baixou ao chão para parar-se entre o casal. Eles se relaxaram.
—Ponha a mão em cima dela e te farei pedaços —grunhiu ele.
Sem lhes dar oportunidade de pensar, envolveu firmemente os dedos ao redor do punho de Maggie e a levou a seus assentos. A admiração por sua coragem e valor o encheu.
Profundamente em seu interior ela possuía as qualidades para brigar com os Morphs. Nicolas se voltou a morder a frustração. Antes que nada, devia ensiná-la a fazer a guerra, não a paz.
Melhor ainda, a fazer o amor. Depois a guerra.
— O que está fazendo? — protestou ela.
— Salvando seu doce traseiro.
Guiou-a de volta ao bar, pedindo outro Pinot Noir ao barman. Para ele nada. Não podia arriscar-se a outro sorvo. Não, se tinha que permanecer preparado e proteger-la de espontâneas brigas onde pudesse sair ferida.
O desafio brilhou em seus olhos azul mar, quando voltaram a ocupar seus assentos. O garçom deixo-lhes o vinho.
Nicolas a sujeitou com um olhar de censura.
— Que diabos estava fazendo? Pesam 100 libras mais que você.
Maggie levantou ternamente seu pequeno queixo.
—Eu não gosto da violência. John já esteve preso por meter-se em uma briga. E está bem que você tenha interferido?
— Do mesmo modo que você o tenha feito você — Ou mais. Pensou com gravidade. Não havia maneira no inferno em que lhe permitisse ficar em perigo sem necessidade — Não gostava de ver como lhe golpeavam na cara.
Sua expressão se suavizou.
—E eu não gosto de vê-los brigar. Dar murros não serve a nenhum propósito.
—Servem de um grande propósito quando o punho vai dirigido a sua cara. Um homem tem que fazer o que dever para proteger-se .
Sua adorável boca tremeu.
— Algumas vezes é melhor que um homem dar a volta e se afastar que arriscar-se à violência. Os homens podem morrer em uma briga.
— E estão os que não procuram outra coisa que uma briga. Você não pode ir e separá-los. Por que lhe derrubarão e lhe despedaçarão em pedacinhos enquanto você canta preces de paz e harmonia. O que faria então, Maggie?
Seu olhar se voltou distante.
— Tentaria negociar. Rogar por minha vida, se for necessário. E escapar. Correr — sua voz decaiu — Algo…exceto brigar.
—Não há compromisso. Não há negociações. Corre e correrão rapidamente detrás de você.
Roga e lhe ignorarão. Deve Matar. Ou morrer. As regras da selva, Maggie.
— Isto não é a selva.
— Tudo é uma selva. Só a fachada é diferente.
— Nicolas depositou as mãos sobre o balcão, observando a multidão. O rosado e dourado sol afundando-se no golfo. Sombras escuras pulverizando-se sobre a areia. Na praia, os homens jogavam voleibol rindo quando deixaram o jogo.
Nicolas estudou Maggie. O instinto lhe impulsionava a olhar em seu interior. Fazer uma idéia de suas emoções. Não. Não a invadiria.
Sua mão tremia quando tomou o copo de vinho. O líquido ambarino salpicou sobre o bordo.
As gotas salpicaram o mostrador, molhadas, escuras como o sangue. Nicolas lutou contra uma repentina premonição. Tomou seu pulso amavelmente, maravilhando-se ante o calor que crepitou entre eles.
— Está bem, Maggie?
Com expressão distante, reservada, ela engoliu o vinho. Nicolas se manteve imóvel.
Finalmente, ela respirou profundamente. Sua voz se quebrou.
— Não deveria haver…ter vindo aqui. Sabia que isto era um engano. Só queria…me divertir um pouco. Um pouco de companhia. Estive trabalhando tanto.
Não invadiu seus pensamentos. Em vez disso Nicolas leu sua expressão. Dizia que queria retirar-se à segurança de suas quatro paredes, onde não tinha que topar-se com brigas.
— A que te dedica? — ele manteve seu tom casual. Por dentro, doía-se ante seu selvagem olhar, igual a de um animal encurralado.
O entusiasmo aumentou as escuras sombras de seus olhos. Ela começou a falar a respeito de seu trabalho como veterinária.
Nicolas lançou uma pergunta depois de outra. Obrigando-a a falar, distraindo-a da idéia de ir. Descobriu que ela tinha sido criada por um par de indiferentes pais adotivos depois de que sua mãe e seu pai morreram quando tinha doze anos. Só depois de ter completo os quatorze tinha tomado finalmente carinho a seus pais adotivos. Seu pai de adoção era médico e financiou os estudos de Maggie.
— Pulei matérias e me graduei no instituto aos dezesseis e fui à universidade. Meu pai adotivo queria que me especializasse em medicina e eu estava desesperada por lhe agradar porque tinha sido bastante bom comigo. Era quase… igual a ter um pai de verdade.
Seu ligeiro suspiro o atravessou igual a um dardo.
— Pensava que ambos me queriam como se fosse sua filha natural, até meu segundo ano de escola quando soube que queria me converter em veterinária. Meu pai adotivo ameaçou deixar de pagar meus estudos se trocasse de especialidade. Os médicos de animais não eram tão hábeis como os médicos de verdade.
O olhar do Maggie caiu sobre o mostrador.
— Não podia me obrigar a cumprir seus desejos assim cortaram todo contato comigo. Isso foi um desafio, mas tinha alguns amigos e trabalhei na escola tirando sangue.
Nicolas se endureceu contra a repentina urgência de tomar sua mão e lhe dar um reconfortante abraço.
—Seu pai adotivo estava errado. Requer uma habilidade especial e empatia para tratar aos animais. Os animais não falam e não podem comunicar-se conosco com palavras assim está errado. — Dedicou-lhe um irônico sorriso — Mas em muitas maneiras, são mais fáceis de tratar que as pessoas.
Lhe escapou uma pequena risada.
— Também acredita? Tive que me obrigar a sair para vir aqui. Algumas vezes eu não gosto de estar ao redor de gente, especialmente homens. Podem ser igual a lobos.
Nicolas arqueou uma sobrancelha ao modo de pergunta.
— Você não. Não tem comportamento lupino. Eu gosto de você. Ninguém se preocuparia se um desses homens me tivesse golpeado. É muito amável — escapou a ela.
Um radiante rubor tingiu suas bochechas. Nicolas estava totalmente encantado.
— Estudei os lobos, sabe — confessou ela.
Ele elevou uma sobrancelha marrom.
—OH!
— Como universitária. Minha especialidade era zoologia. Passei um verão no Oeste trabalhando com um programa de conservação de relocalização de lobos. Foi fascinante observá-los trabalhar como uma manada. Um verdadeiro trabalho em equipe. Sabia que na manada, o lobo beta é responsável por assegurar-se que as ordens do macho alfa sejam levadas a cabo?
— Já ouvi algo assim —murmurou ele.
Ela inclinou a cabeça, parecia adorável.
— Estou enjoada. É o vinho. Não deveria ter tomado uma segunda taça.
Tirando um maço de notas de seu bolso, colocou-as sobre o balcão. Maggie se levantou sobre cambaleantes pernas, balançando-se igual a uma palmeira movida pelo vento. Nicolas se levantou, lhe pondo a mão no ombro.
— Levarei-te para casa.
Os cachos castanhos voaram quando ela sacudiu a cabeça.
— Estou bem. Só me cambalearei um pouco praia abaixo.
— Então cambalearei com você. — Agarrou-a pelo cotovelo, estabilizando-a enquanto se cambaleava através da suave areia.
— Além disso, tenho que te manter a salvo do Grande Lobo Mau. — Lhe piscou os olhos Nicolas. Maggie riu. Era um borbulhante sorriso que lhe recordava as cristalinas ondas rompendo contra as rochas.
O vento passou através de seu cabelo. Espessa escuridão, cobrindo a praia de ébano. A amarelada luz das casas frente à praia e elevados edifícios da vizinhança moldavam retangulares piscinas sobre a areia. Uma coberta de estrelas brilhava igual a tênues jóias. Um veleiro, cujo mastro se recortava contra o azul do mar, navegando de caminho para a baía.
Guiou-a rodeando um esquecido cubo de praia com o que ameaçava tropeçar. Maggie havia ignorado sua visão noturna ou era o fato de que nunca tinha experimentado a sutil mudança de seus sentidos de lobo?
A areia fazia pequenos redemoinhos enquanto caminhavam. Ele os dirigiu através de um pequeno grupo de palmeiras. Maggie se deteve ante uma das duas ordenadas esbranquiçadas casas.
— Obrigado por me acompanhar até minha casa.
Ela se inclinou contra um esbranquiçado tronco de palmeira, enlaçando as mãos atrás dela.
Claramente não tinha pressa em dizer adeus, lhe deixando na escuridão. Sua visão noturna mostrou interessantes chama em seus profundos olhos azuis. Não queria que a tarde terminasse. Nem tampouco ele.
—Foi um prazer, Dra. Maggie. — Riscou um lento arco. Lhe dedicou uma estranha piscada. Ela riu outra vez, detendo-se, procurando sua cara.
—É estranho mas sinto que nos conhecemos antes de esta noite.
—Possivelmente estamos destinados a estar juntos. —Disse ele brandamente, observando-a.
Nicolas posou uma mão sobre o tronco, por cima de sua cabeça. Inclinando-se só um pouco mais perto. Aproximando-o bastante para beber em seu delicioso aroma. Especiarias. Algo fresco, igual a flores selvagens. E a apertada essência do despertar feminino.
Esse adorável cenho enrugou sua fronte.
— Disse que veio aqui para visitar uma amiga, e que seria mais que uma amiga antes de que acabasse a noite.
— Fiz-o. — Disse brandamente. Nicolas apartou uma sedosa mecha de cabelo de seu rosto, é você, Maggie. Vim aqui para te seduzir.
Ela suspirou ante esses profundos e obscurecidos olhos azuis.
— É muito encantador. É assim com todas as mulheres?
— Só contigo. Só você, Maggie. — Cavou sua bochecha, lhe inclinando a cabeça para encontrar-se com seu penetrante olhar — Você é a única para mim.
Sua luxuriosa boca se abriu.
— É estranho. Realmente sinto como se nos conhecêssemos um ao outro. Como se tivesse que ser assim. Você acredita no destino? Um pessoa, sua outra metade desaparecida, destinada a estar contigo?
Mas que oportunidade tem que isso esteja acontecendo?
— Faço-o. Já sabe o que dizem. Tem que beijar a um lobo para encontrar ao Sr. Perfeito — murmurou ele.
— Acredito que era beijar a um montão de rãs não?
Lhe dedicou uma coquete sorriso.
— Conformaria-te beijando uma rã?
— Não — disse ela, um pouco sem ar. Nicolas observou o pulso que pulsava na base de sua garganta. Rápido. Mais rápido — Me conformaria… te beijando.
Contra a áspera casca do coqueiro, ele posou as mãos de ambos os lados dela, pressionando-a contra a árvore.
— O que quer, Maggie? Isto?
Baixou sua cabeça, e sua boca clamou a dela. Sentia-se elétrico, quente, como se todos seus nervos acabassem centrando-se sobre o contato entre seus lábios. Saboreou o forte sabor do vinho e sua inocência. Sua boca era maleável, suave e sedosa sob a sua. Nicolas cavou a parte de atrás de sua cabeça, aprofundando o beijo. Sua língua se afundou em sua boca entreaberta, imitando o ato sexual. Ela vacilou, alcançando por sua vez, enredando sua língua com a sua. Ele bebeu em sua essência, especiada, saboreando sua vida, todas suas esperanças, sonhos.
Paixões.
Nicolas se sentiu fluindo dentro dela, sua essência interna jorrava igual à água em seu espírito. Primeiro contato… prelúdio ao emparelhamento, quando trocariam poderes mágicos e se converteriam completamente em um. Cada metade perdida se uniria como nos velhos tempos, antes de que o Draicon os dividisse em dois para diminuir gostosamente seus poderes antes de que se convertessem em muito capitalistas. Muito escuros.
Muito…diabólicos.
Nicolas gemeu quando ela se retorceu contra ele, pressionando seus quadris contra os seus.
Maggie. Sua Maggie. Sua mão livre acariciou seu corpo, provando, explorando. Doçura. Especiaria. Sua mão afundando-se entre suas coxas, cobrindo-a em dura possessividade.
Nicolas esfregou, querendo lhe dar quente prazer. Ela choramingou, retorcendo-se, pressionando seus quadris contra ele. Maggie se apertou mais perto dele. Como se não pudesse esperar para tê-lo dentro.
Ele retirou sua mão, sua virilha crescendo dura e pesada. Nicolas levantou seus dedos, inalando seu delicioso aroma feminino. Levando o dedo indicador à boca, deu-lhe uma comprida e lenta lambida.
Como se lambesse a ela.
Seu longínquo olhar sustentou a dele. Maggie umedeceu os inchados lábios.
Em minutos a teria tido, lhe tirando a calça, destroçando a calcinha, abrindo suas pernas. Provando-a, levando-a a um estremecedor clímax detrás do outro. Então, quando estivesse molhada e pronta para ele, afundaria seu duro pênis nela, selando sua união carnal.
Cada instinto masculino gritava que sim. Nicolas se estirou outra vez por ela.
E captou um aroma que o sacudiu de volta a si. Não era o delicioso, especiado despertar feminino.
Algo escuro, diabólico. Igual a um cadáver podre.
Um Morph.
Tremendo, Maggie voltou a cair contra a palmeira. Um beijo. Uma alma capturada de sua morna, úmida boca contra a sua. Sentindo esse duro, musculoso corpo amoldando-se ao dela. Nesse momento, passou da resguardada e ligeiramente bêbada Maggie à Mulher Super Hormonal.
Capaz de saltar seu corpo masculino em uma simples união.
Nunca havia se sentido assim em relação a sexo. Os homens se interessavam por ela, mas pensavam que era muito inteligente, muito intratável. Muito dissimulada quando se negava a ir para a cama com eles.
Agora, estando com um homem que tinha conhecido fazia apenas uma hora, seus hormônios tinham saltado igual a gotas de água em uma frigideira quente. O cara irradiava sexualidade igual que uma baliza.
Prática até os ossos, Maggie sabia que isto só era a natureza despertando-a para molhá-la com uma grande inundação para compensar os longos meses nos que tinha estado evitando os homens enquanto se centrava em seu trabalho. Natureza contra Empresaria Mulher Solteira. Os hormônios estavam do lado da Natureza. Marcador… esta noite.
Maggie piscou quando Nicolas inclinou a cabeça. Parecia farejar o ar. O tênue amarelo brilhante da luz do alpendre revelava como mudava sua expressão do feroz desejo à cautelosa especulação.
Moveu-se tão rápido que ela não teve tempo a reagir. Os fortes dedos a sujeitaram no antebraço em um indissolúvel agarre.
— Vá para dentro — a urgiu conduzindo-a para a entrada da frente.
Wow. Um pouco rápido. Mas não era isso o que queria ela? Maggie, a prática, sopesava as conseqüências de dormir com o Nicolas, um completo estranho. De acordo, um completo estranho encantador. Camisinhas? Não tinha. Possivelmente ele tivesse algumas em sua carteira. Umas novas. Jogou um olhada a sua avultada entreperna.
A luz de seu tráfico interno trocou a amarela. Precaução. Ainda assim tudo em seu interior suspirava por unir-se a ele. Sentiu-se apanhada no indefeso agarre por despertar sexual. Por que não dormia com ele? Era virgem, não por um princípio moral, mas sim por puro desinteresse. Nenhum homem a tinha feito sentir-se bastante interessada. Até agora.
O que estava esperando? Era uma virgem de vinte e sete anos. Se esperava muito mais, possivelmente engarrafassem-na e a colocassem na prateleira.
Luz verde. Vamos, vamos, vamos, urgia-lhe seu corpo.
Maggie se rendeu, e decidiu se aprofundar nas insistentes demandas de seu corpo. Eles alcançaram a porta dianteira. Cambaleou-se em busca da chave no bolso de suas calças.
— Depressa, Maggie — lhe ordenou ele.
Quando a porta esteve aberta, Nicolas quase correu ao interior, arrastando-a com ele.
Amável, mas com firmeza, colocou-a atrás dele enquanto fechava a porta e passava o ferrolho na porta.
Maggie acionou o interruptor da parede. A luz escorregou sobre seu rosto, mostrando implacáveis feições duras como o granito. Ele estudou a sala de estar. Repentinamente tímida, ela brigou com os botões de sua blusa. Isto parecia mais fácil nos filmes e novelas românticas.
Nicolas se voltou para ela. A surpresa flamejou enquanto a observava apartar lentamente os lados de sua blusa, revelando as taças de encaixe de seu prendedor.
A surpresa não era a emoção que ela tinha esperado. Maggie fechou a blusa de repente.
— Ah, Maggie — sua mandíbula sem barbear se esticou, como se lutasse por controlar-se — Depois. Quando houver tempo —disse ele lentamente.
Com olhar lúgubre, Nicolas se aproximou das janelas e baixou as persianas. Maggie o seguiu totalmente desconcertada.
Whump! Algo se lançou à velocidade da luz contra o porta objetos. Um lento chiado feriu seus ouvidos, arranhando seus nervos igual às unhas contra uma piçarra. Maggie piscou, mas Nicolas só estendeu as mãos contra as persianas de madeira.
— Não a terá, demônio — murmurou —Agora terá que me matar para chegar a ela. E Kane não me permitirá morrer.
Ele a olhou.
—Mantenha-se afastada das janelas. Cedo ou tarde encontrarão uma maneira de entrar, mas não faça de si mesma um branco visível. Vou lá fora — ele começou a dirigir-se para a porta dianteira.
Eles?
— Quem são eles? Nicolas, o que está acontecendo? Nicolas!
Ele se deteve, voltando-se lentamente.
—O que acontece? O que era isso que golpeou meu porta objetos?
— Não queria saber. Não agora.
Lentamente, ela entendeu. Tinha a levado ao interior para escapar…de algo. Mas não podia haver nada no exterior. Isso era muito estranho. A lógica dizia que Nicolas era excêntrico. Certamente parecia um pouco perigoso, com esse selvagem e indagador olhar em seus olhos escuros, o sorriso de sua boca.
Um antigo bate-papo da Universidade sobre a conduta científica lhe veio à mente. Maggie estudou seu possível amante.
— Há algo aí fora que pode me ferir, Nicolas? O que é?
Ele olhou à direita, como se procurasse na distância.
— Não é algo que possa te ferir. É algo que te ferirá. Pode mover-se para ti antes de que dê um simples passo.
—Está dizendo a verdade — deu-se conta ela — Mas Nicolas, se houver algo aí fora…
Beijou seus lábios, um breve, intenso beijo.
— É um pequeno problema de que devo me ocupar. Fecha a porta detrás de mim. E evite as janelas.
Maggie levou uma mão a sua enjoada cabeça, observando em muda incredulidade como ele saía pela porta dianteira. Fechou atrás dele, seus pensamentos girando como um redemoinho.
Esquecidas dos hormônios, abraçou-se a si mesma. Ruídos estranhos. Ameaças. Perigo. Um estranho em um bar que lhe evocava um sentimento de dejà vu, com o qual queria dormir quase no mesmo instante. Não tinha sentido. Ainda assim, profundamente em seu interior, tinha.
As lembranças empurradas para a superfície, clamando serem ouvidas. Não. Não o farei, pensou ela grosseiramente. Mitose celular. Divisão. Criação. Vida.
Misha, morrendo.
Maggie deu uma olhada em Misha. A cadela dormia sobre seu travesseiro em uma esquina junto a vitrine de porcelana. Deixou-se cair ao chão, abraçando a seu mascote. Se só pudesse afastar sua dor, docemente. Farei-o. Farei tudo o que possa para que esteja bem outra vez.
A respiração da Misha era trabalhosa. A pena agarrou Maggie igual a um punho de aço. Logo, teria que tomar uma decisão. Faria o mais humano como insistia Mark e praticaria a eutanásia a sua bem amada amiga antes de que a dor se fizesse mais intensa? Maggie pressionou suas trementes mãos contra suas têmporas. Necessitava mais tempo para investigar.
Tempo era um luxo de que carecia.
Maggie entrou no salão para esperar.
Em minutos ele voltou, fechando a porta atrás de si. Três largas, sangrentas navalhadas franziam sua bochecha direita como se algo com garras o tivesse arranhado. lhe olhando fixamente, cambaleou-se para ficar de pé.
—Problema resolvido —anunciou ele.
—O que foi isso? — Maggie foi para ele, seu estômago deu um tombo ante a vista do sangue sobre seu rosto. Sangue, exceto em seu trabalho, sempre a adoecia. Podia encarregar-se de operar um animal ferido e tratar as piores feridas, mas em humanos, isto sempre a tinha adoecido.
—Deixe me encarregar disso. Tenho um kit de primeiros socorros.
Nicolas negou com a cabeça.
—Não é nada. Curo-me rápido.
Incapaz de apartar o olhar de sua bochecha, não pôde lutar com a profunda sensação de que algo sinistro tinha espreitado fora.
—O que te atacou?
—Um pequeno desvio no problema. Já me encarreguei disso.
Ela mordeu o lábio inferior com preocupação.
—Tenho perguntas…
—E eu tenho respostas, as quais te darei, quando for o momento oportuno —Ele sorriu, apartando a escuridão de sua expressão.
Ela levantou o queixo, encontrando seu olhar.
—Não, Nicolas. Quero respostas. Agora mesmo.
Maggie queria respostas que ele não podia dar. Não agora. Não em seu atual estado de embriaguez. Necessitava dela alerta. Ainda assim, possivelmente fosse melhor. Sem suas inibições, possivelmente ela não se detive-se em aferrar-se à lógica e acreditaria. As garras dos Morphs se afundaram em sua bochecha, mas tinha despachado ao inimigo facilmente. Agora, as lacerações picavam.
Pela amanhã se teriam desvanecido.
Ela cruzou os braços sobre seu estômago. O movimento serve para empurrar seus peitos ante ele em um delicioso convite. Seu olhar caiu diante do convite entre as taças de encaixe.
Nicolas desejava passar a língua por ali. Marcar o novo território.
— Nicolas, o que há aí fora?
Levantou o olhar para encontrar-se com o dela. Tinha-lhe dado um pouco de informação, para ver como reagia.
— Sente-se, Maggie — A dirigiu ao luxuoso sofá floreado. Ela se sentou, mas bem instavelmente.
— O que atacou sua porta, e do que me encarreguei, era uma criatura chamada Morph. Um mudador de forma.
Olhou-o atônita. Ele continuou.
— Usam magia escura para mudar em algum tipo de forma animal e procuram destruir. Se alimentam da energia e o temor de uma vítima agonizante. Constantemente necessitam energia para permanecer com vida e usam magia. Quanto mais lento morre a vítima ou mais temor produz na pessoa, mais rico é o sangue.
Ele se deteve estudando a incredulidade desenhada em seus olhos.
— Vieram atrás de ti, Maggie.
Maggie esfregou as têmporas.
— Devo estar bêbada. Você disse, Mudadores de Formas?
—Morphs. Mudam em diferentes tipos de animais.
Ela riu.
— Cambiadores de formas que se transformam em animais. Claro. E me querem , para o que? Para que os cuide grátis porque sou veterinária?
— Querem-lhe porque é tão única que pode derrotá-los e destrui-los. Maggie. É extraordinária.
— Essa sou eu. Maggie a Super Destruidora dos Mudadores de Formas! —sua blusa se abriu outra vez, mostrando uma deliciosa greta de pele cremosa. Nicolas sentiu seu pênis ficar ainda mais pesado. Endureceu-se contra isso. Controle. Controle. Agora não era o momento.
— Não acredito em mudadores de formas. Ou em magia. A química sexual entre nós? Básica biologia humana — sua boca se esticou em uma linha enquanto apartava a mão — Sou investigadora, uma veterinária em medicina. Assim se tenta me convencer de outra coisa como essa absurda coisa das criaturas Morphs, desafia a lógica humana. Preciso de provas.
Nicolas recordou como os Morphs faziam migalhas dos caçadores.
— Não os subestime, Maggie. Os Morphs estão longe de ser absurdos.
Maggie, a científica, a incrédula. Se lhe revelasse mais, voltaria-se inclusive mais cautelosa. Queria evidências empíricas.
Queria agarrá-la e fugir com ela. Tirá-la do perigo antes de que os Morphs atacassem. Ainda não. Estava ainda a salvo. Desde que não tinha demonstrado nenhum poder empático, os Morphs careciam de provas de que ela fosse a Draicon destinada a destruí-los.
Sopesou seu plano. Lhe falar da manada agora, colocar o cão no carro e fugir, se não fosse tão teimosa, mas armaria tal animação que atrairia atenção não desejada.
Precisava ver para acreditar.
Ele despachou ao Morph Scout facilmente, matando-o antes de que se clonar-se. Os Scouts trabalham em casais. Na manhã, quando se supõe que dasapareceria, apareceria outro.
Depois do intenso estudo de seus colegas, sabia que o esperar. O bom era que o Morph não apareceria antes de manhã. Mas não a deixaria sozinha.
Poderia emparelhar-se com ela agora. Mas para sua primeira vez juntos, queria toda a noite.
Tomando-lhe com calma e lentidão, não rápido e urgente, com a ameaça de um Morph aparecendo em sua porta. Além disso, Maggie necessitava as provas de que os Morphs existiam. Nicolas sorriu sombriamente. Veria-o perfeitamente amanhã pela manhã. Ele se encarregaria disso.
A cabeça de Maggie se afundou sem poder processar tudo. Primeiro, o abrasador desejo que extirpava todo pensamento coerente, deixando nada exceto a urgente necessidade de esfregar seu corpo nu contra o desse homem. Então ali estava o estranho pressentimento de perigo e o misterioso ato de desaparecimento do Nicolas.
Agora ele afirmava que uma criatura a espreitava?
Isto era muito fantástico. Ainda, uma diminuta parte sua lhe advertia que ele dizia a verdade. Ignorou essa voz. Se ele estivesse certo, tudo o que ela tinha construído por si mesma derrubaria-se em uma montanha. Sua vida era ordenada, organizada e cuidadosamente planejada. Esta não permitia nenhuma habitação para o capricho e o mistério.
Nenhuma habitação para pueris crenças tais como a magia.
Maggie apertou os punhos. Não, disse silenciosamente. Isto não é possível. Eu só acredito no que posso controlar não aceito o que vai além de meu controle.
Algumas enfermidades estavam além de seu controle. A morte. Misha, morrendo.
Um pequeno choramingo chamou sua atenção. Maggie saltou do sofá, e se dirigiu para a cozinha.
Nicolas a seguiu quando ela se agachou para acariciar a novamente acordada Misha, com uma tremente mão. A cadela levantou a cabeça, olhando Nicolas. Sua cauda golpeou o ar igual a um metrônomo enquanto lhe lambia a mão.
— Não aceitava bem os estranhos ultimamente — disse Maggie, seu coração saltando de alegria. Essa era mais vida em Misha do que tinha mostrado em dias.
—Sou uma pessoa-cão, —murmurou Nicolas, arranhando a Misha depois das orelhas.
Possivelmente agora poderia finalmente enrolar Misha para que comesse. Da geladeira, tirou um cubo de plástico e lhe tirou a tampa. Agachou-se ante a cadela, sustentando uma pequena parte de frango frito.
—Olhe, Misha, seu favorito. Por favor, come por mim. Por favor, pequena. Pode fazê-lo.
A cadela se estirou para o frango. A selvagem esperança ressurgiu. Então uma forte mão masculina agarrou com força o pulso de Maggie apartando a comida. A raiva a alagou.
— O que está fazendo?
Nicolas estava olhando Misha com um intenso olhar.
— Não faça isso.
A boca do Maggie tremeu.
— Está muito doente. Esta é a primeira comida em que se mostra interessada.
Ele acareciou a cabeça da Misha.
— O que lhe deste que comer?
O que acontecia com ele? Ainda assim Misha atuava animada, continuava movendo a cauda enquanto lhe arranhava detrás das orelhas. Certamente tinha toque com os animais.
— Proteínas. A… massa atua igual a um câncer. O câncer não se alimenta de proteínas, assim dei-lhe uma dieta de ovos, carne, ave, pescado branco, com verduras cruas e…
— Deixa de alimentá-la. Isto não é câncer.
Maggie ficou olhando.
— O que?
Nicolas se inclinou para diante enquanto Misha lhe lambia a mão.
— A enfermidade é diferente. Alimenta-se de energia. Qualquer comida proverá Misha de energia, a qual usarão as células para multiplicar-se e expandir-se. Está, literalmente, morrendo de fome quando come e alimentá-la faz que a enfermidade avance.
Ela atirou de repente o contêiner de comida ao chão. Misha choramingou. Nicolas arqueou uma sobrancelha.
— Morrendo de fome quando a alimento? O que sugere que faça, que não lhe permita comer e espere que isso ajude? Está morrendo, maldito seja! Está morrendo e não há uma maldita coisa que eu possa fazer. Toda minha investigação foi inútil. Sou veterinária e posso curar os animais de outras pessoas, mas não a minha própria cadela.
Maggie pressionou uma tremente mão em seu rosto. Não mais lágrimas. A gentil pressão de uma mão apertando seu ombro a fez levantar o olhar. A expressão do Nicolas se havia suavizado.
— Maggie, estou certo que tem feito tudo por ela. Posso dizer quanto a quer. Não se renda. A ciência moderna não pode lutar com a antiga magia escura. Não te mostrou sua investigação um comportamento anormal contrária às coisas que viu alguma vez?
Ela recordou como as células se dividiram quando acrescentou uma gota de sangue de um cão são. Como tinham parecido quase…Comer-lhe...
Maggie fechou os olhos em incredulidade. Isto não tinha sentido. Nenhum. A ciência exigia lógica, respostas, avaliação. O que Nicolas tinha proposto era um autêntico sem sentido.
Seus olhos se abriram. Apartou-se de repente dele e se dirigiu à geladeira, devolvendo o contêiner ao interior.
— Se Misha tiver um novo tipo de enfermidade, há uma explicação perfeitamente lógica para isso.
Nicolas se levantou e apoiou um magro quadril contra o arco da porta.
— Antes acreditou que estava dizendo a verdade quando os Morphs estavam aí fora. Me acredite agora, Maggie. Olhe com seus instintos.
Lhe escapou uma amarga risada.
— Isso não foi instinto. Foi puro comportamento científico. Olhou à direita quando lhe perguntei se havia algo ali fora que pudesse me ferir. Isso indica que estava recordando. Se tivesse olhado à esquerda, isso me teria indicado que estava mentindo. Os olhos revelam mais do que as pessoas se dão conta.
— E assim faz que isso aprofunde no interior de uma pessoa — Nicolas avançou — Não olhe a ciência, Maggie. Olhe em seu interior. Deixa de ser lógica. A lógica não tem nada que ver com isto.
Passou-lhe o polegar pela bochecha.
—A lógica não tem nada que ver com isto. Esses sentimentos que compartilhamos um com o outro quando nos conhecemos. Sei que os tem. Não lhes tenha medo. São perfeitamente naturais e esperados. Justo o mesmo que compartilharam seus pais.
Maggie o estudou, olhando-o de lado viu que as lacerações em sua cara haviam encolhido. Devo estar bêbada, raciocinou ela. Feridas não saram tão rápido. Em vez disso, se centrou nos redemoinhos de caramelos de seus olhos marrons. Desvanecidas lembranças vieram a ela. Pais. Bosque e montanhas. Calidez de família e amigos, amor, laços fortes. Seu pai lambendo carinhosamente a sua mãe.
Lambendo?
— É plena e simples biologia — assegurou ela, espremendo suas emoções quando ele passou seu polegar sobre a linha de sua mandíbula — Atração sexual, o significado natural da propagação de espécies.
Seus olhos se obscureceram.
— Achava que se propagaria algo assim?
Maggie levou uma mão a sua enjoada cabeça.
— Não — admitiu ela — É o vinho. O álcool desfaz as inibições. Que é o porque uma mulher dormiria com um homem que acaba de conhecer.
Nicolas inclinou a cabeça para ela. Com uma mão, agarrou seus cachos, apartando os de volta a sua orelha. O quente fôlego acariciou sua bochecha. Maggie captou sua muito masculina essência selvagem, lhe recordando os pinheiros do bosque e o selvagem.
— É por isso que me beijou? Por que começou tirar a blusa? Dois copos de Pinot Noir?
Sua boca acariciou seu pescoço. Maggie gemeu quando ele a beliscou, lhe dando depois uma calmante lambida. Suas mãos se ancoraram em seus ombros. Pensamentos de magia, estranhas criaturas e perigo se evaporaram igual a gotas de chuva sobre o quente asfalto da Florida.
Nicolas a separou. Seu olhar ardia no dela.
—Não é o vinho, Maggie. Ambos sabemos.
—Sim —ofegou ela.
Nicolas cavou sua cara, inclinou sua cabeça para beijá-la. Então pronunciou quase um grunhido, e se afastou.
—Não. Agora não —murmurou ele.
Suas escuras sobrancelhas marrons se juntaram em um cenho. Seu corpo permanecia dolorido e ofegante, Maggie recompôs seu orgulho e grampeou a blusa.
— Acredito que deveria ir. Estou cansada —Maggie as engenhou para fazer sair as palavras.
— Acredito que deveria ficar — disse ele lentamente, seu olhar procurando o seu — Não deveria estar sozinha agora. É muito perigoso.
— Por isso que há ai fora? Como esperas que acredite em algo que não posso ver? — ela se deixou cair no sofá.
—Crer que estou mentindo, Maggie? Crer que algo não tentará entrar aqui dentro?
O pêlo da parte de trás do pescoço se arrepiou.
— Acredito que você crer que há tais criaturas, Nicolas. Mas me pedir que engula uma historia a respeito de uma criatura mágica que troca de forma…? Possivelmente também me peça para crer em algo tão absurdo como os Homens Lobo. Possivelmente eles sejam do que preciso ter medo. É quase lua cheia. — Jogou a cabeça para trás, e fingiu dar um curto uivo.
Arqueou outra vez seu olhar.
—Não está mal —arrastou ele as palavras — Mas com o tempo, fará-o melhor.
Ele passeou para a porta comprovando as fechaduras. Depois comprovou as janelas, fechou as cortinas. Maggie esfregou os braços, suas aturdidas e confusas emoções rabiando. — Nicolas, O que está fazendo?
Dedicou-lhe um entrecerrado olhar por trás de suas largas e escuras pestanas.
— Preciso assegurar sua casa.
— Contra o que?
— Contra algo que precise entrar. Ficarei esta noite, Maggie.
—Você não atua...interessado.
Em resposta pegou seu rosto, atraindo-a para ele. Nicolas a beijou, um quente beijo autoritário. Sua língua se deslizou por seus lábios, dançando no interior quando ela a abriu para ele. Grunhiu e apartou-se de repente. Respirando agitado, olhos obscurecidos e selvagens, lutando visivelmente por controlar-se.
Regozijada, ainda confundida, lambeu-se os lábios e lhe tocou o braço. —Então por que não?
— Agora não é um bom momento, Maggie — Nicolas deixou escapar uma profunda respiração — Quero…tempo. Quero te fazer amor mais do que desejo meu próximo fôlego.
Toda a noite. Quando souber que é seguro.
— Sinto-me perfeitamente segura.
Lhe lançou um olhar pleno.
— Também está embriagada.
A desilusão se mesclou com um novo respeito. Outro homem simplesmente se haveria aproveitado dela estando bêbada, e se largaria felizmente sem lhe importar que possivelmente deixasse atrás um pacote esperando ser entregue em nove meses.
—Vá dormir, Maggie. Eu te protegerei.
Do que? Qualquer que fosse a estranha criatura que o tinha atacado? Ou dele mesmo? Maggie se acomodou com um bocejo. Algo quente e suave caiu sobre ela um minuto depois.
— Disse-te que não te tirasse o bracelete. Mas não escuta. Possivelmente o faça agora.
A confusão ante suas palavras se desvaneceu quando o tenro beijo pressionou contra sua bochecha. Maggie bocejou acomodando-se no sofá, atirando a manta sobre ela. Só um minuto de descanso, depois o escoltaria fora. Fechou os olhos ante a imagem de Nicolas, de pé em silêncio guardado pelo deslizar das portas trilhos, como se mantivera vigilante.
O sol se refletiu no chão ladrilhado na manhã seguinte quando despertou lentamente. Maggie se incorporou ante o rádio relógio na mesinha do lado em nublada confusão.
Como tinha podido dormir até as dez? Pontadas perfurando contra seu crânio.
Maldição. Não se surpreendia que não tivesse inclinação pela bebida. As ressacas eram uma aborrecimento. Sentou-se lentamente, chiando os dentes contra a náusea, então se dirigiu ao banho.
Quando saiu, as lembranças da passada noite a assaltaram. Um baixo grunhido abandonou seus lábios. Que tola tinha sido.
Não havia rastro do Nicolas. Devia havê-la levado acima e ir-se. As persianas, fechadas a noite anterior, agora estavam abertas, descobrindo as janelas.
Menos mal. Nunca antes se havia sentido tão estranha, desejando, pronta para ir para cama com um estranho. Um que tinha conhecido em um bar! Maggie esfregou o rosto, encolhendo-se ante a dor de cabeça. Nem sequer um só dedal de xerez.
Ainda assim, não podia apagar seu forte, impassível rosto de seus pensamentos. Ele permanecia ali em sua mente igual as gemas dos dedos. Digitais.
Foi à cozinha, olhar a Misha. A cadela a saudou movendo a cauda e caminhando quando Maggie abriu as portas corrediças de cristal. Sem problemas para caminhar, mais enérgica pelo que se mostrou. Quando Misha voltou, tendeu-se no fresco chão.
Girando-se, Maggie mediu o café e o meteu na cafeteira automática. Misha não tinha comido desde ontem e estava mais vivaz.
Nicolas lhe tinha advertido que alimentar a Misha aceleraria a enfermidade. Ridículo. Uma enfermidade que se alimentava da energia produzida pela comida?
Maggie se dirigiu ao banho para tomar uma ducha que esclarecesse seu embotado cérebro.
Para seu assombro, Misha a seguiu escada acima. A cadela moveu a cauda, tendendo-se ante a porta do banho. O espírito de Maggie se levantou.
Meia hora depois, emergiu do banho, seu cabelo úmido e encaracolado. Enrolou Misha para que entrasse no laboratório e lhe extraiu outra amostra de sangue. Misha a observava com uns enormes olhos marrons enquanto Maggie estudava as amostras sob o microscópio.
Havia menos células negras na amostra de sangue que no dia anterior. Maggie olhou a sua cadela.
— Nicolas não pode ter razão. Isto é só uma coincidência.
Misha bocejou e tendeu a cabeça no chão.
—OK, querida, fique aí. Acredito que te merece um descanso depois de subir essas escadas.
Descendo as escadas, Maggie verteu o café em uma taça, acrescentou açúcar e abriu os trilhos. Saiu do pátio. A superfície do golfo refletia o mar azul essa manhã, refletindo o nublado céu.
Sobre a longínqua praia, sombrinhas verdes e azul marinho floresciam saudando um novo dia. As pessoas passeavam junto aos surfistas, alguns corriam, outros caminhavam ou procuravam briga.
O ar cheirava a salgado. Não havia brisa que sussurrasse nas compridas palmeiras. Refletindo sobre os estranhos eventos da noite anterior, e o estranho fenômeno encontrado no sangue de Misha. Maggie deixou de olhar a praia. Algo tinha captado sua atenção. Agachou-se e estudou a areia branca como o açúcar. Os rastros de um homem, ligeiramente arrastados como se tivesse estado lutando contra algo. Outros rastros chamaram sua atenção.
Profundos vestígios na areia. Largas e sinistras impressões, claramente reptantes. Os crocodilos habitavam nas frescas margens da água para o oeste. Os rastros eram distintos de répteis.
Voltando-se, estudou as portas deslizantes. Os braços se arrepiaram...Profundos talhos arranhando o cristal, como se uma criatura com garras afiadas arranhasse sua porta. Uma criatura tentando entrar dentro.
- Nada por aqui podia ter essas marcas —refletiu ela em voz alta.
—Só os Morphs.
Magie saltou, pulverizando o café sobre a mesa.
Vestido em jeans e uma camiseta cinza, Nicolas permanecia sobre a areia uns poucos passos lá.
—Lamento te assustar. — Suas lisas feições pareciam inclusive de desculpa. Seu cheia e Lisa boca girou.
Repentinamente tímida por causa de sua conduta a noite passada, Maggie lhe jogou um olhar.
Seu cabelo escuro estava ligeiramente desordenado. Uma mecha deste caía sobre seu rosto, lhe dando um olhar de moço.
—Bom dia, Maggie. Acredito que dormiu bem.
Sentindo-se incômoda, estudou sua taça de café como se esta contivesse todas as respostas do mundo.
—Despertei esta manhã e você tinha ido. Pensei que tinha partindo…
—Te deixando para sempre? — Nicolas passou um dedo pelos rastros—Voltei para minha habitação para arrumar minha malas.
—Então vai embora. — Uma estranha pontada a atravessou. Ao menos havia voltado para despedir-se, mais do que a maioria dos homem ofereceria depois de passar a noite. Que ironia. O primeiro homem para passar a noite e nem sequer tinha dormido com ela.
—Ainda não. Tinha que voltar e ver-te.
Seu genuíno sorriso lhe levantou o ânimo. Lhe infundindo calor enquanto se empapava de sua visão dele. Indicou sua taça.
—Quer café? Está recém feito.
—Não bebo café. Mas obrigado.
Lhe dedicou outro amistoso sorriso.
Sinto que não pudéssemos nos emparelhar a noite anterior. Não podia me dar a oportunidade com os Morphs te ameaçando.
Maggie o estudou, confundida. Essa voz novamente no interior de sua cabeça. Sentiu a distinta, quase imperceptível invasão. Ressaca pós alcoólica. A voz de ontem, sua hiperativa imaginação brotava. Estudou seu fortemente esculpido corpo, a maneira em que seus desbotados jeans abraçavam seus duros quadris, a sombra de barba em sua fina mandíbula. Um pensamento cruzou-lhe pela mente.
OH, sim. Saltarei sobre você em um minuto. Bêbada ou não.
Agora um amplo sorriso se estendeu em sua cara. Como se estivesse lhe lendo a mente.
Impossível.
Algo estava mau. Maggie olhou sua bochecha. As feridas da última noite se foram. Outra coisa impossível.
Ele arranhou a bochecha.
—Eu te disse. Curo-me rápido.
Provavelmente alguma assombrosa solução líquida curativa. Maggie encolheu os ombros e indicou a areia.
—Só estava examinando os rastros. Alguns animais perambulam sem rumo fixo.
—Nenhuma criatura dos arredores faz isso, —observou ele.
Nicolas se agachou, estudando os estranhos rastros.
Maggie deixou sua taça sobre uma mesa de vidro. Contemplando as marcas, sentiu um golpe de mal-estar subir por sua coluna.
—Crocodilos. Isso é tudo. Incomum, mas não impossível.
—Os crocodilos não arranhariam seus cristais —Nicolas riscou a linha de um dos rastros— Morph. Mudou para outra forma depois do ataque, um predador muito maior e mais poderoso capaz de abrir o passo dessa maneira. A janela não é comum.
—É a prova de furacões, assim diz a manufatura. Pode suportar ventos de cento e vinte milhas por hora. —Ela examinou as trincadas marcas, riscando os sulcos sobre o cristal. Trocar de forma? As pontadas lhe golpearam o crânio. Maggie pressionou os úmidos dedos na cabeça.
Nicolas foi atrás dela e amavelmente colocou suas mãos sobre suas têmporas. Começou uma contínua massagem.
Ficou rígida quando se acomodou atrás dela.
—Relaxe —murmurou ele—Cuidarei bem de ti.
A tensão voou. Maggie se inclinou para trás, saboreando seu toque calmante. Estava permitindo que seus desiludidos hormônios recordassem.
Ela se apartou.
—Se for, Nicolas, deveria fazê-lo. Creio que voltou para se despedir, mas não era necessário. Tenho muito trabalho que fazer.
—Não voltei para dizer adeus. —Nicolas assinalou as marcas—Outro Morph tentou entrar em sua casa, Maggie. Olhe os sinais. Os rastros, o cristal. Quem quer que entre em contato com eles enfrenta o perigo. Olhe a grama.
Maggie nunca se preocupava com a paisagem, mas esta manha a dura grama da Bermuda parecia enegrecida e seca, como queimada.
—A respiração de um dragão —disse Nicolas brandamente.
Maggie riu.
—E eu pensava que era a única que tinha bebido demasiado a noite anterior.
Lhe dedicou um fixo olhar.
—Devemos ir antes de que isso retorne.
Isso era muito repentino, muito intenso.
—Quer que vá, Nicolas? Contigo? Por que?
Seu olhar de ébano procurou a sua.
—Isto não é seguro para ti. Agora não. Sua magia é muito capitalista e potente e é muito vulnerável agora mesmo.
Magia. Mistério. Não para ela, a prática e analítica.
—Nicolas, eu não acredito em magia. Chamarei as autoridades, deixe que eles saibam e se encarreguem—Maggie encolheu os ombros—Esta casa resistiu a furacões. Acredito que pode resistir a outros elementos da natureza. Ou o que queira que você cre que eles sejam.
Nicolas empurrou uma mão através de suas grossas e escuras mechas.
—Os Morphs são um elemento da natureza. Encontrarão uma maneira de entrar. O desta manhã estava provando suas defesas, procurando a melhor maneira de conseguir entrar. Vê essa formiga?
Maggie observou uma formiga vermelha do tamanho de uma moeda de dez centavos cruzando o trilho de alumínio que separava seu alpendre da areia. Assombrada, inclinou-se mais perto.
—É isto o que penso que é? —refletiu ela em voz alta.
—O que acha que é?
—Wow. Não pode ser… mas é. Não é nativa. Como chegou aqui? —fascinada, estudou o inseto. — Hey, aqui, companheira. Vi-as nos livros, nunca assim de perto.
Nicolas pôs os olhos em branco quando Maggie agarrou uma caneta sobre a mesa de vidro próxima. Usando-o como ponteiro, dirigiu-o para a cabeça da formiga.
—Humm... Enormes pinças, deve ser uma soldado. Me lembra são as maiores no mundo. Podem colonizar em números superiores a vinte e dois milhões. Caçam principalmente a noite, sentindo o dióxido de carbono que respira sua presa. Dorylus helvolus.
Sua boca se curvou em uma tímida careta.
—Sinto muito. Estudei entomologia. É um condutor, ou formiga couraçada. Nativa da África.
As únicas formigas que se recorda comem pessoas. O que está fazendo aqui? Pôde vir em um carregamento.
Maggie franziu o cenho, pensando.
—Preciso alertar ao departamento de Agricultura da Florida. Manterei-o com vida até que cheguem e façam uma investigação, determinem se…
Nicolas se moveu com cegadora velocidade, sua palma esmagou à formiga. Maggie ficou com a boca aberta, atônita.
—O que te fez fazer isso? —gritou ela.
Nicolas levantou sua palma. Horrorizada, olhou fixamente. Sobre a palma de sua mão havia uma queimadura de quarto grau. O negrume do sangre esmagado gotejava ao cimento. Este crepitava quando o golpeava.
—O sangue dos Morphs se torna ácido. Isso é o que os faz difíceis de matar — Nicolas fez uma careta.
Estava ferido. Instantaneamente Maggie correu para ele, inclinando-se ansiosamente sobre sua mão. Instintivamente a bondade penetrou em seu interior. Devia tirar a dor, a ferida, a lesão.
Colocou sua palma sobre a suja marca queimada. Fechou os olhos, conduzindo-se de uma força profunda em seu interior. Curar. Curar.
Maggie gritou quando a dor lhe queimou como carvões quentes na palma. cambaleou-se, quase perdendo o contato. Algo a obrigou a sustentar-se. Apertando os dentes, conduziu-se no ar, remontando através das ondas de dor. Antigos cânticos soavam em sua mente.
A dor se aliviou, depois se deteve. Os olhos do Maggie se abriram enquanto Nicolas arrancava sua mão de um puxão. Conduziu-a a uma poltrona, ela se deixou cair nela, sua respiração retornando em rasgados ofegos.
Nunca se havia sentido tão doente, assim de repente. Nicolas se afundou a seu lado.
—É verdade — disse brandamente — A lenda é verdade. É a empática.
As lembranças piscaram igual às imagens de um filme. Pequenas Palmas sobre profundas feridas que emanavam sangue no peito de seu pai…por favor, papai, por favor, viva… Maggie se obrigou a afastar as imagens. Imagens de pesadelo selecionadas de um escuro passado. Isso não tinha importância. O que importava era o aqui e o agora.
Nicolas tomou sua mão e a girou. Havia uma queimadura de quarto grau marcando-a. Enquanto seus atônitos olhos a olhavam, esta se apagou lentamente, então se desvaneceu.
Ele atirou dela para cima.
—Temos que ir. Os Morphs saberão que é a única.
Ela se levou então, a mão ferida à têmpora. Isto não pode ser possível. Não pode estar acontecendo realmente, não é? Igual à enfermidade da Misha. O sangue absorvia as células negras.
Possivelmente tenha que acreditar em bruxas.
— Nicolas, O que me aconteceu?
Lhe acariciou a bochecha, seu toque amável e suave.
— O que deve ter acontecido faz anos, não te reprimiu. Provavelmente um mecanismo de defesa até recentemente, e então se voltou muito forte para suprimi-lo. Já notou que alguns animais que curou se recuperaram extraordinariamente? Ou acabou com sua dor? Provavelmente seria um cão.
— É difícil de dizer. Os animais, especialmente os cães, são muito bons ocultando sua dor. —Procurou em sua memória.—Sim, —suspirou ela—Um cão com câncer. Esteve com gonzo, pus as mãos em cima e queria afastar sua dor com tanto afinco que senti como se estivesse me vinculando com o cão, igualmente podia ver a enfermidade em seu interior. Feria-me profundamente em meu interior, mas era só algo emocional.
Ele reuniu suas mãos nas suas, as estudando, esfregando os polegares sobre seus nódulos.
—Seu toque, Maggie. É curador, quando quer que o seja. Adquire a dor, a ferida e a enfermidade em seu interior e a erradica.
—Isso quase parece…igual a magia.
—Essa é você, Maggie. —A boca do Nicolas tremeu—Mas pôde ter sido a quimioterapia, por isso que os Morphs não estão certos. Estiveram observando, esperando um momento como este.—Apertou seus punhos sobre suas mãos quando se levantou, atirando dela com ele.
—Entra, faz as malas. Vamos.
—Acabo de descobrir esta nova habilidade e você quer que me vá...
—Antes de que eles venham a ti. E lhe matem.
Um riacho de temor a invadiu. Maggie lutou contra isso. Não tinha sentido que alguém queria matá-la por curar.
—Não vou fugir, Nicolas. Aqui não há perigo. Ninguém sabe isto exceto você e eu, ninguém vem por mim.
Ele a liberou, seus olhos obscurecidos se tornaram tormentosos quando apartou o olhar sobre a areia.
—Está equivocada. Sabem. E já estão aqui.
Maggie estirou o pescoço, viu duas largas bolinhas peludas sobre a cegadora areia branca.
Formigas touro? Possivelmente.
—Nicolas, essas são provavelmente formigas touro, são nativas da Florida...—Sua voz se retraiu quando lhe rodeou o pulso com seus dedos, atirando ela ao interior. Nicolas fechou e passou o passador às portas deslizantes de cristal. Baixou as persianas.
—Onde estão suas chaves do carro?
Seu olhar se deslizou para a cozinha. Correu para ali, voltou, colocando as chaves em seu bolso.
—Suba para o andar de cima. Depressa. Agarre seu material de investigação e algo essencial. Esqueça a roupa—disse ele, com voz de mando.
O pânico ascendeu. Ela o sossegou, recorrendo a racionalizações. Bem, reunir umas poucas coisas, dar-se a oportunidade de pensar, ganhar tempo. Suas palavras a estavam deixando louca. Sentiu-se apanhada entre o êxtase de sua recém descoberta habilidade para curar e o sentimento de que tudo ia se desmoronando atrás dela. Arrastada por Nicolas, Maggie subiu as escadas para seu escritório recolhendo seus livros de notas e materiais de investigação. Ele desceu uma caixa ao andar de baixo, passando a brilhante mesa de carvalho no corredor.
—Levarei estes à caminhonete—disse Nicolas.
Isso era uma loucura. Um estranho que só acabava de conhecer estava dirigindo sua vida. O tinha curado a palma. Precisava estudar mais a respeito dessa fascinante revelação de suas habilidades curativas. Qual era a ameaça? Não via nada, não sentia o perigo.
Possivelmente pudesse curar Misha. Com um toque. Necessitava mais tempo. Magie esfregou as têmporas.
Nicolas entrou, apertando a mandíbula.
—Já está preparada?
Maggie cruzou de braços.
—Eu não vou. Se tiver esta habilidade única para curar, então a usarei. Posso fazer provas, tentar coisas diferentes. E como podem essas… coisas ser perigosas? Possivelmente tenha uma grave reação alérgica a elas. Sou veterinária, Nicolas. Trato animais. Os animais não me dão medo.
Ele entrecerrou os olhos.
—Deveriam.
—Nicolas, possivelmente há algo diferente em mim. Mas honestamente, me dizer que essas criaturas vão atrás de mim para me assassinar? Isso é uma loucura!
Maggie chiou quando ele a levantou, depositando-a com firmeza sobre um amplo ombro.
—Me ponha no chão! Nicolas! Não seja irracional. Não há nada aí fora que possa me ferir.
—OH. Você quer provas. Prova físicas.
Ela ricocheteou contra o duro músculo de seu corpo enquanto trotava para as portas trilhos. As persianas estavam jogadas.
—Se tiver provas, virá comigo de boa vontade?
—Formigas assassinas? Sim —murmurou ela.
Nicolas abriu as persianas. De barriga para baixo sobre seu ombro ela não podia ver nada exceto a linha de suas firmes nádegas encerradas nos jeans.
—Aí está sua prova. Encontraram-lhe e estão tentando entrar. E logo o conseguirão.
Baixou-a lentamente até deixá-la em pé. Maggie olhou a janela. O coração lhe afundou em seu estômago.
—OH deus, OH deus.
As duas largas janelas trilhos tinham mostrado previamente uma serena vista das águas azuis do golfo, os banhistas e brancas areias. Mas agora a vista estava totalmente bloqueada.
As janelas trilhos estavam cobertas com uma massa de um exército de formigas.
Ela não podia mover-se.
Quando observou horrorizada, uma formiga deslizando-se através de uma pequena abertura onde o cristal se encontrava com o fragmento deslocado. Esta caiu ao chão, partindo para ela com precisão militar. De repente se deteve. Esta começou a mudar.
Crescendo.
—Maldita seja, Maggie, é um mudador de formas! Mata-o antes de que seja muito tarde.—Grunhiu Nicolas.
A formiga cresceu ao tamanho de um quarto de dólar. Depois a um dólar de prata.
Imobilizada por seu voto de faz muito tempo de não ferir nunca a outra criatura viva, ela ficou quieta. Nicolas fez um som de impaciência, levantando um guia Telefônico próximo. Este caiu sobre a formiga com uma forte porrada.
O guia Telefônico girou. Outra formiga penetrou através da abertura, caindo ao chão.
Nicolas a agarrou pelo pulso.
—Temos que sair daqui agora —ordenou ele.
Arrancando a de sua imobilidade, ela o seguiu. Um fraco gemido escada acima golpeou suas lembranças. Gelados tentáculos de medo lhe rodearam o coração.
—Misha está lá em cima!
Maggie subiu pelos degraus, seu coração pulsando acelerado enquanto entrava correndo em seu laboratório.
Um pouco de luz do sol se filtrou na escura habitação. Maggie manuseou procurando o interruptor. A luz alagou a habitação. A mesma massa escura estava sobre as janelas. Mas ela tinha deixado as janelas abertas para desfrutar da brisa.
As formigas se penetravam através da tela, e estavam entrando no interior igual à água através de um furado dique. Uma magra corrente vermelha se reuniu sobre sua mesa de trabalho, descendo pelas pernas da mesa. Uma grande massa de armadas formigas partia para sua cadela. Apanhada contra a parede, Misha choramingava e retrocedia da força invasora.
Uma vermelha raiva apagou o medo. Maggie levantou o objeto mais próximo, um livro de textos médicos.
—Se afastem de minha cadela, malditas! —gritou correndo para a Misha. Da soleira, Nicolas gritou algo. Ela o ignorou, baixando o livro de textos de repente sobre as formigas. Uma e outra vez.
Mais formigas se empilharam na habitação. Maggie se agachou, agarrando a uma aterrada Misha quando Nicolas correu para ela.
—Pegue ela. —Confiou Misha a Nicolas.
Queime-as, Maggie. O fogo é a única coisa que as fará cair lentamente. —Gritou ele, saindo da habitação com a Misha. Deixou à cadela no chão do corredor longe do alcance das formigas.
Maggie alcançou uma garrafa de álcool. Seus trementes dedos giraram a tampa enquanto as formigas partiam em sua direção.
Abriu a garrafa, esvaziando o conteúdo sobre elas. Acendedor, acendedor, onde estavam os malditos acendedores? Sobre a mesa, alcançou um acendedor usando-o para prender o queimador Bunsen. Levantou-o.
Uma formiga saltou aterrissando sobre seu pulso. Esta afundou suas presas. Ela gritou, deixando cair o acendedor. As formigas imediatamente se reuniram sobre isto.
Instintivamente, Maggie deu um tapa sobre seu pulso.
—Não faça isso!
Nicolas apareceu a seu lado, afastando-a da mesa. Elevou muito cuidadosamente sua mão, lançando pelos ares a formiga.
—Seu sangue te queimaria. —Seu selvagem olhar girou ao redor da habitação.—Tem mais álcool?
Maggie correu à habitação do lado oposto, abrindo de repente um armário de metal. Os fornecimentos se derrubaram quando ela passou a mão através das prateleiras, localizando outra garrafa. Agarrou-a para ele.
O álcool salpicou sobre a grande acumulação de formigas quando Nicolas desentupiu a garrafa e a pulverizou sobre elas. Estirou-se alcançando o acendedor que ela tinha deixado cair.
Nicolas fez uma careta quando várias formigas saltaram a sua mão e começaram a lhe picar.
Encheu-a um frio horror quando começaram a roer sua exposta pele. As gotas de sangue emanavam, salpicando sobre a mesa igual a lágrimas vermelhas.
—OH, deus. —A bílis lhe subiu à garganta.
As formigas estavam comendo Nicolas vivo.
Ele as ignorou cruelmente, prendendo o acendedor e derrubando-o sobre a mesa.
Um zumbido de chamas azul alaranjadas floresceu, correndo junto ao rastro de formigas, lambendo ansiosamente o álcool.
—Vão para o inferno —grunhiu ele.
Agudos chiados lhe feriram os ouvidos quando as chamas queimavam as formigas. Nicolas mandou pelos ares as que estavam sobre sua mão enquanto agarrava Misha e conduzia Maggie escada abaixo. Saíram correndo pela porta. Maggie se deteve, olhando por cima do ombro.
O exército de formigas cobriu o cristal das portas em uma rede vermelha. Nicolas deixou Misha sobre uma manta no assento de trás e então se deslizou no assento de condutor do Ford enquanto ela fechava de repente a porta principal. Ela se deslizou no assento de passageiro a seu lado.
As mãos do Maggie tremiam enquanto apalpava em busca do cinto de seu assento.
Nicolas acelerou saindo do caminho de entrada. Os pneus chiaram, uma azulada fumaça serpenteava. Pôs primeira e conduziu para o sul, esticando a mandíbula enquanto olhava diretamente à frente.
No interior, ela tremia violentamente, seu coração pulsava em uma irregular cadência. O sangue gotejava das abertas e horríveis lacerações na mão direita de Nicolas.
Arriscando sua própria vida, tinha salvado Misha. A tensão rodeava sua mandíbula. A Nicolas doía-lhe, mas não mostrava a dor. Uma mescla de gratidão e confusão se verteu sobre ela.
O que quer que fosse, quem quer que fosse, estava ferido. E ela tinha a habilidade para curar.
Está ferido, me deixe ajudar. —Disse estirando-se para ele.
Ele negou com a cabeça, o cabelo de ébano despenteado.
—Não! É muito perigoso que me cure aqui.
Sem tirar os olhos da estrada, levou a mão à boca. Maggie ofegou quando viu como passava sua língua sobre o dorso. Igual a um animal lambendo uma ferida.
Quem era ele? O que era?
A primitiva necessidade de curar afogou a razão e a lógica. Nicolas estava ferido. Veria se sua nova habilidade ainda funcionava.
Apertou-lhe o pulso. Nicolas tentou apartá-la, mas ela colocou sua mão sobre as feridas e ele não podia sacudi-la para liberar-se. Sentia-se como se eles estivessem encerrados juntos, lhe tremendo a palma, Maggie fechou os olhos, concentrada. Absorvendo sua dor como dela. Vendo a carne fechar-se uma vez a se mesma, deixando de emanar sangue. Curar, curar.
Antigos cânticos enterrados profundamente em seu interior ressoavam através de seu corpo.
A sacudida elétrica entrou nela. A ardente dor lhe partia a mão. Preparada esta vez, apertou os dentes, remontando através disso. Depois de um minuto levantou cuidadosamente sua mão. As feridas do Nicolas se haviam ido. Apareceram sobre o dorso de sua mão. Quando as olhava em mudo assombro, as feridas desvaneceram.
—Maldição Maggie! Disse-te que não. Dá-te conta quão estúpido foi isso? —Orientou a cabeça para ela em um severo olhar—Faz o que te digo?
—Obrigado, Maggie —estalou ela—por que? Não há de que, Nicolas. E apertou a mandíbula quando voltou a atenção de volta à estrada, transbordando carros como se estivessem na NASCAR em vez da auto-estrada.
—Está deixando um espectral rastro de magia tão brilhante como o néon para que o sigam os Morphs. Já é condenadamente bastante difícil perdê-los sem você fazendo ficar mais fácil. Cada vez que usa seus poderes curadores, a magia deixa atrás partículas iguais a um sinal de fumaça.
Maggie enrugou a fronte.
—Isso é biológico e foi estudado cientificamente. Não há tal coisa como a magia.
—E suponho que as formigas mudadoras de forma de sua casa estavam experimentando uma pura reação biológica? —Bufou Nicolas—Escuta-me Maggie. a partir de agora, faça o que eu digo. As regras trocaram. Se quer viver, obedecerá-me, continuamente.
Entendido?
—Não sou sua para que me dê ordens, Nicolas. Não há nada entre nós. Não tem direito —bufou ela.
Voltou-se, olhando-a com um feroz e possessivo olhar.
—Tenho mais direito que qualquer outro homem.
—Sonhas igual a um animal lutando por uma fêmea no cio—o sarcasmo rasgou seu tom.
—Se tivesse que brigar por você, faria-o. —Disse ele escuramente. Um baixo grunhido retumbou profundamente em seu peito enquanto despia seus dentes. Por um selvagem momento ela viu seus caninos…Alargando-se? Ridículo.
O estresse causava que sua imaginação corresse solta.
Maggie trocou seus pensamentos a sua recém descoberta habilidade curadora. Isto merecia mais estudo. Se só pudesse confiar em curar não só pequenas feridas, mas também maiores.
Enfermidades. Precisava de um microscópio, amostras de seu sangue. Possivelmente houvesse um gene que causasse esta assombrosa habilidade. O funcionamento dos cromossomos, análise detalhadas.
Misha. Possivelmente pudesse inclusive curar a sua cadela. Maggie ofegou. Ele a olhou.
—O que?
—Preciso descobrir de onde vem esta habilidade. Como posso controlá-la? É temporário? E se for biológica, por que apareceu agora? Ou possivelmente ingeri algo recentemente — começou a enumerar as possibilidades em seus dedos, e então riu. Ele franziu o cenho.
—Acabo de ser atacada por uma legião de formigas assassinas logo que escapei e minha casa está ardendo. Minha casa em que gastei até meu último centavo está em chamas. Estou fugindo, para onde? E tudo no que posso pensar agora mesmo é em encontrar um microscópio de modo que possa analisar de onde vem esta habilidade.
Um meio sorriso estirou seus lábios.
—Não volte a tentar, não até que diga que é seguro. Estuda tudo o que queira depois de que lhe tiremos do infernal caminho dos Morphs.
A moléstia para seu autoritarismo se esfumou enquanto considerava o enorme apuro em que estava. Se os vizinhos vissem o fogo, chamariam os serviços de emergência e as formigas estariam ainda ali…
—Tenho que deixar que alguém saiba que não estou em casa, —deu-se conta—Meus vizinhos verão a fumaça. Se os bombeiros entrarem e as formigas os atacarão…
Ela alcançou seu móvel, levantou a tampa e marcou o 911. Nicolas lhe agarrou o pulso.
—Não. Sua casa não está perto da vizinhança. Não há perigo de que o fogo se estenda a nenhuma outra casa.
Lhe ignorando, Maggie soltou sua mão.
—Essas coisas, elas matarão…
—Os Morphs já não parecerão um exército de formigas. Desvaneceram-se. Assim é como trabalham. Não são animais. Pensam igual aos humanos. Ocultarão-se. Sua meta não é matar a todo mundo. Só a ti e a mim.
—Esquecia as mágicas formigas mudadoras de forma. Quando alguém vir o fogo, pensará que estou ainda dentro e tentarão me resgatar —Maggie pulsou um número—Chamarei a Iona, a mãe de Tammy. Minha vizinha. Só para lhe fazer saber que não estou em casa.
Nicolas apertou a mandíbula. Ela o ignorou. A normalmente lânguida voz da Iona respondeu ao primeiro timbre. Maggie não esbanjou palavras.
—Iona? Sou a Doutora Sinclair. Estou dirigindo de volta para a minha casa da praia com minha cadela, Misha. Tenho um armário no vestíbulo para arrumar, perguntava-me se poderia lhe pedir emprestado a furadeira de seu marido quando voltar a casa?
—Furadeira? Isso soa convincente —murmurou ele. Maggie o fulminou com o olhar.
—Senhorita Sinclair, desejaria que você fosse mais responsável em vez de partir sem dizer uma palavra. Seu primo esteve bastante ansioso por você. Deveria ter feito melhores acertos se sabia que ia sair.
Maggie ficou com a boca aberta.
—Meu primo? Eu não…
Nicolas lhe disparou um olhar de advertência.
—Seu primo! David, o único a quem convidou a ficar com você as duas próximas semanas? Você lhe disse que ia estar em casa e venho aqui, muito preocupado por que esteve esperando fora um bom momento.
—Mas…
—Espera. Está aqui. Quer falar com você.
—Ponha o telefone em viva-voz —lhe ordenou Nicolas—Quero escutar a esse cara.
Maggie pressionou a tecla de viva voz. De fundo se ouvia a mão da Iona deixando o telefone, então alguém se esclareceu garganta antes de falar.
—Sim, obrigado, Senhora Winttaker. Poderia ser tão amável de me trazer um copo de água? Sim, Florida é muito calorosa, para mim, em Outubro. Acredito que seria fria. Sim, com gelo, obrigado.
Ela ouviu fracamente o barulho dos saltos ao afastar-se.
—Margaret Sinclair —o rouco sussurro mantinha um rastro de chiado, como unhas sobre uma piçarra.
Maggie apertou o telefone com tanta força que seus nódulos ficaram brancos.
—Corre, Margaret. Foge. Nós lhe caçaremos. Encontraremos você. E lhe veremos morrer,muito, muito lentamente. Nós gostamos… lentamente. O melhor será nos alimentarmos de sua energia, querida. —O sussurro se afastou.
A conexão se interrompeu, deixando o furioso zumbido do tom telefônico.
