Probidade

No princípio havia trevas sobre a face do abismo.


John Kramer nunca foi o vilão. Ele nunca roubou, nem mesmo um biscoito quando era criança. Ele nunca dissimulou para progredir na vida. Ele nunca fez mal aos outros. Ele nunca matou.

Ele sempre jogou pelas regras.

Seu trabalho era construir coisas; e coisas ele construia. Mas ele se sentia desperdiçado com isso; simplesmente não era suficiente. Andava nas ruas e via pessoas carentes, gritando silenciosamente por misericórdia, acuadas em algum beco. Pensava se algo estaria sendo feito por elas. E por elas, ele fez mais.

Mas John Kramer também não era um bom samaritano. Na verdade, ele era extremamente egoísta. Tão egoísta que, para se sentir em paz consigo mesmo, ele precisava calar aqueles gemidos urbanos que cruzavam as ruas como o vento.

Ainda assim, ele se perguntava se seu talento bastaria para combater os reais vilões. Questionava-se diversas vezes, se, dando às pessoas a oportunidade de mudar, elas aceitariam.

Porém, quando ele perdeu seu filho ainda não nascido, da forma mais covarde possível, ele teve certeza de que nada seria suficiente. Foi como se ele mesmo tivesse morrido ali, ou pior, como se ele sobrevivesse à guerra, enquanto sua humanidade escorria pelos dedos,

feito

o

sangue

de

seu

filho.

Foi assim, ante a face do homicídio impune, que ele soube que as pessoas não mudam. Mesmo depois de abertos os olhos, elas se recusam a enxergar. E o resultado de tudo isso foi uma vida inocente privada de viver.


John Kramer sentia-se vazio

.

( )

.

tão vazio quanto o útero desabitado.

Após o luto, associado à ira implacável, ele quase quebrou uma regra, a mais importante delas – cherish your life. Por pouco ele não menosprezou a própria vida, por pouco ele não se suicidou. Mas ele sobreviveu –

não por mero acaso.

Se eles não davam valor às próprias vidas imundas, alguém deve ensiná-los. Não apenas lhes mostrar o caminho, mas ensiná-los também a caminhar. Esse era seu objetivo – agora e para sempre.

Ele voltou então a construir coisas. Não coisas comuns, não objetos de tortura – não. Ele sabia que as pessoas torturavam a si mesmas mais que o suficiente.

Suas mãos moldavam instrumentos de escolha, de perdão – sim. Deus os deu o livre arbítrio; John Kramer lhes ensinava o certo.

Se muitos não entendiam a tempo, não havia nada a se fazer. Não se tratava de deixá-los ir embora ao preço de uma perna ou um braço, simplesmente. Seu princípio era que eles compreendessem. Por isso, um jogo e suas regras. E Jigsaw os faria seguir as regras do jogo.

Entretanto, ele já sabia que urgiam as areias de seu tempo, mortais. Ele sabia que, ainda que conseguisse resgatar as pessoas do caos sem normas, ele – e seu filho – não poderiam usufruir deste novo mundo, pois certa regra imutável (morte) os desclassificava para tal. Mesmo assim, ele também sabe que um erro não justifica outro.

Nunca

,nunca,

uma regra que-bra-da.

Assim deve ser.

(em nome do pai, em nome do filho)

E disse Deus: haja luz.

.

( )

.


N/A: Amém. Passagens bíblicas do gênesis, flw?

Um presentinho pra mommy, e desculpe por estar uma bostinha incoerente x3

Sem betagem, se serve de consolo.

Mas ainda povoaremos o fandom de Saw! \o/